Da fé de ateus e teístas (e da mentira de ser agnóstico)!


A quem cabe o ônus da prova sobre a questão da existência de Deus?
Há uma opinião corrente por parte dos que “não crêem” que o teísta deve provar a existência de Deus, enquanto eles são justificados em não crer. Assim, segundo eles, pessoas intelectualmente sãs, racionais, não poderiam crer em Deus. Eu só posso creditar isso a mais pura ignorância ou a mais descarada desonestidade.
O teísta é aquele que afirma a existência de Deus. Sua proposição é:
(i) Creio que Deus existe (ou “Deus existe”, ou “creio em Deus”)
Se pretende que sua proposição seja conhecimento, além de crer nela, terá que ter critérios para seja verdadeira e justificada. Ou seja, deverá provar sua asserção. O problema é que não há critérios universais que forneçam tal prova. Tudo fica no âmbito da fé!
Por ser fé, o ateu acusa o teísta de irracional. Tem ele razão? Vejamos: o ateu é aquele que nega a existência de Deus. Sua negação é, na verdade, uma afirmativa e sua proposição é:
(ii) Creio que Deus não existe (ou “Deus não existe”, ou “creio em não-Deus”).
Ora, do mesmo modo, se pretende que sua proposição seja conhecimento, além de crer nela, terá que ter critérios para seja verdadeira e justificada. Ou seja, também deverá provar sua asserção. Quais os critérios universais que fornecem tal prova? Não há. Novamente, tudo fica no âmbito da fé!
Se o teísta é irracional pela fé que tem, não é menos irracional o ateu. Nenhum dos dois pode satisfatoriamente e de forma definitiva provar o seu ponto. Há teorias quanto à plausibilidade ou à probabilidade de proposições. Entre haver ou não haver Deus, haveria uma proposição que seria mais plausível ou provável que a outra. Embora estas teorias procurem rigor e neutralidade, é difícil vê-las sem um aspecto psicológico que faça pender a balança para um ou outro lado.
Considerando as chances, 50% para cada lado, resta o apelo agnóstico que diz não conhecer Deus, simplesmente. Ele afirma:
(iii) Não creio que Deus exista (ou “não creio em Deus”).
Mas seu apelo só terá sentido se houver a contraparte:
(iv) Não creio que Deus não exista (ou “não creio em não-Deus”).
Pois afirmar (iii) e negar (iv) é afirmar (ii). Isto não será mais agnosticismo, porém ateísmo. Pender para um dos lados (como num pouco provável “tendo a crer em Deus” ou no mais comum “tendo a crer em não-Deus”), embora me seja psicologicamente compreensível, é intelectualmente desonesto se significa uma simples fuga do ônus da prova (como pretende a “presunção de ateísmo”).
Um agnóstico coerente, portanto, não considerará irrelevante a questão se Deus existe ao mesmo tempo em que não lhe dará peso excessivo. Não viverá como se Ele não existisse, mas também não considerará que Ele o está a observar. Não sonhará com o céu nem temerá o inferno, mas também não ignorará esperança ou temor. Chamará teístas e ateus igualmente de irracionais por sua fé sem provas. Mas a dúvida e a incerteza, como as do cético, serão suas companheiras…
Mas, ora, eu ainda não conheci um agnóstico coerente sequer, assim como não conheci qualquer cético que se cale! O agnóstico que conheço pode viver, e de fato vive, como um ateu. Pois, ora vejam, ele é um ateu. Apenas que renunciou aos debates quanto à racionalidade de sua crença no não-Deus. E, assim, que viva como o ateu que é, porém não acuse o teísta de irracionalidade, pois isso nunca passará de mal disfarçada desonestidade intelectual (qualquer semelhança com os novos ateus não é mera coincidência).
A quem cabe o ônus da prova? Ninguém, enfim, a terá, mas de sua fé vivem todos. O insensato ateu para hoje, aqui e agora, comendo e bebendo, pois amanhã morrerá. Porém o justo, aquele a quem Deus justificou, este de Deus mesmo recebeu uma fé e também uma vida de um outro tipo. De um tipo de fé que olha e vê o que os olhos não vêem. De um tipo de vida que é da eternidade amiga. De uma fé que vê e já vive as primícias da vida na bem-aventurança eterna do porvir diante da Presença, coram Deo

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