Minha filha, rico tesouro daquilo que é divino.
Sinto necessidade de escrever e não queria dizer nada do que me vai na alma. Faço-o por obediência. Que tristes horas correm para mim, que grande agonia se apoderou da minha alma. Sinto que tantas ruas são banhadas com o meu sangue. Vejo tanta revolta e indignação. Estou tão humilhada! O meu corpo está como uma só chaga. O sangue da cabeça causado pelos espinhos banha-me todo o corpo. Eu de braços abertos entrego-me à cruz, deixo-me crucificar. Estou num brado contínuo:
– Pai, meu Pai, também tu me abandonaste! Sou a tua vítima, dou-me a ti pelas almas. Ó meu Deus, se eu tivesse querer, preferia o inferno a este sofrimento e ao tempo dos meus colóquios conVosco. Sim, meu Jesus, se eu estivesse no inferno, em vez de Vos falar e Vós a mim, não temia enganar-me nem enganar ninguém e não seria tão perseguida do mundo. Perdoai-me, Jesus, o meu desabafo! É o horror que tenho ao engano, à mentira; é o temor que tenho de mim mesma, é o medo das sextas-feiras. Se elas desaparecessem e eu desaparecesse também no Vosso amor infinito! Venha todo o sofrimento, venha a cruz, venha a morte, tudo abraço, sou a Vossa vítima, Jesus.
Destes sofrimentos passei para um inundamento de luz, paz e doçura. Jesus demorou a falar-me, deixou-me por bastante tempo gozar daquilo que era d’Ele. Falou-me depois.
– Minha filha, cheia de graça, pureza e amor. Minha filha, rico tesouro daquilo que é divino. És cheia de graça, pureza e amor, és rica do que é divino, porque guardaste em ti com todo o cuidado, esmero e amor, o que do céu te foi dado. Correspondeste à graça, és cheia de graça. Minha filha, fonte divina, fonte de toda a humanidade. És fonte divina, porque em ti existe tudo o que é divino. És fonte da humanidade, porque a ti vem ela beber e purificar-se; és água pura, és fonte salvação. Minha filha, hino de louvor, de amor e reparação. Se pudesses ver o louvor que recebi, a vassalagem e homenagens angélicas que me foram dadas no céu pela reparação que me deste, pelas almas que salvaste com a dor com que te deixaste imolar! Foi um ano cheio de amor, foi um ano cheio de salvação. Minha filha, flor angélica, mimo da Trindade divina, mimo de Maria, mimo de toda a corte celeste.
(Sentimentos da alma, 5 de Janeiro de 1945)
Nenhum comentário:
Postar um comentário