Discurso do Papa à Cúria: O perigo da ideologia de género

A grande alegria, com que se encontraram em Milão famílias vindas de todo o mundo, mostrou que a família, não obstante as múltiplas impressões em contrário, está forte e viva também hoje; mas é incontestável – especialmente no mundo ocidental – a crise que a ameaça até nas suas próprias bases. Impressionou-me que se tenha repetidamente sublinhado, no Sínodo, a importância da família para a transmissão da fé como lugar autêntico onde se transmitem as formas fundamentais de ser pessoa humana. É vivendo-as e sofrendo-as, juntos, que as mesmas se aprendem. Assim se tornou evidente que, na questão da família, não está em jogo meramente uma determinada forma social, mas o próprio homem: está em questão o que é o homem e o que é preciso fazer para ser justamente homem.

Os desafios, neste contexto, são complexos. Há, antes de mais nada, a questão da capacidade que o homem tem de se vincular ou então da sua falta de vínculos. Pode o homem vincular-se para toda a vida? Isto está de acordo com a sua natureza? Ou não estará porventura em contraste com a sua liberdade e com a auto-realização em toda a sua amplitude? Será que o ser humano torna-se ele próprio, permanecendo autônomo e entrando em contato com o outro apenas através de relações que pode interromper a qualquer momento? Um vínculo por toda a vida está em contraste com a liberdade? Vale a pena também sofrer por um vínculo? A recusa do vínculo humano, que se vai generalizando cada vez mais por causa duma noção errada de liberdade e de auto-realização e ainda devido à fuga da perspectiva duma paciente suportação do sofrimento, significa que o homem permanece fechado em si mesmo e, em última análise, conserva o próprio «eu» para si mesmo, não o supera verdadeiramente. Mas, só no dom de si é que o homem se alcança a si mesmo, e só abrindo-se ao outro, aos outros, aos filhos, à família, só deixando-se plasmar pelo sofrimento é que ele descobre a grandeza de ser pessoa humana. Com a recusa de tal vínculo, desaparecem também as figuras fundamentais da existência humana: o pai, a mãe, o filho; caem dimensões essenciais da experiência de ser pessoa humana.

Num tratado cuidadosamente documentado e profundamente comovente, o rabino-chefe de França, Gilles Bernheim, mostrou que o ataque à forma autêntica da família (constituída por pai, mãe e filho), ao qual nos encontramos hoje expostos – um verdadeiro atentado –, atinge uma dimensão ainda mais profunda. Se antes tínhamos visto como causa da crise da família um mal-entendido acerca da essência da liberdade humana, agora torna-se claro que aqui está em jogo a visão do próprio ser, do que significa realmente ser homem. Ele cita o célebre aforismo de Simone de Beauvoir: «Não se nasce mulher; fazem-na mulher – On ne naît pas femme, on le devient». Nestas palavras, manifesta-se o fundamento daquilo que hoje, sob o vocábulo «gender - género», é apresentado como nova filosofia da sexualidade. De acordo com tal filosofia, o sexo já não é um dado originário da natureza que o homem deve aceitar e preencher pessoalmente de significado, mas uma função social que cada qual decide autonomamente, enquanto até agora era a sociedade quem a decidia. Salta aos olhos a profunda falsidade desta teoria e da revolução antropológica que lhe está subjacente.

O homem contesta o fato de possuir uma natureza pré-constituída pela sua corporeidade, que caracteriza o ser humano. Nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um fato pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria. De acordo com a narração bíblica da criação, pertence à essência da criatura humana ter sido criada por Deus como homem ou como mulher. Esta dualidade é essencial para o ser humano, como Deus o fez. É precisamente esta dualidade como ponto de partida que é contestada. Deixou de ser válido aquilo que se lê na narração da criação: «Ele os criou homem e mulher» (Gn 1, 27). Isto deixou de ser válido, para valer que não foi Ele que os criou homem e mulher; mas teria sido a sociedade a determiná-lo até agora, ao passo que agora somos nós mesmos a decidir sobre isto. Homem e mulher como realidade da criação, como natureza da pessoa humana, já não existem. O homem contesta a sua própria natureza; agora, é só espírito e vontade. A manipulação da natureza, que hoje deploramos relativamente ao meio ambiente, torna-se aqui a escolha básica do homem a respeito de si mesmo. Agora existe apenas o homem em abstrato, que em seguida escolhe para si, autonomamente, qualquer coisa como sua natureza.

Homem e mulher são contestados como exigência, ditada pela criação, de haver formas da pessoa humana que se completam mutuamente. Se, porém, não há a dualidade de homem e mulher como um dado da criação, então deixa de existir também a família como realidade pré-estabelecida pela criação. Mas, em tal caso, também a prole perdeu o lugar que até agora lhe competia, e a dignidade particular que lhe é própria; Bernheim mostra como o filho, de sujeito jurídico que era com direito próprio, passe agora necessariamente a objeto, ao qual se tem direito e que, como objeto de um direito, se pode adquirir. Onde a liberdade do fazer se torna liberdade de fazer-se por si mesmo, chega-se necessariamente a negar o próprio Criador; e, consequentemente, o próprio homem como criatura de Deus, como imagem de Deus, é degradado na essência do seu ser. Na luta pela família, está em jogo o próprio homem. E torna-se evidente que, onde Deus é negado, dissolve-se também a dignidade do homem. Quem defende Deus, defende o homem.


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Preparação para o Matrimônio - II: vivendo o serviço

Antes de avançar sobre as características do matrimônio, importa meditar sobre um aspecto essencial deste sacramento: o serviço. Todos os esposos, noivos e namorados deviam pensar na seguinte frase do Evangelho:  “aquele que quiser salvar a sua vida, perde-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobra-la-á” (Mt 16, 25).

É perceptível entre os cristãos (mesmo entre os muito bem formados) a ignorância sobre os fundamentos do sacramento do matrimônio. E se há um conhecimento que não se pode ignorar é que ninguém que se casa para “se encontrar” ou “para se preencher” alcançará seu intento. A cara-metade é um mito! O par perfeito é uma ilusão muito perigosa. Não existe a metade prometida ou algo semelhante que complemente o homem. É preciso que se diga aos namorados e noivos: matrimônio é sacramento de doação! Assim como o sacerdócio, o matrimônio é um dos sacramentos de serviço. Isto mesmo: o padre é ordenado para servir a Deus e sua Igreja no serviço litúrgico; os esposos dão-se mutuamente em matrimônio, numa entrega livre, fecunda, total e generosa, também para servir a Deus e sua Igreja. Apenas a meditação deste aspecto do matrimônio faria refletir muitos namorados que ardem pelo matrimônio – e muitíssimos já casados! É uma ótima oportunidade de fazer um longo exame de consciência:

Estou preparado(a) para servir o(a) esposo(a) que receberei?
Meu matrimônio já é serviço para o(a) esposo(a), cujo(a) amor, companhia e fidelidade devotei?

Houve tempo em que o matrimônio era visto como modo de se alcançar bens (tanto pelo lado de quem dava a filha em matrimônio quanto do lado de quem pleiteava as bodas). Neste sentido, o cristianismo é um avanço incomensurável em relação ao paganismo, cujo objetivo com o matrimônio era apenas auferir algum tipo de benefício material (terras, poder, pensões, heranças), incluindo nesse negócio todo prazer físico que fosse possível. Para os cristãos, o matrimônio não se reduz à troca de carteiras, muito menos de fluidos corporais; antes, matrimônio é a entrega total e integral do indivíduo, um homem a uma mulher, livre, aberto à vida incondicionalmente. O paganismo de modo algum tolera amores incondicionais, amores generosos. O primeiro passo para os que se sentem chamados ao matrimônio é entender o caráter diaconal do matrimônio: o fundamento da vida conjugal é a doação dos esposos, mas não de modo impreciso. Nas palavras do beato João Paulo II, “a tarefa fundamental da família é o serviço à vida” (Familiaris Consortio, 28). Em breve falaremos mais disso.

Fonte: Humanitatis.net


Preparação para o Matrimônio - II

Sete Erros Fatais do Relativismo Moral





O Relativismo moral é um tipo de subjetivismo que sustenta que as verdades morais são preferências muito parecidas com os nossos gostos em relação a sorvete, por exemplo. O relativismo moral ensina que quando se trata de moral, do que é eticamente certo ou errado, as pessoas podem e devem fazer o que quer que sintam ser o certo para elas. Verdades éticas dependem de indivíduos, grupos e culturas que as sustentam. Porque acreditam que a verdade ética é subjetiva, as palavras comodevem ou deveriam não fazem sentido porque a moral de todo mundo é igual; ninguém tem a pretensão de uma moral objetiva que seja pertinente aos outros. O relativismo não exige um determinado padrão de comportamento para todas as pessoas em situações morais semelhantes. Quando confrontadas com exatamente a mesma situação ética, uma pessoa pode escolher uma resposta, enquanto outra pode escolher o oposto. Não há regras universais de conduta que se apliquem a todos.

O relativismo moral, num sentido prático, é completamente inviável. Que tipo de mundo seria o nosso se o relativismo fosse verdade? Seria um mundo em que nada estaria errado – nada seria considerado mau ou bom, nada digno de louvor ou de acusação. A justiça e a equidade seriam conceitos sem sentido, não haveria responsabilização, não haveria possibilidade de melhoria moral, nem discurso moral. Um mundo em que não haveria tolerância. Este é o tipo de mundo que o relativismo moral produz. Vejamos os sete erros fatais do Relativismo:

1. Relativistas morais não podem acusar de má conduta a outras pessoas. O relativismo torna impossível criticar o comportamento dos outros, porque, em última análise, nega a existência de algo como ”má conduta”. Se alguém acredita que a moralidade é uma questão de definição pessoal, então abre mão da possibilidade de fazer juízos morais  objetivos sobre as ações dos outros, não importa quão ofensivas elas sejam para o seu senso intuitivo de certo ou errado. Isto significa que um relativista não pode racionalmente se opor ao assassinato, ao estupro, ao abuso infantil, ao racismo, ao sexismo ou à destruição ambiental, se essas ações forem consistentes com o entendimento pessoal sobre o que é certo e bom por parte de quem as pratica . Quando o certo e o errado são uma questão de escolha pessoal, nós abdicamos do privilégio de fazer julgamentos morais sobre as ações dos outros. No entanto, se estamos certos de que algumas coisas devem ser erradas e que alguns julgamentos contra a conduta de outros são justificados – então o relativismo é falso.

2. Relativistas não podem reclamar do problema do mal. A realidade do mal no mundo é uma das primeiras objeções levantadas contra a existência de Deus. Toda esta objeção se fundamenta na observação de que existe mal verdadeiro. Mas mal objetivo não pode existir se os valores morais são relativos ao observador. O relativismo é inconsistente com o conceito de que o mal moral verdadeiro existe, porque nega que qualquer coisa possa ser objetivamente errada. Se não existe um padrão moral, então não pode haver desvio do padrão. Assim, os relativistas devem abandonar o conceito de verdadeiro mal e, ironicamente, também abandonar o problema do mal como um argumento contra a existência de Deus.

3. Relativistas não podem condenar alguém ou aceitar elogios. O relativismo torna os conceitos de louvor e condenação sem sentido, porque nenhum padrão externo de medição define o que deve ser aplaudido ou condenado. Sem absolutos, nada é, em última análise, ruim, deplorável, trágico ou digno de condenação. Nem é qualquer coisa, em última análise, boa, honrada, nobre ou digna de louvor. Relativistas são quase sempre inconsistentes nesse ponto, porque eles procuram evitar condenação, mas prontamente aceitam elogios. Se a moralidade é uma ficção, então os relativistas também devem remover as palavras aprovação e condenaçãode seus vocabulários. Mas se as noções de elogio e crítica são válidas, então o relativismo é falso.

4. Relativistas não podem fazer acusações de parcialidade ou injustiça. De acordo com o relativismo, as noções de equidade e justiça são incoerentes, já que ambos os conceitos ditam que as pessoas devem receber igualdade de tratamento com base em alguma norma externa acordada. No entanto o relativismo acaba com qualquer noção de normas vinculativas externas. Justiça implica punir aqueles que são culpados de um delito. Mas, sob o relativismo, a culpa e a condenação não existem – se nada for finalmente imoral, não há acusação e, portanto, nenhuma culpa digna de punição. Se o relativismo é verdadeiro, então não há tal coisa como justiça ou equidade, porque ambos os conceitos dependem de um padrão objetivo do que é certo. Se, porém, as noções de justiça e equidade fazem sentido, então o relativismo é refutado.

5. Relativistas não podem melhorar a sua moralidade. Relativistas podem mudar a sua ética pessoal, mas eles nunca podem se tornar pessoas melhores. De acordo com o relativismo, a ética de uma pessoa nunca pode se tornar mais ‘moral’. A ética e a moral podem mudar, mas nunca podem melhorar, já que não existe um padrão objetivo pelo qual medir esse melhoramento. Se, no entanto, o melhoramento moral parece ser um conceito que faz sentido, então o relativismo é falso.

6. Relativistas não conseguem manter discussões morais significativas. O que há para falar? Se a moral é totalmente relativa e todas as opiniões são iguais, então não há uma maneira de pensar melhor do que outra. Não há uma posição moral  que possa ser considerada como adequada ou deficiente, razoável, aceitável, ou até mesmo bárbara. Se disputas éticas só fazem sentido quando a moral é objetiva, então o relativismo só pode ser vivido de forma consistente se seus defensores ficarem em silêncio. Por esta razão, é raro encontrar um relativista racional e consistente, já que a maioria deles são rápidos para impor suas próprias regras morais, como, por exemplo, ”é errado forçar sua própria moralidade nos outros”. Isso coloca os relativistas em uma posição insustentável: se falam sobre questões morais, eles abandonam seu relativismo; se não falam, eles abrem mão de sua humanidade. Se a noção de discurso moral faz sentido intuitivamente, então o relativismo moral é falso.

7. Relativistas não podem promover a obrigação de tolerância. A obrigação moral relativista de ser tolerante é auto-refutante. Ironicamente, o princípio da tolerância é considerado uma das virtudes principais do relativismo. A moral é individual, assim eles dizem, e, portanto, devemos tolerar os pontos de vista dos outros e não julgar seu comportamento e atitudes. No entanto, se não existem regras morais objetivas, não pode haver nenhuma regra que exija a tolerância como um princípio moral que se aplica igualmente a todos. De fato, se não há absolutos morais, por que ser tolerante afinal? Relativistas violam seu próprio princípio de tolerância quando não conseguem tolerar as opiniões daqueles que acreditam em padrões objetivos morais. Eles são, portanto, tão intolerantes quanto freqüentemente acusam os que defendem a moral objetiva de ser. O princípio de tolerância é estranho ao relativismo. Se, por outro lado, a tolerância parece ser uma virtude, então o relativismo é falso.

O relativismo moral é falido. Não é um verdadeiro sistema moral. É auto-refutante. E hipócrita. É logicamente inconsistente e irracional. É seriamente abalado com simples exemplos práticos. Torna ininteligível a moralidade. Nem mesmo é tolerante! O princípio de tolerância só faz sentido em um mundo no qual existem absolutos morais, e somente se um desses padrões absolutos de conduta for “Todas as pessoas devem respeitar os direitos dos outros que diferem em conduta ou opinião”. A ética da tolerância pode ser racional somente se a verdade moral for objetiva e absoluta, não subjetiva e relativa. A tolerância é um princípio “em casa” no absolutismo moral, mas é irracional de qualquer perspectiva do relativismo ético.


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Sete Erros Fatais do Relativismo Moral

OBRAS RARAS DO CATOLICISMO: campanha de digitalização


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Entre os diversos periódicos depositados no sítio, destaque para alguns números da revista “A Ordem”, importante veículo do laicato (embora nela também escrevessem clérigos) e da intelectualidade católica brasileira. No período de sua publicação brilhou em dois grandes momentos: a fase inicial dirigida por Jackson de Figueiredo (1921-28) e, logo depois, sob a direção do grande Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde) contribuiu decisivamente para renovação do Catolicismo brasileiro nos anos 30 e 40. A revista, publicada até 1980, era vinculada ao Centro Dom Vital, fundado em 1922. Ambas as iniciativas tiveram como grande animador o arcebispo do Rio de Janeiro Dom Sebastião Leme, homem de grande visão e iniciativa. O Centro Dom Vital atingido nos anos 60 pelos dilemas internos da Igreja em nosso país e, após um período de hibernação, retomou agora em março de 2012 as suas atividades, tendo como atual presidente Luiz Paulo Horta. No sítio Obras Católicas podem ser feitos downloads de números da revista A Ordem, com interrupções, de 1937 a 1961.
Agrupadas em diversas categorias (Apologética, Bíblia, Biografia, Catecismo, Direito Canônico, Escatologia, Espiritualidade, Filosofia, História, Homiléticas, Liturgia, Patrologia, Revistas, Teologia, Boletins Informativos) o sítio é resultado de uma primeira campanha “iniciada em agosto de 2009 e concluída no mês de maio de 2011, tendo por objetivos imediatos a preservação e a divulgação de livros importantes que, por razões diversas, deixaram, desde há alguns anos, de ser editados no Brasil e mesmo no exterior”.
Além de clicar nas imagens para se chegar ao sítio das obras, pode-se buscar na lista de links na coluna à direita dos posts aqui publicados o endereço ora comentado.
Entre as muitas e importantes obras, para oferecer uma ideia do que pode ser achado, destacamos:
La Inquisición en España, Pe. Bernardino Llorca, S.J.
Diccionario de Patrística (sécs I a VI),  César Vidal Manzanares
Suma de Teología (Suma Teológica), Sto. Tomás de Aquino
Dictionnaire de Théologie Catolique, 15 vols.
Historia de la Liturgia, 2 vols., Mario Righetti

 



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OBRAS RARAS DO CATOLICISMO: campanha de digitalização

Deus realiza o seu desígnio: a divina Providência

A criação tem a sua bondade e a sua perfeição próprias, mas não saiu totalmente acabada das mãos do Criador. Foi criada “em estado de caminho” para uma perfeição última ainda a atingir e a que Deus a destinou. Chamamos divina Providência às disposições pelas quais Deus conduz a sua criação em ordem a essa perfeição.

É unânime, a este respeito, o testemunho da Escritura: a solicitude da divina Providência é concreta e imediata, cuida de tudo, desde os mais insignificantes pormenores até aos grandes acontecimentos do mundo e da história. É assim que, muitas vezes, vemos o Espírito Santo, autor principal da Sagrada Escritura, atribuir a Deus certas ações, sem mencionar causas-segundas. Jesus reclama um abandono filial à Providência do Pai celeste, que cuida das mais pequenas necessidades dos seus filhos.

A Providência e as causas segundas

Deus é o Senhor soberano dos seus planos. Mas, para a realização dos mesmos, serve-Se também do concurso das criaturas. Isto não é um sinal de fraqueza, mas da grandeza e bondade de Deus onipotente. É que Ele não só permite às suas criaturas que existam, mas confere-lhes a dignidade de agirem por si mesmas, de serem causa e princípio umas das outras e de cooperarem, assim, na realização do seu desígnio.

Aos homens, Deus concede mesmo poderem participar livremente na sua Providência, confiando-lhes a responsabilidade de submeter a terra e dominá-la. Assim lhes concede que sejam causas inteligentes e livres, para completar a obra da criação, aperfeiçoar a sua harmonia, para o seu bem e o dos seus semelhantes. Cooperadores muitas vezes inconscientes da vontade divina, os homens podem entrar deliberadamente no plano divino, pelos seus atos e as suas orações, como também pelos seus sofrimentos. Esta é uma verdade inseparável da fé em Deus Criador: Deus age em toda a ação das suas criaturas. É Ele a causa-primeira, que opera nas e pelas causas-segundas.

A providência e o escândalo do mal

Se Deus Pai todo-poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, tem cuidado com todas as suas criaturas, porque é que o mal existe? A esta questão, tão premente como inevitável, tão dolorosa como misteriosa, não é possível dar uma resposta rápida e satisfatória. É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta questão: a bondade da criação, o drama do pecado, o amor paciente de Deus que vem ao encontro do homem pelas suas alianças, pela Encarnação redentora de seu Filho, pelo dom do Espírito, pela agregação à Igreja, pela força dos sacramentos, pelo chamamento à vida bem-aventurada, à qual as criaturas livres são de antemão convidadas a consentir, mas à qual podem, também de antemão, negar-se, por um mistério terrível. Não há nenhum pormenor da mensagem cristã que não seja, em parte, resposta ao problema do mal.

Mas, porque é que Deus não criou um mundo tão perfeito que nenhum mal pudesse existir nele? No seu poder infinito, Deus podia sempre ter criado um mundo melhor. No entanto, na sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um mundo “em estado de caminho” para a perfeição última. Este devir implica, no desígnio de Deus, juntamente com o aparecimento de certos seres, o desaparecimento de outros; o mais perfeito, com o menos perfeito; as construções da natureza, com as suas destruições. Com o bem físico também existe, pois, o mal físico, enquanto a criação não tiver atingido a perfeição.

Os anjos e os homens, criaturas inteligentes e livres, devem caminhar para o seu último destino por livre escolha e amor preferencial. Podem, por conseguinte, desviar-se. De facto, pecaram. Foi assim que entrou no mundo o mal moral, incomensuravelmente mais grave que o mal físico. Deus não é, de modo algum, nem direta nem indiretamente, causa do mal moral. No entanto, permite-o por respeito pela liberdade da sua criatura e misteriosamente sabe tirar dele o bem:

“Deus todo-poderoso [...] sendo soberanamente bom, nunca permitiria que qualquer mal existisse nas suas obras se não fosse suficientemente poderoso e bom para do próprio mal, fazer surgir o bem” Santo Agostinho

Assim, com o tempo, é possível descobrir que Deus, na sua omnipotente Providência, pode tirar um bem das consequências dum mal (mesmo moral), causado pelas criaturas. Do maior mal moral jamais praticado, como foi o repúdio e a morte do Filho de Deus, causado pelos pecados de todos os homens, Deus, pela superabundância da sua graça, tirou o maior dos bens: a glorificação de Cristo e a nossa redenção. Mas nem por isso o mal se transforma em bem.

Assim, Santa Catarina de Sena diz aos que se escandalizam e se revoltam contra o que lhes acontece: “Tudo procede do amor, tudo está ordenado para a salvação do homem, e não com nenhum outro fim”

E São Tomás Moro, pouco antes do seu martírio, consola a filha com estas palavras: “Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito mau que nos pareça, é, na verdade, muito bom”

E Juliana de Norwich: “Compreendi, pois, pela graça de Deus, que era necessário ater-me firmemente à fé [...] e crer, com não menos firmeza, que todas as coisas serão para bem [...]”
Nós cremos firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Muitas vezes, porém, os caminhos da sua Providência são-nos desconhecidos. Só no fim, quando acabar o nosso conhecimento parcial e virmos Deus face a face, é que nos serão plenamente conhecidos os caminhos pelos quais, mesmo através do mal e do pecado, Deus terá conduzido a criação ao repouso desse Sábado definitivo, em vista do qual criou o céu e a terra.

Ano da Fé



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4ª Meta (Cont.)

Remorsos

Uns dos principais factores de sofrimento dos pais são os remorsos. Os remorsos são uma espécie de parasitas que se alimentam da boa consciência dos pais e são propagados pelos filhos com o objectivo maléfico de lançar uma epidemia de remorsos de forma a enfraquecê-los. É basicamente isto. Os remorsos são o cavalo de Tróia dos filhos, são uma forma maliciosa de invadirem quem lhes parece mais forte, e maior, atingindo directamente o coração do adversário: os pais.

Quem é pai ou mãe sofre ou já sofreu desta doença, desta fraqueza, deste martírio. Ou porque nos zangamos com toda a razão e a criança teve uma reacção absolutamente desproporcionada desatando aos gritos em absoluto sofrimento como se não houvesse amanhã; ou porque vamos sair à noite e o menino na hora da despedida baixou a cabeça e perguntou em voz baixa “vai sair outra vez… é?”; ou porque mandamos a criança para a cama só pelo sossego que a ida para a cama de um filho proporciona, e essa é, por isso, uma atitude egoísta; ou porque achamos que devíamos brincar mais com os nossos filhos e zangar-nos menos; ou porque simplesmente trabalhamos e passamos pouco tempo em casa, e é por causa disso que a criança teve negativa a Matemática. Todos os dias, todos os pais têm pelo menos seis ou sete vezes remorsos. Um drama.

É certo que os remorsos, ao contrário de outras doenças, não matam, mas moem. E as crianças sabem. Sabem e controlam os pais e as mães através dos remorsos, como se fossem um comando à distância: “Podes ir jantar fora, mas vais-te arrepender: o bifinho vai saber a vinagre. Ehehe…”
É urgente que seja lançado um Plano Nacional de Erradicação dos Remorsos e da Promoção do Alívio de Consciência. Mais uma vez, somos nós contra eles, os filhos.  

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Remorsos:
Inês Teotónio Pereira , i-online 29 Dez 2012

SERMÓN V DE LA INFRAOCTAVA DE NAVIDAD. EN QUE CONSISTE LA VERDADERA SABIDURÍA. POR: SAN ALFONSO MARÍA DE LIGORIO


Niño_Dios

Positus est hic in ruinam et resurrectionem multuorum.

«Este Niño que ves, está destinado para ruina, y para resurrección de muchos». (Luc. II, 34)

Así lo dijo el anciano Simeon, cuando tuvo el consuelo de recibir en sus brazos al niño Dios. Una de sus profecías que entonces anunció, fué ésta: Positus est hic in ruinam et resurrestionem mutuorum. Mira, éste Niño que ves, está destinado para ruina, y para resurrección de muchos. Con estas palabras alabó la suerte de los Santos, que después de la presente vida resucitarán a la eterna, en el reino de los bienaventurados; y deploró la desgracia de los pecadores, que por los gustos breves y despreciables de esta vida se precipitan a la ruina de su eterna condenación. A pesar de esto, son tan ciegos, que estos miserables sólo piensan en gozar de los bienes pasajeros de este mundo, y llaman necios a los Santos que procuran vivir pobres, humildes y mortificados. Pero día vendrá, en que conocerán que han errado, y dirán: ¡Insensatos de nosotros! El tenor de la vida de los justos nos parecía una necedad. Nos insensati vitam illorum œstimabamus insaniam. (Sap. v, 4). De esta manera vendrán a confesar, que los verdaderos necios lo fueron ellos mismos. Examinemos sino, en que consiste la verdadera sabiduría, y veremos:

Punto 1º Que los verdaderos necios son los pecadores.

Punto 2º Que los verdaderos sabios son los justos.

PUNTO 1

LOS VERDADEROS NECIOS SON LOS PECADORES

1. ¿Que mayor necedad puede imaginarse, que declararse enemigo de Dios, pudiendo tenerle como amigo? Y este modo de obrar ha sido la causa de llevar una vida miserable, y de preparase una eterna desventura, condenándose. Refiere San Agustín, que habiéndose encontrado en un monasterio de solitarios dos cortesanos del emperador, uno de ellos se puso a leer allí la vida de San Antonio Abad. Legebat, dice el Santo, et exuebatur mundo cor ejus. Leía, y leyendo se iba desembarazando su corazón de los efectos mundanos. Luego que vió de nuevo a su compañero, le habló de esta manera: Quid quœrimus? Major no esse potest spes nostra, quam quod amici imperatoris simus? Et quamdiu hoc erit? Amigo, le dice: ¿que anhelamos? ¿Podemos aspirar a otra cosa mayor en esta mundo que a ser amigos del emperador? Para conseguirlo ¡por cuántos peligros debemos pasar, exponiéndonos al más terrible de perder la vida eterna! Y concluyó diciendo: Amicus autem Dei, si volucro, ecce nunc fio. Si quiero dijo, ser amigo de Dios, puedo serlo desde luego, procurando volver a su divina gracia, En efecto, ¡cuántos afanes y sudores cuestan las amistades de los príncipes! al contrario; nada es más fácil que hacerse el pecador amigo de Dios, y ninguna humana puede darnos la vida eterna que la amistad divina nos ofrece.
2. Los gentiles tenían por imposible, que la criatura pudiese obtener la amistad de Dios, ya que la amistad hace iguales a los amigos, como dice San Jerónimo: Amicitia paras fácit aut pares accipit. Sin embargo, Jesucristo dice, que somos sus amigos si hacemos lo que Él nos manda: Vos amici mei estis, si feciritis quœ ego prœcipio vobis(Joann. XV, 14).
3. Y ¿no es, digo yo ahora, gran necedad de parte del pecador, querer vivir aborrecido de Dios, pudiendo disfrutar de su amistad? El Señor ama todo cuanto tiene ser, y nada aborrece de todo lo que ha hecho; ni aún a los tigres ni a las víboras. Diligis enim omnia quœ sunt, et nihil odisti eorum quœ fecisti. (Sap. XI, 25). Al contrario: Dios no puede menos que aborrecer a los pecadores. Con efecto; Dios no puede dejar de aborrecer el pecado, como que es un enemigo que diametralmente contradice su voluntad y se opone a ella: y por consiguiente, aborreciendose el pecado, se aborrece también al pecador: Similater autem odio sunt Deo impius et impietas ejus. (Sap. XIV, 9).
4.- La segunda necedad del pecador es llevar una vida contraria al fin para que Dios le creó. No nos ha creado el Señor, ni nos conserva la vida para que procuremos hacernos ricos y adquirir honores en este mundo, sino para que le amemos y sirvamos en esta vida, y después sigamos amándole y gozando de su presencia y amor en la eterna. Por lo tanto, la vida presente, como dice San Gregorio, es para nosotros como una camino que tenemos que recorrer para llegar a nuestra patria, que es el Paraíso. (Hom. 11, in Evang.)
5. Mas la desgracia de la mayor parte de los hombres consiste en que se entontecen mientras viven, porque en vez de andar por el camino de la salud, andan por el de su condenación. El que se entontece por un vil interés, pierde los bienes inmensos del Paraíso; el que se entontece por los honores y por un poco de humo, pierde la ocasión de ser hecho rey en el Cielo: el que se entontece por los placeres de los sentidos y por los deleites momentáneos, pierde la gracia de Dios, y se condena a arder para siempre en la cárcel espantosa del Infierno. ¡Pobre necio! si a cada pecado que comete se le marcara una mano con hierro candente; si debiese estar encerrado en una oscura prisión por diez año, ciertamente no lo cometería. ¿Y no sabe el desgraciado, que, pecando, será condenado a permanecer siempre encerrado en la cima profunda del Infierno, donde deberá estar ardiendo por toda la eternidad? San Juan Crisóstomo dice, que algunos, por salvar el cuerpo, pierden el alma; y no ven que perdiendo el alma, pierden también el cuerpo, quue será condenado a sufrir con ella eternamente: Si animam negligimus, nec corpus salvare posterimus.
6. Pierden de tal modo el juicio los pecadores, que se hacen semejantes a los brutos, los cuales, siguiendo el instinto de los sentidos, hacen lo que éstos les inspiran, sin examinar lo que es lícito o prohibido. Pero el obrar de esta suerte no es propio de los hombres, como dice San Juan Crisóstomo, sino de bestias. Ser hombre denota un ser racional, es decir, que obra conforme a la razón, no según el apetito de los sentidos. Si Dios concediera el uso de la razón a una bestia, y esta obrase conforme a la razón, se diría que la bestia obraba como el hombre. Del mismo modo, pues cuando el hombre obra siguiendo el impulso de los sentidos y contra lo que dicta la razón, debe decirse que obra como bestia. El que obra como hombre, razonablemente, atiende a lo futuro. Por eso dice el Deuteronomio (XXXII; 29): Utinam saperent et intetligerent et novissima prœviderent. Preveáse lo futuro, es decir lo que ha de suceder después de esta vida, la cuenta que habrá de darse al instante de la muerte, después de la cual será el hombre destinado al Infierno o al Paraíso, según se hubiere portado.
7. Los pecadores sólo piensan en el tiempo presente, y viven olvidados del fin para que fueron creados. Pero ¿de que les sirve ganar algo que no  que no les aproveche para conseguir el fin, que es lo que únicamente puede hacernos felices? Perdido éste, lo hemos perdido todo: y este fin es el conseguir la eterna felicidad. Si preguntado el piloto de una  nave, a donde dirige su rumbo, respondiese que no lo sabe, ¿quién no diría que conducía su nave a la perdición, como dice San Agustín? Y concluye el santo Doctor: lo mismo hace el que anda fuera del camino, y los sabios del mundo, que saben amontonar dinero y obtener honores, e ignoran del modo de asegurar su alma. ¡Ay del rico Epulón, que supo enriquecerse y vivir espléndidamente! pero murió después, y fue condenado a los eternos tormentos. ¡Ay de Enrique VIII de Inglaterra, que después de haberse rebelado contra Cristo y la Iglesia, viendo a la hora de la muerte que había perdido el alma exclamó desesperado: Amici perdidimus omnia! ¡Cuántos además de estos, lloran ahora del mismo modo en los Infiernos, y gritan desesperados: «¡De que nos aprovechó la soberbia, o la jactancia de las riquezas! Todo esto pasó como la sombra». San Agustín dice: que no hay cosa más infeliz para los pecadores, que la felicidad de esta vida. (Ep. ad Marcellin).
8. Finalmente, a todos los que viven olvidados de la salud de su alma, sucede lo que dice Salomón: Extrema gaudii luctus occupat. (Prov. XIV, 13). Todas sus diversiones, honores y grandezas terminan en tristeza y llanto eterno. Mientras estaban tejiendo la tela de sus esperanzas y su fortuna mundana, vino la muerte, cortó su vida, y los sumergió para siempre en el abismo eterno del Infierno (Isai. XXXVIII, 12) ¿Puede darse mayor necedad y mayor locura, que hacerse esclavo de Lucifer el que antes fue amigo de Dios, y constituirse tizón del Infierno el que era heredero del Cielo? Desde que el pecador comete un pecado mortal, queda escrito ene l número de los condenados. San Francisco de Sales dice: que si pudieran llorar los ángeles, cuando ven la desgracia en que incurre el alma que comete un pecado mortal, no harían otra cosa que llorar.
9. Pero, la mayor insensatez, ¿ en que consiste? Consiste en que viviendo en pecado, llevan una vida infeliz, puesto que todos los bienes del mundo no pueden saciar nuestro corazón, creado únicamente para amar a Dios, fuera de lo cual no podemos hallar descanso. ¿Que vienen a ser las grandezas y las delicias mundanas, sino vanidades y sólo vanidad? Así se explica Salomón, que había hecho la prueba. Los bienes del mundo, no sólo no contentan el alma, sino que la afligen. Son como ciertos manjares, que aunque los apetece el paladar, los repugna el estómago. Los pecadores esperan hallar paz y descanso en el pecado, pero ¡cómo se engañan! No me extiendo sobre la vida desdichada de los pecadores , porque hablaré en otro lugar de intento. Basta ahora saber, que la paz es un don que hace Dios a las almas que le aman, no a las que le desprecian, y que en vez de ser sus amigas, se hacen esclavas de Lucifer, tirano terrible y aborrecido, que sólo piensa en afligirnos sin piedad. Si él nos promete algun gusto, no lo hace por nuestro bien, sino por tener compañeros sus tormentos, como dice San Cipriano: Ut habeat socios pænæ, socios gehennæ.

PUNTO 2

LOS VERDADEROS SABIOS SON LOS JUSTOS

10. Persuadámonos de una vez , que los verdaderos sabios son aquellos que saben amar a Dios y asegurar la vida eterna. Bienaventurado aquél a quién el Señor dió la ciencia de los santos. ¡Que ciencia tan hermosa es, saber amar a Dios, y salvar el alma! San Agustín decía, que tenía por bienaventurado al que amaba a Dios, aunque todo lo demás lo ignorase. Quien sabe conocer a Dios y amarle con el amor de que es digno, no importa que ignore lo demás.
11. Sí; esto era lo que envidiaba San Agustín, y le obligaba a avergonzarse de sí mismo cuando decía: Surgunt indocti, et repiunt cælum. ¡Ay de mi! Los ignorantes conquistan el Cielo: y nosotros, sabios del mundo, ¿Que es lo que hacemos?  Y en efecto; ¿cuántos rudos que no saben leer, pero saben amar a Dios, se salvan? ¿y cuántos sabios del mundo se condenan? Grandes sabios fueron, según esto, un San Juan de Dios, un San Felix, un San Pascual Bailón, ignorantes en las ciencias humanas, pero doctos en las ciencias de los Santos. Mas lo que hay en esto de maravilloso, es que los mismos mundanos conocen esta verdad, y alaban a los que se separan del mundo para vivir dedicados al servicio de Dios; aunque después en la práctica hacen todo lo contrario.
12. Decidme hermanos míos: ¿a quiénes queréis vosotros imitar, a los sabios del mundo, o a los de Dios? «Acerquémonos a los sepulcros para elegir bien», nos dice San Juan Crisóstomo. ¡Oh, que bella escuela son los sepulcros de los difuntos para conocer la vanidad de los bienes de éste mundo y aprender la ciencia de los Santos! Yo por mi parte, dice el Santo, nada veo en ellos sino podredumbre, huesos y gusanos. Entre los cadáveres no sé distinguir al noble, ni al rico, ni al literato. Todos los veo reducidos a podredumbre; de suerte, que su grandeza y su gloria terminaron con la muerte, como un sueño, como una flor, como una pavesa que arrebata el viento.
13. ¿Qué debemos, pues, hacer? Oíd lo que San Pablo nos aconseja: Hoc itaque dico, fratres. Tempus breve es; reliqum est, ut qui utuntur hoc mundo, tamquam breve es; reliquum est, ut qui utuntur hoc mundo, tamquam non utantur; prœterit enim figura hujus mundi. (I. Cor. VII, 29 y 31). Os digo pues, hermanos míos, que el tiempo de nuestra vida es corto, y que así, lo que importa es, que los que gozan de este mundo vivan como si no gozasen de él. Con estas palabras nos dice el Santo Apóstol, que procuremos vivir de manera, que aseguremos la salvación de nuestra alma huyendo las ocasiones de pecar, que frecuentemos los sacramentos, que amemos a nuestros prójimos, que obedezcamos a nuestros superiores, así a los espirituales, como a las autoridades que nos gobiernan; que seamos devotos de Jesús y de María. Y este es el modo de ser verdaderos sabios y de vivir felices en esta vida, asegurando la bienaventuranza en la eterna.


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SERMÓN V DE LA INFRAOCTAVA DE NAVIDAD

"Cristo, luz do mundo." (Pseudo-Dionísio)


A luz irradia do Pai. A luz sai d'Ele para nos iluminar com os Seus excelentes dons. Apenas Ela nos restabelece e nos eleva. É Ela que nos converte a unidade do Pai segundo as Sagradas Escrituras: "Porque d'Ele, por Ele e para Ele são todas as coisas..." (Rom 11,36). "Toda dádiva excelente e todo o dom perfeito vem do alto e descende do Pai das Luzes..."

É por isso que invocando Jesus, Luz do Pai, através do Qual temos acesso ao Pai, princípio de toda a Luz, elevemos nossos olhos tanto quanto pudermos até as iluminações provenientes das Sagradas Escrituras e iniciemos na medida das nossas forças, no conhecimento da hierarquia das inteligencias celestes tal como nos revelam as próprias Escrituras: " (O Verbo) era a Luz verdadeira, que ilumina todo homem que vem a este mundo(Jo 1,9). Os santos que primitivamente regularam os nossos ritos religiosos, organizaram a nossa hierarquia sagrada segundo o modelo das hierarquias celestes. Essas hierarquias encontram-se revestidas na sua descrição de uma variedade de figuras e formas materiais para que elevemos a nossa compreensão de forma analógica desses símbolos, as realidades espirituais, das quais esses símbolos são apenas imagens.

De fato, é para nós impossível a contemplação das hierarquias celestes sem utilizarmos meios materiais adequados a nossa natureza para nos guiarmos nessa contemplação. A beleza manifesta-se na harmonia das figuras, os aromas agradáveis representam a iluminação intelectual, a luz material representa a efusão de luz imaterial e a recepção da Santa Eucaristia manifesta a participação em Jesus.

A nossa própria hierarquia imita a hierarquia celeste o tanto quanto possível enquanto instituição humana, a fim de que ela entre em colegialidade com o sacerdócio angélico.

Pseudo-Dionísio

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"Cristo, luz do mundo."

JMJ2013: uma obra de várias mãos!


Para que a Jornada Mundial da Juventude Rio2013 seja realizada, muitas vocações e corações trabalham voltados ao anúncio da Boa Nova. O Comitê Organizador Local (COL) conta com a participação de movimentos, novas comunidades, congregações, além de padres diocesanos, diáconos permanentes e Bispos que ajudam na construção da JMJ Rio2013.
Eles servem na JMJ como colaboradores, voluntários ou missionários alocados, em sua maioria, nas áreas relacionadas ao carisma de seu grupo. Assim, eles são encontrados desde o setor administrativo até preparação pastoral, cultura e comunicação. Como é o caso da missionária Paula Dizaró, que é membro da Comunidade Canção Nova há 10 anos.“Está sendo novo trabalhar com membros e leigos de outras ordens religiosas. É uma experiência rica e construtiva”, diz Paula, que veio da missão em Roma para servir na JMJ Rio 2013 no setor de comunicação, como gerente e operacional de audiovisual.
Membro do Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt, Irmã Maria Shaiane conta que foi convocada por sua superiora, devido à disponibilidade do Instituto para servir da JMJ. Consagrada há nove anos à vida religiosa e vinda de São Paulo, a irmã revela com alegria o que esta missão vem causando em sua vida.“É uma experiência fascinante! Poder participar da preparação da Jornada é algo extraordinário! Ao mesmo tempo é um trabalho apostólico, onde o jovem terá contato com o religioso, com Cristo. É uma vivência muito bonita de Igreja”, afirmou.

Outra nova comunidade que integra o grupo de organização da JMJ é a Pequeno Rebanho, oriunda da Zona Norte do Rio. É de lá que vem o jovem Allan Farias, que atua no setor administrativo. Ele chegou ao COL como voluntário há um ano, mas devido à necessidade de pessoal fixo e com formação, logo Allan foi inserido no quadro de colaboradores contratados. Ele afirma que é muito positivo: “Temos uma rotina de oração e missa na hora do almoço. Em outra empresa eu não tinha isso, precisava procurar uma igreja perto. O convívio com as pessoas que professam a mesma fé acrescenta muito.”
Há também as congregações religiosas como a Paulinas, inspirada no anúncio do evangelho pelo apóstolo Paulo. Convidada pelo COL, a Irmã Catia Cappellari, atua no setor específico do carisma de sua congregação, a área de Comunicações. Ela descreve de forma objetiva e clara o significado deste trabalho em união que constrói a JMJ Rio2013: “ É um trabalho de diversos carismas, isto que a gente chama de universalidade da Igreja. Ou seja, todos nós nos unimos com o mesmo objetivo!”
Por CNBB

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JMJ2013: uma obra de várias mãos!

ORIGENS FANTASIOSAS DA MAÇONARIA - AS INICIAÇÕES NOS MISTÉRIOS DE ELÊUSIS


Estátua de Ceres
Uma questão que se coloca por si no início deste capítulo é esta: Temos de considerar os Mistérios de Elêusis como uma importação egípcia? Alguns autores sustentam o contrário; mas não apóiam suas opiniões em nenhuma prova séria. 

Aqueles que se pronunciam pela afirmativa observam, com razão, que os Mistérios celebrados em honra de Ceres se parecem em todos os aspectos com as iniciações de Heliópolis, cujos próprios gregos nunca contestaram a anterioridade. 

Ademais, seja no Egito, seja em Atenas, um conto popular deu origem ou serviu de pretexto para o estabelecimento destas solenidades religiosas.

Ora, estes dois contos parecem calcados um sobre o outro. No Egito, celebravam as peregrinações de Ísis em busca do corpo de Osíris, seu esposo, que Tifão tinha matado.

Na Grécia, os Mistérios de Ceres recordavam ao povo as marchas da deusa após o rapto de sua filha Proserpina pelo rei dos infernos.
Enfim, nos dois países, a agricultura ocupava um amplo lugar nas manifestações religiosas que precediam as iniciações.
"O povo, diz o F.. Caillot, autor dos Annales maçonniques, não via outra coisa, nas cerimônias de Elêusis, senão a história das andanças e das aventuras da deusa das colheitas. O filósofo, ao contrário, levantando uma parte do véu, queria perceber, nestas festas célebres, apenas um meio poderoso de fazer prosperar a agricultura: os sacerdotes, segundo ele, só tinham revestido estas cerimônias de uma aparência de mistérios apenas para torná-las mais augustas aos olhos do vulgar, que não considera e nem reverencia aquilo que passa os limites de seu entendimento.
Ambos se enganavam igualmente; um percebia apenas o emblema que vela o segredo dos Mistérios, e o outro, apenas uma pequena parte do fim dos grandes homens que criaram as iniciações vinte séculos antes da civilização da Grécia".
Por quem e em qual época os Mistérios do Egito foram levados à Elêusis?

Os historiadores se dividem sobre estes dois pontos. Uns nos dizem que foi Dánao que estabeleceu na Grécia o culto de Ceres. Outros, ao contrário, sustentam que a honra deve-se a Orfeu. 

Diodoro de Sicília, descartando ao mesmo tempo Orfeu e Dánao, se pronuncia em favor de Erecteu. A Grécia, diz ele, estava tomada pela fome. O Egito, tomando conhecimento disso, enviou aos habitantes infelizes deste país uma quantia de trigo considerável. Erecteu foi encarregado do transporte destas provisões. Os atenienses, agradecidos, o proclamaram rei. Ele aproveitou com isso para dotar Elêusis dos Mistérios de sua pátria.

A meu ver, a opinião mais provável é a que atribui a Triptólemo a criação destas solenidades.

Este personagem era filho de Celeu e de Metanira. 

Ceres, irritada contra os deuses que tinham autorizado Plutão de raptar sua filha, resolveu viver errante entre os homens, sob a forma de uma mortal. Um dia, ela chegou à porta de Elêusis, se deteve e sentou-se sobre uma pedra. O rei deste país, Celeus, a tendo percebido, se aproximou dela e lhe ofereceu a hospitalidade. Celeus tinha um filho, ainda criança, do nome de Triptólemo. Este jovem príncipe estava reduzido então à última extremidade por conta de uma longa insônia. Ceres depositou um beijo sobre sua fronte e lhe devolveu a saúde como por encantamento. Não contente disso, ela quis se encarregar de sua educação, se propondo, de resto, em torná-lo imortal. Para tal, ela o alimentava, de dia, com seu leite divino, e o colocava, de noite, sobre carvões ardentes para despojá-lo de tudo o que havia nele de terrestre. O menino se desenvolvia de modo tão extraordinário que Celeus e Metanira quiseram conhecer o segredo deste prodígio. Eles espiaram, assim, a conduta de Ceres. Um dia, Metanira, percebendo a deusa no momento em que ela se apressava em mergulhar seu filho no fogo, soltou um grito alto e colocou obstáculo aos desígnios que a irmã de Júpiter tinha sobre Triptólemo.

Tal é, em poucas palavras, a narração da fábula. Eis agora aquela da história.

Levado pelo desejo de se instruir, o filho de Celeus deixou a Grécia e visitou sucessivamente todos os povos civilizados cuja reputação tinha chegado até ele. Durante sua estadia no Egito ele foi admitido, como estrangeiro, na iniciação dos Mistérios. A prova de fogo abalou sua coragem. Quando, percorrendo as galerias obscuras das quais falamos, ele se viu de repente cercado de chamas, atingido de terror,   ele lançou um grito e saiu precipitadamente da fornalha ardente em que ele estava como que mergulhado.

A Fábula personificou, em Metanira, o temor da morte que Triptólemo ressentiu. Este momento de fraqueza, em o excluindo da iniciação, o privou do conhecimento dos Mistérios e da imortalidade que os sacerdotes egípcios prometiam aos seus adeptos.

Segundo as leis do qual falamos, Triptólemo não deveria mais sair das galerias em que ele tinha imprudentemente descido. Mas os líderes da Ordem, apreciando suas virtudes e as qualidades raras de sua inteligência, fizeram uma exceção em seu favor. Eles estavam, ademais, muito satisfeitos de dar à Grécia um legislador esclarecido, que a fez sair do estado de barbárie em que ela se encontrava.

Triptólemo recebeu apenas uma parte da doutrina sagrada do Egito. Mas os sacerdotes fizeram dele um agricultor sábio e apaixonado.

De retorno em seus Estados, ele dirigiu um caloroso apelo àqueles de seus súditos que estavam mais próximos de compreendê-lo e lhes ensinou a cultivar a terra. Logo a cevada e o trigo cobriram os campos desolados de seu pequeno reino.

Mas ele não se deteve aí. Ele queria fazer participar a elite de seus compatriotas nos conhecimentos filosóficos e religiosos cujos sacerdotes de Heliópolis tinham ornado seu espírito. Todavia, se conformando aos usos e costumes de seus instituidores sábios, ele submeteu os aspirantes em provas longas e árduas, não querendo depreciar, os vulgarizando, os Mistérios que lhe tinham sido revelados.

As festas de Ceres foram, a partir de então, um fato consumado.

Elêusis estava edificada no pé de uma colina, sobre os flancos da qual se elevava o templo da deusa.

Destruído uma primeira vez, o célebre edifício não tardou em sair de suas ruínas. Quando Xerxes invadiu a Grécia, ele foi de novo arrasado.

Péricles o reergueu uma segunda vez. O ilustre protetor das artes chamou tudo o que sua pátria possuía de homens notáveis, como arquitetos, escultores e estatuários.

À sua voz amada acorreram Ictinos, Mégacles, Callicrates, Coroebus, Metagenos, Aclameno, Agoracrita, Phidias e vários outros nomes menos conhecidos.

O templo de Ceres formava um retângulo longo. Seu comprimento era de trezentos e sessenta pés, e sua largura de trezentos e sete.

Ele foi construído em mármore pentélico e voltado para o Oriente. Dez colunas caneladas, tendo cada uma dez pés de diâmetro, decoravam a fachada principal e formavam um peristilo fantástico. Esta parte do edifício não pertencia ao plano que os arquitetos de Péricles tinham concebido e executado. Ele foi acrescentado por Philon à obra primitiva.

Em torno do templo reinava um vasto recinto, que muros, igualmente em mármore, escondiam aos olhos da multidão. Os iniciados nos pequenos Mistérios paravam neste lugar, enquanto que os sacerdotes preparavam todas as coisas para a última cerimônia.

O templo propriamente dito se compunha do santuário e da nave.

Esta era cercada de vários níveis de colunas extremamente notáveis.

Uma colunata separava a nave do santuário, no qual somente o hierofante tinha o direito de penetrar.

Atrás do edifício sagrado se estendiam grandes e belos jardins ornados de bosques e de fontes monumentais.

Tinham elevado aí altares e diversos edículas, destinas, provavelmente, às cerimônias cujas historiadores não falam.

"Era neste vasto recinto, diz o autor dos Annales maçonniques, que se celebravam estas festas e estes Mistérios por tanto tempo reverenciados; era aí, que cercado do que a religião pode apresentar de mais augusto, no meio dos prestígios mais iluminados, o hierofante insinuava sua voz. Intérprete da natureza, sua mão benevolente fazia cair para sempre o véu grosseiro que cobria os olhos do iniciado[1]".
Nem todos os homens tinham direito à iniciação. Durante muito tempo, era preciso ser cidadão de Atenas para participar delas. Mais tarde, admitiram os estrangeiros que se naturalizavam, ou que um ateniense consentia em adotar.

Os escravos, os medos, os persas, os criminosos, e até aqueles que tinham cometido assassinato sem o querer eram rigorosamente excluídos delas.

Estes últimos, contudo, acabaram por serem admitidos após serem purificados.

Celebravam-se os grandes Mistérios durante o mês de Boëdromion, que corresponde ao nosso mês de setembro. Os pequenos Mistérios eram fixados no mês de fevereiro.

Estes últimos ocorriam não distante de Atenas, nas margens do Ilissus, e eram principalmente consagrados à Proserpina.

Aí eles se preparavam por jejuns rigorosos, assim como se praticava no Egito.

Quando o recipiendário chegava ao fim desta prova, o Hydranos o mergulhava nas águas do Illissus. Eles o faziam em seguida passar através das chamas.

Terminadas enfim diversas cerimônias místicas, após as quais o neófito, coroado de murta, colocava seu pé nu sobre a pele sangrenta das vítimas e jurava em não revelar a ninguém os segredos que lhe foram confiados ou que lhe confiariam em seguida.

Quando a atitude do iniciado era satisfatória, e que nada se opunha a que ele fosse admitido nos grandes Mistérios, eles lhe faziam comer frutos guardados em um vaso chamado tambour. Ele bebia em seguida de um licor conhecido sob o nome de cicéon e composto de vinho, de água, de mel e de farinha. Os iniciados chamavam cymbale o vaso que o continha.

Os grandes Mistérios eram precedidos, como os pequenos, de jejuns, de purificações, de votos e de sacrifícios. Durante o tempo destas provações, davam aos candidatos uma noção vaga do que eles deveriam aprender no dia da iniciação. Um ano corria sempre entre os grandes e os pequenos Mistérios.

Eu creio útil, antes de prosseguir esta narração, de apresentar aos meus leitores os sacerdotes de Ceres, cuja missão era de presidir nos Mistérios e de instruir os iniciados.

O hierofante, ou chefe supremo do sacerdócio, gozava do maior prestígio. Ele representava o criador do universo. Esta função era hereditária na família de Eumolpo, filho de Netuno e de Khione. Insinua-se que o hierofante deveria observar um celibato rigoroso. Os historiadores acrescentam que, para apagar nele o fogo da concupiscência, ele recorria ao uso externo da cicuta.

Após o hierofante, vinha o Dadouque (sic), ou chefe dos Lampadophoros. Sua principal função consistia em carregar a chama sagrada. Um sol de ouro brilhava sobre seu peito. Seus cabelos eram dispostos em forma de diadema. Ele caminhava na liderança dosLampadophoros, ou Porta-luzes.

hieroceryco, ou arauto sagrado, ocupava o terceiro nível. Ele afastava os profanos, convidava os recipiendários a guardar o silêncio, ou a só pronunciar palavras convenientes, e recitava as fórmulas sacramentais. Ele vestia uma veste semelhante com aquela que os poetas dão a Mercúrio.

O quarto ministro da deusa boa, na ordem hierárquica, era o Epibomo, ou assistente do altar. Ele carregava um crescente de prata sobre a fronte e ajudava o hierofante nas diversas funções de seu ministério.

Eu creio útil observar aqui, com o F.. Caillot, que os emblemas dos ministros da primeira ordem não diferiam quase daqueles que a Franco Maçonaria adotou.

"Assim, diz este autor, o hierofante, revestido dos ornamentos da divindade suprema, é representado nas Lojas pelo Mestre, cujo emblema é a estrela flamejante, no centro da qual se encontra a letra jod, mónada exprimindo o ser incriado, o fundamento de todas as coisas, o Demiurgo dos gregos. O sol e a lua, símbolos do Dadouque e do Epibomo, foram consagrados aos primeiros e segundos vigias; também estes chefes são chamados luzes.
Do Hieroceryco, arauto sagrado, fizemos o orador. É inútil recordar que a eloquência era uma das principais atribuições de Mercúrio, do qual o Hierocerycocarregava o caduceu"[2].
Após os quatro ministros dos quais acabo de falar, havia o Hydranos, que purificava os recipiendários, segundo o cerimonial egípcio.

Citaria ainda, temendo não deixar esta enumeração incompleta, o Hieraule. Segundo o que tudo indica, a direção dos coros e da música instrumental lhe era confiada.

Lichnophoro carregava a joeira mística. Os Spondaphoros se ocupavam das libações. OsCamnéphoros e os Coenéphoros eram encarregados dos cestos sagrados e outros objetos de culto empregados nas iniciações.

Quando os aspirantes tinham sido admitidos nos pequenos Mistérios, eles carregavam o nome de mystos. Era-lhes permito de penetrar no primeiro vestíbulo do templo.

As festas de Elêusis duravam nove dias.

O primeiro dia se chamava Agyrmos ou dia da assembleia, porque faziam a chamada, neste dia, dos mystos ou iniciados aos pequenos Mistérios que queriam ser admitidos nos grandes.

O segundo dia era designado sob o nome de Haladê mystae (no mar dos iniciados). Aqui começava a preparação, de algum modo imediata, para a grande iniciação. Os aspirantes, arranjados em duas filas, se dirigiam às margens do mar e se purificavam por longas abluções várias vezes repetidas. Eles deveriam jejuar até a noite. Então, eles tomavam nocysto sagrado sésamo e bolos de diferentes tipos. Os cystos eram cestos feitos em vime ou em bronze, nos quais colocavam, de ordinário, biscoitos chamados pirâmides, por causa da forma que eles tinham, sésamo, lã trabalhada,  tortas, grãos de sal, uma cobra, romãs, heras, bolos, papoilas e o falo místico.

O terceiro dia tinha o nome de Calathé, ou, segundo diversos autores, es léchê mystae (no leito dos iniciados), por causa da cerimônias que o terminava. Imolavam, inicialmente, à Ceres, o peixe chamado mulet. O mulet era consagrado à esta deusa, segundo uns, porque ele ... (n.d.t.: a palavra está ininteligível) três vezes ao ano, e, segundo outros, porque ele destruía o lebre marinho, que é funesto ao homem. Ofereciam ainda à Ceres uns bolos de farinha de cevada, em lembrança da primeira colheita que os campos do Ático ofereciam outrora aos compatriotas de Triptólemo.

Durante a segunda parte do dia, erguiam, no templo, o leito nupcial, em lembrança do rapto de Proserpina pelo deus dos infernos. Cada mulher, fazendo parte da cerimônia, tinha o seu cercado de pequenas faixas de cor púrpura. Os homens repetiam, para imitar Plutão: Eu me insinuei no leito. Os primeiros autores do cristianismo que falaram dos Mistérios de Elêusis afirmavam que os iniciados incentivaram muito além este tipo de imitação. Alguns autores profanos confessam, por sua vez, que os escândalos dos quais o templo foi o palco em certas épocas contribuíram para depreciar os Mistérios.

No quarto dia, faziam a procissão do calathus, espécie de vaso de barro que os latinos chamavam quasillum. O calathus tinha uma abertura ampla. Plínio o comparou com uma flor de lis. Colocavam aí papoilas brancas, ervilhas, cevada, trigo, rebento de plantas, lentilhas, fava, aveia, figos secos, mel, óleo, vinho, leite, lã que não tinha sido lavada e uma faca de sacrificador. O calathus era então o símbolo da fecundidade.

Eles o colocavam sobre um carro ricamente decorado e puxado por bois. Mulheres o seguiam carregando cystos ornados de faixas.

Esta procissão se fazia em memória das flores que Proserpina tinha colhido em sua chegada aos infernos. Os grãos de romã que continham os cystos sagrados recordavam aqueles que a deusa tinha comido nos jardins de seu esposo infernal. As papoilas brancas eram uma alusão ao sono no qual foi mergulhada a filha de Ceres, após ter experimentado esta flor. A procissão terminada, os iniciados dos dois sexos se entregavam à dança, ao redor do poço Callichore, sobre o parapeito do qual eles não deveriam repousar, por respeito pela boa deusa que tinha aí se assentado outrora.

O quinto dia era conhecido sob a denominação de Lampadéphoria. Os iniciados, com uma tocha em mãos, desfilavam silenciosamente em torno do templo. Em sua entrada no edifício, eles faziam passar suas chamas àquele que caminha na liderança do cortejo. Esta cerimônia era uma alusão às andanças de Ceres em volta do Etna, quando ela percorria, à noite, os flancos da montanha, na esperança de aí reencontrar sua filha desaparecida.

O sexto dia se chamava Iacchos, porque ele era consagrado completamente a Iacchus, ou Bacchus, filho de Ceres e de Júpiter. Transportavam solenemente a estátua do deus de Atenas à Elêusis. Esta estátua carregava uma chama na mão e tinha sobre a cabeça uma coroa de murta. Ela era seguida da joeira mística, do calathus e da imagem alegórica da fecundidade. Sacerdotes disfarçados de mulheres e a multidão dos iniciados escoltavam osPhallaphoros, dançando e cantando hinos em honra de Iacchus.

A procissão seguia uma estrada pavimentada de lajes largas e conhecida sob o nome deVia sagrada. Esta estrada era margeada de numerosos monumentos. Ainda que a distância que separava Atenas e Elêusis fosse de apenas quatro léguas, o cortejo não aplicava menos de um dia e meio para fazer o trajeto.

No sétimo dia, chamado Géphyrismo, ou passagem, atravessavam uma ponte ao redor da qual os curiosos se reuniam comumente, a fim de ver o desfile. Os espectadores não se contentavam em admirar. Eles tomavam parte na cerimônia oprimindo os iniciados com sarcasmos de mau gosto e injúrias grosseiras. O uso pretendia que estes últimos respondessem sobre o mesmo tom. Esta parte do programa faltava em gravidade, mas tinha sua razão de ser, pois ela recordava um episódio da vida de Ceres.

Após este incidente um pouco tumultuoso, o cortejo fazia uma parada ao redor da figueira sagrada, para honrar o descanso que a deusa tinha tomado sob esta árvore, na época de suas peregrinações. Depois ocorriam as corridas de touros, cujo prêmio consistia em uma medida de cevada.

No dia precedente, o Arconte-rei e os Epimenètos tinham oferecido um sacrifício solene para a prosperidade da República.

Os recipiendários, após algumas cerimônias secretas, cujos detalhes não chegaram até nós, eram introduzidos no vestíbulo.

hierocéryco, elevando então a voz, exclamava: "Que os profanos, os ímpios e aqueles cuja alma está manchada de algum crime saíam daqui!" Aquele que tinha a infelicidade de infringir esta ordem era punido com a morte.

Colocavam uma coroa de murta sobre a cabeça dos iniciados, ao mesmo tempo em que os submetiam em novas purificações.

Eles renovavam em seguida o juramento que eles já tinham feito de guardar um segredo inviolável sobre as coisas que lhes seriam reveladas.

Quando todas estas formalidades preparatórias estavam terminadas, o Hierocéryco, tomando novamente a palavra, dirigia aos aspirantes diversas questões, e esta aqui entre outras: "Comestes do fruto de Ceres?" Cada iniciado respondia: "Não, eu comi do tambour, eu bebi da cymbale, eu vesti o kernos, eu me insinuei no leito". Estas palavras significavam que o adepto tinha sido recebido nos pequenos Mistérios. Pela resposta seguinte, ele insinuava ao sacerdote que ele tinha seguido exatamente as cerimônias preparatórias à grande iniciação: "Eu jejuei, eu bebi o cycéon, eu tomei da cista, eu coloquei no calathus, após ter trabalhado, eu recoloquei do calathus na cista".

Após estas respostas os iniciados eram admitidos no recinto sagrado.

Os recipiendários se despojavam de suas vestes e as substituíam por uma pele de animal selvagem. Depois eles os mergulhavam na escuridão.

Barulhos vagos eram ouvidos. Logo um silêncio profundo sucedia a estes rumores e lançava o recipiendário em alternativas de confiança e de temor. Após alguns minutos um longo rugido, parecido com aquele de vários leões, ressoava no fundo do edifício. O templo tremia, clarões sulcavam as trevas e deixavam ver ao iniciado figuras medonhas e ameaçadoras. Em seguida, as portas se abriam, giravam em suas dobradiças com estrondos assustadores. A calma parecia se restabelecer, mas era uma calma enganadora. A tempestade se desencadeava uma segunda vez com uma violência extrema. O raio caia aos pés do iniciado, que percebia diante de si, deslumbrante de claridade, a estátua de Ceres. Mal ele contemplava a figura sorridente da deusa, e as trevas o envolviam novamente, só diminuindo em intervalos para deixar ver, errantes aqui e ali, fantasmas assustadores.

Uma mão invisível agarrava de repente o recipiendário e o arrastava para uma região de fogo. O Tártaro, com todos seus horrores, se mostrava aos seus olhares. Aqui, as fúrias vingadoras atormentavam os infelizes cujas vidas tinham sido criminosas. Ali, sombras rolavam desesperadas nas torrentes de enxofre e de betume. Mais adiante, o Tripo Hécate e as divindades infernais apareciam sobre seus tronos de ébano. Gritos de desesperança, entrecortados de gemidos e blasfêmias, perturbavam o silêncio destes lugares.

O guia misterioso que tinha conduzido até às portas do inferno o recipiendário aterrorizado o reconduzia de volta ao templo, onde se mostrava uma segunda vez a estátua de Eleusina.

Penetravam em seguida no Eliseu, passando pelo santuário entreaberto.

Aqui, o espetáculo mudava. Longas alamedas de palmeiras se desenrolavam diante do iniciado. Ele via, de todos os lados, relvas cobertas de flores, cascatas cujas águas se precipitavam em espuma, e formavam tantos regatos que se espalhavam nestes lugares encantados uma doce frescura. Na folhagem das árvores gorjeios de numerosas aves, felizes por saudar os primeiros clarões do dia. A estas harmonias da natureza sucediam cantos melodiosos, aos quais se misturam logo os acordes da música instrumental.

Os ministros do templo se aproximam então do novo adepto, o revestiam de uma túnica branca, o coroavam de flores e o apresentavam à multidão dos iniciados.

No mesmo instante, o grande sacerdote aparecia sobre seu trono, a fronte cingida de uma diadema. Os assistentes, os olhos voltados para ele, esperavam silenciosos. O hierofante estendia os braços e pronunciava esta oração com uma voz solene:

"Deusa Ísis, os poderes celestes vos adoram e o inferno vos teme. A senhora move o universo, governa o mundo e tudo o que vive reconhece e confessa vosso poder".
Depois, se voltando rumo aos adeptos, ele continuava nestes termos:
"E vós, que tendes a honra de ser admitido em nossos Mistérios, atentem, pois eu tenho verdades importantes para vos revelar... Considerem a natureza divina, contemplem-na sem cessar. Regulem vosso espírito e vosso coração, e admirem o mestre do universo. Ele é um e ninguém o criou. É a ele que todos os seres devem sua existência. Invisível aos olhos dos mortais, ele vê todas as coisas".
Encontramos aqui o dogma da unidade de Deus. Este ponto da doutrina de Elêusis era revelado à multidão dos iniciados? Tudo leva a crer o contrário.

O mesmo não ocorria com o dogma da imortalidade da alma. O dogma das penas e das recompensas fazia parte do ensino que os sacerdotes de Ceres davam aos seus adeptos. Todavia, ao julgar pelo que os autores antigos escreveram sobre este assunto, o fundo da doutrina sagrada de Elêusis era apenas uma espécie de panteísmo ornamentado de metempsicose.

Segundo Isócrates[3], os iniciados se asseguravam de doces esperanças no momento de sua morte. Cícero escreveu, por sua vez, no livro Iº da Natureza dos deuses, que quando os Mistérios de Elêusis eram levados ao seu verdadeiro sentido, percebia-se que o fim das iniciações era de ensinar aos homens verdades úteis, que ensinavam a viver felizes e a morrer na esperança de uma vida melhor.
Sabemos, na realidade, poucas coisas sobre o conjunto das doutrinas ensinadas pelos sacerdotes de Ceres, seja porque o segredo tenha sido escrupulosamente guardado pelos adeptos, seja porque os Mistérios de Elêusis consistiam principalmente em manifestações religiosas. Esta última hipótese me parece mais verdadeira. Ela é, ademais, comumente adotada. 

Aqueles de meus leitores que seriam tentados em crer que eu fiz das últimas provas, às quais os aspirantes eram submetidos, um quadro fantasioso ou exagerado, poderão se convencer do contrário lendo esta passagem de Themistius, que Stobaeus nos conservou[4]:
"O homem, no momento de deixar a vida, experimenta os mesmos terrores que quando ele vai ser iniciado. As palavras parecem responder às palavras, como as coisas parecem responder às coisas. Morrer e participar, na iniciação, são expressadas por palavras quase semelhantes. O iniciado é, inicialmente, cercado de ilusões e de incertezas. Assustado, ele caminha através das trevas mais profundas; ele chega, enfim, nas portas da morte, nos confins da iniciação. É aí que tudo é medonho, terrível, desagradável; mas logo todos esses objetos assustadores desaparecem. Prados embelezados com mil flores brilham com uma luz divina; hinos e cânticos encantam todos seus sentidos. Recebido nestas planícies joviais por espetros santos e sagrados, ele é iniciado; doravante ele é livre. Coroado de flores, ele percorre os Campos Elísios, se aproxima dos iniciados e celebra com eles as santas Orgias".
O oitavo dia das festas de Elêusis levava o nome de Epidário. Ele era reservado àqueles que não tinham podido participar nos Mistérios nos dias precedentes. Contam que Esculápio, deus da medicina, tendo vindo ao templo de Ceres para se iniciar, chegou atrasado. Mas os sacerdotes, por consideração para com sua pessoa e a ciência que ele professava, consentiram em renovar em seu favor a cerimônia da iniciação. É em memória deste acontecimento que o oitavo dia foi chamado Epidário, de Epidauro, pátria de Esculápio, e consagrado completamente à recepção dos retardatários.

No nono dia, que os gregos chamavam Plemochoë, faziam ao deus libações e sacrifícios de ações de graças. 

Os sacerdotes enchiam dois vasos de vinho, e os colocavam, um no Oriente, e o outro no Ocidente. Depois, eles murmuravam algumas fórmulas misteriosas que não chegaram até nós. Isto feito, eles derramavam o vinho em duas aberturas que eles tinham aplicado no solo e pronunciavam as seguintes palavras:
"Possamos nós irrigar, sob bons auspícios, as entranhas da terra com este líquido!"
Assim que as festas de Elêusis terminavam, o Senado sagrado se reunia, sob a presidência dos sacerdotes, no Eleusinium, em Atenas, a fim de julgar os crimes e delitos que tinham sido cometidos contra os Mistérios.

Poucos tribunais foram tão severos quanto aquele. A violação do segredo, por mais leve que fosse, era punida com a morte.

Nem a ciência, nem os serviços prestados, nem a virtude em si colocavam a salvo de seus decretos. 

Os Eumolpidos pareciam se ocupar de atingir vítimas ilustres. Dizem que eles receavam, por sua influência, os prestígios que o mérito exerce comumente sobre o espírito das populações. Diagoras, o pai da tragédia, teve de deixar a Grécia e buscar refúgio no exterior. Alcibiade, condenado à morte, só pôde escapar da sentença que o atingia indo para junto dos espartanos. Aristóteles, por sua vez, tomou o caminho do exílio e se retirou em Chalcis. O próprio Sócrates só se viu condenado à morte porque os Eumolpidos o acusaram de ter falado com pouco respeito dos Mistérios do Elêusis.

Qual era então esta doutrina secreta à qual não se podia tocar?

Os autores se dividem sobre este ponto. O que importa notar, inicialmente, é que os iniciados, em Elêusis como no Egito, se compunham de duas classes perfeitamente distintas: os iniciados do primeiro grau e os iniciados do segundo grau. Somente estes últimos tinham uma noção exata das doutrinas sacerdotais. A multidão dos adeptos não conhecia quase nada dos Mistérios. Os sacerdotes se limitavam em fazê-los entrever através de uma multidão de alegorias.

De Sainte-Croix, em suas Recherches historiques e critiques sur les mystères du paganisme, afirma que, na origem, as festas de Elêusis se resumiam em simples lustrações. 
"Na sequência, acrescentaram, diz ele, uma doutrina secreta, onde só interessaram os serviços prestados pelos líderes das colônias estrangeiras e os primeiros legisladores, tais como o estabelecimento das leis, a descoberta da agricultura e a introdução de um novo culto religioso. Ameaçando os profanos com as punições da outra vida, eles asseguravam aos iniciados de aí gozar de uma felicidade eterna e de uma precedência lisonjeira[5]".
Court de Gébelin emite uma opinião muito parecida àquela de Sainte-Croix. Eis como ele se expressa:
"Instituídos em um país agrícola, eles (os Mistérios) o foram para dar graças à divindade dos bens dos quais ela os cobria... Eles tiveram, ao mesmo tempo, por objeto, ensinar aos homens a fazer bom uso destes bens, a merecer, por isso, novos benefícios da parte da divindade, a evitar, sobretudo, os castigos que esperam os maus depois desta vida. Via-se aí, enfim, um recurso admirável para unir todo o povo pelos laços mais estreitos da amizade e da concórdia, e para lhe fazer idolatrar sua pátria[6]".
Leclerc de Sept-Chênes me parece ter exposto, de um modo tão exato quanto preciso, as características da doutrina secreta ensinada aos adeptos do segundo grau. 
"Os Mistérios, segundo ele, tinham sido instituídos para dar aos iniciados o conhecimento do Ser Supremo e a explicação das diversas fábulas atribuídas aos deuses que o representavam. A doutrina de uma providência, o dogma da imortalidade da alma e aquele das penas e das recompensas futuras; a história do estabelecimento das sociedades, assim como a invenção das artes, entre as quais a agricultura sustentava o primeiro lugar, tendiam a inspirar o amor da justiça, da humanidade e todas as virtudes patrióticas, ao mesmo tempo em que elas uniam aos preceitos da moral mais pura o amor das verdades mais importantes. 
Longe de destruir o politeísmo no sentido em que esta palavra deve ser tomado, os Mistérios, acrescenta o mesmo autor, tendiam apenas em estabelecê-lo; mas eles o restringiam em seus verdadeiros limites;  eles o certificavam, sobretudo, dos desvios da imaginação; e, após ter explicado o que era preciso entender por esta multidão de deuses ofertados à veneração pública, eles remontavam até a inteligência suprema que os compreende todos, e da qual eles eram, cada um, apenas uma emanação[7]".
De tudo o que precede, resulta que os gregos tinham cercado suas iniciações de muita solenidade, enquanto que os egípcios se limitavam em exigir dos iniciados umas provas longas e penosas. Os primeiros se ligavam em atingir a imaginação da multidão, e os segundos, em ornar o espírito de seus adeptos de conhecimentos úteis. 

Os filósofos gregos, dos quais a reputação chegou até nós, tinham tirado sua ciência no Egito e não em Elêusis. Alguns mesmo, entre os quais encontramos Sócrates, não quiseram se iniciar nos Mistérios de Ceres.

Pitágoras, que colocam, com razão, acima dos outros sábios da Grécia, pela extensão de seus conhecimentos e pela profundeza de seu gênio, era um aluno dos sacerdotes egípcios e dos magos da Pérsia. Não somente ele professou a doutrina de seus antigos mestres, mas ele obrigou seus discípulos a viver do modo claustral dos grandes iniciados de Heliópolis. Sua escola formava uma comunidade cujos membros não conservavam nenhuma relação com seus semelhantes. Cada um deles se condenava a não possuir nada como seu, e se preparavam ao estudo das ciências por um silêncio de cinco anos. Somente os adeptos que chamavam a atenção por sua inteligência excepcional eram autorizados a falar depois de dois anos de provações.

A doutrina pública de Pitágoras dizia respeito unicamente aos costumes. Ele a ensinava a todos aqueles que estavam aptos a compreendê-la, e reservava sua doutrina secreta para seus discípulos de predileção. 

Os iniciados que não podiam se sujeitar às exigências da regra eram livres para voltar ao mundo. Mas, a partir deste momento, eles os consideravam como mortos, e a comunidade celebrava seus funerais. 

Pitágoras não tendo jamais escrito, é difícil se fazer uma ideia exata de seus princípios filosóficos, senão pelas obras de seus alunos.

Como os sacerdotes egípcios, ele se entregou ao estudo das matemáticas, da geometria e da astronomia. Sozinho, entre os sábios da Grécia, ele ensinou a seus alunos o movimento da terra em torno do sol. Ele devia, já vimos, o conhecimento desta verdade a seus iniciadores das margens do Nilo.

Pitágoras professava a unidade de Deus.

Ele dizia que a mônada (unidade) é o princípio de tudo. Depois ele acrescentava: a diade, ou o número dois, significa a matéria, que é composta e pode se decompor, enquanto que a mônada permanece inalterável. A diade e a mônada engendram a triade, ou número três. Atriade forma a mais santa das combinações de números.

Eis de que modo, dizem, ele definia Deus:
"Um espírito que se espalha e penetra em toda a natureza, e do qual nossas almas são extraídas".
É isso que Pitágoras ensinava sobre a divindade? Seus discípulos não alteraram sua doutrina com o intuito de torná-la mais acessível à razão humana? Pode-se supor, sem injuriar sua inteligência, que ele tinha admitido uma trindade que seria ao mesmo tempo espírito e matéria? A mônada e a diade, ou, se preferirmos, o espírito e a matéria, se unindo para engendrar a tríade, e, formando, após esta geração misteriosa, o universo do que existe, constitui, na minha opinião, uma monstruosidade metafísica cujos sacerdotes egípcios não se tornaram culpáveis. Temos então de admitir, ou que Pitágoras alterou sua doutrina, se, todavia, ele a conheceu, ou que seus discípulos a compreenderam e interpretaram errado.

Os pitagóricos acreditam na espiritualidade e na imortalidade da alma; mas há entre eles, a propósito destas duas verdades, tais divergências de opinião, que é difícil saber qual foi o pensamento do mestre. Uns sustentam que as almas humanas se compõem de partículas desprendidas do éter quente e do éter frio; outros, que toda sua substância era aérea. Estes aqui afirmavam que a alma é de mesma natureza que a divindade, visto que ela emana dela; aqueles acreditavam que ela era engendrada como o corpo e ao mesmo tempo em que ele.

Os discípulos de Pitágoras professavam a metempsicose. Parece que, sobre este ponto, seu ensinamento não diferia daquele do mestre: o que prova, uma vez mais, que os sacerdotes do Egito tinham limitado a iniciá-lo como estrangeiro.

Os gregos admitiam as mulheres na iniciação; mas tudo se limitava, para elas, em uma cerimônia religiosa. Sacerdotisas, conhecidas sob o nome de Melissas, de Thasiadas,Hierofantidas ou Profantidas, tinham por missão de iniciá-las nos Mistérios de seu sexo, que não eram outros senão os pequenos Mistérios. Os sacerdotes não intervinham nesta iniciação, visto que as adeptas eram obrigadas a aparecerem nuas.
"As festas misteriosas celebradas pelas mulheres, diz o autor dos Annales maçonniques, lhes pertenciam exclusivamente. Uma lei, em vigor entre os gregos e os romanos, condenava à morte, ou ao menos à perda da visão, o homem surpreendido em seus templos durante estas solenidades.
Pode-se concluir, talvez, de tudo o que acabamos de dizer, que as mulheres não eram admitidas na verdadeira iniciação; exclusão que elas partilhavam com a maioria daqueles a quem sinais, fórmulas e cerimônias vãs tinham persuadido de que eles possuíam o segredo dos Mistérios Eleusianos. Deixo aos verdadeiros maçons o cuidado de pesar esta última circunstância; somente eles podem sentir esta nova relação entre as iniciações antigas e aquelas que lhes sucederam. 
Eu o repito, os ritos tesmoforianos, aqueles da Boa-Deusa, eram apenas festas religiosas mais ou menos agradáveis, semelhantes de algum modo com nossa Maçonaria de adoção. O número cinco repetido várias vezes, e que parece particularmente consagrado aos tesmofórios, é uma relação a mais entre os Mistérios dos gregos e esta instituição encantadora, da qual teríamos tirado a ideia, ... para conceber o pensamento de se aproximar continuamente do sexo mais amável[8]".
O F.. Caillot se engana, quando ele supõe que a iniciação dos homens e a iniciação das mulheres constituíam duas cerimônias completamente distintas. Eis a prova disso: No terceiro dia dos Eleusinios, os adeptos que pertenciam ao sexo mais amável, segundo a expressão deste escritor galante, erguiam no templo o leito nupcial, enquanto que os homens repetiam: "Eu me insinuei no leito". No quinto e no sexto dia, vemos as sacerdotisas, acompanhadas de mulheres e de moças, constar, seja na procissão das chamas, seja na de Iacchus. As cerimônias só se tornavam realmente distintas no momento da iniciação, durante a noite do sétimo e do oitavo dia. Para justificar a separação dos dois sexos, os sacerdotes alegavam o estado de nudez no qual os adeptos deveriam aparecer, antes de poder penetrar na parte do templo reservada aos eleitos. Nos oitavo e nono dias, tudo se tornava comum.

Eu creio ter resumido de um modo exato as informações que os historiadores nos dão sobre os Mistérios de Elêusis, os únicos que podemos aproximar com certeza das iniciações egípcias.

Limitei-me a narrar, afim que meus leitores não sejam expostos a perder de vista o encadeamento dos fatos. 



LEIA TAMBÉM:



La Franc-Maçonnerie, histoire authentique des sociétes secrètes, depuis les temps les plus reculés jusqu'à nos jours. Leur rôle politique, religieux et social, par un ancien Rose-Croix. 2º ed. Bloud et Barral, Paris.


[1] Caillot, Annales maçonniques.
[2] Caillot, Annales maçonniques, t. I, p. 41.
[3] Isócrates, Panegyriques.
[4] Stobaeus, Sententiae et Eclogae. Gozttingue.
[5] Caillot, Annales maçonniques, t. II, p. 53 e 54.
[6] C. de Gébelin, Monde primitif, analysé et comparé avec le monde moderne, Paris, 1776.
[7] Leclerc de Sept-Chênes, Histoire de la Religion grecque, Genève, 1788.
[8] Caillot, Annales maçonniques, t. I, p. 46, 47 e 48.



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ORIGENS FANTASIOSAS DA MAÇONARIA - AS INICIAÇÕES NOS MISTÉRIOS DE ELÊUSIS

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