A KGB espiava Karol Wojtyla desde que era sacerdote em 1946, 25 anos antes do que se pensava

Até aqui se pensava que foi em 1971, ano no qual Karol Wojtyla foi nomeado cardeal, que a KGB o colocou em seu ponto de mira. Mas não é verdade: muitos anos antes a polícia secreta da União Soviética já o havia localizado e catalogado como alguém perigoso.
Na Polônia, sob o Governo comunista, todo membro do clero era considerado um inimigo. Também os seminaristas, os estudantes e suas famílias eram vigiados pela Polícia política, e Wojtyla não era exceção. É o que conta Marek Lasota no livro Karol Wojtyla spiato [“Karol Wojtyla espionado”], publicado por Interscienze.
Lasota investigou os arquivos dos serviços secretos poloneses, e trouxe à luz documentos que demonstram até que ponto o Papa foi posto sob estreita observação e vigilância: “Começou a ser controlado pelo aparato repressivo já em 1946”. Nada menos que 25 anos antes do que se pensava.
Que estava fazendo Karol Wojtyla naquele então?
O jovem padre Wojtyla.“Durante a guerra, Wojtyla era membro de uma organização secreta de resistência”, explica o autor em uma entrevista à revista Famiglia Cristiana na sua edição de semana passada. “Pouco depois da guerra, esteve mais bem submerso e ativo na vida acadêmica, no processo de redemocratização”.
Enquanto jovem sacerdote, Karol Wojtyla se ocupava dos estudantes e dos intelectuais, e tratou de contribuir na medida de suas possibilidades na reconstrução da elite cultural e social do país: “Havia suficiente para que fosse espiado mais que os demais”, assegura Lasota.
É lógico pensar que o controle se intensificou de maneira exponencial quando o sacerdote polonês, que tinha sido nomeado cardeal em 1971, tornou-se Sumo Pontífice em 1978: “Há muitas provas que evidenciam o notável interesse da KGB por João Paulo II. Já em dezembro de 1978, durante uma reunião do departamento, se decidiu investigar sobre a possibilidade de aproximar-se fisicamente do Papa”, indica o autor de Karol Wojtyla spiato.
“Esta decisão pode ser interpretada de diversas maneiras, obviamente. Os documentos que ainda restam do Instituto Polonês de Memória Nacional (IPN) e de institutos similares nos países ex-comunistas, sobretudo na Alemanha, demonstram que o Papa teve a ver com as autoridades de segurança desses países”, assegura.
O atentado de 1981: os soviéticos por trás?
Segundo Marek Lasota, que é também diretor da seção de Cracóvia do citado Instituto, durante anos a IPN e a Comissão para os crimes contra a nação polonesa investigaram o atentado de 1981. As conclusões, ou ao menos as hipóteses, são surpreendentes: “Depois de ter analisado milhares de documentos, inclusive aqueles que provinham do sistema judicial italiano, e depois de ter entrevistado diferentes pessoas que poderiam estar relacionadas por seu papel, parece confirmar-se a hipótese de um intento de assassinato por parte da KGB soviética”.

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