Milagre do fogo sagrado em Jerusalém?

O MILAGRE DO FOGO SAGRADO EM JERUSALÉM:






“No Sábado Santo os fiéis se reúnem numa disputada aglomeração na Igreja do Santo Sepulcro. Porque neste dia, o fogo desce do céu e acende as lamparinas da Igreja”, lê-se num dos muitos itinerários do século XII, de peregrinação da Páscoa à Terra Santa.
“O milagre do Fogo Sagrado” é conhecido pelos cristãos da comunidade ortodoxa como “o maior de todos os milagres cristãos”. Acontece todo ano, na mesma hora, do mesmo modo e no mesmo lugar. Não se conhece nenhum outro milagre que ocorra tão regularmente e por tanto tempo.
Os primeiros documentos conhecidos que se referem a este milagre remontam ao século VIII d.C.. O milagre acontece na Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, que é para milhões de crentes, o lugar mais sagrado da terra.
Podemos seguir os testemunhos do milagre através dos séculos nos numerosos itinerários para a Terra Santa. O abade russo Daniel apresenta, no seu itinerário escrito em 1106/7, de maneira minuciosa, “O Milagre da Santa Luz” e as cerimônias que o cercam. Ele lembra como o Patriarca entra na Capela do Santo Sepulcro (a Anástasis) com duas velas. O Patriarca se ajoelha diante da pedra sobre a qual foi recostado Cristo depois da sua morte e diz certas orações, depois das quais o milagre acontece. Uma Luz sai do coração da pedra, uma luz azul, indefinível, que depois de certo tempo acende as lamparinas de azeite fechadas e as duas velas do Patriarca. Esta luz é “O Fogo Sagrado” e se difunde por todas as pessoas que estão presentes na Igreja.
A cerimônia que cerca o “Milagre do Fogo Sagrado” talvez seja a cerimônia ininterrupta mais antiga da cristandade, em todo o mundo. A partir do século IV d.C., sem interrupção até os nossos dias, numerosos documentos mencionam o admirável prodígio. Deduz-se pelos documentos que o milagre tem acontecido no mesmo lugar, na mesma festividade e na mesma data litúrgica ao longo destes séculos.
Para investigar esse tema, viajei a Jerusalém para assistir a cerimônia e agora posso atestar que isto não só acontecia na igreja primitiva e ao longo da Idade Média, mas ocorreu também no Sábado, dia 29 de Abril de 2000.
O Patriarca Ortodoxo Grego de Jerusalém, Diodoro I, é quem todos os anos entra na tumba para rezar e é quem recebe a Santa Chama. Ele é o Patriarca de Jerusalém desde 1982, pelo que se torna uma testemunha ocular do milagre. Antes da cerimônia o Patriarca me recebeu numa audiência privada e, graças à sua intervenção, fui admitido nos balcões da cúpula da Basílica do Santo Sepulcro, de onde tive uma visão privilegiada do grupo de pessoas que se reuniu com antecedência em volta da tumba, para o “Grande Milagre do Fogo Sagrado”.

a Capela com a tumba de onde o Fogo Sagrado sai

O que é que realmente acontece no Santo Sepulcro no Sábado da Páscoa? Por que tem tanta importância na tradição ortodoxa? Por que parece que não se ouve nada sobre o milagre nos países protestantes e católicos?
O milagre acontece a cada ano no Sábado da Páscoa ortodoxa, celebrado conjuntamente por todas as comunidades ortodoxas. Há muitas denominações de cristãos ortodoxos: Sírios (de Antioquia), Armênios, Russos e Gregos, e também Coptas. Na Igreja do Santo Sepulcro há sete diferentes denominações cristãs, e todas, exceto os católicos, participam da cerimônia.
Desde que aconteceu o cisma entre ocidente e oriente no ano de 1054 os “Dois pulmões do corpo de Cristo”, como chama o Papa João Paulo II, os Ortodoxos e Católicos vivem existências separadas, mas nos dois primeiros séculos posteriores ao cisma não era assim no Santo Sepulcro. O impacto da cerimônia sobre o público era tão grande que, apesar do cisma, católicos e ortodoxos continuaram se reunindo para celebrá-la juntos. Logo depois do ano de 1246, quando os católicos deixaram Jerusalém com a frustrada Cruzada, o Milagre do Fogo Sagrado se transformou numa cerimônia privativa dos ortodoxos, que permaneceram em Jerusalém mesmo depois da ocupação palestina por parte dos turcos.
O Metropolita Timóteo, do Patriarcado Ortodoxo de Jerusalém, representante do Patriarca na celebração ecumênica de abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro em Roma, disse que o poder ecumênico e unificador do Fogo Sagrado é excepcional. “Até o século XIII era a Igreja inteira que celebrava a cerimônia do Fogo Sagrado”, disse-nos o Patriarca.
“Mesmo depois que os católicos deixaram Jerusalém, continuou como uma cerimônia unificante para os que aqui ficamos, isto é para todas as ramificações do mundo ortodoxo. Torna-se importante olhar a Chama que se difunde a partir de uma perspectiva simbólica: pode-se ver a Chama e o modo de se difundir, como sangue bombeado pelo coração para os diferentes membros do corpo. A Chama vem milagrosamente de Cristo para o Patriarca Grego Ortodoxo dentro da tumba. Ele a dá aos Metropolitas Armênio e Copta, os quais, por sua vez, a entregam às demais comunidades e daí se difunde para toda a comunidade dos fiéis. Terminada a cerimônia os fiéis de todo Israel e dos territórios Palestinos levam-na às casas dos seus familiares. Alguns peregrinos que vêm de longe fazem provisão de boa quantidade de azeite e de lamparinas especiais com as quais levam a Chama para os seus países.”
“A companhia aérea Olympic Airways ajuda a distribuir a Chama a numerosos países onde há cristãos ortodoxos, especialmente para Alexandria, no Egito, e para a Geórgia,a na Rússia, mas também para a Bulgária e Estados Unidos. Todos os anos escrevemos cartas de recomendação ao Ministro Dos Assuntos Religiosos de Israel que por sua vez ajuda aos peregrinos a levar lamparinas com o Fogo Sagrado atravessando os postos de Alfândega e levando-o aos respectivos aviões. Assim tão importante é a difusão da Chama para nós. É Santa e mantém para nós a lembrança de como o Espírito Santo está presente em todas as partes do Corpo de Cristo, do mesmo jeito que o sangue flui por todos os membros do corpo humano.”

Arcebispo Alexios de Tiberias traz a Santa Chama para Atenas e é recebido com honras de chefe de estado

A partir das 11 horas da manhã, aproximadamente, até as 13 horas, os cristãos árabes cantam com fortes vozes canções tradicionais. Estas canções remontam à época da ocupação turca de Jerusalém, no século XIII, quando os cristãos só podiam cantar suas canções nas Igrejas.
“Nós somos os Cristãos, e o fomos durante séculos e o seremos para sempre. Amém!” cantam com voz guturais e acompanhados pelo som de tambores. Os tocadores de tambor sentam-se nos ombros dos outros, que dançam freneticamente em redor da Capela do Sepulcro.

Antes da chegada do fogo miraculoso, cristãos Palestinos dançam de acordo com seu costume na cerimônia

Às 13 horas as canções se desvanecem e faz-se silêncio, um silêncio tenso e carregado de ansiedade pela espera da grande manifestação do Poder de Deus, que todos estão prestes a presenciar. Às 13 horas acontece outro fato: uma delegação das autoridades locais abre passagem acotovelando-se no meio da multidão. Embora estes oficiais não sejam cristãos, eles são parte das cerimônias. Nos tempos da ocupação turca da Palestina, eram os turcos muçulmanos; hoje em dia são os israelenses.

Todo ano autoridades israelenses checam a tumba se ela tem escondida alguma luz, e se está selada até a chegada do patriarca

Durante séculos a presença destes oficiais faz parte integrante da cerimônia. Sua função é a de representar os Romanos dos tempos de Jesus. O Evangelho fala dos Romanos que foram selar a tumba para que os discípulos de Jesus não pudessem roubar o Seu Corpo e proclamar que havia ressuscitado. Do mesmo modo as autoridades israelenses vêm neste Sábado da Páscoa e selam a tumba com cera. Antes de selar a porta é costume que entrem na tumba para verificar se não há fogo escondido com o qual se pudesse produzir alguma fraude. Assim, como os romanos estavam presentes para garantir que não haveria manipulação depois da morte de Jesus, do mesmo modo, as autoridades israelenses locais devem garantir que, também em nosso tempo não haja embuste.
Uma vez que a tumba tenha sido inspecionada e selada, toda a igreja canta o Kyrie Eleison. Às 13:45 horas chega o Patriarca. Imediatamente depois de uma longa procissão que rodeia a tumba três vezes, retiram seus os ornamentos reais e litúrgicos e ele fica vestindo sua alva branca, como sinal de humildade diante do grande prodígio de Deus, do qual está para ser testemunha principal.

O Patriarca chega e rodeia a tumba três vezes em procissão

Todas as lamparinas de azeite foram apagadas na noite anterior, e agora apagam as luzes artificiais restantes, de modo que quase todo o templo se encontra envolvido na escuridão. O Patriarca entra com dois círios na Capela do Santo Sepulcro, primeiro na pequena antecâmara e logo em seguida na tumba.
Não é possível ver o que acontece dentro da tumba, de modo que eu perguntei ao Patriarca de Jerusalém, Diodoro I:

Sua Beatitude Deodoro I durante a entrevista com o autor

“Beatitude, o que é que acontece quando Vossa Eminência entra no Santo Sepulcro?”
“Entro na tumba e me ajoelho com santa reverência diante do lugar onde Cristo foi deitado logo após a Sua morte e de onde Ele ressuscitou da morte. Já rezar no Santo Sepulcro é sempre para mim um momento muito sagrado, num lugar sagrado. É aqui de onde ressuscitou novamente na glória e foi daqui que Ele difundiu Sua Luz pelo mundo.
“Creio que não é por acaso que o Fogo Sagrado surja precisamente deste lugar. Em Mt 28, 3, lê-se que quando Cristo ressuscitou da morte, veio um anjo, rodeado de uma poderosa luz. Creio que a impressionante luz que envolveu o anjo na Ressurreição do Senhor é a mesma luz que aparece milagrosamente em cada Sábado que antecede a Páscoa. Cristo quer nos lembrar que a Sua Ressurreição é uma realidade e não simplesmente um mito; Ele veio realmente ao mundo para oferecer o sacrifício necessário por meio da Sua morte e Ressurreição, de modo que pudéssemos nos reunir com nosso Criador.”
“Procuro o caminho na escuridão para o interior da câmara, na qual caio de joelhos. Rezo aqui certas orações que nos foram transmitidas há séculos e, tendo rezado, espero. Às vezes devo esperar alguns minutos, mas habitualmente o milagre acontece imediatamente depois de ter rezado as orações.”
“Do coração da própria pedra sobre a qual Jesus foi depositado se derrama uma luz indefinível. Geralmente tem uma tonalidade azulada, mas a cor pode mudar e tomar diferentes matizes. Não se pode descrever em termos humanos. Às vezes cobre exatamente a pedra, enquanto que outras vezes ilumina todo o Sepulcro, de maneira que o povo reunido de pé do lado de fora da tumba e que olha para dentro avista o Sepulcro cheio de luz. A luz não queima; durante os 16 anos em que sou Patriarca de Jerusalém e recebi o Fogo Sagrado, nunca queimei a minha barba. A luz é de consistência diferente da do fogo normal que arde numa lamparina de azeite.
“Num certo ponto a luz se eleva e forma como que uma coluna em que o fogo é de natureza diferente, e na qual consigo acender meus círios. Assim que recebo a chama nos meus círios, saio e dou fogo primeiro ao Patriarca Armênio e em seguida ao Copta. Posteriormente dou fogo a todas as pessoas presentes no templo.”
Enquanto o Patriarca está dentro da Capela ajoelhado diante da pedra, há escuridão do lado de fora, mas está longe de haver silêncio. Ouve-se um murmúrio bastante forte e a atmosfera é muito tensa. Quando o Patriarca sai com os dois círios acesos e que resplandecem brilhando na escuridão, um estrépito de júbilo ressoa no templo, unicamente comparável a um gol num jogo de futebol.

O Patriarca sai da tumba com os Círios acesos




Espalhando a chama...

A Santa Chama é recebida com o mesmo entusiasmo ano a ano. Os peregrinos sempre relatam terem viso uma chama azul se movendo a agindo livremente, acendendo velas apagadas e lamparinas fechadas na Igreja

O milagre não se resume ao que realmente acontece dentro da pequena tumba, onde o Patriarca reza. O que pode ser ainda mais significativo, é que se diz que a luz azul aparece e age fora da tumba. Todos os anos os fiéis afirmam que esta luz milagrosa acende espontaneamente velas que eles sustentam em suas mãos.
Essa luz freqüentemente acende lamparinas de azeite fechadas, diante dos olhos dos peregrinos. Vê-se a chama azul mover-se em diferentes lugares no templo. Numerosos testemunhos assinados por peregrinos que tiveram as suas velas acesas espontaneamente, atestam a veracidade desse acontecimento. A pessoa que experimenta o milagre de perto, ou tem uma vela sua acesa ou vê a luz azul, usualmente sai de Jerusalém transformada.
Poderíamos colocar a pergunta, por que o Milagre do Fogo Sagrado é pouco conhecido na Europa ocidental. Nos países protestantes pode ser explicado de certa forma pelo fato de que não há tradição de milagres: as pessoas realmente não sabem onde devem situar os milagres e eles não ocupam muito espaço nos jornais. Mas, na tradição católica há um grande interesse por milagres. Por que não é mais divulgado?
Somente as igrejas ortodoxas participam das cerimônias que emolduram o milagre. Acontece somente no Sábado que antecede a Páscoa ortodoxa e sem a presença de nenhuma autoridade católica. Para alguns ortodoxos esta evidência comprova que a igreja ortodoxa é a única legítima Igreja de Cristo no mundo, e esta afirmação obviamente pode causar certo mal-estar em quem assim não pensa.
Como em muitos outros milagres há pessoas que crêem que se trata de uma fraude e que não seria nada mais do que uma obra prima da propaganda ortodoxa. Eles acreditam que o Patriarca tem um isqueiro dentro da tumba. Estas críticas, contudo, se deparam com uma série de problemas. Fósforos e outros meios de acender o fogo são descobertas recentes. Poucos séculos atrás acender um fogo era uma tarefa que requeria muito mais tempo do que o Patriarca dispõe quando está dentro da tumba.
Os argumentos principais contra a fraude não são, contudo, os referentes aos Patriarcas, que são mutáveis. O maior desafio que as críticas enfrentam são os milhares de testemunhos independentes de peregrinos, cujas velas se acenderam espontaneamente diante dos seus olhos, sem explicação humanamente plausível.
De acordo com nossas investigações, nunca foi possível filmar nenhuma das velas ou lamparinas de azeite enquanto se acendiam sozinhas. Contudo, tenho um vídeo filmado por um jovem engenheiro de Belém, Suhail Thalgich. O senhor Thalgich esteve presente à cerimônia do Fogo Sagrado desde a sua infância. Em 1996 pediram-lhe que filmasse a cerimônia do balcão da cúpula do templo. Junto dele, no balcão, estavam uma freira e outros quatro fiéis. A freira estava à direita do Sr. Thalgich.
No vídeo pode-se ver como ele aproxima a multidão com o ‘zoom’ da filmadora. Num dado momento todas as luzes se apagam: é o momento em que o Patriarca entra na tumba e pega o Fogo Sagrado. Enquanto ele ainda se encontrava no interior da tumba, ouve-se de repente um grito de surpresa e de admiração proveniente da freira que estava de pé junto do Sr. Thalgich. A câmera começa a balançar enquanto se escutam vozes excitadas das outras pessoas presentes no balcão. A câmera gira para a direita e é possível ver-se o motivo da emoção. Um círio grande, sustentado pela freira russa, acende-se diante das pessoas presentes, antes que o Patriarca saísse da tumba. Com as mãos tremendo ela sustenta o círio enquanto faz repetidamente o sinal da cruz em ato de reverência pelo prodígio testemunhado por ela.
O milagre, como a maior parte dos milagres, está rodeado de fatores inexplicáveis. Como disse o Arcebispo Alexios, de Tibenas, quando eu o visitei em Jerusalém. “O milagre nunca foi filmado e, talvez nunca o seja. Os milagres não podem ser provados. Exige-se fé para que um milagre dê fruto na vida de uma pessoa e, sem este ato de fé não há milagre no sentido estrito. O verdadeiro milagre na tradição Cristã tem um só propósito: estender a Graça de Deus sobre a criação, e Deus não pode estender Sua Graça sem que esta seja intermediada pela fé por parte das Suas criaturas.”
Niels Christian Hvidt
(uma versão em inglês mais completa desta reportagem encontra-se em http://www.miraclebook.org/Excerpt.html)




Fonte: http://www.tlig.org/pg/pgforum/pgnuforum185.html







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