Hoje os meios de comunicação nos proporcionam tomar conhecimento de algumas curiosidades que antes eram praticamente inacessíveis, sobretudo para uma comunidade que vive um estilo de vida de clausura. Através de revistas, jornais, vídeos, etc, pode-se enriquecer o próprio conhecimento como também pode-se perder tempo com inutilidades. A opção é de cada pessoa. Meses atrás recebemos um texto muito interessante, cujo autor não é identificado, com três fotos de Santa Bernadete Soubirous, a jovem que viu e conversou com Nossa Senhora, em Lourdes.
Transcrevo um trecho sobre seu corpo incorrupto: “Bernardete morreu aos 35 anos e seu corpo foi desenterrado três vezes, num intervalo de 46 anos, devido ao processo de canonização com a incrível surpresa que sempre estava intacto, apesar de que seu rosário estava oxidado e o hábito úmido. Para surpresa dos médicos que a desenterraram, tudo nela estava intacto (e continua assim) começando pelo fígado, que segundo parece, é o primeiro que se danifica, assim como os dentes e as unhas. Acrescento que, Bernadete, foi a vidente para quem apareceu a Imaculada Conceição, a Virgem Maria, em uma gruta, às margens de um riacho em Lourdes. Além do mais, tantos anos depois de sua morte, por seu corpo corre ainda sangue líquido. É algo Sobrenatural e todo o sobrenatural, é obra de DEUS. O caso é que a Igreja decidiu pô-la numa urna de cristal em Lourdes, para a veneração de todos os que ali acodem. Hoje, Santa Bernardete teria 157 anos de idade”.
Este texto veio com fotos bem nítidas do corpo da Santa que nos dão a impressão de uma jovem dormindo e não de uma pessoa falecida há tanto tempo. Fiquei pensando, em minha oração, o que Deus quer nos dizer com isto. Como uma jovem de 14 anos – hoje diríamos “adolescente” pois a maturidade nos tempos atuais, segundo os entendidos, chega mais tarde – que viu a Mãe de Deus tantas vezes e a quem lhe revelou que era a Imaculada Conceição, dogma mariano proclamado quatro anos antes e pouco conhecido pelo povo simples, como esta jovem conseguiu vencer tantos obstáculos e chegar à santidade que Deus esperava dela? E como através dela criou-se em torno da cidade de Lourdes uma verdadeira apoteose, com cerca de seis mil curas extraordinárias até hoje, onde a Virgem Maria parece gostar de atrair seus filhos e lhes abrir as compotas do céu? E por que mais esta graça da conservação extraordinária de seu corpo?
Sabemos que incorruptibilidade do corpo não significa santidade, a santidade vai além, é mais a “incorruptibilidade do espírito”. É o amor que nos mantém sempre em sintonia com o Senhor da vida. Em 1Jo 2,17 está escrito que “aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre”. Este “permanecer para sempre” quase sempre entendemos como a recompensa da eternidade feliz junto de Deus no Céu, mas penso que às vezes Ele nos manda algum sinal de que para Ele nada é impossível e que se pode ultrapassar a lei da decomposição e qualquer outra lei da natureza. Deus pode, Deus faz!
Santa Bernadete foi alguém que fez a vontade de Deus. Seu corpo incorrupto e tão bem conservado me faz pensar num mundo muito diferente, o mundo da “incorruptibilidade artificial” em que tantas pessoas estão mergulhadas tentando não envelhecer, lutando contra uma lei natural irreversível. Aplica-se um produto no rosto e desaparecem as rugas, faz-se uma lipoaspiração e lá se foram as gordurinhas acumuladas, plásticas se tornam cada vez mais comuns entre homens e mulheres e tudo isto está se tornando quase que uma lei. É preciso se cuidar, quem não faz é porque é desleixado, dizem, e outros muitos argumentos. Esquecem de olhar a obra da criação com os olhos de Deus. O feio e o bonito são o que há de mais relativo sobre a face da terra. Bem reza o ditado popular: “quem ama o feio bonito lhe parece”.
Cada idade tem sua beleza e riqueza próprias. É belo um adolescente cheio de espinhas, com a voz em transformação, como é lindo um idoso com seus cabelos brancos ou todo calvo e enrugado, ou ainda um adulto com as marcas do tempo estampadas em seu corpo como troféus de quem conquistou maturidade e sabedoria. É preciso olhos limpos, puros para ver a beleza que há por detrás de cada coisa e de cada idade. E são estes olhos que nos farão ganhar o Reino dos Céus – “Bem aventurados os puros porque deles é o Reino dos Céus” – que só Deus pode nos dar. Podemos e devemos nos esforçar por adquiri-los, mas virão sempre como dom gratuito da bondade do Senhor. Pela oração é possível chegar lá.
Se a oração é um “trato de amizade com Aquele que sabemos nos ama”, segundo afirma Santa Teresa de Ávila, ou é um “impulso do coração”, como dizia Santa Teresinha, então podemos perceber que estar em oração é estar diante de um espelho onde o próprio Senhor vai nos revelando quem somos e quem Ele é. Sabemos que Ele é eterna juventude, sempre aberto ao novo e sempre novo em todas as suas manifestações e em todo o seu ser, e gosta de se revelar a quem o procura com o coração aberto e sincero. Esta juventude eterna de Deus aos poucos vai sendo comunicada a quem o busca na oração e o orante vai se tornando cada vez mais aberto também ao novo e vai se renovando cada dia. As idéias, os conceitos, os gestos, os comportamentos vão tomando novo rumo, mais conformes ao jeito de ser do próprio Deus.
Enquanto tantos se esforçam para manter uma aparência de jovens, mas são “velhos” porque vivem embriagados pelos velhos conceitos e contra valores do mundo, outros que não se idolatram nem se preocupam com sua estética de forma exagerada estão vivendo uma juventude que não acabará. Se pensarmos numa velhinha simpática como foi a Beata Teresa de Calcutá logo nos convenceremos de que juventude é outra coisa e que a aparência passa, como “passa a figura deste mundo”, mas o coração jovem permanece para sempre. Quem reza não pode envelhecer porque seria um contra senso. A oração verdadeira produz frutos de amor, generosidade, verdade, liberdade e tantos outros valores próprios de quem é jovem, ainda que em espírito.
Santa Bernadete não envelheceu e continua nos gritando que o mais importante “é invisível aos olhos” e só uma profunda intimidade com Deus pode nos fazer belos e invulneráveis às marcas do tempo. É uma lição que podemos colher olhando para a vida de tantas pessoas conhecidas que estão sempre abertas ao novo, louvando sempre a Deus por tantas maravilhas que Ele tem realizado em nosso meio. Com sua simplicidade e despretensão Bernadete deixa-nos um grande questionamento sobre os frutos de nossa oração e como estamos fazendo para “rejuvenescer” este mundo e infundir nele os verdadeiros valores.
Que esta Santa nos ajude a caminhar numa vida interior cada vez mais profunda que revele a beleza e a juventude daquele Deus Trino que trazemos em nós!
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por Irmã Maria Elisabeth da Trindade
Revista Shalom Maná
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