O que a Bíblia fala sobre rezar pelos mortos?

Recebi a seguinte pergunta do confrade Romualdo:



"O que a Bíblia fala sobre rezar pelos mortos?"



Meu caro, a Bíblia ensina que é santo e salutar rezar pelos mortos.


No 2º livro de Macabeus (II Macabeus, 43-45) temos:


"Depois, tendo organizado uma coleta [Judas Macabeu], enviou a Jerusalém cerca de duas mil dracmas de prata, a fim de que se oferecesse um sacrifício pelo pecado: agiu assim absolutamente bem e nobremente, com o pensamento na ressurreição. De fato, se ele não esperasse que os que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerava que uma belíssima recompensa está reservada para os que adormecem na piedade, então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis por que ele mandou oferecer esse sacrifício expeiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos do seu pecado."


São Paulo, na 2º Epístola a Timóteo (II Timóteo, I, 18), assim ora a Deus pelo amigo Onesíforo:


"Que o Senhor lhe conceda achar misericórdia junto ao Senhor naquele Dia."


Comparando os versículos 15 a 18 do capítulo I dessa epístola, com o versículo 19 do capítulo IV da mesma carta, vê-se que Onesíforo já era morto, porque nesses textos o Apóstolo se refere nominalmente a outras pessoas, e quando seria o caso de nomear Onesíforo, seu grande amigo e benfeitor, ele não o faz, mas só se refere "à família" de Onesíforo. Dai se conclui que ele não era mais do número dos vivos. E São Paulo reza por ele, pedindo que o Senhor tenha dele misericórdia.


É bom notar: reza-se pelos mortos porque a Sagrada Escritura e toda a Santa Tradição nos informam da existência do Purgatório. 


Purgatório é o lugar de purificação em que as almas dos justos, que não se santificaram suficientemente neste mundo, hão de completar a sua purificação, "por intervenção do fogo", para serem admitidas no Céu, "onde nada de impuro entrará" (Apocalipse XXI, 27). É, pois, o lugar em que as almas dos que morrem na amizade de Deus (estado de graça), mas com alguma dívida, por culpas leves, ou por culpas graves já perdoadas, mas não suficentemente expiadas, se purificam inteiramente para entrar na visão e posse de Deus. Ali gozarão para sempre da sua perfeita felicidade na glória celeste. Agora, só a alma. E depois da ressurreição da carne, todo seu ser.



Alguém, então, pode questionar: a Bíblia fala desse lugar de purificação?



Sim:



1) Um fogo que salva - na 1º Epístola de São Paulo aos Coríntios (I Coríntios III, 11-15) lemos: "Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso do que foi posto: Jesus Cristo. Se alguém sobre esse fundamento constrói com ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha, a obra de cada um será posta em evidência. O Dia a tornará conhecida, pois ele se manifestará pelo fogo e o fogo provará o que vale a obra de cada um. Se a obra construída sobre o fundamento subsistir, o operário receberá uma recompensa. Aquele, porém, cuja obra for queimada perderá a recompensa. Ele mesmo, entretanto, será salvo, mas como que atavés do fogo."



2) O perdão na outra vida - o próprio Jesus Cristo ensinou, no Evangelho de São Mateus (Mateus XII, 32): "Se alguém disser uma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas se disser contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem nesta era, nem na outra."



O Divino Mestre, portanto, ensina que há algo relacionado ao pecado que será perdoado também na outra era, isto é, após a morte.



3) Uma prisão temporária - Nosso Senhor, segundo São Mateus (Mateus V, 25-26), exorta à reconciliação com os irmãos nesta vida "...para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao guarda e, assim, sejas lançado na prisão. Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo."



É evidente que esta prisão temporária, lugar de perdão na outra vida, através de um fogo que purifica e salva, não pode ser o Céu, "onde nada de impuro entrará" (Apocalipse XXI, 27), nem o Inferno, onde não há redenção e o fogo é eterno (Mateus XXV, 41).



Só resta que esses textos se refiram a um lugar intermediário, transitório e de expiação, que a Igreja, com toda a propriedade, chama de Purgatório, embora essa palavra não esteja na Bíblia. Sua realidade é que está.



Temos de admitir, portanto, com a Sagrada Escritura, a existência desse lugar de purificação que a Sabedoria de Deus, na sua infinita bondade, inventou para conciliar as exigências da sua justiça divina com as da sua misericórdia. Estão, pois, em erro os que só admitem a existência do Céu e do Inferno, e, com isso, não rezam pelos mortos.



Podemos e devemos fazer orações e sacrifícios pelos mortos em geral. Devemos rezar por todas as almas, porque não sabemos com certeza quais estão realmente precisando e em condições de receber os méritos impetrados por nossas ações em favor delas. Estas, sobretudo a Santa Missa que fizermos celebrar, não ficarão sem efeito, pois o Senhor saberá aplicá-las às almas mais necessitadas (além de que, com isso, prestamos a Deus as homenagens que Lhe devemos).




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Rezar pelos mortos é santo e salutar

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