SINAL DA CRUZ E INCENSAÇÃO
I. SINAL DA CRUZ
Esta prática, que reencontramos em cada cerimônia da liturgia, e que se tornou o símbolo do cristão, merece toda nossa atenção. O hábito de se fazê-lo freqüentemente cria, infelizmente, uma rotina culpável que, somente o conhecimento de sua história, de seu significado, de sua eficácia, pode destruir entre uns e prevenir entre outros.
SÍMBOLO DA CRUZ NA ANTIGUIDADE – A memória da queda do homem e a esperança de sua redenção tinham sido preservadas entre todos os povos, junto com o sinal do instrumento sobre o qual deveria se operar nossa redenção. A cruz aparece como uma árvore gigante, cujos imensos ramos se estendem desde a primeira era do mundo, até o último de seus dias, abrigando todos os homens sob sua sombra benfazeja, oferecendo para todos, o fruto da vida e da imortalidade.
Que o sinal da cruz já era conhecido dos Judeus, vários fatos emprestados da santa Escritura vão nos mostrar claramente: “Jacó, diz Tertuliano (52), abençoa os filhos de José: a mão esquerda colocada sobre a cabeça daquele que estava à direita, e a direita sobre a cabeça daquele que estava à esquerda. Nessa posição, elas formavam a cruz e anunciavam as bênçãos cujo Crucificado deveria ser a fonte (53) ”. “Porque Moisés, diz ainda o ilustre doutor, no momento em que Josué vai combater Amalech faz o que ele jamais havia feito, orando com as mãos estendidas? Em uma circunstância tão decisiva, não deveria para dar maior eficácia à sua oração, dobrar os joelhos e bater no peito prostrado no pó? Nada disso. Porque? Por que o combate do Senhor que se entrega contra Amalech prefigurava as batalhas do Verbo encarnado contra Satanás, e o símbolo da cruz pelo qual Ele devia trazer a vitória.
O sangue do Cordeiro pascal tingindo em forma de cruz as portas dos Hebreus, seus membros dispostos em cruz diante os convidados da Páscoa. A serpente que foi erguida em forma de cruz no deserto aos olhos dos Israelitas como uma garantia de salvação.
Nos sacrifícios, o sacerdote judeu oferecia a vítima sob os auspícios da cruz. Primeiro ele elevava a hóstia e a carregava do oriente para o ocidente. Era, ainda, pelo sinal da cruz que o povo recebia as bênçãos sacerdotais após os sacrifícios.
Dos filhos de Judá, o conhecimento do sinal redentor era passado para outros povos. Os pagãos, testemunha Apulée (54), adoravam suas divindades colocando transversalmente o polegar direito sob o índex que eles carregavam na boca. Em Roma havia uma deusa encarregada de interceder sem cessar pela República. Ela era representada com os braços estendidos em cruz, e em suas costas havia um altar onde queimava incenso, símbolo da oração (55).
Os egípcios fizeram desse sinal o símbolo da vida. As mais recentes descobertas da ciência nos mostram a cruz entre as mãos das divindades que eles observavam como benfeitoras e propícias ao homem. Em Atenas, como em Roma, quando um juiz declarava a inocência de um acusado, ele o marcava com esse sinal de vida(56). A história da China mostra que um de seus imperadores, para honrar o Altíssimo, uniu dois pedaços de madeira, um reto, e outro em transversal (57).
O simples bom senso admitirá que um uso assim tão universalmente difundido, não deve sua origem ao acaso. “Tocamos aqui, diz Monsenhor Gaume (58), em um interessante trabalho sobre essa matéria; em um dos mais profundos mistérios da ordem moral. Para que Deus ouça o homem, é preciso que o homem seja agradável a Deus. Somente seu Filho é agradável, e aqueles que lhe assemelham. Ora, o Filho de Deus, este único mediador entre Deus e os homens, é um sinal vivo da cruz, símbolo da cruz desde a origem do mundo. É o grande Crucificado, e esse grande Crucificado é o novo Adão, é o modelo do gênero humano. Para ser agradável a Deus é preciso, então, que o homem se pareça com seu divino modelo, e seja um crucificado, um sinal da cruz vivo. Tal é, como o do próprio Verbo, seu destino sobre a terra... Daí a existência e a prática, sob uma forma ou outra, do sinal da cruz entre todos os povos, desde a origem dos séculos até nossos dias (59)”.
FORMA E PALAVRAS DO SINAL DA CRUZ – O sinal da cruz, garantia de esperança para as gerações além do Calvário, se tornou para os filhos da nova Lei uma nova lembrança. Com os grandes mistérios da fé, ele lhes recorda os principais deveres que lhe impõe o título de cristão. É como um vaso de ouro repleto de lembranças divinas. Dele parte sobre nossa alma um licor suave e vivificante que a perfuma e a fortifica. Se o fazem mal, é porque não o compreendem, e por isso, algumas linhas resumirão seus principais ensinamentos.
Primeiro, seu nome e sua forma o dizem suficientemente: o sinal da cruz recorda o mistério da Redenção. Os Apóstolos traçavam sobre eles esse sinal sagrado, e quem não imaginaria que seus olhos, a cada vez, se molhavam de lágrimas? Ele era para seus corações uma lembrança de sua covarde apostasia no momento da crucificação, e de amor infinito do Salvador, que logo que eles o abandonaram como um desconhecido, derramou por eles até a última gota de seu sangue. Como nossos sentimentos estão longe de serem semelhantes aos dos apóstolos!
E, além do mais, o sinal da cruz não nos diz que estávamos condenados ao inferno, que Deus sabia de nossa ingratidão, e que Deus, apesar disso, morreu por todos nós? Quando um homem se dedica por qualquer um de nós, nosso coração conversa eternamente essa memória. E quanto a um Deus que se empurra devotamento até a morte por nós? Porque é um Deus, nós não pensaríamos Nele? Esquecê-lo seria, talvez, desculpável se nada recordasse essa benção, mas, a cada momento, o sinal colocado sobre nossos olhos recorda esse devotamento de uma infinita caridade. Notemos bem, seus mínimos detalhes são indicados. Não colocamos a mão na fronte para recordar o chefe augusto, Jesus Cristo coroado de espinhos? Não colocamos a mão no peito como lembrança de seu lado transpassado pela lança? Não colocamos a mão do lado esquerdo, depois do lado direito, para não esquecer o ombro machucado pela cruz e as mãos rasgadas pelos cravos?
Pela morte de Jesus Cristo, de pecadores nos tornamos justos, da esquerda, lugar dos reprovados, passamos à direita, lugar dos eleitos. O mistério de nossa justificação é representado quando colocamos a mão do lado esquerdo ao lado direito (60) .
O sinal da cruz também lembra ao cristão os dois outros mistérios da fé, a Santíssima Trindade e a Encarnação.
Pronunciando o nome do Pai, se coloca a mão na fronte: a fronte, sede da inteligência, princípio e fonte da vida, que simboliza Deus, o Pai, princípio eterno de toda vida divina e humana, o qual, pela via da inteligência, engendra o Verbo divino.
O Verbo de Deus se fez carne, desceu e se aniquilou. Ele desceu do céu, no seio de Maria, do seio de Maria, na humilhação do presépio; das humilhações do presépio, no trabalho da oficina; do trabalho da oficina, nas ignomínias da paixão; das ignomínias da paixão, no silêncio da tumba; do silêncio da tumba, na solidão do tabernáculo. Ele desceu para reparar o ultraje feito a seu Pai pela revolta do primeiro homem que quis se levantar até o trono de Deus. É a injuria que lhe faz nosso tolo orgulho, que deseja sempre subir, e por isso, a mão que desce da fronte ao peito, enquanto a boca pronuncia o nome do Filho, ilustra essa profunda frustração.
O Espírito Santo procede do Pai e do Filho. Ele é o vínculo e a caridade dessas duas Pessoas divinas. Ele é o espírito de força que o cristão recebe no dia em que ele se torna soldado do exército de Cristo. Esses diversos atributos são indicados pela linha transversal que formamos entre a fronte e o peito, tocando os ombros, sede da força, e passando pelo coração, trono do amor (61).
Além desses mistérios que o sinal da cruz nos rende em ensinamentos sublimes, e em uma linguagem acessível a todos, há ainda outros. Estamos aqui na terra condenados ao sofrimento, como filhos de uma mãe culpável, e como discípulos de um Deus crucificado: “Nos tornamos, diz o Rei-Profeta, como ovelhas destinadas ao sacrifício (62) ”. A cruz que formamos sobre nós é o signo de nossa imolação. Reconhecemos, então, a grande e universal lei do sacrifício promulgada por Jesus Cristo: “Aquele que quer vir depois de mim, deve carregar sua cruz todos os dias (63)”. Fazer o sinal da cruz é, então, professar que se é discípulo de Jesus, e de Jesus crucificado. Mas fazer esse sinal sagrado sobre um corpo entregue a todas as moléstias do sensualismo, sobre uma fronte que se dobra sob o pensamento de vingança, orgulho, impureza, e nos lábios sujos pela maledicência e obscenidade, sobre um coração repleto de afeições criminais, não é mais do que uma mentira, é um sacrilégio. Professamos que a faca da imolação foi colocada sobre nosso corpo pela castidade; sobre nossos pensamentos, pela fé; sobre nossas palavras, pela reserva; sobre nosso coração pela caridade.
As palavras do sinal da cruz fornecem, por sua vez, um santo alimento à piedade cristã. Os benefícios, do qual fomos preenchidos pela Santíssima Trindade, poderiam não nos ser apresentados quando pronunciamos os nomes das três pessoas divinas? O Pai nos deu a vida por seu poder; o Filho nos resgatou por sua sabedoria; o Espírito Santo nos santifica por seu amor. Para tais benefícios não teríamos um pensamento de gratidão?
O homem é fraco, e sem Deus, ele não pode nada. E as palavras do sinal da cruz redizem com eloqüência este ensinamento a todo o momento ao nosso orgulho!
No início de nossas principais ações repetimos: Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Isso quer dizer que eu rezo, eu trabalho, ajo em nome do Pai, ou seja, em seu poder que fortifica minha fraqueza; no nome do Filho, ou seja, em sua sabedoria que ilumina minha ignorância; em nome do Espírito Santo, ou seja, em seu amor que reanima minha languidez.
EFICÁCIA DO SINAL DA CRUZ – “O sinal da cruz, diz Sto. Agostinho, é para nós um penhor de triunfo, ele reduz à impotência todas as armadilhas do inferno. O que Nosso Senhor fazia sobre a terra por sua presença corporal, Ele opera pela invocação confiante de seu nome (64) ”.
Sto. Éfrem o chama de escudo e arsenal dos cristãos contra os assaltos do inimigo (65) . E S. Cirilo: “Façamos ardentemente o sinal da cruz, pois até os demônios fogem dele, eles recordam-se do Crucificado, fogem, se escondem e nos deixam (66)”.
De onde vem que o sinal da cruz é como uma virtude? Sto. Inácio, mártir, nos responde: “Ele é como um troféu que o cristão carrega sobre a fronte, troféu que lembra ao demônio sua derrota vergonhosa no Calvário, e é por isso, que à sua vista, ele treme e foge”.
Todos os Padres são unânimes em ensinar que o sinal da cruz é uma arma poderoso nas mãos do cristão contra o inferno, e a eloqüente autoridade desses fatos está ai para apoiar seus testemunhos.
Esses fatos abundam na vida dos santos, citaremos apenas um exemplo. O grande fundador da vida monástica no oriente, Sto. Antônio, foi exposto pelo demônio em lutas que somente uma leitura faria desvanecer a mais orgulhosa coragem. Ocorre que ele saia delas sempre vitorioso. “De qual arma o senhor se serve, lhe perguntam um dia, para resistir ao inimigo da salvação? – O sinal da cruz, respondia ele, e uma fé viva em Jesus Cristo são armas invencíveis para os servos de Deus, e um muro de bronze contra todas os esforços do inferno. Sente-vos um mau pensamento nascer em vosso coração, faça tão logo o sinal da cruz e esteja certo que ele desaparecerá”.
Se para inúmeros, a derrota segue facilmente ao primeiro ataque, é por causa de sua relutância em usar de um meio infalível, proclamado pela voz dos santos Padres?
Armemo-nos do sinal da cruz antes de nossas refeições, contra o demônio da sensualidade; antes de nosso trabalho, contra o demônio da preguiça; antes de nossa oração, contra o demônio da tibieza; antes de dormir, contra o espírito de trevas; nos sofrimentos, contra o demônio do desânimo. Que ele seja sempre nossa arma, e bem mais do que a Constantino, a vitória nos está assegurada. “In hoc signo vinces”.
O sinal da cruz não é somente uma arma, ele é, sobretudo, uma excelente oração. Quando nos marcamos do signo redentor, Deus não nos vê mais como pecadores, mas como irmãos de Jesus Cristo. Não são mais nossos crimes que cobrem seu olhar, mas as chagas de seu Filho na cruz. Ele esquece nossas iniqüidades para considerar somente os méritos da paixão de Jesus Cristo.
A cruz, então, ora por nós, e sua oração é escutada. É o que dizem os teólogos ao afirmarem que o sinal da cruz “é uma oração curta, mas muito eficaz”, que dirigimos a Deus pelos méritos da paixão de Jesus Cristo.
Tracemos sobre nós o sinal da cruz toda vez que formos pedir alguma graça, nos revestindo de um tipo de passaporte sangrento do Justo por excelência, a fim de sermos agradáveis para seu Pai. São os passaportes de Esaú, o irmão mais velho do qual se cobre Jacó: “Esse é som da voz de Jacó, pôde dizer o Senhor, a voz do pecador, mas são os perfumes das roupas de Esaú. Vejo apenas a cruz, vejo somente o sangue, somente as chagas de meu Filho bem amado”. Aquele que se ajoelha no santo tribunal faz o sinal da cruz. Curta, mas sublime oração! Eloqüente grito! Senhor sou digno do castigo, mas lembre-se do Calvário!
Sublime oração antes de receber a Eucaristia. Ali, diante de nós, o Deus do Céu, que em instantes nosso coração possuirá. A alma mais pura, neste momento solene, é tomada de um piedoso temor, pois, para o Santo dos santos, é preciso um trono de santidade. O sinal da cruz tranqüiliza-a, atira sobre ela as bênçãos que nos mereceu a morte do Senhor.
Oração eficaz nos perigos, como no caso de dois homens que viajavam de Genova à Lausane. Um era católico, o outro protestante. Durante o caminho uma violenta tempestade surge sobre suas cabeças. Fiel às recomendações de uma piedosa mãe, o católico faz o sinal da cruz para pedir que o Senhor o proteja, enquanto que o protestante o cobre dos escárnios mais sacrílegos. De repente, uma luz brilha, e um relâmpago abate-se sobre o ímpio, que morre, enquanto que seu companheiro fica isento de todo mal.
Por ser, tanto uma arma quanto uma oração, é que a Igreja não faz nada sem recorrer ao sinal da cruz. Ela o emprega em todas suas bênçãos, em todas suas cerimônias. O padre no altar o faz sobre ele, sobre a matéria do Sacrifício, sobre os fiéis. Os fiéis, por sua vez, o traçam sobre eles mesmos. Desse uso tão freqüente podemos reconhecer a intenção da Igreja de mostrar aos cristãos que toda graça nasce do Calvário
II. INCENSAÇÃO
Um dia Nosso Senhor se queixou a Simão, o fariseu, de que ele não tinha derramado perfumes sobre seus pés e sua cabeça, uma honra reservada, segundo os costumes do oriente, às pessoas de qualidade. A Igreja ouviu essa crítica do divino Mestre, e por isso mesmo, espalhou nuvens de incenso em torno Dele.
O amor, sem dúvida, inspirou esta piedosa cerimônia, mas devemos ver nela algo mais. Ela é, sobretudo, um ato de fé, onde a Igreja saúda Jesus Cristo como o Deus imortal dos séculos. Entre os presentes dados pelos magos não temos o incenso que proclamava a divindade do Filho de Belém?
Sim, este Jesus escondido, este Cristo humilde, silencioso, ultrajado na Eucaristia, é este Deus irredutível que nos céus faz clarear visivelmente sua glória, que em uma palavra ordena o universo. Este Deus que os anjos e os santos adoram nos transportes de uma emoção indescritível. Eis o que a Igreja quer dizer cada vez que ela balança o turíbulo diante o Deus da Eucaristia.
Não é somente Nosso Senhor que a Igreja incensa. Ela rende esta homenagem ao altar, ao Evangelho, ao padre e aos fiéis.
Isso não seria tratado como idolatria, se é verdade, como o atesta a pratica religiosa de todos os povos, de que o incenso só deve ser queimado diante o Senhor?
Quebremos a casca e provaremos tudo o que há de instrutivo e piedoso nesta cerimônia. Incensa-se o altar porque ele figura Jesus Cristo, e se o incensa por inteiro porque toda a pessoa de Jesus Cristo é adorável; Se incensa o Evangelho que encerra sua palavra, e sua palavra merece tanta honra quanto seu próprio corpo; Se incensa o padre, chamado a ser, por seu poder e santidade, outro Cristo; Se incensa os fiéis, pois, pelo batismo e pela santa Eucaristia, eles foram incorporados à Jesus Cristo.
Nesta incensação se renovam, freqüentemente, diante de nós, grandes lições. Lição de respeito pelo altar, figura de Jesus Cristo, do qual fazemos um glorioso dever de embelezá-lo por nossa generosidade. Lição de respeito pelo Evangelho, palavra de Cristo, que não nos deixa cair na dúvida e na culpa por causa de seus divinos ensinamentos. Lição de respeito pelo padre, outro Cristo, do qual devemos cercar de veneração e amor. Lição de respeito por nós mesmos, templos de Jesus Cristo, no qual qualquer mácula grave se torna uma profanação e um sacrilégio.
Já tivemos a ocasião de dizer que para se ter o verdadeiro sentido de todas as coisas no culto, é necessário descobrir Jesus Cristo escondido sob os véus do simbolismo. Ora, falando do turíbulo, os Padres nos ensinam que ele representa a humanidade de Jesus Cristo dilacerada pelas chagas do Pretório e do Calvário. O fogo ilustra sua divindade, e o vapor do perfume sua oração. O padre, elevando o turíbulo para o céu, oferece, assim, para Deus, os méritos das orações de Nosso Senhor. E quando o incenso se elevar em ligeira coluna, sigamos este vapor odorífico, pois ele é para nós o penhor da esperança e da salvação.
A salvação, porque ela vem para terra, se não por causa de uma seca devorante, marcada pela esterilidade? No final do horizonte, em um sulco solitário, uma leve nuvem de luz aparece subindo rumo ao céu, ali, sob a ação do poder Deus, ela se expande, se condensa e se dissolve em chuva fecunda.
O mundo está marcado pela desolação. Um vento quente, o vento do sensualismo secou os corações. Grande é o mal, maior ainda deve ser nossa confiança. Do tabernáculo se eleva a oração de Jesus Cristo como essa nuvem de incenso do qual temos a imagem. Ela sobe até o coração de Deus, e nesse coração, pelo efeito de uma infinita misericórdia, ela se transforma em chuva de graças e de bênçãos que vêm dar a vida às almas feridas pela dúvida e o sensualismo.
O incenso é também o símbolo da oração cristã, segundo esta palavra do profeta Davi: “Faça que minha oração se eleve até vós, ó meu Deus, como o incenso queimado em vosso santuário”. Que nossa oração tenha por lar um coração repleto do fogo divino, da caridade. Que ela suba como uma coluna de fumaça, sem que a sopre as distrações culpáveis, e que as preocupações mundanas não venham turvá-la. Ela se elevará, então, até Deus, e sua misericórdia descerá sobre nós.
S. Cirilo atribui ao incenso outro significado, que lhe dão, com efeito, em diversas cerimônias nos quais ele é empregado. O incenso que perfuma foi tomado, naturalmente, pelo símbolo da boa reputação, da vida que edifica por suas obras (67) .
As diversas cerimônias nas quais se faz a incensação mostram ao leitor a aplicação desses princípios gerais, várias vezes, durante a obra, iremos retornar a eles.
(52) N.d.T.: Quintus Septimius Florens Tertullianus – Tertuliano (160 – 220). Apologista e polemista católico. Foi o primeiro autor cristão a produzir uma obra em latim. Suas principais obras são: Aos pagãos, Apologeticum, De baptismo, A fuga da perseguição, O véu das virgens e Aos mártires
(53) De Baptismo
(54) N.d.t. : Apuleius – Apulée (123/125-170). Filosofo do Norte da África.
(55) Gretzen., De Cruce – Forcellini. Art. Pietas
(56) Cornel à Lapid. In: Ez 9, 4
(57) P. Prémare, c. IX.
(58) N.d.t.: Jean-Joseph Gaume (1802-1879). Escritor, apologista de grande ciência e de grande zelo, com obras inumeráveis, como Catéchisme de persévérance, La Révolution, Le signe de la Croix au XIXe siècle, Les disciples de Notre Seigneur, e Les trois Romes. É tido pela crítica como digno de figurar entre os doutores da Igreja.
(59) Do sinal da cruz no século XIX, carta X
(60) In: III, De Sacro alt. myst.
(61) In: III, Eod. Loc. – Ollier, Traité des Cérémonies de la grand-messe de paroisse – Curé d’Ars, ses Catéch.
(62) Sl 43, 22
(63) Lc 9, 23
(64) Serm. XIX, de Sanctis
(65) Serm. de Cruce
(66)Catec. XIII
(67) De Ador., I. XII
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