ORIGENS DA IGREJA



Algo teve de acontecer para que a causa de Jesus não terminasse no Calvário naquele Abril do ano +/- 30.






Os Seus seguidores, desiludidos e cheios de medo, dispersaram-se, mas pouco tempo depois voltaram a aparecer com uma actividade radicalmente diferente. A experiência pascal foi tão intensa que fez com que mudassem de tal maneira que não pareciam os mesmos. Um espirito, como diziam os seus contemporâneos, tinha-se apossado deles. Perante a sua nova postura, alguns comentavam: não são eles que assim procedem, mas o (espirito do) vinho que beberam; outros, no entanto, acreditavam no seu testemunho e confessavam que era o Espirito de Deus que falava pelas suas bocas. Aconteceu o Pentecostes.






A partir de então, os discípulos começaram a apregoar: «Saiba toda a casa de Israel, com absoluta certeza, que Deus estabeleceu como Senhor e Messias esse Jesus por vós crucificado» (Act 2,36).






A esta pregação Paulo chamará «Kerigma», palavra grega que designa a notícia que se apregoa para que toda a gente saiba. Também se lhe dará o nome de «Evangelho» ou Boa Nova.






À volta da pregação dos Apóstolos, foi-se formando e crescendo, pouco a pouco, uma comunidade à qual os Judeus chamaram «seita dos nazarenos» e que externamente não passava de mais um grupo, embora com características próprias dentro da pluralidade do Judaísmo daquele tempo.






A maioria dos primeiros cristãos era de Jerusalém ou, pelo menos, da Palestina. Falavam aramaico, a sua mentalidade era semita, liam a Bíblia em hebraico e, como é natural, sentiam-se muito arraigados às tradições judaicas, sobretudo relativas à sinagoga e ao Templo. Cumpriam estritamente a lei de Moisés incluindo a própria circuncisão. Aparentemente, o seu comportamento mal se distinguia do doutros judeus piedosos, tanto fariseus como essénios. A sua cultura era rural e a sua situação económica bastante baixa. Estes judeo-cristãos (assim se costuma chamar a esta facção da Igreja palestinense) eram muito bem vistos pelo povo e foram defendidos pelos fariseus, por mais de uma vez.






Mas havia também um número importante de fiéis que tinha vivido nas colónias de judeus das grandes cidades ribeirinhas do Mediterrâneo. Falavam grego comum ou Koiné, a sua mentalidade era muito ocidental, liam a Bíblia em grego e, além disso, estavam menos apegados à lei mosaica do que os palestinenses. O seu estilo era urbano e a sua situação económica desafogada. São conhecidos por cristãos helenistas.






No princípio, a união entre estes dois tipos de pessoas não apresentou nenhum género de problemas. Nas reuniões que celebravam nas suas casas escutavam o ensino dos Apóstolos, praticavam a comunidade de bens e celebravam a «fracção do pão», nome por que era conhecida a assembleia eucarística. Pedro ocupava um lugar de prioridade na comunidade, realçando-se também Tiago, «o irmão do Senhor». Ambos, juntamente com João, são chamados «colunas da Igreja».






Rapidamente, porém, surgiu um conflito. È bem provável que as coisas tenham acontecido assim: as sinagogas praticavam a beneficência para com os pobres através da «quppah» ou «caixa» na qual todos os judeus residentes depositavam uma quantia proporcional às suas receitas. Com estes recursos, os encarregados repartiam o necessário para que os pobres habituais daquela sinagoga pudessem comer duas vezes por dia. Quando os presidentes das sinagogas, talvez aborrecidos porque os cristãos helenistas não se portavam como bons judeus, decidiram excluir desta assistência os que confessavam que Jesus era o Messias, os cristãos tiveram de montar o seu próprio «serviço quotidiano» ou «serviço de mesa». Por causas que desconhecemos, os helenistas queixaram-se que os judeo-cristãos não atendiam bem as suas viúvas.






Para solucionar o problema, os doze (já então tinha sido eleito Matias para o lugar de Judas) dotaram os helenistas de uma organização própria: sete homens encarregar-se-iam do serviço da mesa e doutras funções similares às dos Apóstolos.






HÉLDER GONÇALVES










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