Agonizando e em desespero, Voltaire sentia-se "abandonado por Deus e pelos homens", passou a insultar aos seus próprios amigos iluministas.
Como vimos no artigo anterior, percebendo que a morte se aproximava, Voltaire suplicou para que lhe chamassem o padre da Igreja de São Sulpício. Confessou-se, pediu perdão pelos seus pecados e desculpou-se pelos ataques que fizera à Igreja.
No entanto, ainda no livro do jesuíta Barruel (Mémoires pour servir a l'histoire du jacobinisme, pp. 379-380), d''Alembert e Diderot, à frente de outros vinte 'conjurados', impediram que o padre Gautier fizesse uma nova visita a Voltaire. Os últimos suspiros do filósofo iluminista foram narrados pelo seu médico, M. Tronchin, horrorizado com o funesto espetáculo. Agonizando e em desespero, Voltaire sentia-se "abandonado por Deus e pelos homens", passou a insultar aos seus próprios amigos iluministas, e numa cena miserável, padeceu evocando e blasfemando Jesus Cristo.
Monseigneur de Ségur dizia que quando expostas a fatos que transcendem a razão humana, muitas pessoas acreditam que só nos resta negá-los e tentar fazer com que todos, assim como elas, passem a acreditar que se trata de algo impossível, apenas porque não podem ser esclarecidos pelas nossas redondas cabeças. Arriscam tudo, dizendo-se combater uma crença, sem perceber que também se agarram a uma para sustentar suas negações. É um tipo de jogo onde parece que nada se tem a perder. Mas, assim como Voltaire, quando todas essas pessoas se vêem contra a parede a necessitar de uma resposta e escolher seu destino derradeiro, caem-se as máscaras e já podemos ver bem o que se encontra por debaixo delas.
E assim o padre Auguntin Barruel narra o último sopro de vida de um homem que a viveu tentando enganar-se a si mesmo, ainda antes de tentar enganar aos outros:
"Voltaire havia permitido que sua declaração fosse levada ao abade de São Sulpício e também ao arcebispo de Paris, para saber se ela era suficiente. No momento em que o padre Gaultier trouxe a resposta, foi impedido de se aproximar do moribundo. Os conjurados deístas haviam redobrado os esforços para impedir o chefe de consumar a retratação [à Igreja]; e eles tiveram êxito. Todas as portas se fecharam ao padre que Voltaire mesmo havia mandado chamar. Somente os demônios tiveram acesso livre. E logo começaram as cenas de fúria e de raiva, que se sucederam até os últimos dias. Então, d'Alembert, Diderot e outros vinte conjurados, que sitiavam a antecâmara, dele se aproximavam apenas para testemunhar as suas próprias humilhações (...) sendo repugnados e reprovados pelo chefe: "Apartai-vos de mim, vocês são a causa do estado que me encontro. Retirem-se, eu posso morrer sem vocês; são vocês que não podem morrer sem mim. Qual miserável glória vocês me valeram?"
Essas maldições dirigidas a seus adeptos, seguiram como uma cruel lembrança aos seus conjurados. Então, eles próprios ouviram, em meio às perturbações e temores, Voltare clamando, invocando e blasfemando aquele deus que era objeto de seus complôs e de suas raivas. Mas com acessos prolongados de remorsos, gritava: "Jesus Cristo! Jesus Cristo!" Às vezes se queixava por se ver abandonado; queixava-se de Deus e dos homens. A mão que outrora havia traçado a sentença de um Rei mau, no meio daquela cerimônia, parecia trazer escrito nos olhos agonizados de Voltaire, o antigo lema de suas blasfêmias: "Esmagar o Infame". Ele procurou em vão expulsar essa memória, a tempo de se ver esmagado pela mão do "Infame" que haveria de julgá-lo.Seus médicos, sobretudo Mr. Trochin, chegaram para acalmá-lo. Este acabou por confessar que havia visto a mais terrível imagem de um ímpio agonizando. O orgulho dos conjurados queriam em vão suprimir suas declarações, mas Mr. Tronchin continuou a falar; e disse que "as fúrias de Orestes davam apenas uma ideia das fúrias de Voltaire".
O marechal de Richelieu, outra testemunha desse funesto espetáculo, pô-se a dizer apenas: "é algo tão forte que sequer podemos conceber...
Assim morreu Voltaire, em 30 de maio de 1778, consumido pelo próprio ódio..."
No entanto, ainda no livro do jesuíta Barruel (Mémoires pour servir a l'histoire du jacobinisme, pp. 379-380), d''Alembert e Diderot, à frente de outros vinte 'conjurados', impediram que o padre Gautier fizesse uma nova visita a Voltaire. Os últimos suspiros do filósofo iluminista foram narrados pelo seu médico, M. Tronchin, horrorizado com o funesto espetáculo. Agonizando e em desespero, Voltaire sentia-se "abandonado por Deus e pelos homens", passou a insultar aos seus próprios amigos iluministas, e numa cena miserável, padeceu evocando e blasfemando Jesus Cristo.
Monseigneur de Ségur dizia que quando expostas a fatos que transcendem a razão humana, muitas pessoas acreditam que só nos resta negá-los e tentar fazer com que todos, assim como elas, passem a acreditar que se trata de algo impossível, apenas porque não podem ser esclarecidos pelas nossas redondas cabeças. Arriscam tudo, dizendo-se combater uma crença, sem perceber que também se agarram a uma para sustentar suas negações. É um tipo de jogo onde parece que nada se tem a perder. Mas, assim como Voltaire, quando todas essas pessoas se vêem contra a parede a necessitar de uma resposta e escolher seu destino derradeiro, caem-se as máscaras e já podemos ver bem o que se encontra por debaixo delas.
E assim o padre Auguntin Barruel narra o último sopro de vida de um homem que a viveu tentando enganar-se a si mesmo, ainda antes de tentar enganar aos outros:
"Voltaire havia permitido que sua declaração fosse levada ao abade de São Sulpício e também ao arcebispo de Paris, para saber se ela era suficiente. No momento em que o padre Gaultier trouxe a resposta, foi impedido de se aproximar do moribundo. Os conjurados deístas haviam redobrado os esforços para impedir o chefe de consumar a retratação [à Igreja]; e eles tiveram êxito. Todas as portas se fecharam ao padre que Voltaire mesmo havia mandado chamar. Somente os demônios tiveram acesso livre. E logo começaram as cenas de fúria e de raiva, que se sucederam até os últimos dias. Então, d'Alembert, Diderot e outros vinte conjurados, que sitiavam a antecâmara, dele se aproximavam apenas para testemunhar as suas próprias humilhações (...) sendo repugnados e reprovados pelo chefe: "Apartai-vos de mim, vocês são a causa do estado que me encontro. Retirem-se, eu posso morrer sem vocês; são vocês que não podem morrer sem mim. Qual miserável glória vocês me valeram?"
Essas maldições dirigidas a seus adeptos, seguiram como uma cruel lembrança aos seus conjurados. Então, eles próprios ouviram, em meio às perturbações e temores, Voltare clamando, invocando e blasfemando aquele deus que era objeto de seus complôs e de suas raivas. Mas com acessos prolongados de remorsos, gritava: "Jesus Cristo! Jesus Cristo!" Às vezes se queixava por se ver abandonado; queixava-se de Deus e dos homens. A mão que outrora havia traçado a sentença de um Rei mau, no meio daquela cerimônia, parecia trazer escrito nos olhos agonizados de Voltaire, o antigo lema de suas blasfêmias: "Esmagar o Infame". Ele procurou em vão expulsar essa memória, a tempo de se ver esmagado pela mão do "Infame" que haveria de julgá-lo.Seus médicos, sobretudo Mr. Trochin, chegaram para acalmá-lo. Este acabou por confessar que havia visto a mais terrível imagem de um ímpio agonizando. O orgulho dos conjurados queriam em vão suprimir suas declarações, mas Mr. Tronchin continuou a falar; e disse que "as fúrias de Orestes davam apenas uma ideia das fúrias de Voltaire".
O marechal de Richelieu, outra testemunha desse funesto espetáculo, pô-se a dizer apenas: "é algo tão forte que sequer podemos conceber...
Assim morreu Voltaire, em 30 de maio de 1778, consumido pelo próprio ódio..."
__________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário