Dez anos se passaram desde o sucesso da trilogia cinematográfica O senhor dos anéis, do diretor neozelandês Peter Jackson. Cada filme faturou cerca de US$ 1 bilhão. Demorou, mas chegou a hora de voltar à obra do escritor britânico J.R.R. Tolkien (1892-1973) e a seu mundo de valores eternos povoado por orcs, anões, elfos e dragões. O livro escolhido foi O hobbit, primeiro romance de Tolkien, publicado em 1937. Ele virará uma nova trilogia nos cinemas. O primeiro filme, O hobbit – Uma jornada inesperada, estreia nesta semana. Com ele, o culto à obra de Tolkien se renova na esteira da fábrica de sucessos de Peter Jackson.
A história do filme, quase três horas de aventura rodadas em 3D e com o dobro de definição dos filmes digitais em cartaz, é fiel ao livro. Ela se passa cerca de 60 anos antes dos acontecimentos de O senhor dos anéis. Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) é um hobbit, criatura da metade do tamanho de um ser humano, que preza boa comida, sombra e tranquilidade. A paz de Bilbo é quebrada quando o mago Gandalf (Ian McKellen, que vive o mesmo personagem em O senhor dos anéis) e 13 anões entram em sua casa para levá-lo a uma aventura. Bilbo é reticente, mas acaba partindo com o grupo, cuja missão é recuperar o tesouro dos anões, tomado pelo dragão Smaug.
A trama que chega aos cinemas foi o primeiro marco na carreira de Tolkien, um dos escritores mais influentes no século XX. Até a publicação de O hobbit (um romance despretensioso de 300 páginas, menor que qualquer um dos três volumes de O senhor dos anéis), Tolkien seguia a respeitável carreira acadêmica como tradutor e professor. O livro fez sucesso na década de 1930, principalmente no Reino Unido e nos Estados Unidos. Sua editora passou a pressioná-lo para obter mais histórias com os personagens da Terra Média, mundo que Tolkien criou inspirado nas sagas nórdicas.
Quando completou O senhor dos anéis, Tolkien queria publicá-lo como um volume apenas. Depois da recusa de duas editoras, acabou cedendo. O livro O senhor dos anéis foi publicado em três partes, entre 1954 e 1955, anos depois de terminado. Quase 60 anos depois, O hobbit dará origem a três filmes, e não a um – pelas mesmas razões mercadológicas.
A principal crítica negativa ao primeiro dos três filmes de O hobbit é que o filme é lento, uma consequência de terem dividido a história de um livro curto em três filmes longos. A estrutura narrativa não fecha. O site da revista americana Variety afirma que muitas das cenas “poderiam ter sido deixadas para uma edição estendida em DVD ou omitidas completamente”. Outras publicações dizem o mesmo. Mas quem liga para ritmo, diante da possibilidade de faturar US$ 1 bilhão por filme?
O senhor dos anéis transformou Tolkien numa máquina de fazer dinheiro e num dos homens mais importantes da cultura pop até hoje (leia o quadro abaixo). A principal razão foi o movimento de contracultura na década seguinte. “Nos Estados Unidos e na Europa, havia jovens querendo abrir a mente para modos diferentes de viver”, diz o jornalista Ethan Gilsdorf, colaborador da revista americana Wired e autor do livro Fantasy freak and gaming geeks, sobre literatura e jogos de fantasia. “Mesmo sendo de uma geração anterior à dos hippies, Tolkien vislumbrou um mundo que seria atraente para eles.” O mundo de Tolkien inspirou as letras de música da banda de rock Led Zeppelin e o universo maniqueísta do filme Guerra nas estrelas, de George Lucas. É a principal referência de autores como J.K. Rowling, do fenômeno literário Harry Potter, e George R.R. Martin, da série Guerra dos Tronos, sucesso em livros e na TV.
Até o primeiro filme da trilogia O senhor dos anéis, em 2001, o culto a Tolkien ficava restrito a reuniões nerds. O sucesso dos filmes de Jackson aumentou o número de seguidores e consumidores que compram tudo relacionado à obra de Tolkien. As editoras esperam o mesmo com a nova trilogia. O filme O hobbit – Uma jornada inesperada chega ao Brasil acompanhado de uma reedição do livro original e do lançamento de dois livros infantis de Tolkien ainda inéditos no Brasil: Sr. Bliss e Cartas do Papai Noel. No cinema, obras como o livro O silmarillion, com aventuras no mesmo universo fantástico, já estão na fila para ganhar uma versão cinematográfica.
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"O hobbit": a nova encarnação de Tolkien
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