"Sócrates" prova a "Marx" a contradição lógica do evolucionismo ateu



MARX: Darwin e eu, juntos, eliminamos Deus: ele da natureza, eu da história. Sabes que até enviei uma cópia de meu livro a Darwin?

SÓCRATES: Sim. Sei também que ele nunca te respondeu.

MARX: Sabes de muitas coisas.

SÓCRATES: Sei também por que ele nunca te respondeu.

MARX: Como sabes isso?

SÓCRATES: Eu dialoguei com ele.

MARX: Oh.

SÓCRATES: Gostarias de saber o que ele pensava a respeito do teu livro?

MARX: Isso não tem importância.

SÓCRATES: E o que tu pensas de seu livro? Aceitas sua teoria da evolução?

MARX: Sim, aceito.

SÓCRATES: Assim, dizes que, anteriormente, não existia vida, mas, então, muitos séculos mais tarde, havia; dizes também que, antes, existia apenas vida subumana e, então, séculos mais tarde, havia vida humana.

MARX: Sim. A vida evoluiu por seleção natural. Pode-se até ver analogias entre a seleção natural e a dialética histórica...

SÓCRATES: Eu percebo isso. Mas, penso, também vejo uma outra coisa. Por favor, pondera acerca destas três coisas nas quais dizes acreditar. Primeiro, acreditas na evolução. Segundo, não crês que haja um Deus - um Criador, uma Causa Primeira ou uma Mente Arquiteta - por trás da evolução. Terceiro, acreditas no princípio científico da causalidade, ou seja, crês que os efeitos não podem exceder suas causas, que nada vem à existência sem uma causa adequada - em verdade, tu mesmo dirias, sem uma causa necessária ou determinista. Acreditas nessas três coisas?

MARX: Sim.

SÓCRATES: Pois vês algum problema nisso tudo?

MARX: Estou um passo à tua frente, Sócrates. Dirás que há uma contradição lógica em se aceitar todas essas três idéias, pois se os efeitos não podem exceder suas causas, então o vivente não pode ser causado pelo não-vivente, as formas superiores de vida não podem ser causadas apenas pelas inferiores e tampouco a inteligência pode ser causada por algo ininteligente ou os planos, os projetos e a ordem pelo puro acaso, a menos que essas causas inferiores sejam só instrumentos de uma causa divina superior. Dirás, então, que devo desistir ou da teoria da evolução, ou de meu ateísmo, admitindo assim um Deus que a explique.

SÓCRATES: Mas que maneira formidavelmente clara de se equacionar o problema! Tens uma solução igualmente clara?

MARX: Sim, tenho. A existência de um Deus sabotaria por completo todo o meu materialismo científico, portanto meu ateísmo não é discutível, e a mesma razão justifica minha crença na evolução: essa é a única alternativa ao desígnio divino que explica a existência de ordem na natureza. A teoria da evolução é o trunfo da ciência em sua batalha contínua contra a religião e a superstição. Logo, se há de fato uma tensão lógica entre essas três idéias, temos de modificar o princípio mais geral e abstrato dos três, o princípio da causalidade, ou então teremos de alterar um princípio ainda mais geral e abstrato, o qual acolheremos caso haja o mais mínimo problema na aceitação simultânea dessas três idéias: isto é, o princípio lógico da não-contradição. Talvez as contradições lógicas sejam o veículo pelo qual a história se move; talvez tenhamos de aprender a aceitar as tensões lógicas, em vez de evitá-las.

SÓCRATES: Que interessante! Em nome da ciência, modificarias um ou mesmo dois de seus princípios mais fundamentais, o princípio da causalidade e a lei da não contradição lógica. Podes me dizer o nome de um só cientista bem sucedido e reconhecido, em toda a história, que tenha feito isso?

MARX: Penso ser o primeiro.

SÓCRATES: No entanto, há muitos cientistas que rejeitam o teu ateísmo.

MARX: Sim...

SÓCRATES: E há também alguns que rejeitam a seleção natural.

MARX: Talvez. Mas ambos os tipos são assaz tolos.

SÓCRATES: Quiçá. Porém, eles são cientistas. Não diria a maioria deles que negas dois dos princípios mais inquestionáveis da ciência em favor de duas das mais questionáveis teorias científicas?

MARX: Não, a menos que fossem loucos. Mas eu não ligo para o que dizem; eu vi algo na história que eles não viram.

KREEFT, Petter. Sócrates encontra Marx. São Paulo: Vide Editorial. 2012. p.73-75

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