TENDE CUIDADO CONVOSCO
Esta recomendação é feita por Jesus no ensinamento que encerra o seu ministério em Jerusalém. Quem a escuta fica com muitos “sabores de boca” e interrogações na mente. Será advertência premonitória e exortação à vigilância? Alarme despertador da consciência face ao que está a acontecer e preanuncia o rumo do futuro? Convite/apelo a que se tome a vida a sério e se passe da indiferença vulgarizada à observação crítica em ordem a compreender a realidade envolvente?!
Além deste “leque” multicolor de possibilidades, o narrador do episódio – Lucas, o médico escritor – destaca alguns elementos que Jesus terá aduzido e que surgem “enroupados” numa linguagem especial, própria para iniciados, a apocalíptica. O ponto de convergência de todos está centrado nas “coisas” últimas do tempo histórico e no advento das realidades futuras.
Os ouvintes tinham vivido situações desoladoras como a da guerra judaica e a matança subsequente, a destruição do Templo e a ruína religiosa provocada pelo vazio espiritual, a perplexidade angustiante face ao futuro que parecia estar cativo de um presente fechado. Este cenário desolador serve de “pano de fundo” à admonição “tende cuidado convosco” que Jesus se encarrega de fundamentar. E aduz razões de atenção vigilante aos acontecimentos, de ânimo levantado e de postura inteligente, de coração liberto e disponível, de oração constante e de esperança activa.
Os discípulos podem assim crescer na certeza de que a libertação está próxima e aguardar o encontro definitivo com o Senhor, o Filho do homem (nome usado por Jesus para desvendar a sua humana divindade e indicar o tipo da sua missão sofrida). Esta certeza constitui a marca de qualidade da fé dos cristãos e é reafirmada no Credo apostólico. Este encontro vai acontecendo em gestos solidários e atitudes fraternas e será consumado na comunhão da família de Deus quando toda a humanidade atingir a realidade definitiva e estiver nos braços do Pai.
“Tende cuidado convosco” – repete-nos, hoje, Jesus Cristo –, observai o que está a acontecer, olhai para o vosso mundo interior e examinai os vossos critérios de vida, vede as ondas de solidariedade no meio de tantas desgraças, acreditai que outra organização da convivência humana é possível e trabalhai por ela com a força da esperança e a eficácia da caridade e da justiça. Contai com a minha presença renovada e intervenção discreta para dar alento e persistência aos vossos esforços. E um dia, todos juntos em comunhão familiar faremos a festa do universo e dos nossos irmãos em humanidade.
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Olhemos para o nosso mundo interior
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