Eles dizem e não fazem (Mt 23,3)


Jesus encontra-se em Jerusalém depois da sua entrada aclamada pelo povo e aproximam-se os dias da sua paixão e morte. No ar paira já esse rumor de um projecto de condenação por parte das classes dirigentes e Jesus está como que alheado de tudo isso, preocupado apenas com a verdade da sua missão, com a verdade que é necessário revelar aos homens, mesmo àqueles que o conduzirão até ao patíbulo da morte.
É nesta luta pela verdade, nesta tentativa de libertar os homens seus irmãos, que Jesus coloca o dedo sobre a ferida da hipocrisia, que nos alerta para a máscara da observância do preceituado apenas por causa da imagem e da opinião dos outros.
E se Jesus ao dirigir-se à assembleia que o escuta se refere aos doutores da lei e fariseus, que dizem e não fazem, hoje estas palavras dirigem-se a cada um de nós e colocam-nos num processo de aferição da verdade da nossa vida.
Neste processo, no qual tantas vezes nos descobrimos falsamente colocados, vivendo em algumas situações um tanto ou quanto hipocritamente, temos que assumir que a proposta de Jesus, a sua busca da verdade, assenta no reconhecimento e na aceitação da nossa fragilidade, da nossa pequenez, da nossa condição pecadora.
Como nos diz Jesus, “quem se humilha será exaltado”, ou como diz São Paulo, “é quando sou fraco que então sou forte”, ou seja, é quando parto da minha própria condição de fragilidade, da minha circunstância periclitante de busca de fidelidade, que posso de facto fazer alguma coisa, encontrar-me na verdade, uma vez que parto da minha própria situação e não de uma outra qualquer que não é minha, de uma falsidade.
Podemos servir-nos, para iluminar este processo, da metáfora que Jesus usou quando se referiu à construção da casa sobre a rocha ou sobre a areia, e ainda que ali se referisse a ele mesmo como a rocha sobre a qual se deve construir a casa da nossa vida, podemos também assumir esta rocha como a verdade da nossa situação, da nossa condição humana, sobre a qual temos que construir para que o projecto se não desmorone sob as tempestades.
Neste sentido, o convite que Jesus nos deixa é de não vivermos em função de imagens, de pretensos louvores ou reconhecimentos, quase que até de um pretenso ideal, mas profundamente assentes na verdade de nós mesmos, ainda que tantas vezes essa verdade se nos apresente dispersa e infiel, desorientada e perdida.
Contudo, nessa condição estaremos livres para o acolher, seremos capazes de o reconhecer como o bom pastor que vem ao nosso encontro como da ovelha perdida para a reconduzir aos ombros à casa do Pai, seremos capazes de aceitar que complete em nós o que nos falta fazer.
Disponhamo-nos portanto a fazer o que sabemos e podemos para Deus fazer o que não sabemos nem podemos.


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Eles dizem e não fazem (Mt 23,3)

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