E vós, por um momento, quisestes! (Jo 5,35)

E vós, por um momento, quisestes! (Jo 5,35):
João Baptista ardia como uma lâmpada e iluminava a noite do deserto. E por momentos todos quiseram alegrar-se com aquela luz que brilhava como prenúncio do dia que nascia.
Quiseram, como se lamenta Jesus, porque quando a luz brilhou com mais intensidade e exigência, a vontade e o querer esmoreceram, deixaram-se vencer pela facilidade e o conformismo, por fidelidade a uma lei que anestesiava.
Jesus fala e lamenta-se daqueles que encontraram João no deserto e chegaram a ir ali para serem baptizados pelo profeta que apelava ao arrependimento e à conversão. Mas depois, quando regressaram do deserto, apenas a constatação de que pouco ou nada tinha mudado. Por um momento apenas se tinha querido.
Esta queixa, este apelo de Jesus, vem ao nosso encontro, vem encontrar-se connosco naquela consciência de que também nós um dia, por momentos quisemos, nos alegrámos e nos entusiasmámos por fazer diferente, por dar um outro rumo à nossa vida, por nos convertermos.
E tal como aqueles homens que tinham ido ver João, também nós muitas vezes soçobrámos e soçobramos à nossa preguiça, ao comodismo, a essa inércia que nos dificulta mudar a vida, converter os nossos corações e os nossos gestos. Quisemos ou queremos, mas depois falta-nos a perseverança, a força para continuar e fortalecer esse desejo inicial de mudança.
Somos fracos, e não podemos negar essa evidência, inconstantes nos nossos desejos, que tão pouco podemos negar, mas acima de tudo somos pobres de amor, desse amor cheio de vaidade por fazermos a obra bem feita, de lutarmos até à última gota de sangue como os heróis, de ser fiéis apesar do desabamento que nos cerca e ameaça.
Face a tudo isto apenas nos resta pedir ao Senhor que não deixe extinguir em nós aquela pequenina chama que ainda permanece, aquela faúlha que na noite nos recorda que há luz, e que espera trémula que nos lancemos nela com todas as nossas escórias para sermos purificados e nos convertermos em espelhos radiantes de luz e beleza.
Vem Senhor atear o fogo do amor que nos converte e nos alicerça na fidelidade ao primeiro desejo de ser mais e melhor.



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