Vontade de potência ou vontade de verdade: o que deve orientar uma Universidade?

O único modo de se defender a vida é, por incrível que pareça, afirmar o primado da verdade sobre ela.

Cada vez fica mais evidente a atual crise das Universidades. Essa não se refere a fatores econômicos, nem mesmo ao fato dos jovens chegarem ao ensino superior com um nível de aprendizagem cada vez mais baixo, mas sim a uma verdadeira crise de identidade. A pergunta séria, que muitos querem silenciar, é simplesmente: para que serve uma Universidade? É interessente a questão sobre o que deveria inspirar uma Universidade, algo que não é de hoje, pois foi colocada por diversos pensadores do século passado. Damos uma resposta aqui a partir das reflexões do filósofo e teólogo alemão Romano Guardini, que se dedicou ao ensino universitário por mais de 60 anos, desde o início do século XX[i].

Para ele, a Universidade é o lugar por excelência onde se pode dizer e escutar a verdade. De modo que essa instituição «adoece quando a verdade deixa de ser o ponto de referência principal do saber universitário» (pg. 40). Quando Guardini defendeu essa tese, trazia na memória as experiências sofridas durante a tirania nazista, na qual muitos intelectuais se comprometeram com uma ideologia que aparentemente queria aplicar uma verdade, mas que vivia da mentira e da violência. Para ele, a causa da traição de vários intelectuais daquele período foi a tese de que a verdade existe para servir à vida. O filosofia vitalista de F. Nietzsche, de fato, defendia que a verdade nada mais era do que um conjunto de metáforas, uma invenção dos débeis para dominar os mais fortes.

Para a dita filosofia a verdade deve servir à vida, à produção, ao sucesso (também do Estado), em uma palavra, a tudo o que é útil à vida. E o que seria útil à vida? Isso seria decidido pela vontade mesma. Surgia assim a tirania da «vontade de poder», uma vontade forte desligada do compromisso para com a verdade e para com o bem de todos. Nesse contexto, a Universidade nada mais seria do que uma peça da engrenagem da máquina estatal para transmitir os “novos valores” ao povo alemão. O Estado seria o detentor único de uma filosofia superior que afirmaria a supremacia da vida do novo homem.

Para Guardini, essa doutrina é falsa e destrutiva, e isso pode ser demonstrado não só filosoficamente, mas também através da história. Pois o homem vive daquilo que está acima dele. O homem é como uma árvore invertida, que possui suas raízes no Céu, como bem viu Platão[ii]. A vida não pode ser o valor supremo, pois essa tem em si aspectos contraditórios. Os animais são governados pelo instinto, mas o homem pode dizer não a eles. O homem é um ser livre e pode querer inclusive o que vai contra a sua própria vida própria e a do seu próximo. No ser humano há não só a vontade de viver, mas também o instinto de morte. Como poderia, pois, a verdade servir à vida, sendo que essa possui um caráter contraditório?

Historicamente se viu que quando a vida é colocada acima da verdade, paradoxalmente, surge todo tipo de atrocidade. Quando uma vida ideal – a ideologia da segurança e do bem-estar a todo custo – é buscada independentemente da verdade, os homens reais correm o risco de sofrer todo tipo de brutalidade. A busca por um “super-homem” foi uma ilusão que causou o extermínio de milhões de seres humanos reais, e deveríamos aprender algo com a história.

Sendo assim, o único modo de se defender a vida é, por incrível que pareça, afirmar o primado da verdade sobre ela. Somente em relação à verdade a vida humana se torna justa e reta. «Acima da vida deve estar algo que não depende dela, que não a serve, mas que tem em si mesmo uma excelência: a verdade. Saber isso, descobrir isso em modo sempre novo, experimentá-lo, anunciá-lo: eis o papel das Universidades. Se isso é esquecido, a Universidade perde o seu sentido. Torna-se uma escola profissionalizante entre outras, que possui um significado prático, mas não um valor espiritualmente essencial» (p. 27).

A Universidade deve servir à busca da verdade por si mesma. A razão da crise de identidade das Universidades atuais consiste no fato de que as ciências busquem a verdade, mas culturalmente somos levados a crer que a verdade não existe. Muitas vezes o dogma da inexistência da verdade é “ensinado” nas mesmas Universidades, as quais deveriam alimentar nos alunos o desejo de descobrir e de servir à verdade. Surge assim uma tensão na comunidade acadêmica: entre os que buscam a verdade por si mesmo e os que se deixam seduzir pelo ceticismo, o qual se manifesta em uma destrutiva «vontade de poder».

Certamente, só quando a Universidade busca a verdade por si mesma pode contribuir para salvaguardar a dignidade inalienável da pessoa humana e a sua própria identidade. O risco da Universidade é o de colocar-se ao serviço de algo que seja inferior à verdade mesma: seja ao Estado, seja aos interesses de mercado. Uma Universidade digna desse nome deve guiar-se pela vontade sincera de verdade e não pela «vontade de poder», de sucesso político ou de lucro. Só assim ela continuará sendo um verdadeiro caminho verso algo de único (uni-versus), a verdade, que é objetiva e a única a garantir realmente a defesa da dignidade da vida humana.

Pe. Anderson Alves, sacerdote da diocese de Petrópolis – Brasil. Doutorando em Filosofia na Pontificia Università della Santa Croce em Roma.

[i] R. Guardini, Tre scritti sull’università, Morcelliana, Brescia 1999. O terceiro texto do livro é uma das últimas conferências de Guardini e tem o título: “Vontade de poder ou vontade de verdade? Um interrogativo para a Universidade”.

[ii] Platão, Timeo, 90a. O filósofo francês Rémi Brague (1947), vencedor do prêmio Ratzinger 2012 retormou recentemente esse tema platônico, dizendo que o homem tem suas âncoras no céu. Cfr. R. Brague, Ancore nel cielo. L’infrastruttura metafisica, Vita e Pensiero, Milano 2011.

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Homem de Ferro 3 - Resenha Existencial



Este texto está atrasado. O filme já está nos cinemas há certo tempo. Bom, o atraso é desculpável se levarmos em conta que o presente comentário não seria escrito. Embora fã de quadrinhos, não sou daqueles que batem palmas para o Homem de Ferro nos cinemas. Não que ache de todo ruim, simplesmente não me empolgo. Reconheço a importância dos filmes, mas não fico contando os dias para vê-los. Este ano, por exemplo, aguardo com mais expectativas o Hobbit II e Superman.


Por que escrevo o texto? Porque um aluno pediu. Simples assim. Um aluno, que também é leitor do blog, aproximou-se e disse:


- Alessandro, gostei muito do texto dessa semana.
Claro que fiquei feliz com o comentário e disse que e estava pensando em alguns temas para futuros artigos. Assim que terminei de falar, ouvi algo parecido com a seguinte frase:
- Tem também os comentários sobre o filme do Home de Ferro né?

Ele já havia criado expectativas devido às resenhas sobre os filmes do Batman e sobre o último Hobbit. Confesso que fiquei um pouco envergonhado porque nem havia assistido a última aventura cinematográfica do popular herói da Marvel. Decidi então que tentaria escrever algo. Vamos ao filme...

Homem de Ferro 3 está fazendo um tremendo sucesso, tanto nos EUA quanto no mundo como um todo. Já são quase 400 milhões de dólares em arrecadação, praticamente o dobro do custo de produção (sim, fazer filmes custa muito caro!!!). Isso, no entanto, não significa que o filme seja maravilhoso, afinal dificilmente um longa-metragem da franquia “Iron Man” fracassaria nas bilheterias. Fora isso, não é incomum o sucesso de público não ser acompanhado de qualidade.

Então o filme é uma porcaria? Não. Uma maravilha? Muito menos. É apenas um blockbuster comum que tem algumas ideias boas, mas é recheado de clichês como o herói sendo ajudado pelo garotinho. Há também algumas situações forçadas, furos de roteiro, e grande previsibilidade na trama. Sobre os clichês, não veria tantos problemas se fossem melhor utilizados.

Como ponto positivo há a tentativa de fazer um filme com um foco maior sobre Tony Stark que sobre o Homem de Ferro. O leitor deve se lembrar da cena de “Os Vingadores” quando Capitão América pergunta o que Tony seria sem sua armadura. Neste terceiro filme do “ferroso” busca-se uma resposta mais profunda que “gênio, milionário, playboy e filantropo”.

Outro acerto do filme se dá na construção do universo cinematográfico. Homem de Ferro 3 pode até ter sido um pequeno passo para o personagem, mas foi um grande salto para a Marvel. É interessante ver que este terceiro filme não é continuação do segundo, mas de “Os Vingadores”. Em todo momento, a batalha de Nova York é mencionada e a situação de stress pós-traumático vivida por Tony Stark decorre do contato com situações que estão para além de suas forças, situações que foram mostradas no filem dos “heróis mais poderosos da Terra”.

Bom, quase tudo o que está acima poderia ser lido em outros sites. Há diversos outros comentários feitos por pessoas mais capacitadas. O diferencial das resenhas da Oficina são os comentários éticos, filosóficos ou religiosos. O que Homem de Ferro 3 me fez pensar? Mais uma vez...vamos ao filme.

O filme tem, inicialmente, como grande vilão um terrorista chamado Mandarin. Este título é chinês, mas a nacionalidade do facínora não é mencionada. Poder ser alguém do Oriente Médio ou do Leste Europeu, ou de qualquer lugar fora dos EUA. O que, em princípio, parece uma postura de propaganda dos EUA, torna-se uma autocrítica interessante à postura norte-americana. Em certo momento, há uma reviravolta no filme que faz com que o rosto do vilão seja outro que o até então visto. Além disso, a frase com que se inicia a história diz muito: “Nós criamos nossos próprios demônios”. 

A criação dos próprios demônios é ponto importante no desenvolvimento da trama. O mal que Tony Stark enfrenta é algo que ele mesmo ajudou a desenvolver. Não quando cometeu grandes crimes, mas quando foi arrogante e egoísta nas suas relações pessoais. Dramas não são criados apenas por grandes acontecimentos e por macroestruturas, há também os que surgem das pequenas situações e são fruto de não escolhermos viver à altura de quem somos. Nossos grandes demônios geralmente foram alimentados por nossas pequenas atitudes.

Outro ponto que merece ser comentado é que o filme narra uma situação de amadurecimento. Isto é comum com os filmes anteriores, mas aqui é explicitado de forma bem interessante. Tony Stark, da maneira como foi construído por Robert Downey Jr , é um personagem que caiu nas graças do público. Sempre com tiradinhas que mostram quem é superior na situação, com uma postura soberba de dono da verdade. Bom...creio que talvez muitos quisessem ser como ele, mas, com certeza, poucos gostariam de conviver com ele. 

Em Homem de Ferro 3, Tony está fragilizado. Ainda faz as piadinhas, mas agora vive com medo de não dar conta do recado. A jornada que ele faz é para encontrar quem está por baixo das armaduras que veste. Não apenas da de ferro, mas daquela que é feita de comportamentos. Quem é você? Responder esta pergunta é fundamental para o protagonista, que em determinado momento se vê sem nada daquilo que lhe garantia a ilusão de identidade. Sem mulheres, sem armadura, sem dinheiro. Há algo, no entanto, que não pode ser retirado, mas só é possível saber “o quê” quando não se vive na superficialidade. Conhecer a própria identidade é fundamental não apenas para salvar os outros, mas para resgatar a si mesmo.

Para um texto que não seria escrito, este já está ficando muito longo. Encerro com uma percepção que só fui ter ao escrever: prefiro o Homem de Ferro nos Vingadores. A companhia de outros heróis faz bem ao personagem. Revela a ele mesmo que o peso do mundo não está em suas costas, que ele não é o mais forte, nem o mais corajoso, nem o melhor estrategista. Há outros que, embora venham de outro tempo, fiquem verdes de raiva ou usem roupas que parecem medievais, compartilham seus ideais e lutam batalhas como as suas. São seus amigos...


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Homem de Ferro 3 - Resenha Existencial

Em abortos mal sucedidos, médico decapitava recém nascidos (Kermit Gosnell, aborteiro, assassino


Uma das mais reconfortantes notícias da semana é a de que Kermit Gosnell foi considerado culpado pela justiça americana. A pena ainda não saiu, mas pelo que entendi oscila entre pena de morte e prisão perpétua.
abortion-veredictSe alguém está lendo este texto e não sabe quem é Kermit Gosnell, é devido ao silêncio criminoso com o qual os órgãos de imprensa (não só brasileiros) estão tratando o assunto. O Dr. Gosnell, pasmem, é «um médico da Pensilvânia que matava bebês nascidos vivos depois de procedimentos abortivos mal sucedidos» (cf. Blog da Vida – praticamente o único veículo de mídia nacional a repercutir o caso, a propósito). Contra ele pesam 260 acusações.

O próprio fato de um médico montar uma clínica de abortos já é algo intrinsecamente repulsivo, e para quem mantém o seu senso moral intacto é lógico que um aborto já é em si mesmo uma coisa repugnante. No entanto, o caso do dr. Gosnell nos ajuda a ilustrar esta verdade de modo insofismável. O que se sabe do aborteiro americano é o seguinte (id. ibid.):
As maiores atrocidades, no entanto, ocorriam quando algo dava “errado” na mesa de cirurgia. Conforme conta a colunista Kirsten Powers, do jornal USA Today, Gosnell decapitava os bebês sobreviventes, e os guardava em jarras, na geladeira.

Stephen Massof, um ex-funcionário de Gosnell detalhou em seu testemunho como o médico usava tesouras para perfurar a parte traseira do pescoço e cortar a medula espinhal do bebê, separando o cérebro do corpo. Assim como outras testemunhas, Massof também se declarou culpado por ter participação em várias execuções, e contou ter visto pelo menos 100 bebês serem assassinados por seu ex-chefe. Outra ex-funcionária, Adrienne Moton, chegou a fotografar alguns dos bebês mortos e confirmou que Gosnell lhe ensinou a técnica.
Ora, se somos tomados de horror quando imaginamos o médico cortando o pescoço de bebês recém-saídos do útero de suas mães, como é possível que não nos indignemos quando o mesmo médico faz a exata mesma coisa dentro do ventre materno? É horrendo decapitar crianças? Concordaríamos facilmente que ninguém possa reclamar para si tão macabro direito – o de decapitar os próprios filhos? Ora, que assombrosa deficiência intelectual é esta, então, que nos faz omitirmo-nos (ou, pior ainda, apoiarmos com entusiasmo!) face ao mesmíssimo assassínio se ele se nos apresenta sob o pomposo nome de “direito de decidir”? Se o Dr. Gosnell é culpado por estraçalhar bebês recém-nascidos, como é possível que ele tenha o direito legal de estraçalhar bebês por nascer?

Um crime horrendo não se torna menos horrendo pelo fato de ser praticado longe dos nossos olhos, e não é virtude defender o assassinato bárbaro de bebês indefesos contanto que isso seja feito com o consentimento da mãe e o bebê em questão se encontre dentro do ventre materno: ao contrário, isto é somente incoerência ou hipocrisia. A Justiça Americana condenou Kermit Gosnell; mas quantos outros Kermits não existem mundo afora, em cada clínica de aborto clandestina à qual os cidadãos e as autoridades fazem vista grossa? E quantas pessoas não estão por aí militando pelo direito do Dr. Kermit de fazer o que fez? Acaso pensam que as suas mãos estão menos manchadas do sangue de inocentes? Acaso julgam que esta é uma questão acadêmica passível de ser assepticamente resolvida a nível abstrato? Ora, os cadáveres das crianças abortadas são bem reais – e é exatamente por isso que os pró-aborto se esforçam tanto por escondê-los.
A despeito da vergonhosa omissão da mídia, o Dr. Gosnell foi condenado. E se isso nos servir para alguma coisa, que seja para mostrar o quanto o aborto é odioso. Se formos aprender alguma lição dessa tragédia, que seja esta: a importância de combater com todas as forças o extermínio de vidas humanas inocentes. Que o horror da Pensilvânia sirva ao menos para desmascarar a retórica abortista e mostrar ao mundo o aborto em toda a sua fealdade.

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Kermit Gosnell, aborteiro, assassino

Sobre os Livros e o Hábito da Leitura






Vez por outra, um aluno aproxima-se pedindo indicações de livros. Lembro que há poucos dias, uma dupla de estudantes me procurou dizendo o seguinte: “Professor, o senhor pode fazer uma lista de livros para nós? Não livros para a matéria não, mas de literatura para nós lermos.” Confesso que, nesses momentos, abro um sorriso de orelha a orelha de tanta felicidade.

Indicações de leitura só são pedidas quando  certa identificação ocorreu e um laço de confiança se formou. Não que haja uma concordância de ideias, mas, quando algo assim acontece, há o reconhecimento do outro como alguém com quem vale a pena conversar. Quando um aluno solicita uma dica sobre o que ler, penso que meu papel de professor foi cumprido e o desejo pelo saber foi gerado. Além disso, ao me pedir um livro, por mais que não pareça, uma relação de igualdade está sendo estabelecida. O discípulo está se tornando
parceiro de diálogo na medida em que, paulatinamente, vai conhecendo minhas fontes e posicionando-se de forma própria perante elas.

Há também outro motivo pelo qual fico feliz diante da situação que descrevi acima: amo ler e julgo que poucas coisas têm tanta capacidade de alegrar quanto compartilhar os hábitos que despertam nosso amor. Sou daqueles que já passaram vergonha por tentarem ver a capa do livro que um desconhecido está lendo no ônibus. A meu ver, a leitura é um dos grandes privilégios da vida humana. E digo isso sem medo de estar exagerando.

Clichês sobre o hábito de leitura são mais do que comuns. Quem nunca ouviu o famoso “quem lê viaja” ou outros bordões do tipo? Os clichês são um via de mão dupla. Com o tempo enjoam e correm o risco de esconder aquilo que buscavam revelar. Apesar disso, dificilmente um clichê não guarda uma verdade. A leitura realmente amplia o mundo e oferece camadas diferentes ao cotidiano.

Os livros cristalizam as palavras e, por isso,  ampliam a possibilidade de conversa. Através das letras em uma página (ou uma tela) posso ter mestres geniais como Aristóteles, engraçadíssimos como Chesterton e Guareschi,  sensíveis como Fernando Pessoa .  Além disso,  posso “ouvir” contadores de histórias como Machado de Assis ou Tolkien. O livro é um instrumento humano que busca vencer o tempo e o espaço a fim de permitir que grandes palavras não se percam com o vento.

Pelo que ouvi dizer, no Brasil mais pessoas estão lendo. Não sou ingênuo a ponto de dizer que isto irá mudar radicalmente o Brasil, mas afirmo que esta já é uma feliz mudança. É bom que mais pessoas leiam e é bom por diversos motivos. Primeiro porque a leitura tem a estranha capacidade de nos ajudar a pensar. Claro que a relação não é mecânica. Ninguém é mais aberto ao conhecimento simplesmente porque lê mais; no entanto, o contato com a reflexão de outros levanta questões, gera incômodos, provoca inquietações; ao mesmo tempo,  conforta saber que outras pessoas fizeram perguntas parecidas com as que fazemos hoje e que suas respostas iluminam nossos caminhos.

Além de nos transmitir saber, os livros tocam nosso sentir. Lembro até hoje a sensação mista de alegria e saudade que experimentei ao fim de “O Senhor dos Anéis”,  da vibração vivenciada no princípio da adolescência quando li “As Aventuras de Robin Hood, do engasgo seco e da solidão que vieram do contato com “A Metamorfose” do  Kafka e com “A Morte de Ivan Ilitch” de Tolstoi.

Apesar de mais pessoas estarem com livros nas mãos e nos olhos, vejo dois preconceitos que ainda atrapalham bastante. O primeiro é o de que ler é chato. O segundo diz que a leitura é algo que deve ser reservado para uma espécie de elite. Preconceitos possuem grande força, mas caem quando confrontados com a realidade.

Ler não é chato, embora alguns livros, com certeza, o sejam. É claro que o investimento de tempo e atenção feitos em um livro normalmente são maiores que os que dispensamos a um programa de TV; cabe não esquecer que a recompensa usualmente também é superior. Também é importante lembrar que o elemento gosto sempre estará presente: algumas pessoas  amam biografias, outras não suportam. Alguns se emocionam com épicos de fantasia, outros têm preferência por enfoques mais realistas. Há aqueles que preferem usufruir de informações, outros de ficções. Existem também os que gostam de tudo...Os livros não são fins, são meios. Não são nem mesmo os tesouros, mas os baús onde são encontrados ou as minas de onde são escavados.

Poderia tentar mapear onde na história surgiu esta ideia de que livros são para poucos. Não vou fazer isso. Contento-me apenas em dizer que em certo momento essa realmente foi a realidade. Seja porque os livros custavam verdadeiras fortunas, seja porque a maior parte da população era analfabeta. Não digo que vivamos no melhor dos mundos possíveis, mas é importante reconhecer  melhoras nos dois âmbitos mencionados. Mesmo com todo o analfabetismo funcional, o ensino abrange parcelas cada vez maiores da população; ainda que existam livros com preço um tanto quanto salgado, obras bem interessantes podem ser compradas por dez reais.

Sei que a questão da resistência à leitura é tanto cultural quanto econômica. Sei também que há mudanças significativas e positivas. Mudanças, no entanto, ocorrem de maneira mais rápida quando há compromisso por parte dos que as desejam. Penso que algumas pequenas  atitudes podem contribuir bastante. Como exemplo cito as seguintes: 1 – Buscar, na medida do possível, gastar mais tempo com a leitura. 2 – Dar livros de presente ou, aos menos, boas indicações.   3 – Buscar falar com naturalidade daquilo que se leu, tal como se fala de um jogo de futebol. Não se trata de ser chato ou esnobe, mas de comunicar boas experiências que fizemos. Como é triste ver que há pessoas que têm vergonha de serem leitores.

Em diversos momentos da história,  livros foram queimados. Hoje felizmente isso não tem sido tão usual. Deixá-los fechados, no entanto possui um efeito bastante parecido. Embora não  destrua o objeto, mata o efeito. Enfeites podem ser bonitos, mas dificilmente são transformadores. Que os livros sejam abertos, que eles sejam lidos. Que vozes distantes de nós possam, através das letras, sussurrar e gritar em nossos ouvidos. Tais vozes com toda certeza carregam um forte poder de mudança, seja para nós, seja para o mundo.
Alessandro Garcia
Douturando em Sociologia / Fundador da Oficina de Valores


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Sobre os Livros e o Hábito da Leitura

«Se não acreditamos em Thor, por que crer no Deus cristão?»


“Se não acreditamos em Thor, por que crer no Deus cristão?”, questiona-se (incrivelmente, a sério) o Richard Dawkins. A estapafúrdia pergunta, feita por uma pessoa que vergonhosamente lidera uma recente lista “com os maiores intelectuais do mundo” (sic!), causa-nos perplexidade e angústia. Como ele pode ser tão burro?
Os ateístas fanáticos (dos quais o Dawkins é um excelente exemplar) padecem de uma grave deficiência intelectual que, aparentemente, lhes veta à razão o mais rudimentar raciocínio abstrato. Qualquer crente do mundo sabe responder a esta pergunta simplória e sem sentido. É embaraçosamente evidente: nós acreditamos em Deus e não em Thor porque Deus existe, e Thor não. Como é possível que uma pessoa supostamente estudada não consiga entender isso?
Se fosse possível escolher um sentimento para descrever o que estas patacoadas do Dawkins provocam, tal seria “vergonha alheia”. Ser ignorante não é vergonha; ser ignorante e julgar-se inteligente, contudo, é degradante. Mas nem o Dawkins nem os seus asseclas percebem o patético espetáculo que desempenham em público: cega-lhes a bazófia que não conseguem conter. Pensam que seus dogmas obtusos são verdades apodícticas. São manifestamente incapazes de pensar fora da minúscula caixinha que lhes estreita o horizonte intelectual. É verdadeiramente espantoso.
A pergunta relevante não é e nem pode ser por que acreditar em Deus e não em Thor. A pergunta relevante, como o percebe qualquer pessoa sã, é como saber que Deus existe mas Thor não; ou, dito de outra maneira, como saber qual é o Deus verdadeiro. A isto responde a Igreja com o que tradicionalmente se chama de preambula fidei, os “preâmbulos da Fé”, ou seja, verdades alcançáveis à luz da razão natural que preparam e apontam para a verdade do Cristianismo. Tais são, por exemplo, o conhecimento natural a respeito da existência de Deus e a verdade histórica do Cristianismo, coisas que qualquer pessoa honesta é capaz de alcançar. O grande problema é que os fanáticos ateístas desprezam a Filosofia e a História e, depois, vêm reclamar “provas”. Comportam-se mais ou menos como aquele sujeito do qual falava Chesterton (inglês como Dawkins, mas mais inteligente do que este), que pede testemunhos da existência do sobrenatural e, quando apresentado a um sem-número de vozes unânimes de todos os tempos e culturas que o atestam, simplesmente responde que não servem porque se tratam de “pessoas supersticiosas que acreditavam em qualquer coisa”. Ora, para respondermos às gabarolices do Dawkins, poderíamos dizer simplesmente isso e mais nada: se não acreditamos em Chesterton, por que crer no biólogo inglês? E já estaria bem respondido.
A grande verdade é que não existe nenhuma razão plausível para que devamos dar mais crédito às sandices de Dawkins et caterva do que à voz dos sábios de todos os tempos. O fato daqueles não entenderem Filosofia não anula o acerto das conclusões metafísicas mais do que a ignorância de um aluno desleixado a respeito da Física Moderna compromete a Teoria da Relatividade. As alegações de explicações mirabolantes para fenômenos históricos incontestes não se assemelham em nada a “desmenti-los” ou “refutar-lhes” o significado que sempre se lhes atribuiu. A crendice pueril que eles têm numa “Ciência” etérea e endeusada [v.g. «[e]u não sei ainda, mas estou trabalhando para saber» – Dawkins, C.R., op. cit.] não tem o condão de tornar falso todo o conhecimento religioso humano acumulado ao longo dos séculos. O que lhes sobra?
Sobram os espantalhos sem sentido, todos eles versões mais ou menos sofisticadas do Bule Voador de Russell. Mas isso já cansou de ser respondido e, aliás, é muito fácil responder. Não há nada de novo sob o sol (o negrito é meu):
O “Bule Voador” realmente existe!
Ele foi crido por índios americanos que deram a ele nomes e varias personalidades, dedicaram cultos e acreditaram nele. [...]
Os pagãos abundaram em “Bules Voadores”, e de muitas formas o cultuaram, seus ritos muitas vezes incompreensíveis aos não iniciados, carregavam definições milenares de contatos com estes “Bules Voadores”, que tanta influência em suas vidas exercia.
[...]
E os Judeus? Sempre acreditaram que seu “Bule Voador”, voava por eles e assim viveram e vivem a milhares de anos, pode ser que todo o contato que diziam ter com seu “Bule Voador” fosse ilusão, desespero e desejo, mas este “Bule Voador” que jamais viram foi sempre sem dúvida determinante na história deste povo e não foi preciso descobrir quem colocou o “Bule Voador” a voar.
Eu jamais pedira que Russel provasse sua história do “Bule Voador”, se sua existência fosse a única explicação plausível, do porquê tantos povos distantes no tempo e no espaço, desejassem chá de um mesmo bule.
Se o fanatismo ateísta permite aos que dele padecem entender ou não isto, é um outro problema. Mas o fato que salta aos olhos a quem analisa o fenômeno religioso é que Thor mais evidencia a existência de Deus do que a nega! Muito ao contrário de constituírem um empecilho à Fé, os inumeráveis panteões pagãos que juncaram a história da humanidade dão eloqüente testemunho em favor da existência de um Deus. Chesterton, de novo ele, diria com seu tradicional bom humor que os falsos deuses não lançam dúvidas sobre a Religião Verdadeira mais do que as notas falsas de vinte libras implicam na inexistência do Banco da Inglaterra. Que os ingleses de hoje tenham mais dificuldade para entender isto do que os de outrora apenas nos revela o quanto fomos capazes de regredir em cem anos.

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«Se não acreditamos em Thor, por que crer no Deus cristão?»

A vida anuncia que renuncia a morte



Em um outro texto meu, eu dizia que o artista em geral, é alguém que “consegue traduzir em arte o que percebe do mundo ao seu redor”, e continuo dizendo “que isso acontece por utilizarem uma linguagem que nos toca e que, independente de nossa origem linguística, consegue se comunicar conosco como se estivesse falando a nossa língua”. (clique aqui para ver o texto)

Eu gosto muito de uma banda chamada O Teatro Mágico. Gosto por diversos motivos: pelas letras, pelos arranjos e melodias; pela proposta que eles têm com o trabalho que fazem, entre outros motivos. Pra quem não conhece o grupo, digo que essa não é uma banda religiosa, muito pelo contrário. Algumas letras até fazem menção a assuntos polêmicos e têm posturas das quais discordo, como a frase da música Esse Mundo Não Vale o Mundo, em que o autor diz: “ter direito ao corpo e ao proceder sem inquisição”. Apesar dessa discordância em pontos importantes, há várias de suas letras que muito me fazem pensar.

Um dos principais motivos pelo qual curto demais a banda, é porque acho que suas canções são repletas de um significado oriundo dessa percepção do mundo mais apurada que, penso, é marca do verdadeiro artista.

Hoje, quero trazer uma interessante reflexão que se deu comigo escutando o novo álbum da trupe (como eles mesmo se identificam) lá de Osasco – SP. Ter reflexões a partir de expressões artísticas, principalmente a música, é algo que acontece com certa frequência comigo, e sugiro mais uma vez que você, caso não faça isso, comece a deixar a arte te tocar com o que ela tem de melhor e mais profundo.

Nos dias de hoje, estamos nos acostumando cada vez mais a viver na superficialidade das coisas em geral. Estamos nos eximindo de penetrar na profundidade de qualquer coisa, principalmente na profundidade de um relacionamento interpessoal. Como sabemos, ninguém dá aquilo que não tem. Não olho com profundidade para coisas externas a mim, muitas vezes por que não olho no profundo de mim mesmo. É justamente nesses momentos que a arte nos ajuda.

Fernando Aniteli, cantor, compositor e líder da Banda O Teatro Mágico, começa uma de suas canções dizendo: “Meu Deus! Sei que não sei rezar... Como viver então? Não é só pra pedir por mim e por outros, mas pra confortar, acalentar e agradecer dentro de nós...” Para os que têm uma formação religiosa em suas vidas, ainda que hoje em dia não sigam nenhuma religião específica, essa música traz uma confirmação: a oração, a reza, tem essa capacidade de nos acalmar, confortar. Para os que não têm uma formação religiosa, ou não acreditam em um ser superior, talvez também seja possível encontrar esse acalento quando se busca verbalizar essas coisas de que música fala, ainda que, para você, ninguém esteja ouvindo.

Dentro de nós, existem muitas coisas. À medida que vamos vivendo os dias, a gente sofre, se decepciona, grita, chora, luta, lembramos e esquecemos, julgamos e somos julgados, sangramos, sonhamos, reclamamos da vida e dos seus desatinos... E talvez, para alguns só talvez, a oração seja esse apresentar de tudo isso diante de alguém ou algo que acreditamos ser maior do que nós.

Muitos hoje em dia colocam na religião um rótulo de muleta. Dizem que é uma maneira de encontrar conforto e alívio para todas essas desventuras que nos acontecem cotidianamente. Para aqueles que só buscam a religião em momentos de adversidade, talvez essa afirmativa possa ser verdadeira.

Muitos não conhecem o significado de rezar, de fazer uma oração verdadeira, que, como vemos, não é só pra pedir por si e por outros, mas também para agradecer, encontrar conforto, acalento e tranquilidade dentro de nós.

Podemos dizer como na canção “que talvez, o dizer já seja uma reza, uma oração, dentro de nós...” e eu confirmo que esse simples dizer pode ser sim uma reza, e das boas!

Só é possível fazer essa reza, essa oração, quem tem a coragem de olhar para dentro de si. Quem tem a coragem de penetrar e colher lá do interior, tudo o que é preciso colocar pra fora, que não é bom que fique lá, guardado a sete chaves. Seja bom ou ruim, precisamos deixar sair, e a oração é um bom meio para fazê-lo. Somos chamados a uma plenitude de vida que só é possível quando estamos em paz conosco. A amargura de muitos pode ser somente a falta de uma verdadeira oração.

Há um Outro que, em meio a toda dor e sofrimento que sentia em seu próprio corpo, nos seus momentos derradeiros, orou, rezou, e essas orações derradeiras só tiveram lugar nessa hora porque em toda a sua vida, em momentos de alegria e de tristeza, ele teve o mesmo comportamento. Ele se retirava para orar. O final dessa história nós conhecemos, é como diz Aniteli ao fim de sua bela canção: “A vida anuncia que renuncia a morte dentro de nós!”

Talvez essa seja a grande lição desta canção... Com a oração, com esse verbalizar, esse exteriorizar aquilo que vai dentro, a vida anuncia que renuncia a morte dentro, e não apenas fora de nós.

Duvida que isso seja possível? Faça a experiência de uma oração, uma reza sincera e veja o que acontece. Para os que não creem, fica também esse convite. Faça e pense se não parece que alguém escutou, ainda que você acredite que isso não seja possível.

Cleber Nunes Kraus
Mestrando em Ecologia / Oficina de Valores


Perdoando o Adeus

O Teatro Mágico


Meu deus!
Sei que não sei rezar...

Como viver então?

Não é só pra pedir por mim

E por outros

Mas pra confortar

Acalentar e agradecer

Dentro de nós...


Dentro de nós

Gritam, lutam,

Choram, sangram, esquecem!

Juram, julgam,

Sonham, ganham, perdem!


Rogai por mim

Vou tentar rezar agora

Despudoradamente em público

Reclamar da vida o desatino...

E talvez dizer já seja uma reza...

Já seja uma oração: dentro de nós!


A vida anuncia que renuncia a morte dentro de nós!


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A vida anuncia que renuncia a morte

MP protege evento católico “Bote Fé”, em Niterói-RJ





No próximo domingo, dia 19 de maio, a cidade de Niterói realizará o maior evento católico de preparação para a Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá no Rio de Janeiro, em julho. A JMJ 2013 contará com a presença do Papa Francisco, chefe de estado do Vaticano, uma nação livre, e também chefe espiritual de mais de 1 bilhão de católicos mundo afora. O evento Bote Fé acontecerá em várias cidades do Brasil e, em Niterói, foi organizado pela Arquidiocese em parceria com a prefeitura de Niterói, na pessoa do senhor Paulo Cunha.
Segundo o secretário de ordem pública da cidade, Marcus Jardimo evento já está marcado para essa data há mais de 1 ano. Contudo, a menos de 1 mês do evento,  representantes da Marcha da Maconha protocolaram na Prefeitura no Batalhão da Polícia Militar pedido para realização de evento no mesmo dia e horários do Bote Fé. Diante do impasse, o Ministério Público recomendou que os representantes da Marcha mudassem a data de sua manifestação, protegendo os participantes do Bote Fé, que solicitaram permissão à Prefeitura com mais antecedência. Mas se levarmos em conta o que o movimento fala no seu blog, os manifestantes não estão dispostos a mudar a data da passeata. No lugar do comandante do Batalhão de Polícia Militar e dos Bombeiros, capricharia no policiamento para o evento. Afinal, a organização do Bote Fé espera mais de 70 mil participantes, dezenas de milhares de jovens com  muita energia na praia de Icaraí. Já a Marcha, reuniu pouco mais de 500 pessoas no ano passado.
Os cristãos têm tanto direito de manifestar sua fé em público como todos os outros cidadãos. Esse direito é previsto na Constituição Federal, como garante o art. 5, no inciso XVI, da Constituição Federal:
“Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.

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MP protege evento católico “Bote Fé”, em Niterói-RJ

O autor da música "Tudo é do Pai" é Deputado Estadual. Conheça o Programa de Prevenção ao Aborto e Abandono de Incapaz, de sua autoria. Apoie esse projeto de lei no Rio de Janeiro!

Divulgue essa postagem ao máximo!

Acabo de vir da Catedral de São Pedro de Alcântara, aqui em Petrópolis. Ouvi a palestra do fundador da Missão Coração Adorador, autor da música "Tudo é do Pai" (famosa na voz do Padre Fabio de Melo), doutorando em Direito e Deputado Estadual no Rio de Janeiro. O nome dele é Márcio Pacheco.


Ele compartilhou as dificuldades para aprovar um Projeto de Lei que visa a prevenção do aborto e do abandono de crianças pequenas. Você precisa ajudar! No site do Deputado, você pode encontrar formas concretas para colaboração. Se quiser, tenho aqui comigo um formulário para preencher um abaixo-assinado. Deixe seu e-mail nos comentários (não será publicado) e eu te mando o arquivo em PDF. Imprima o arquivo e colete assinaturas  entre seus amigos e familiares (eleitores no Estado do RJ). Depois, envie a(s) folha(s) totalmente assinada(s) para o Deputado (endereço abaixo). Vamos ajudar as mães a levarem adiante sua gestação!


O teor do projeto de lei se encontra abaixo. O endereço do Deputado é:


Endereço:
Rua Dom Manuel, s/nº – Gabinete 313
Centro – Rio de Janeiro, RJ – BR CEP: 20010-090
Telefone:
(21) 2588-1204
Fax:
(21) 2588-1204



PROJETO DE LEI Nº 416/2011
    EMENTA:
    INSTITUI NO ÂMBITO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO O PROGRAMA ESTADUAL DE PREVENÇÃO AO ABORTO E ABANDONO DE INCAPAZ; E AUTORIZA O PODER EXECUTIVO A CRIAR CASAS DE APOIO À VIDA.
Autor(es): Deputado ANDRE CORREA, ÁTILA NUNES, EDINO FONSECA, EDSON ALBERTASSI, JANIO MENDES, LUIZ MARTINS, MÁRCIO PACHECO, MYRIAN RIOS, ROBERTO HENRIQUES, ROSANGELA GOMES, SABINO, SAMUEL MALAFAIA, RICARDO ABRÃO


A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
RESOLVE:
Art. 1º Fica instituído, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, o Programa Estadual de Prevenção ao Aborto e Abandono de Incapaz.

Art. 2º Nas hipóteses de estupro, gravidez indesejada ou acidental, em que a mulher não dispor de meios e apoio para uma gestação segura, deverá o Poder Público:

I - Oferecer toda assistência social, psicológica e prenatal, inclusive laboratorial, de forma gratuita por ocasião da gestação, do parto e período puerpério;
II - Conceder à mãe o direito de registrar o recém nascido como seu, ainda na maternidade, assumindo o pátrio poder e incluí-la nos programas de assistência, até que esta consiga suprir as necessidades da família;
III - Orientar e encaminhar através da Defensoria Pública os procedimentos de adoção, se assim for a vontade da mãe e da família;
IV - Instituir diretamente ou sob forma de convênio com os Governos Federal e Municipal, rede de atendimento à saúde da mulher.

Art. 3º O atendimento, acompanhamento e auxílio às gestantes será realizado em Casas de Apoio à Vida; dotados de assistentes sociais, psicólogos e médicos.

Parágrafo único Caso a mãe possua outros filhos em idade escolar, as casas tratarão de confirmar o cadastro dos mesmos nas redes de ensino.

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Plenário Barbosa Lima Sobrinho, 05 de maio de 2011.

(a) ANDRE CORREA, ÁTILA NUNES, EDINO FONSECA, EDSON ALBERTASSI, JANIO MENDES, LUIZ MARTINS, MÁRCIO PACHECO, MYRIAN RIOS, ROBERTO HENRIQUES, ROSANGELA GOMES, SABINO, SAMUEL MALAFAIA, RICARDO ABRÃO

JUSTIFICATIVA

O Programa Estadual de Prevenção ao Aborto e Abandono de Incapaz idealiza fomentar o apoio a mulheres grávidas com dificuldades econômicas e sociais, com as Casas de Apoio à Vida.

O maior Diploma Legal, que rege a República Federativa do Brasil, em seu artigo 1º, inciso III fundamenta nosso Estado na dignidade da pessoa humana. Bem como, no artigo 5º caput, do mesmo instituto legal, oferta a garantia da inviolabilidade do direito à vida.

Baseando-se na filosofia do Direito Penal Constitucional, o artigo 124 do Código Penal, em consonância com os artigos 125 a 127 do mesmo código, tipificam a prática de aborto como crime, com suas devidas penas em abstrato.

De suma importância se faz analisar e zelar pela realidade que nos cerca, buscando assim, sobre o referido tema - aborto - pretenciosamente, erradicar ou eliminar substancialmente a prática do crime. O mesmo, além de não caminhar com nosso sistema jurídico, em nada satisfaz quem o pratica.

Fundamentalmente, o ideal é evitá-lo pela responsabilização individual e coletiva de proteção familiar, da maternidade e da vida.

Atualmente, a sociedade assiste perplexa aos casos de abandono de incapaz. Mães que desfazendo-se de seus filhos recém nascidos necessitam ser amparadas pelo Estado antes de praticarem o crime. Neste sentido, as Casas de Apoio à Vida apresentam fundamental relevância para evitar o crime previsto no artigo 133 do Código Penal cuja a reprovabilidade social é enorme.

Tem ainda o presente Projeto de Lei a inspiração e contribuição do amigo Ujagar Singh, que abordou-me com a proposição de em meio a tantas iniciativas em defesa do aborto, que houvesse a preocupação com a preservação da vida, visto que, muitas mulheres recorrem ao aborto pela ausência de programas de defesa da vida.

Madre Teresa de Calcutá, um dos maiores símbolos de combate das misérias da humanidade, nos deixou como legado uma importante missão: "Não pararemos enquanto for possível encontrar nas nossas cidades uma mulher que diga: Eu abortei porque não encontrei quem me ajudasse."

Diante destas argumentações, solicitamos aos nobres pares a aprovação desta matéria.

Um mês com a Virgem Maria: Belíssimas Colocações diárias do Monsenhor Ascâni...


Um mês com a Virgem Maria

Belíssimas Colocações de Monsenhor Ascânio Brandão (1/10)


30 de abril – Véspera do mês de Maria


Louvemos a Maria

O louvor de Maria é um tão abundante manancial que quanto mais se escoa, mais aumenta, e quanto mais aumenta mais se escoa. (Biblioteca dos Radres). Em outras palavras: Esta Virgem é tão grande e sublime, que, quanto mais a louvamos, mais nos resta a louvar. Tanto é isso verdade, que – diz Sto. Agostinho – todas as línguas dos homens não bastariam para exaltá-la, ainda que eles só línguas tivessem no corpo.

No mundo é uso dos que se amam falar muitas vezes e tecer frequentemente o panegírico da pessoa amada. Pois querem vê-la louvada e aplaudida por todos. Bem mesquinho é, portanto, o amor daqueles que se gabam de amar a Maria e, não obstante, mal se lembram de falar dela muitas vezes, e tão pouco procuram torna-la amada por outros. Os verdadeiros servos desta amabilíssima Senhora não procedem assim. Preferem celebrá-la por toda parte e vê-la amada pelo mundo inteiro. Quer em público, quer em particular, procuram sempre atear nos corações as abençoadas chamas de que eles mesmos se sentem abrasados para com sua querida rainha.

A propagação da devoção a Maria Santíssima é de muita importância para cada um de nós e para o povo. Convencer-se-ão dessa verdade as palavras de sábios e acatados doutores. É recomendável ouvi-las. Na frase de S. Boaventura, têm o paraíso seguro todos os que anunciam as glórias de Maria. E isso confirma Ricardo de S. Lourenço, dizendo: Venerar a Rainha dos anjos é adquirir a vida eterna; pois essa gratíssima Senhora saberá honrar na outra vida quem nesta a procurou celebrar. Quem haverá que desconheça a promessa feita pela própria Virgem, a quantos se empenham em torna-la conhecida e amada neste mundo? Possuirão a vida os que me esclarecerem (Ecli 24, 31), – eis as palavras que lhe aplica a Santa Igreja na festividade de sua Imaculada Conceição. Exulta, minha alma – exclama S. Boaventura, o solícito cantor dos louvores de Maria – exulta e alegra-te em Maria, porque muita ventura está prometida aos que a louvarem. E já que as Sagradas Escrituras, ajunta ele, cantam os louvores de Maria, empenhemo-nos também nós em louvar sempre a Mãe de Deus, com a língua e com o coração, para que por ela sejamos um dia introduzidos na mansão dos bem-aventurados.

Lemos nas revelações de Sta. Brígida que o beato Hemingo, bispo, costumava celebrar os louvores de Maria no começo de cada sermão. Um dia, apareceu, pois, a Santíssima Virgem à referida Santa e disse-lhe: Faz ciente ao bispo, que sempre começa os sermões por meus louvores, de que lhe quero servir de Mãe e apresentarei sua alma a Deus, depois da boa morte que lhe alcançarei. De fato, o bispo morreu como um Santo, orando na mais celeste paz. A um religioso dominicano, cujos sermões terminavam sempre com Maria, apareceu a Virgem na hora da morte, defendeu-o contra os demônios, confortou-o e consigo levou-lhe a alma ao céu. O devoto Tomás de Kempis representa Maria Santíssima assim encomendando a seu Filho quantos lhe publicam os louvores: Meu filho, compadecei-vos da alma daquele por quem fostes amado e eu fui louvada!

Quanto ao proveito do povo em geral, diz Eadmero (discípulo de Sto. Anselmo) ser impossível que se não salvem e convertam os pecadores pelos sermões sobre a Santíssima Virgem. Para isso estriba-se no fato de ter sido o puríssimo seio de Maria o caminho por onde passou a salvação dos pecadores. Provarei no capítulo V que todas as graças são dispensadas pelas mãos de Maria, e que todos os eleitos só se salvam pela mediação dessa divina Mãe. E se esta sentença tem a verdade por si, tal é minha firme convicção, dizer então se pode, como necessária consequência, que, da pregação sobre Maria e sobre a confiança em sua intercessão, depende a salvação de todos. Foi assim, todos os sabem que S. Bernardino de Sena santificou a Itália e que S. Domingos converteu tantas províncias. Em seus sermões, nunca S. Luís Beltrão deixava de exortar os fiéis à devoção para com Nossa Senhora. Assim praticaram igualmente muitos outros.

Li que também o padre Paulo Segneri Júnior, afamado missionário, fazia em todas as suas missões um sermão em honra de Maria. Dava-lhe o nome de "sermão predileto". Jamais omitir o sermão sobre Nossa Senhora, é igualmente uma regra impreterível em nossas missões. E podemos atestar, com toda a verdade, que nada opera tanto proveito e compunção no povo, como o sermão sobre a misericórdia de Maria. Digo sobre a misericórdia de Maria. Pois, louvamos, diz S. Bernardo, sua humildade, admiramos sua virgindade, mas, sendo pobres pecadores, o que mais nos deleita é ouvir falar de sua misericórdia. A esta apegamo-nos com mais ternura, mais vezes a recordamos e invocamo-la com mais frequência. A outros autores remeto o cuidado de escrever sobre as demais prerrogativas de Maria. Quero falar principalmente de sua grande misericórdia e poderosa intercessão. Nesse sentido tenho recolhido, durante muitos anos, tudo quanto os Santos Padres e os mais célebres autores têm dito sobre a bondade e o poder da Mãe de Deus.

Feliz aquele que se abraça amorosa e confiadamente a essas duas âncoras de salvação: Jesus e Maria! Não perecerá eternamente. Digamos, pois, devoto leitor, no fundo de nosso coração, como o beato Afonso Rodrigues: Jesus e Maria, doces objetos do meu amor, por vós quero sofrer, por vós morrer; fazem que eu deixe de pertencer-me, para ser todo vosso. – Amemos a Jesus e Maria, e santifiquemo-nos. Eis aí a maior fortuna que podemos aspirar e esperar. Adeus! Até a vista no paraíso, aos pés dessa Mãe suavíssima e desse Filho muito amado. Juntos haveremos então de louvá-los, de agradecer-lhes, de amá-los, face a face, por toda a eternidade. Assim seja.

(Um mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria segundo Santo Afonso de Ligório, por Mons. Ascânio Brandão. Edições Paulinas, 2ª edição. pg. 13-16.)



1º de maio – E necessário recorrer à Maria


Que seja Jesus Cristo único Mediador de justiça, a reconciliar-nos com Deus, pelos seus merecimentos, quem o nega? Não obstante isto, compraz-se Deus, em conceder-nos suas graças pela intercessão dos santos e especialmente de Maria, sua Mãe, a quem tanto deseja Jesus ver amada e honrada.

Seria impiedade negar semelhante verdade. Quem ignora quem a honra prestada às mães redunda em glória para os filhos? Os pais são as glórias dos filhos, lemos nos Provérbios (17, 6). Quem muito enaltece a mãe, não precisa ter receio de obscurecer a glória do filho. Pois quanto mais se honra a Mãe, tanto mais se louva o Filho, diz S. Bernardo. E observa Sto. Ildefonso: É tributada ao Filho e ao Rei toda a honra que se presta à Mãe e à Rainha. Ao mesmo tempo está fora de dúvida que pelos merecimentos de Jesus Cristo foi concedida à Maria a grande autoridade de ser medianeira da nossa salvação, não de justiça, mas de graça e de intercessão, como bem lhe chamou Conrado de Saxônia com o título de "fidelíssima medianeira de nossa salvação". E S. Lourenço Justiniano pergunta: Como não ser toda cheia de graça, aquela que se tornou a escada do paraíso, a porta do céu e a verdadeira medianeira entre Deus e os homens?

Portanto, bem adverte Suarez: Quando suplicamos à Santíssima Virgem nos obtenha as graças, não é que desconfiemos da misericórdia divina, mas é muito antes porque desconfiamos da nossa própria indignidade. Recomendamo-nos, por isso, a Maria, para que supra sua dignidade a nossa miséria.

Que o recorrer, pois, à intercessão de Maria Santíssima seja coisa utilíssima e santa, só podem duvidar os que são faltos de fé. O que, porém, temos em vista provar é que esta intercessão é também necessária à nossa salvação. Necessária, sim, não absoluta, mas moralmente falando, como deve ser. A origem desta necessidade está na própria vontade de Deus, o qual pelas mãos de Maria quer que passem todas as graças que nos dispensa. Tal é a doutrina de S Bernardino, doutrina atualmente comum a todos os teólogos e doutores, conforme assevera o autor do Reino de Maria.

Seguem esta doutrina Vega, Mendoza, Pacciucchelli, Segneri, Poiré, Crasset e inúmeros outros autores. Até Alexandre Natal, aliás, tão reservado em suas proposições, diz ser vontade de Deus que pela intercessão de Maria esperemos todas as graças. Em seu apoio cita a célebre passagem de S. Bernardo: Esta é a vontade de Deus, que recebamos tudo por meio de Maria. Da mesma opinião é também Contenson, como se vê do seu comentário às palavras de Jesus, dirigidas a S. João, do alto da cruz.

A necessidade de intercessão de Maria provém da sua cooperação na Redenção. Uma sentença de S. Bernardo diz: Cooperaram para nossa ruína um homem e uma mulher. Convinha, pois, que outro homem e outra mulher cooperassem para nossa reparação. E estes foram Jesus e Maria, sua Mãe. Não há dúvida, diz o Santo: Jesus Cristo, só, foi suficientíssimo para remir-nos. Mais conveniente era, entretanto, que para nossa reparação servissem ambos os sexos, assim como havia cooperado ambos para nossa ruína. Pelo que St. Alberto chamou a Maria cooperadora da redenção. A própria Virgem revelou a Sta. Brígida que assim como Adão e Eva por um pouco venderam o mundo, assim também ela e seu Filho com um coração o resgataram. Do nada pôde Deus criar o mundo, observa Sto. Anselmo, mas não quis repará-lo sem a cooperação de Maria.

Nessa convicção confirmam-nos muitos teólogos e Santos Padres. Injustiça fôra afirmar que eles, como diz o sobredito autor, exaltando Maria, tenham caído em hipérbole e exagerações desmedidas. Tanto uma como outra saem dos limites do verdadeiro. Não podemos, pois, atribuí-las aos santos que falaram inspirados por Deus, que é espírito de verdade.

Permitam-me fazer aqui uma breve digressão para externar o que sinto. Quando uma sentença de qualquer modo honrosa para a Santíssima Virgem tem algum fundamento e não repugna à verdade, deixar de adotá-la e combate-la, porque a sentença contrária pode também ser verdadeira, é indício de pouca devoção à Mãe de Deus. Não quero estar, nem desejo ver meus leitores entre esses poucos devotos de Maria. Desejo pelo contrário vê-los entre os que creem plena e firmemente tudo quanto sem erro podem crer das grandezas de Maria, segundo as palavras do abade Roberto, que conta semelhante fé entre um dos obséquios mais agradáveis à Maria. Quando não houvesse outro a nos livrar do temor de ser excessivo nos louvores de Maria, é pouco em relação ao que merece por sua dignidade de Mãe de Deus. Confirma isto a Sta. Igreja, a qual faz ler na Missa da Santa Virgem as seguintes palavras: Bem-aventurada és tu, Santa Virgem Maria, e mui digna de todo louvor.

Voltemos, porém, ao nosso assunto e vejamos o que dizem os Santos Padres sobre a sentença proposta. Segundo S. Bernardo, Deus encheu Maria com todas as graças para que por seu intermédio recebam os homens todos os bens que lhes são concedidos. Faz aqui o Santo uma profunda reflexão, acrescentando: Antes do nascimento da Santíssima Virgem, não existia para todos, essa torrente de graça, porque não havia ainda esse desejado aqueduto: Maria foi dada ao mundo – continua ele – a fim de que por seu intermédio, como por um canal, até nós corresse sem cessar a torrente das graças divinas. Diz Ricardo de S. Lourenço, nas mãos dela está nossa salvação, e, com mais direito que os egípcios a José, podemos nós, cristãos, dizer à Santíssima Virgem: Nossa Salvação está em tuas mãos! O mesmo escreve o abade de Celes: Em tuas mãos foi colocada nossa salvação. Em termos mais enérgicos acentua-o Pseudo-Cassiano, quando diz sem ambages que a salvação depende dos favores e da proteção de Maria. Quem é protegido por ela, se salva; perde-se quem o não é. Isto leva S. Bernardino de Sena a exclamar: Ó Senhora, porque sois a dispensadora de todas as graças, e só de vossas mãos nos há de vir a salvação, de vós também depende nossa salvação.

E por isso, razão tinha Ricardo ao escrever: Assim como a pedra cai logo que é atirada a terra que a sustém, assim uma alma, tirado o socorro de Maria, cairá primeiramente no pecado e depois no inferno. Deus não nos há de salvar sem a intercessão de Maria, assevera S. Boaventura; pois, assim como uma criancinha não pode viver sem a ama, da mesma forma ninguém se pode salvar sem a proteção de Maria. Tenha, por conseguinte, a tua alma, exorta o Santo, uma verdadeira sede de devoção à Maria; conserva-a sempre, não a deixeis até que vás receber no céu a maternal bênção de Maria. Ó Virgem Santíssima, exclamava S. Germano, ninguém pode chegar ao conhecimento de Deus, senão por vós, ó Mãe de Deus, Virgem Mãe, ó cheia de graça! E de novo: Se não nos abrísseis o caminho, ninguém escaparia às solicitações da carne e do pecado.

Como só por meio de Jesus Cristo temos acesso junto ao Padre eterno, igualmente, observa S. Bernardo, só por meio de Maria temos acesso junto a Jesus Cristo. E a tal resolução de Deus, isto é, que sejamos salvos por intermédio de Maria, dá o Santo este belo motivo: Por meio de Maria receba-nos àquele Salvador, que por meio dela nos foi dado! Dá-lhe, por isso, o nome de Mãe da graça e da nossa salvação. Que seria, pois, de nós, indaga S. Germano, que esperança nos restaria de salvação, se nos abandonásseis, ó Maria, ó vida dos cristãos?

(Um mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria segundo Santo Afonso de Ligório, por Mons. Ascânio Brandão. Edições Paulinas, 2ª edição. pg. 19-24.)



2 de maio – O devoto de Maria não se perde

Um verdadeiro devoto de Maria não se perde. É impossível que se perca um devoto de Maria, que fielmente a serve e a ela se encomenda. À primeira vista talvez pareça um tanto ousada esta proposição. Antes, porém, que se a rejeite, peço que se leia o que a respeito eu vou apresentar. Afirmo que é impossível perder-se um devoto da Mãe de Deus. Não me refiro àqueles que abusam dessa devoção para pecarem com menos temor. Desaprovam alguns que muito se celebrem as misericórdias de Maria para com os pecadores, dizendo que estes dela abusavam para mais pecarem. Mas injustamente o desaprovam. Pois esses presumidos, por esta sua temerária confiança, merecem castigo e não misericórdia. Falo tão somente daqueles devotos de Maria que, ao desejo de emenda, unem a perseverança em obsequiá-la. Quanto a estes, repito, é moralmente impossível que se percam. O mesmo afirma o padre Crasset, em seu livro sobre "A verdadeira devoção à Virgem Maria". E antes já o afirmaram Veja em sua Teologia Mariana, Mendoza e outros teólogos. Que não falaram irrefletidamente, vê-lo-emos pelas afirmações dos Doutores e dos santos. Ninguém se admire à vista de tantas sentenças uniformes dos autores. Quis referi-las todas, a fim de provar o acordo geral dos escritores sobre este ponto.

A devoção a Maria é penhor de eterna bem-aventurança. É impossível salvar-se quem não é devoto de Maria e não vive sob sua proteção, diz Sto. Anselmo, e também é impossível que se condene quem se encomenda à Virgem, e por ela é olhado com amor. Quase com os mesmo termos, isso confirma Sto. Antonino. Não podem salvar-se aqueles, escreve o Santo, dos quais Maria tem afastado seus misericordiosos olhos; mas salvam-se necessariamente os que por ela são vistos com amor e protegidos por sua intercessão. Repare-se, porém, na primeira desta proposição e tremam aqueles que fazem pouco caso da devoção à Mãe de Deus, ou que a abandonam por negligência. Estes santos afirmam que não há possibilidade de salvação para quem não é amparado por Maria. A mesma coisa asseveram outros, como Sto. Alberto Magno: Todos os que não são vossos servos hão de perder-se, ó Maria. E S. Boaventura: Aquele que se descuida de servir à Santíssima Virgem morrerá em pecado. Em outro lugar: Quem a vós não recorre, Senhora, não entrará no paraíso. No Salmo 99 de seu Saltério Mariano chega a dizer que não só não se salvará, mas que nem esperança de salvação terá aquele do qual Maria aparta seu rosto. E primeiro o disse Pseudo-Inácio mártir, afirmando que não pode salvar-se um pecador senão por meio da Santa Virgem, cuja misericordiosa intercessão salva muitos que deveriam ser condenados pela justiça divina. O abade de Celes repete essas palavras. É nesse sentido que a Igreja aplica a Maria esta passagem dos Provérbios (8, 36): Todos os que me odeiam amam a morte eterna. Sobre o texto: "Ela é semelhante ao navio de um mercador" (Pv. 31, 14), diz Ricardo de S. Lourenço: Todos os que não estiverem a bordo desse navio, serão submergidos no mar deste mundo. Até o protestante Ecolampádio tinha por indício certo de reprovação a pouca devoção à Mãe de Deus.

Por outro lado, diz Maria: Aquele que me serve não será condenado (Ecli. 24, 30). Quem a mim recorre e ouve minhas palavras não se perderá. Pelo que diz S. Boaventura: Senhora, quem se esforça por servir-vos está longe da condenação. E isso acontecerá, afirma Pseudo-Hilário, ainda que no passado tenha alguém ofendido muito a Deus.

Por isso o demônio trabalha para que os pecadores, depois de perderem a graça de Deus, percam também a devoção de Maria. Observando Sara que Isaac ia pegando os maus costumes de Ismael, com quem brincava, pediu a Abraão que expulsasse este e também sua mãe Agar. "Expulsa a escrava com seu filho!" Não se contentou em mandar embora o filho. Exigiu que se expulsasse também a mãe. Pois imaginou que, se esta ficasse, a cada passo o filho viria a casa para vê-la. Da mesma forma o demônio não se contenta com ver uma alma separar-se de Jesus Cristo. Quer vê-la também separada da Mãe de Jesus. "Expulsa a escrava com seu filho!" Pois teme que a Mãe com seus rogos reconduza o Filho a essa alma. E é com razão que o teme, porquanto, afirma Pacciucchelli, não tarda a encontrar a Deus quem é fiel em obsequiar a Mãe de Deus.

Salvo-conduto que nos livra do inferno, é, por isso, o acertado nome que Sto. Efrém dá à devoção a Maria. Segundo S. Germano, é Maria a protetora dos condenados. Realmente, é certo e fora de dúvida que a Maria, conforme a sentença de S. Bernardo, não lhe falta poder, nem vontade para nos salvar. Tem poder porque é impossível ficar desatendida uma oração sua, garante-nos Sto. Antonino. Ou, como diz S. Bernardo, seus rogos jamais ficam sem resultado, mas sempre alcançam o que pretendem. Tem vontade de salvar-nos, porque, como Mãe, deseja nossa salvação mais do que nós a desejamos. Ora, assim sendo, como poderá perder-se um fiel devoto de Maria? E ainda que seja pecador, salvar-se-á se com perseverança e propósito de emenda se encomendar a essa boa mãe. Ela o levará ao conhecimento de seu miserável estado, ao arrependimento de seus pecados. Obter-lhe-á a perseverança no bem e finalmente uma boa morte. Qual é a mãe que podendo, com um simples pedido ao juiz, livrar seu filho da morte, não o faria? E poderíamos nós pensar que Maria, tão devotada Mãe para com seus devotos, deixe de livrar, um filho da morte eterna quando lhe é possível e tão fácil consegui-lo?

Ó Mãe de Deus, se em vós puser minha confiança, serei salva. Se estiver sob vossa proteção, nada tenho a recear porque a devoção para convosco é uma segura arma de salvação, por Deus concedida só aos que deseja salvar. Por isso até Erasmo assim saudava a Santíssima Virgem: Deus vos salve, ó terror do inferno, ó esperança dos cristãos; a confiança em vós assegura a salvação.

A devoção a Maria protege contra a fúria de Satanás. Oh! Quanto desagrada ao demônio a perseverante devoção de uma alma à Mãe de Deus! Afonso Alvarez, muito devoto de Maria, foi atormentado pelo demônio com violentas tentações impuras, uma vez que estava rezando. Deixa esta tua devoção para com Maria, disse-lhe o inimigo, que eu deixarei de tentar-te. Foi revelado a Sta. Catarina de Sena, como atesta Luís Blósio, que Deus concedera a Maria, em consideração a seu unigênito, a graça de não cair presa do inferno pecador algum que a ela se recomendar devotamente. O próprio profeta Davi pedia ao Senhor que o livrasse pelo amor que tinha à honra de Maria: Senhor, eu amei o decoro da vossa casa…; não percais com os ímpios a minha alma (Sl. 25, 8).

Diz "vossa casa", porque Maria foi certamente aquela casa que o próprio Deus se preparou na terra para sua habitação, e onde ao fazer-se homem achou seu repouso. Assim está escrito nos Provérbios (9, 1): Senhor, eu amei o decoro da vossa casa…; não perderá certamente, dizia Pseudo-Inácio mártir, quem é fiel na devoção a essa Virgem Mãe. E isso confirma S. Boaventura com as palavras: Senhora, os que vos amam gozam grande paz nesta vida, e na outra não verão a morte eterna. Nunca sucedeu, nem sucederá, assegura-nos o piedoso Blósio, que um humilde e diligente servo de Maria se perca eternamente.

Oh! Quantos permaneceriam obstinados e se condenariam para sempre, se não se houvesse Maria empenhado junto ao Filho para usar a misericórdia em favor deles!

(Um mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria segundo Santo Afonso de Ligório, por Mons. Ascânio Brandão. Edições Paulinas, 2ª edição. pg. 27-32.)


3 de maio – Maria cheia de Graças para nos salvar

Inegavelmente foi a alma de Maria a mais bela que Deus criou. Depois da Encarnação do Verbo foi esta a obra mais formosa e mais digna de si, feita pelo Onipotente neste mundo. Uma maravilha enfim que só é excedida pelo próprio Criador, como diz Nicolau monge. Por isso não desceu a graça em Maria, gota a gota como nos outros santos. Desceu ao contrário tal como "a chuva sobre o velo" (Sl. 71, 6). Semelhante à lã do velo sorveu a Virgem com alegria toda a grande chuva da graça, sem perder uma só gota.

Era-lhe, pois lícito exclamar: Possui em sua plenitude dos santos está minha morada (Ecli. 24, 16). Isto significa, conforme a explicação de S. Boaventura: Possui em sua plenitude o que só em parte possuem os outros santos. E S. Vicente Ferreri, referindo-se particularmente à santidade de Maria, antes de seu nascimento, diz que excedeu a de todos os anjos e santos.

A graça que adornou a Santíssima Virgem sobrepujou não só a de cada um em particular, mas a de todos os santos reunidos, como prova o doutíssimo padre Francisco Pepe, jesuíta, em sua bela obra das Grandezas de Jesus e de Maria. Nela afirma que essa tão gloriosa opinião para nossa Rainha é hoje em dia comum e certa entre os teólogos modernos, como Cartagena, Suarez, Spinelli, Recupito, Guerra e outros. Todos examinaram a questão ex-professo, coisa que não haviam feito os doutores antigos. Conta Pepe que a Mãe de Deus agradeceu a Suarez, por meio do padre Guttierez, o haver defendido com tanto valor essa probabilíssima sentença. Em seu Devoto de Maria, atesta Segneri, que essa proposição é sustentada pela comum opinião da escola de Salamanca. Ora, se esta outra sentença: Maria, desde o primeiro instante de sua Conceição Imaculada, recebeu uma graça superior à de todos os anjos e santos juntos. Suarez defende-a com energia, sendo nisso acompanhado por Spinelli, Recupito e Colombière.

Maria foi fiel à divina graça. Dizem muitos e graves teólogos que uma alma virtuosa produz um ato de virtude, em intensidade igual ao hábito que possui, cada vez que corresponde às graças atuais que de Deus recebe. Adquire assim, vez por vez, um novo e duplo merecimento que é igual à totalidade de todos os méritos adquiridos até então. Esse aumento, dizem eles, foi concedido aos anjos durante o tempo de sua provação. Ora, se os anjos possuíam semelhante graça, quem ousará sonega-la à Divina Mãe, enquanto viveu na terra, principalmente no mencionado tempo de sua existência no seio materno, no qual foi certamente mais fiel que os anjos, em corresponder à graça? Durante ele duplicou a cada momento aquela graça sublime que possuía desde o começo. Pois, correspondendo-lhe com todas as forças e perfeitamente, duplicava, por conseguinte seus méritos a cada ato que fazia, em todo instante. Só por aí podemos avaliar que tesouros de graças, de merecimentos e de santidade trouxe Maria ao mundo, quando nasceu.

Alegremo-nos, portanto, com nossa Mãe querida, que nasce tão santa, tão cara a Deus, e cheia de graça. E alegremo-nos não só por ela, mas também por nós. Pois veio ao mundo enriquecida de graça, tanto para a glória como para o bem nosso. Adverte Sto. Tomás que de três modos foi cheia de graça a Santíssima Virgem. Na alma, porque desde o princípio sua bela alma foi inteiramente de Deus. No corpo, pois quede sua puríssima carne mereceu revestir o Verbo Eterno. Finalmente o foi em nosso comum benefício, para que todos os homens pudessem participar da sua graça. Alguns santos, ajunta o Doutor Angélico, possuem tanta graça que não só lhes basta a eles, como é suficiente para salvar a muitos, ainda que não a todos os homens. Só a Jesus e a Maria foi dada tão abundante graça, que seria suficiente para salvar a todo o gênero humano. Por isso S. João diz de Jesus Cristo: Nós todos temos recebidos de sua plenitude (Jo. 1, 16). De Maria afirmam também a mesma verdade. Sto. Tomás de Vilanova, por exemplo, escreve: Ela é cheia de graça e de sua plenitude recebem todos. E assim – afirma Pacciuchelli – não há quem não participe da graça de Maria. Quem existiu jamais no mundo, pergunta ele, a quem Maria não tenha sido tão benigna, ou não haja dispensado alguma misericórdia? É preciso notar, porém que recebemos a graça de Jesus Cristo, como de seu autor, e de Maria, como medianeira; de Jesus como Salvador, de Maria, como advogada; de Jesus, como fonte, de Maria, como canal.

Eis o motivo porque S. Bernardo diz que Deus constituiu Maria qual aqueduto das misericórdias, que quer dispensar aos homens. Encheu-a de graça, para que de sua plenitude cada um recebesse sua parte. À vista disso o Santo exorta-nos a considerarmos com que amor quer o Senhor que honremos essa grande Virgem, na qual colocou todos os tesouros de sua riqueza. Fê-lo assim, a fim de que quanto temos de esperança, de graça e de salvação, tudo agradeçamos à nossa amantíssima Rainha. Pois tudo nos provém de suas mãos e pela sua intercessão. Infeliz da alma que, descuidando-se de se recomendar a Maria, se fecha assim este canal de graças! Holofernes, quando quis apoderar-se da cidade de Betúlia, procurou cortar-lhe os aquedutos. E isto faz também o demônio quando quer tomar posse de uma alma: fala abandonar a devoção à Maria Santíssima. Fechado este canal, perderá ela facilmente a luza, o temor de Deus, e enfim a salvação eterna.

(Um mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria segundo Santo Afonso de Ligório, por Mons. Ascânio Brandão. Edições Paulinas, 2ª edição. pg. 34-37.)

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