Jesus faz uma escolha no deserto pelo discernimento (Marcos 1,12-15)



Leitura é um estudo: Supomos sempre que o Espírito Santo só faz coisas boas para a gente. Mas mandar alguém para o deserto não parece coisa boa, pelo contrário. Parece e é ruim. Lá não tem nada, falta tudo. Tem até muitos riscos: fome, sede, frio, calor, veneno, isolamento, feras, como leão, hienas, chacais, lobos, cobras, escorpiões, etc. E Jesus foi impelido pelo Espírito para o deserto!

Mas. Sempre tem uma “mas”!? Tendo sido por um tempo discípulo de João Batista (Mc 1,9), Jesus teve várias ocasiões para um silêncio muito fértil no deserto. De fato, o silêncio é muitas vezes mais fértil do que o barulho de qualquer som. Foi no deserto que Jesus esteve muitas vezes em oração. Marcos até diz que foram quarenta dias de deserto (Mc 1,12s) até para lembrar os 40 anos do povo sendo educado por Deus no deserto. Lá, com a força e iluminação do Espírito Santo Jesus soube superar as tentações de Satanás.

Para Jesus o deserto foi para vencer as tentações de Satanás. Quando vem Satanás é preciso cuidado para conseguir vencer porque ele vem com muitas propostas que parecem muito boas. Mas Jesus não entrou na conversa de Satanás! De acordo com os outros evangelistas, Mateus e Lucas, as tentações de Ter, Poder e Prazer são muito fortes. É preciso fazer um bom discernimento! Saber o que é o melhor e diferenciar do que só é bom. Muitos escolhem o que é bom e deixam o que é o melhor! É uma grande pena que as pessoas só escolhem o que é bom e deixam o melhor! Escolher o melhor! É para isto que existimos! É Jesus quem nos ensina a discernir o melhor para a vida da gente neste nosso chão. Sigamos os passos de Jesus que revela a palavra salvadora do Pai que sempre quer que escolhamos o melhor.


A prisão de João foi o sinal para Jesus ir à Galiléia e começar a sua pregação: O Reino de Deus está presente (próximo)(Mc 1,15). Jesus fez um discernimento da vontade do Pai no deserto e entendeu que com a prisão de João Batista tinha chegado a sua vez de pregar. A Boa Notícia de Deus: o Reino de Deus. Jesus entendeu: vou me deixar guiar por Deus. Jesus fez este discernimento.

Ele propõe este reino para seus ouvintes, a grande maioria é povo sofrido sob o peso de autoridades que não queriam o bem do povo, mas o sugavam até a morte. Jesus sabe que está andando por um caminho perigoso. Vai encontrar muita rejeição. Mas vai ser sinal de Deus para os pobres e infelizes.

Jesus encontrou um sentido para sua vida na doação integral ao povo que vivia uma vida muito sacrificada. Jesus sofreu incompreensões, perseguições e muita cruz na sua vida itinerante. Mas não desistiu. Seguir a vontade do Pai que é uma vontade salvadora foi o objetivo da vida de Jesus dedicada totalmente aos outros. Encontrou sentido ao dedicar a sua vida para os outros ao lhes propor o projeto do Reino de Deus. Ainda hoje faria a mesma coisa. Se dedicar aos outros totalmente. Muitos encontraram com as palavras e as atitudes de Jesus um novo sentido para sua vida, um sentido de alegria, de realização, de plenificação. E assim se converteram, isto é, mudaram de mentalidade. Conversão é isso: mudar de mentalidade! Assumir a mentalidade de Jesus é converter-se. E só com a mudança de mentalidade se compreende o Reino de Deus.

Nós rezamos com frequência, no Pai nosso: “Seja feita a vossa vontade”. Somos sinceros? Reconhecemos, como Jesus, que a vontade de Deus Pai é sempre salvadora? E procuramos realmente fazer, por em prática a vontade do Pai? Aqui, parece há uma boa caminhada a ser feita. Experimentemos e vamos constatar que a vontade de Deus é de fato salvadora. Todo o discípulo vai percebendo que o exemplo de Jesus é revelação da Palavra do Pai.

Invoquemos o mesmo Espírito que impeliu Jesus ao deserto para que Ele nos ilumine e nos conduza para descobrir a Palavra de Deus para nós hoje a partir deste texto de Marcos.

Meditação: Perguntemos o que Deus nos quer dizer através deste modo de Jesus olhar a sua vida. Qual é a Palavra que Deus no dirige? Nós nos perguntamos, à luz do exemplo de Jesus, qual é o sentido que nós estamos dando à nossa vida. Jesus refletiu, rezou e encontrou com a força do Espírito Santo, um sentido à vida de total doação para o bem dos outros, sobretudo dos pobres, sofredores, doentes, escravos, mulheres e crianças. E vivia uma vida muito alegre.

Vamos responder honestamente: O exemplo de Jesus ao fazer escolhas conscientemente, com discernimento feito no deserto, me anima para imitar e fazer escolhas com discernimento do Espírito Santo? No silêncio respondamos pessoalmente: o que Deus está dizendo para nós?

Oração: Sentimos algo diferente até agora? O que sentimos? O que o texto e o que sentimos, nos faz dizer para Deus? Cada um de nós é casa do Espírito Santo. Ele mora no mais profundo de nós mesmos. Vamos nos encontrar com Ele e aceitar o que Ele nos sugere? Vamos exercitar-nos no discernimento como Jesus fez em sua vida? A resposta depende exclusivamente de nós. Mas cuidado! Não vamos dizer sim ao discernimento só para agradar. É preciso realizar, pôr em prática.

Exercitemos um “deserto” ficando quietos para que aconteça, mesmo estando juntos, um encontro com o mais profundo de nós mesmos onde está o Espírito Santo.

Contemplação: No dia em que os cristãos católicos forem como Jesus o mundo não será mais o mesmo. Vamos experimentar para ver se é verdade? Se todos os cristãos forem de fato discípulos de Jesus serão também missionários.

Qual será nossa prática de hoje em diante com Jesus nos ajudando no discernimento para escolhas acertadas? Vamos aceitar o que o Espírito nos sugere para um bom seguimento de Jesus?

Como me sinto diante deste Jesus que Marcos apresenta?


Texto extraído do livro "Jesus no Evangelho de Marcos"
Autor: Pe. José Bonifácio Schmidt
Comissão da Animação Bíblica Pastoral
Arquidiocese de Porto Alegre






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