Por Hermes C. Fernandes
A revista Época da última semana trouxe uma reportagem sobre a construção de megatemplos no Brasil. Abaixo, reproduzo um trecho da matéria:
Megatemplos são construídos em todo o país e por várias religiões: a Igreja Católica inaugurará em 2012 o Santuário Mãe de Deus, para 100 mil pessoas, em São Paulo. Em Belo Horizonte, Minas Gerais, a Catedral Cristo Rei vai abrigar até 25 mil pessoas quando for consagrada, em três anos. Entre os evangélicos, várias denominações prometem inaugurar suas megaconstruções. Em Guarulhos, na Grande São Paulo, a Igreja Mundial do Reino de Deus planeja construir a Cidade de Deus, para 150 mil pessoas. No Recife, a Assembleia de Deus conclui o projeto de um templo para 30 mil pessoas. Em Belo Horizonte, a Igreja Batista de Lagoinha planeja acolher num mesmo teto 35 mil pessoas. “Os brasileiros têm necessidade de grandes basílicas e catedrais, de lugares grandes para congregar e orar”, diz o padre Marcelo Rossi, criador do Santuário Mãe de Deus (Para ler mais, clique aqui).
O que estaria por trás desta febre que, diga-se de passagem, é um fenômeno global? Por que igrejas investem cada vez mais em megatemplos, às vezes chamados de catedrais? No artigo abaixo, escrito por mim há algum tempo, proponho uma reflexão crítica deste fenômeno.
Pra que servem as catedrais?
Catedral, sonho de consumo de nove em cada dez pastores. Construir uma tornou-se a maior realização de um ministério. Imagine construir várias?
Afinal, pra que servem as catedrais? Deus não habita em templos feitos por mãos humanas. Não importa o quão suntuosos sejam. Ele não se impressiona com luxo, com colunas revestidas de ouro, com cadeiras acolchoadas, com piso acarpetado, ar-condicionado central, etc.
Então, por que as construímos? É na glória de Deus que pensamos? Não! Queremos rivalizar com os Shopping Centers. Deus não pode perder pra Mamon, não é verdade? Sem contar que a concorrência com outras igrejas é muito forte, e não podemos ficar pra trás.
As pessoas não estão em busca da verdade, e sim da conveniência. Elas não buscam relacionamentos, mas conforto. Elas não se interessam em adoração genuína, mas em entretenimento. Elas não querem Deus, mas um gênio da lâmpada que resolva todos os seus problemas. Elas não querem a Videira Verdadeira, mas apenas um deus quebra-galho. Então, vamos dar o que elas procuram! Se pedirem um bezerro de ouro para adorar, vamos atendê-las sem pestanejar. Caso contrário, corremos o risco de perdê-las para outras igrejas (ou seria para outros currais religiosos?)
É a lei da oferta e da procura.
Quanto desperdício de recursos!
Uma coisa que não entendo é que a maioria daqueles que constroem catedrais, acredita e ensina que o Mundo está prestes a acabar. Ora, não haveria aí um incoerência? Se a Vinda de Cristo está às portas, que sentido faria gastar milhões na construção de algo de que "não vai ficar pedra sobre pedra" (conforme a crença deles)? Não seria mais sábio gastar os mesmos recursos para salvar vidas? Que tal investir em missões em vez de em luxo desnecessário?
Não lembro ter ouvido de Jesus nenhuma orientação para que construíssimos catedrais. Será que os evangelistas se esqueceram de anotar o “ide por todo mundo, construindo catedrais”?
Onde era a catedral em que Jesus costumava pregar?
“Olhai os lírios do campo”! Bradava o Mestre, enquanto pregava a céu aberto.
Esta era a Sua Catedral.
Seu púlpito eram os outeiros, e às vezes algum barco emprestado. Seu sistema de som era o vento que amplificava a Sua voz, fazendo-a soar aos ouvidos atentos das multidões. Seu carpete era a relva, onde as pessoas se sentavam para ouvi-Lo. As ruas empoeiradas eram seus corredores. O céu estrelado ou ensolarado era a abóbada de Sua Catedral. Os galhos das árvores eram os camarotes de onde os pássaros e pessoas importantes gostavam de assisti-Lo.
Pra que servem catedrais?
Não me refiro às catedrais medievais, verdadeiros monumentos culturais, repletos de arte sacra, provendo ambientes reverentes propícios à adoração. Refiro-me às catedrais de hoje em dia, construídas em série, cuja finalidade não é outra senão alimentar a nossa vaidade e justificar nossa ganância.
Que tal voltarmos a freqüentar a mesma catedral de onde Jesus proclamava o Evangelho? Que tal nos reunir à beira da praia, e juntos adorarmos a Deus enquanto assistimos ao pôr-do-sol? Que tal voltar a sentir o cheiro da relva molhada, enquanto desfrutamos da comunhão entre irmãos, e ouvimos a doce voz do Mestre sussurrando em nossos ouvidos através do vento?
Imagine se o povo de Deus fosse conhecido como o povo da natureza, como aqueles que enxergam os eternos atributos de Deus nas coisas criadas.
Enquanto nos trancamos nas catedrais, estamos perdendo o espetáculo da vida.
Sonho com o dia em que os cristãos voltarão a se reunir nos parques, a orar nos jardins (como fazia Jesus); participarão da Ceia do Senhor em contato com natureza.
Em vez de ar-condicionado, ar puro. Em vez de refletores, os luminares criados por Deus (sol, lua, estrelas). Nossos cultos teriam a participação especial do coral dos pássaros. Nossos santuários seriam enfeitados por lírios, aqueles cuja glória ofusca a de Salomão.
Desculpem o devaneio... é só um sonho.
P.S.: Originalmente, "catedral" era o lugar da "cátedra" (cadeira) do bispo. Não importava se o lugar era suntuoso ou rústico. Infelizmente, o termo foi corrompido, passando a significar um lugar amplo, que geralmente serve de Sede para uma denominação.
Nota do Sentir: Notem que o Hermes esclareceu que neste artigo está criticando o mau uso da palavra "catedral", roubado da Igreja Católica, para se adequarem aos pútridos "megatemplos".
Nota do Sentir: Notem que o Hermes esclareceu que neste artigo está criticando o mau uso da palavra "catedral", roubado da Igreja Católica, para se adequarem aos pútridos "megatemplos".
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