Desilusão do Liberalismo: Alexandre Herculano

Desilusão do Liberalismo: Alexandre Herculano:

Longe de insuspeições e com erudição clara, a melhor crítica ao liberalismo chega-nos de dentro daqueles que o viveram estusiasticamente, que o apoiaram incondicionalmente e que por fim, incapazes de esconder a sua amargura perante os resultados trágicos daquilo em que um dia tanto acreditaram, o denunciam como uma maldição assassina inimiga de povos e nações. O fragmento seguinte, não deixa dúvidas da decepção que o brilhante escritor sentiu em relação ao liberalismo que disseminava o caos social no Século XIX, o século da expansão do individualismo radical.

“O povo tinha liberdade e quis licença; tinha justiça, e quis iniquidade; o povo perecerá.
Desgraçado daquele, que anda fora dos caminhos do Senhor; correndo despeado por despenhadeiros sentir-se-á por fim o baque do seu corpo, que se esmigalha batendo no fundo de um precipício.
Quando uma Nação quebra todos os laços sociais, dela será todo o dano.
Para as turbas, o cheiro do sangue é um perfume suave; o roubo uma gloriosa conquista. Porque a plebe desenfreada é um fantasma do crime, como o espectro da morte, como o grito do extermínio.
Os tiranos sorriem, e dizem por escárneo aos homens virtuosos: ide, e dai liberdade às turbas; erguei à dignidade de homens livres servos e devassos, e educados no lodo; eles vos pagarão com a única moeda que guardam em seus tesouros.
Povo! Os que hoje saúdas como numes, amanhã tu os farás em pedaços, e lhes arrastarás pelas ruas os cadáveres cobertos de feridas e pisaduras.
Porque, bem que tarde, conhecerás que eles te hão enganado. Prometeram-te abundância, e achar-te-ás faminto; prometeram-te liberdade, e achar-te-ás servo.
A licença mata a liberdade; porque se livremente oprimes, livremente podes ser opresso; se o assassínio é o teu direito, direito será para os outros assassinar-te." (Alexandre Herculano in «A Voz do Propheta», 1ª e 2ª séries, extractos.)

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