O resgate de um relacionamento

 Dado Moura - comportamento e reflexões // visit site

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Não há como lutar pelo relacionamento ou desejar  fazer deste algo mais fecundo, se não houver reciprocidade nos esforços.

Quando felicitamos alguém desejamos o melhor e juntamente com a listas desses votos estão também  a saúde e a felicidade. Mas para muitas pessoas, a importância em salvar seu relacionamento seria o desejo que gostaria de alcançar.

Não é difícil encontrarmos pessoas que lutam  para o resgate da saúde do seu namoro quando, depois de algum tempo de convivência, a pessoa percebe que o envolvimento com o outro tem deixado a desejar.  Poderá, então, ser o momento de reavaliar os objetivos assumidos neste namoro. Entretanto, mais delicado que acolher a decisão de romper com um namoro é viver certos impasses dentro da relação conjugal.
Em qualquer relacionamento, seja no namoro ou no casamento, as nossas decisões, de certa maneira, afetam o nosso parceiro.  Se os casais não aprenderem a acolher a opinião do outro antes de tomar uma decisão,  eles, na verdade, estarão acumulando problemas para o futuro.

Das dificuldades que podemos enfrentar na vida conjugal, na sua grande maioria, está aquela em acreditar que a minha maneira de viver  o compromisso é a correta ou a minha atitude é a certa e cabe ao cônjuge, o qual na nossa visão está errado, em entender e aceitar definitivamente aquilo que propomos. Na tentativa de cada um convencer o outro da sua verdade, muitas "farpas" são trocadas.

Na vida a dois, fica cada vez mais claro que não podemos ser felizes se quisermos viver o compromisso por nós mesmos. A exemplo disso, basta-nos lembrar das vezes que dizíamos : "Se fulano (a) está feliz, eu estou feliz também!  Em outras ocasiões, compadecíamos das coisas que entristeciam o nosso cônjuge e também rejubilávamos por aquilo que lhe agradava, entre outras coisas.
Tal disposição precisa ser reassumida  e cultivada por ambos não somente no período que estavam em  lua de mel mas por todo o tempo.

Todavia, podemos ter esquecido que o relacionamento conjugal por si, une não somente os corpos, mas também  realiza um vínculo emocional. Ao abandonarmos esse princípio, as crises podem ofuscar aquela nossa disposição – assumida no casamento – de acolher o outro seja na alegria e nas tristezas, na saúde ou na doença todos os dias da nossa vida.  E, consequentemente, o interesse pelos sentimentos do outro é suprimido ou desprezado.

No convívio a dois, não há como apenas uma pessoa estar disposta a lutar pelo relacionamento, ou desejar  fazer deste cada vez mais fecundo, se não houver reciprocidade nos esforços. Quando as nossas expectativas dentro da vida conjugal vêm sendo ignoradas pelo outro, pode  parecer que há apenas uma opção…O rompimento!

Diante da radical possibilidade, somos tomados por uma grande agitação emocional, pois não sabemos se estaríamos fazendo a coisa certa.
Mas, antes de qualquer atitude e por mais difícil que possa ser, precisamos mostrar ao nosso cônjuge a nossa vulnerabilidade, naquilo que nos faz cogitar até na ideia de assumir algo extremo para a relação.
Se acreditamos que o casamento estabelece entre nós um vínculo também emocional,  a maneira mais apropriada de resgatar nosso relacionamento é fazer com que o outro entenda que através da imposição de regras unilaterais, não é a forma mais eficaz de viver um compromisso, especialmente, às custas do silêncio ou do desrespeito do seu cônjuge, numa relação que tem como princípio o bem estar coletivo.

Um abraço

Dado Moura


Plebiscito sobre união gay?

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"Comissão de Feliciano aprova projeto de plebiscito sobre união civil gay", dizem. A forma escolhida para passar a notícia carrega já na manchete uma dose grotesca de ideologia.

Antes de mais nada, a comissão não é "de Feliciano". É uma comissão permanente da Câmara dos Deputados que não foi inventada pelo pastor e nem pela dita "bancada evangélica". Está no Regimento Interno da Câmara. Ainda, presidente de comissão não é "dono" dela. A frase faz tanto sentido quanto dizer, por exemplo, "Câmara de Henrique Alves", uma vez que o deputado do PMDB é o atual presidente da Câmara dos Deputados.

O projeto de plebiscito tampouco é da autoria do Marco Feliciano ou mesmo do seu partido. O PDC 232/2011 é do deputado Zacharow, do PMDB do Paraná. Foi recebido pela CDHM no dia 14/06/2011, há mais de dois anos portanto, quando o deputado Feliciano sequer sonhava em ser presidente da Comissão.

Certo, o PDC 521/11 – apensado ao 232 – é da autoria do Marco Feliciano, mas (insista-se) foi proposto em novembro de 2011, quando o deputado não era presidente da CDHM e quando o 232/2011 já estava há meses nesta comissão. O projeto apensado é na verdade totalmente irrelevante aqui, uma vez que nada acrescenta ao que está em tramitação ordinária. Portanto, o que existe aqui é meramente uma tentativa retórica de desqualificar a priori a proposta, associando-a ao fundamentalismo evangélico. Não se trata de jornalismo informativo, e sim de guerrilha cultural disfarçada de boa imprensa. Tal não se pode perder de vista.

Isto posto, dois breves comentários sobre o mérito do projeto. Há dois aspectos sobre os quais ele pode ser analisado.

Primeiro, por princípio, trata-se de uma proposta absurda para qualquer um dos dois lados em litígio. Os que defendem que "Família" é uma realidade que não é passível de ser (re)inventada pelo direito positivo negam-se também, é óbvio, a aceitar que a sua destruição possa ser referendada via democracia direta. O povo não tem potestade para dizer que dois pederastas ou duas safistas são uma família, e não o tem nem por intermédio dos seus representantes e nem diretamente. Aqui, a forma de exercício da democracia (direta ou indireta) em rigorosamente nada altera os seus limites intrínsecos.

Depois, os que defendem que se trata de fazer justiça a uma minoria socialmente oprimida também não podem aceitar que o assunto seja levado a júri popular, uma vez que o próprio fato de se tratar de uma "minoria socialmente oprimida" implica em dizer que a maioria da população não é sensível aos seus anseios.

[E estariam cobertos de razão, registre-se, se este caso fosse de direitos de minorias. No entanto, é precisamente isso o que nós negamos. É isto o que deve ser discutido com honestidade, e não brandido ad baculum como se se tratasse de uma platitude auto-evidente.]

Segundo, para fins práticos, parece-me que um resultado não-manipulado deste plebiscito seria grandemente favorável aos defensores da Família. A maior parte da população brasileira, que ainda é conservadora, rejeitaria enfaticamente, penso, esta nefasta equiparação entre a união homossexual e a Família radicada na natureza humana. O que seria muito bom para o Brasil.

O problema é que esta seria uma vitória meramente parcial e contingente, obtida sobre falsas bases (é errado dizer que dois marmanjos são uma família não porque o povo "acha" que não é, e sim porque "Família" é uma entidade que contém em si mesma a potencialidade para a geração e educação de novos membros para a sociedade) e permanentemente periclitante (e quando o povo "mudar de idéia"? Qual deve ser o prazo de validade de uma consulta popular dessa natureza?). No entanto, nas atuais conjunturas, talvez seja o melhor que nós possamos ter. Talvez seja a nossa melhor oportunidade para rompermos a cortina de desinformação sobre o tema. Talvez seja a nossa melhor chance de esclarecermos – em igualdade de condições – a população sobre este assunto tão importante para a sobrevivência da civilização. E, por tudo isso, talvez não devamos ser tão ligeiros em rejeitar a proposta.