Vou começar meu terceiro texto para o blog contando duas experiências interessantes com meu filho. Quando ele estava com três anos, costumávamos brincar no carro, de quem achava primeiro um fusca na rua. Minha esposa sabia onde ficavam estacionados os fusquinhas no percurso que costumávamos fazer e eu era muito veloz em observar os que vinham em nossa direção. Dessa maneira, a disputa ficava entre nós dois e quando um de nós achava um fusca, meu filho dizia: Que droga!
Esse ano meu filho começou a estudar. Ele está com quatro anos e por duas vezes chegou em casa contando que a professora o colocou para pensar (uma forma mais branda de dizer que ele ficou de castigo). Na segunda vez, chegou indignado dizendo que a professora o tinha colocado pra pensar só porque ele disse "Que droga!". E ele não parou por aí, disse pra mim: mas droga não é palavrão pai!
Eu respondi que realmente não era, pedi pra ele que me explicasse o que tinha acontecido e só depois entendi o verdadeiro motivo da decisão da professora. Ela chamou as crianças pra uma atividade nova e, por não querer largar o que estava fazendo, ele desobedeceu a uma regra importante para a convivência na escola. Por essa atitude foi necessário que parasse um pouco e repensasse seu comportamento.
Analisando o comentário do meu filho, cheguei à conclusão que até uma criança de três anos sabe que droga é sinônimo de uma coisa ruim. Acredito que essa experiência com a palavra droga é bem marcante em todas as fases da nossa vida: um gol perdido, uma martelada no dedo, uma cena esperada que ficará para o próximo capítulo, enfim, são muitas as experiências. E isso se aplica de maneira bem forte às substâncias químicas viciantes a que, de maneira bem coerente, chamamos "drogas".
Sempre que falamos nesse assunto, uma questão que surge é: por que alguém experimenta as drogas sabendo dos seus malefícios?
Muitas pessoas já deram a resposta pra essa pergunta. Com certeza, o leitor já ouviu algum especialista falar sobre drogas e seus efeitos. Meu objetivo no texto não é explicar algo técnico, quero apenas tecer alguns comentários e por fim falar do que acredito ser o ponto chave pra esclarecer o porquê de tantas pessoas entrarem nesse mundo avassalador que tem destruído cada vez mais nossa juventude.
Conheço muitos casos de pessoas que enveredaram no mundo das drogas e nunca conheci uma que disse ter entrado querendo a autodestruição. Até hoje sinto o cheiro horrível do cigarro fumado por um grupinho de amigos meus da escola, quando eu tinha meus 16 anos. Na mesma época lembro-me de alguns amigos que começaram a fumar maconha depois do estouro da banda Planet Hemp. Nos dois casos, lembro claramente do ritual de iniciação por uma necessidade de pertença, alguns jovens por uma certa ausência acabaram se rendendo a certos hábitos ruins apenas pra entrar em uma "tribo".
Acredito que a ausência é o passaporte utilizado por todos nós, seja pra uma vida de realizações ou uma vida de frustrações. Muitos dos que entraram no portal das drogas iniciaram sua trajetória buscando algo que preenchesse algum vazio.
Abro um pequeno parêntese para dizer que é impossível aceitar viver com algo que nos incomoda. É natural querer sair dele. Se eu sinto que falta algo dentro de mim e não me contento, tenho que preencher esse vazio com algo. Essa ausência me deixa triste, angustiado, entediado, depressivo, isso é contrário a minha felicidade e tenho que preencher esse buraco.
Eu mesmo cheguei à imbecilidade de acreditar que o álcool era uma fórmula que despertava o ser desinibido que existia dentro de mim. Assim que completei dezoito anos eu me achava muito tímido, essa ausência de coragem foi supostamente superada no dia em que fiz uma das maiores besteira da minha vida, experimentar pela primeira vez a bebida alcoólica.
Lembro claramente que aquele dia tinha uma festa perto da minha casa e depois de ingerir alguns copos de "cachaça mineira" tive coragem de dançar pela primeira vez, coragem de chamar uma mulher pra dançar. Essa decisão foi o primeiro passo de um caminho que começou com uns quatro copos e foi progredindo. Cada vez eu queria mais. Minha ousadia levou-me a arriscar minha vida e a vida de pessoas inocentes quando eu dirigia alcoolizado por ruas e também por estradas.
Só consegui cair na real no dia que sofri um acidente. Fiz um propósito de parar com aquilo tudo, mas o máximo que eu conseguia manter-me sóbrio era por uma semana. Nessa época percebi que precisava de algo que me levasse pra realização mais plena. Descobri que eu estava num caminho de dependência do álcool e com 21 anos de idade eu não tinha construído nada de bom pra mim. Não tinha um ideal que valesse a pena, não valorizava as coisas importantes como estudo e trabalho. Via meus familiares sofrendo com aquilo tudo, sobretudo minha mãe que passava noites em oração esperando por minha chegada.
A partir da minha experiência e outros a minha volta pude entender que a falta de sentido na vida está relacionado ao grande número de jovens no mundo das drogas, pois antes de se tornarem dependentes de algum tipo de droga eles sentiram-se vazios e acabaram tornando a drogadição o grande significado de suas existências.
Posso, afirmar por experiência própria que esse não é o caminho e que é engatando a marcha ré que se sai de uma rua apertada e sem saída. Vou completar 13 anos de sobriedade, livre das drogas no próximo mês. Lembro-me claramente do dia que descobri o verdadeiro sentido da minha vida que me mostrou um caminho para a plena realização. Querem saber onde mora a felicidade? Vinde ver! Contem comigo!
Vale a pena reconhecer nossas limitações, vale a pena arrepender-se dos estragos que fazemos com aqueles que mais nos amam e traçar um caminho diferente, em busca de uma recuperação pra ter um futuro mais abundante.
A todos, recomendo que procurem grupos que mostrem um sentido da vida, grupos como a Pastoral da Sobriedade. Procurem pessoas que conseguiram fazer uma reviravolta na vida e vejam onde elas encontraram tamanha força. E quando alguém lhe oferecer algo estranho, lembre-se de meu filho e, assim como ele, diga: Que droga!
Julio Tavares
Bancário / Fundador da Oficina de Valores
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