As causas e efeitos do mundo podem ser explicados matematicamente? Há uma sistematização em todas as coisas do universo, que pode ser decifrada mediante princípios matemáticos? A sabedoria é um número? Por outro lado, não poderíamos nos perguntar se, na verdade, o nosso conhecimento não deveria ser fundado de uma maneira mais modesta, a partir do limitado aparato sensitivo humano, de modo que a busca por respostas certeiras para todas as coisas seja um empreendimento um tanto vão?
De maneira simplificada, podemos dizer que essas questões dividiram conclusões epistemológicas durante cerca de mil anos, entre as certezas matemáticas dos pitagóricos Platão e Galileu e o conhecimento que pode ser dito em muitos sentidos de Aristóteles e Tomás de Aquino. A despeito das abstrações profundas que tais questões levantam, elas dizem respeito a questões bastante cotidianas da condição humana.
Quando a Catarina nasceu, há pouco mais de quatro meses, eu e a minha mulher ansiávamos por respostas definitivas para todos os desafios que os cuidados com um bebê demandam. Qual é o padrão de "pega" do bico do seio para amamentação? O que fazer para a criança dormir a noite inteira? Qual é o significado de cada uma das variações de choro? Eu acreditava em duas estratégias para conseguir respostas. A primeira, um pouco mais imprecisa, viria da escuta das experiências dos familiares e amigos. E, quando uma criança nasce, opiniões sobre o que fazer com ela surgem como uma avalanche. Isso pode te esmagar! De qualquer maneira, eu pensava que poderíamos chegar a conclusões, testando e combinando os palpites. A outra estratégia para conseguir respostas, um pouco mais precisa do que a anterior, viria da leitura sistemática de obras renomadas sobre cuidado com bebês, entre os quais os pediatras do "Nana Nenê", a enfermeira inglesa "encantadora de bebês", além das respostas do nosso médico que atende lá perto do mercado da Vila Nova, que eu penso ter sido o pediatra da Cora Coralina.
Talvez, o sono seja a questão mais habitual de preocupação dos novos pais. O ser humano quer respostas precisas para todas as coisas da vida e, em relação ao sono do bebê, isso se manifesta nos truques, às vezes bastante cansativos, utilizados em cada casa. Há pais que precisam plantar bananeira para a criança dormir, porque esta parece ser a única técnica capaz de ninar o bebê. A resposta universal para o sono da criança se torna, portanto, virar a vida de cabeça para baixo.
Nos primeiros de vida, a Catarina dormia às duas horas da manhã e acordava às seis. Mas ela não demorou para dormir a madrugada inteira. No dia de seu batismo, com trinta e três dias, ela dormiu da meia-noite às seis. A Gaby estava bastante cansada por causa das preparações para o batismo e das consequências festivas. Então, com a minha segurança do tipo "pode dormir, porque se o mundo acabar, pelo menos a porta do nosso quarto estará trancada", eu quis que a Gaby dormisse e fui passar a noite na sala, com a Catarina. Ela, no bebê conforto e eu, no sofá. Quando amanheceu, eu acreditei piamente que o segredo do sono estava no bebê conforto. Mas é claro que não era o caso. No dia seguinte, ela também dormiu a madrugada inteira, desta vez, no moisés, ao lado da cama de casal. Ela nunca teve problemas com a acomodação específica para dormir. Um mês depois, quando ela passou a dormir no seu próprio quarto, no berço, a transição se deu de forma bem sucedida.
As pessoas são curiosas a respeito do sono dos bebês. Quase todos perguntam se a Catarina dorme a noite inteira. Nossa resposta é afirmativa, mas há um porém. Durante o dia, as sonecas dela cumprem, quase sempre, apenas um ciclo de sono, que nos bebês dura cerca de quarenta minutos. Para os nossos ouvintes, inclusive o velho médico da Vila Nova, o padrão dela está ótimo, porque dormir a noite inteira já é um lucro. Por fim, nós nos contentamos também. Gosto daquele médico, porque ele fala pouco e, nessas alturas, depois de ter atendido todas as gerações que vieram depois da transferência da capital para Goiânia, parece já ter desistido de encontrar respostas. Hoje em dia, os melhores médicos são aqueles que admitem que estão no nível de conhecimento da técnica, um grau abaixo do científico. Certa vez, fomos num homeopata gaúcho que disse categoricamente que a Catarina não dormia desde que estava no ventre materno. Essa verdade dói.
O fato é que devemos nos contentar com este mundo, que não nos possibilita, sistematicamente, descobrir respostas definitivas para tudo. Isso pode parecer desconfortável, afinal todos queremos respostas, mas a matematização de todas as coisas da vida é uma violência. É melhor necessitar de um obscuro porto seguro onde, se "A" carecer, o consequente "B" poderá surgir por "C", ou quem sabe, a sua ausência se revelará uma bênção, porque o consequente "D", obtido por "E" e "F" será bem melhor. Matematizar a vida implica em defender obstinadamente "A" para sempre conseguir "B". Mas a verdade matemática pode ser uma mentira de vida.
De qualquer maneira, admito que se o padrão matemático funciona, faz as pessoas felizes e não prejudica nada e nem ninguém, vale a pena insistir com ele. Penso, isto sim, que tal padrão não deve ser universalizado, mas pacientemente buscado para aplicação em casos específicos. O que fazemos para a Catarina dormir a noite inteira, eu não recomendaria para mais ninguém neste mundo, apesar de funcionar maravilhosamente. Em última instância, o padrão funciona, porque é algo que faz parte da rotina do casal e que nos deixa bem à vontade. Não é um sistema matematicamente fechado, mas um costume nosso que se adaptou às necessidades da Catarina.
Os pais devem lutar pelo sono dos bebês. Particularmente, nunca simpatizamos, nem eu e nem minha mulher, com a ideia de deixar o bebê chorar até dormir. Isso funciona em muitos casos, mas não é uma verdade universal. Aliás, eu penso que muitos bebês que não dormem a noite inteira possuem tal padrão devido ao não funcionamento daquela estratégia. O que fazemos, então, em nossa casa? Entre 19 e 22 horas, no período em que costumamos assistir a filmes e, pela primeira vez, na minha vida, séries, o sono preliminar da Catarina é defendido em nossos colos. Às vezes, antes das 22 horas, a Gaby coloca a Catarina no berço e esperamos até esse horário para ela tomar a última mamada do dia. Porém, muitas vezes, ela acorda e chora durante a mudança do ciclo de sono. Então, ela volta a ser mantida no colo até às 22 horas, porque o fato é que quanto mais ela fica acordada nas horas iniciais da noite, mais ela acorda durante a madrugada. Eu penso que no sono preliminar, no colo, das 19 às 22, ela consegue descansar devidamente, sem interrupções no ciclo para, em seguida, completamente repousada, dormir a noite inteira, sem que as transições a perturbem.
Sabemos que tal procedimento pode ser considerado por algumas pessoas como vicioso, mas o fato é que isso não vai durar muito tempo e, como se trata de uma defesa de processo fisiológico, tal mimo não implica necessariamente que ela se tornará uma criança mimada.
Devemos sempre desconfiar das opiniões pretensiosas a respeito da criação de filhos. Para cuidar de uma criança, a sabedoria necessária não é matemática, mas resultante do discernimento único de um casal. Para um casal discernir bem, é preciso uma confiança irrestrita em Deus, um no outro, e no fato de que não há respostas para todas as coisas. A partir desses fundamentos de confiança na perfeição divina e na imperfeição do mundo, é que os padrões matemáticos específicos, aos poucos, vão surgindo e sempre adequados à felicidade da família. Não é a fundamentação matemática que dará o padrão de criação dos filhos. As exigências platônicas não são deste mundo.
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