(título desconhecido)


Venha a nós o vosso reino!


Por Sem. Pedro Ravazzano (Arquidiocese Militar do Brasil)


Como bem disse Otto Maria Carpeaux “das universidades depende a vida espiritual das nações”. Infelizmente vivemos uma grave crise da Academia, crise esta que vai muito além de conteúdos normativos. A união do pensamento iluminista com a idéia do progresso material positivista transformou as Universidades numa fábrica do pensamento técnico, “útil”. Assim, dentro do espaço acadêmico onde outrora havia uma densa reflexão e a produção de uma cultura espiritual, resta apenas certo ranço utilitarista e desprovido de qualquer convicção profunda.



As Universidades têm uma função basilar na construção e constituição das nações. No ambiente acadêmico as gerações atuais alcançam a maturidade necessária para refletir acerca da realidade e pensar nas veredas que guiarão os seus filhos e netos. Contudo, a partir do alvorecer iluminista, com a estruturação do repúdio formal a qualquer pensamento tradicional – tradição aqui entendida num contexto muito particular -, a Universidade perdera o sentido histórico mais profundo, isto é, a responsável por perpetuar aos novos o mundo interior legado pelos seus antigos.




O filósofo Alasdair MacIntyre afirmou a necessidade de recuperar “uma concepção de pesquisa racional incorporada numa tradição; uma concepção de acordo com a qual os próprios padrões da justificação racional avultem e façam parte de uma história na qual eles sejam exigidos pelo modo como transcendem as limitações e fornecem soluções para as insuficiências de seus predecessores, dentro da história dessa mesma tradição.” Entretanto, os ouvidos modernos tremem quando ouvem falar de tradição. A pedagogia humanística entra, então, em decadência quando morre no homem a sua união espiritual com o passado, com a herança recebida de seus pais. O homem sem espírito, sem o nous metafísico, limita a sua própria capacidade racional. Assim, na mentalidade materialista e utilitarista engendrada desde o iluminismo, resta apenas o espaço para a produção de um saber meramente técnico, sem qualquer pretensão que não seja a melhoria imediata e sensível da sociedade. Vivemos, desse modo, a ditadura do progresso onde, logicamente, o passado é necessariamente visto como o reduto da obscuridade e atraso.




Se a Universidade não deve ser compreendida como nostalgia, não tem muito menos como finalidade a educação para um conteúdo útil e profissional. Na sua constituição mesma está como destino último o cultivo do intelecto. O “hábito filosófico da mente”, como colocara John Henry Newman, era fruto justamente do refinamento e enriquecimento das capacidades intelectuais. Assim, a ansiada busca da verdade, sentido da reflexão e da discussão, encontra-se integrada ao amplo conhecimento cultural transmitido e recebido por meio da tradição, da família e da religião.




No prefácio do seu livro “The Idea of a University”, o Cardeal Newman, definindo a noção de Universidade, diz; “That it is a place of teaching universal knowledge. This implies that its object is, on the one hand, intellectual, not moral; and, on the other, that it is the diffusion and extension of knowledge rather than the advancement. If its object were scientific and philosophical discovery, I do not see why a University should have students; if religious training, I do not see how it can be the seat of literature and science.” Ora, se o iluminismo tirou da racionalidade o seu natural espaço tradicional, o positivismo a trancafiou dentro da mentalidade material e técnica, subtraindo da razão a sua capacidade de, através de um olhar atento, contemplar a realidade de modo universal.





A gênese moderna da Academia tende a reduzi-la a uma instituição profissional e, na esteira de tal transformação, num centro altamente politizado onde o conhecimento encontra-se assimilado aos ditames ideológicos. Não obstante, a Universidade tem como função a preservação e ampliação do conhecimento, a constituição de um centro de saber e reflexão. Isso precisa ser redescoberto para que o homem possa, no futuro, reconhecer-se como tal e integrado numa cultura espiritual que o torna apto a compreender a sua existência de forma ampla, além dos limites estipulados pelo momento presente.




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