Rex tremendae majestatis
Qui salvandos salvas gratis,
Salva me, fons pietatis!
Ó Rei, de tremenda majestade,
que ao salvar, salva gratuitamente
salva a mim, ó fonte de piedade!
que ao salvar, salva gratuitamente
salva a mim, ó fonte de piedade!
Com essas palavras retiradas do coração da sequencia Dies Irae, iniciamos uma pequena explanação sobre a natureza majestosa de nosso Deus e sua expressão na construção da atmosfera litúrgica. Deus Pai é "criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis", assim é soberano em toda a criação, sendo cabível a Ele todo louvor, honra e glória. O Cristo, como definido pelo concílio de Nicéia é "homoousios to Patri", isto é, consubstancial ao Pai. A consequência direta dessa definição dogmática é que Cristo participa de toda a gloria. Afim de assinalar essa dignidade real de Cristo, o mesmo concílio quis que o credo fosse marcado pela expressão "cujus regni non erit finis - cujo reino não terá fim" ao se referir à gloria do Unigênito.
O reinado de Nosso Senhor sobre todas as criaturas se expressa em suas duas naturezas. Em sua natureza divina, não pode deixar de ser igual ao Pai e ter, com Ele e o Espírito Santo, "a suprema e absoluta soberania e domínio de todas as criaturas". Em sua natureza humana "do Pai recebeu 'poder honra e realeza' (Dan 7,13-14)". Nesse sentido, o título de "Rei" aplicado a Nosso Senhor, tem seu sentido cosmológico de ser, enquanto Verbo Divino, o soberano de todas as coisas criadas, mas possui também uma raiz histórica documentada no antigo testamento, de como o messias receberia de Deus Pai a sua realeza.
Essa dignidade é prefigurada em Adão, a quem foi dado, pelo criador, o direito de reinar pela obra criada. Ao fim dos sete dias, Deus Pai estabelece o primeiro reinado. Adão é soberano de toda a criação, a ele cabe nomear e governar toda a obra divina. No decorrer da história da salvação, tendo Deus se aproximado de seu povo, lhe oferece uma aliança, escolhendo ele próprio seu primaz, o Rei Davi, e lhe jurando não apenas o reinado, mas garantindo-o ainda perpetuamente à sua descendência:
Assim o Rei Davi se torna imagem daquele que já existia antes de todos os séculos "Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro", que já estava destinado a ocupar o primeiro lugar no povo de Israel, não apenas em seu próprio tempo como Davi, mas de todos os tempos:
O papa Pio XI, ao instituir a festa de Cristo Rei nos lembra que Cristo reina na criação pela "eminente e suprema perfeição com que sobrepuja a todas as criaturas". Em relação a essa perfeição elenca três aspectos. O primeiro é o seu reinado nas inteligências humanas, "por causa da penetração do seu espírito e da extensão de sua ciência, mas sobretudo porque é a própria Verdade em pessoa". O segundo é seu reinado sobre as vontades humanas "n'Ele se alia a indefectível santidade do divino querer com a mais reta, a mais submissa das vontades humanas; e também porque suas inspirações entusiasmam nossa vontade livre pelas causas mais nobres." O terceiro é seu reinado nos corações "por causa daquela inefável 'caridade que excede a toda humana compreensão' (Ef 3, 19); e porque sua doçura e sua bondade atraem os corações: pois nunca houve, no gênero humano, e nunca haverá quem tanto amor tenha ateado como Cristo Jesus."
Cristo Rei nas Escrituras
O reinado de Nosso Senhor sobre todas as criaturas se expressa em suas duas naturezas. Em sua natureza divina, não pode deixar de ser igual ao Pai e ter, com Ele e o Espírito Santo, "a suprema e absoluta soberania e domínio de todas as criaturas". Em sua natureza humana "do Pai recebeu 'poder honra e realeza' (Dan 7,13-14)". Nesse sentido, o título de "Rei" aplicado a Nosso Senhor, tem seu sentido cosmológico de ser, enquanto Verbo Divino, o soberano de todas as coisas criadas, mas possui também uma raiz histórica documentada no antigo testamento, de como o messias receberia de Deus Pai a sua realeza.
Essa dignidade é prefigurada em Adão, a quem foi dado, pelo criador, o direito de reinar pela obra criada. Ao fim dos sete dias, Deus Pai estabelece o primeiro reinado. Adão é soberano de toda a criação, a ele cabe nomear e governar toda a obra divina. No decorrer da história da salvação, tendo Deus se aproximado de seu povo, lhe oferece uma aliança, escolhendo ele próprio seu primaz, o Rei Davi, e lhe jurando não apenas o reinado, mas garantindo-o ainda perpetuamente à sua descendência:
"Fui eu mesmo que escolhi este meu Rei, e em Sião, meu monte santo, o consagrei!" Sl 2,6
"O Senhor fez a Davi um juramento, de que não há de se retratar: Colocarei em teu trono um descendente de tua raça." Sl 131,11
O Rei Davi
Assim o Rei Davi se torna imagem daquele que já existia antes de todos os séculos "Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro", que já estava destinado a ocupar o primeiro lugar no povo de Israel, não apenas em seu próprio tempo como Davi, mas de todos os tempos:
"Porque nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado: sobre o seu ombro está o manto real, e ele se chama "Conselheiro Maravilhoso", "Deus Forte", "Pai para sempre", "Príncipe da Paz". Grande será o seu domínio, e a paz não terá fim sobre o trono de Davi e seu reino, firmado e reforçado com o direito e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo de Javé dos exércitos é quem realizará isso." Is 9,5-6
Essa doutrina de Cristo Rei preconizada nesses e em tantos outros textos do antigo testamento confirma de modo admirável no Novo Testamento. São Lucas narra o anúncio do Arcanjo São Gabriel:
São Mateus, descreve a genealogia terrena do Verbo no início do seu evangelho assinala o cumprimento dessa promessa, enumerando todas as gerações entre Adão e Jessé, entre Davi e Jesus:
"Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim." Lc 18,32-33
São Mateus, descreve a genealogia terrena do Verbo no início do seu evangelho assinala o cumprimento dessa promessa, enumerando todas as gerações entre Adão e Jessé, entre Davi e Jesus:
"Genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi. (...) Abraão gerou Isaac. (...) Jessé gerou o rei Davi. (...) Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo." Mt 1,1-6
Tendo nascido, o Cristo Recebe três homenagens dos Reis Magos. O incenso e a mirra se referem às naturezas de Jesus, Deus e homem; o ouro todavia se refere a algo que não é propriamente uma natureza sua, mas uma característica intrínseca à sua natureza divina, a realeza, como posteriormente foi definido pelo Concílio de Nicéia, acrescentando ao credo a perpetuidade de seu reinado.
Durante toda a sua vida, Nosso Senhor "Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens." Fl 2,6-7 De modo a viver uma vida ordinária. Mesmo durante sua vida pública, não revelou sua majestade, se não em momentos pontuais e de grande significado. O primeiro deles, foi seu diálogo com os doutores da lei, onde apresentou a sabedoria de Deus àqueles homens. O Cristo se mostrou rei das inteligências humanas.
Finda sua vida oculta, inicia seu ministério público com o batismo de João no rio Jordão. Naquela ocasião, a glória de Deus Pai se manifesta no Deus Filho pela ação do Espírito Santo. A voz estrondosa que desce das nuvens apresenta o Cristo "por quem todas as coisas foram feitas e que por nós homens desceu dos céus". Nosso Senhor passa então a anunciar o Reino de Deus entre os homens, fazendo com que os pecadores convertessem a sua conduta e se voltassem para Deus, apresentando-se como o Rei das vontades humanas. E reina sobre todas elas, a começar pela sua própria que não queria morrer na cruz na Cidade Santa.
Igualmente sua glória se manifesta no monte Tabor, durante a sua transfiguração. Quando fortalece a fé dos discípulos por tão grande sinal e também dialoga sobre os acontecimentos que decorrerão em Jerusalém com Moisés e Elias.
Tendo encerrado os três anos de sua vida pública, dirige-se para a cidade Santa de Jerusalém, ali é aclamado como Rei. É notável que se tratava de uma aclamação de Rei de Israel apenas e não Rei do Universo. Todavia, em toda a sua mansidão, Jesus não irrompe dizendo que não é rei, ao contrário, se deixa levar para dentro da cidade. Mais adiante, quando preso e posto diante de Pilatos, Ele revela a verdadeira natureza de seu reinado:
"Respondeu Jesus: O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste mundo."Jo 18,36
Por fim, Pilatos ainda instiga uma última confissão de sua declaração e Nosso Senhor diz com toda a clareza para Pilatos, para Israel e para todo o universo:
"Perguntou-lhe então Pilatos: És, portanto, rei? Respondeu Jesus: Sim, eu sou rei." Jo 18,37
Tal declaração conduz à imolação do senhor que "sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz." Fl 2, 8. E assim, por amor o Rei Jesus faz de seu trono a cruz; recebe por coroa, espinhos; uma cana por cetro. Com um manto vermelho zombam de sua dignidade. Do alto de sua dor e humilhação, mostra-se ainda rei do amor por toda a humanidade sem exclusão, perdoando até mesmo os que lhe crucificaram.
"Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Começo e o Fim" Ap 22,13
Cristo Rei na LiturgiaA Igreja desde sua fundação apostólica deu ao mundo real e verdadeiro testemunho de nosso Divino Mestre. Em sua fé prega o Cristo Rei do Universo e em sua liturgia apresenta a seus fiéis a sua majestade. Como diz a tradição eclesiástica "Lex orandi, Lex credendi", isto é, os fiéis reza de acordo com aquilo que creem. Assim, a realeza de Cristo se expressa em muitos elementos litúrgicos.
O primeiro deles é, sem dúvida, a arquitetura da igreja. Que deve apresentar o lugar de Cristo como "ponto monárquico" para onde as atenções naturalmente se dirigem. Esse lugar seja marcado pelo altar e pela cruz que se deve por junto dele. Também o sacrário, se não se encontra em capela própria, deve estar nesse ponto. Olhando a liturgia do ponto de vista de Cristo Rei, não faz sentido a cruz ser posta de lado ou o sacrário ocupar uma posição secundária. Um ocupa o lugar central em seu palácio.
E justamente por ser a habitação real é importante que seja construido com toda a riqueza artística de que se dispõe. Essa beleza não se resume ao seu interior, mas também ao exterior. A igreja deve ser facilmente reconhecida como tal para dar testemunho de Cristo para todos aqueles que a veem. Desse anúncio público não podem faltar os sinos que rompem o silêncio a cada hora lembrando a todos que Nosso Senhor reina também sobre o tempo.
Na sequencia, lembramos a atmosfera sacra e respeitosa que se deve manter no espaço sagrado, mesmo fora da liturgia. Ninguém se aproxima do trono ser ter sido chamado (e nós o somos!), assim nos aproximamos do trono real com todo o respeito e decoro. Os sinais de reverência devem ser aprendidos por todos quanto assistem a celebração e, de forma mais profunda, por aqueles que servem o altar, estes servirão de exemplo para todos os demais.
Os fiéis são imagem de Cristo sacerdote, profeta e rei por conta de seu sacerdote comum e o sacerdote participa dessa mesma vocação tripla em seu sacerdócio ministerial. Ademais, por ser chamado ao sacerdócio, existe no padre o ideal que seu lugar na comunidade é monárquico, o padre é escolhido por Deus para ser posto à frente de sua comunidade, trata-se certamente não de uma autoridade escolhida, mas eleita por Deus. Na celebração o sacerdote ocupa a primazia dentre os fieis, cabe a ele assim guiar o rebanho na direção de Deus.
Mais do que o presbítero, no sacerdócio do Bispo a realeza de Cristo se mostra. O Bispo ocupa a cátedra, é chamado a tomar o primeiro lugar dentro do presbitério de sua catedral, porta ainda os símbolos da autoridade a ele outorgada: as insígnias episcopais. Além de tudo isso, os ofícios litúrgicos todos eles pertencem ao Bispo e são por ele delegados ao clero. O diácono ao ler o evangelho pede a bênção ao Bispo antes de fazê-lo, no rito antigo o subdiácono depois de ler a epístola levava o livro ao Bispo. Na missa celebrada in coram episcopo, o sacerdote reverencia o Bispo antes de se dirigir para o altar, bem como qualquer clérigo antes de fazer a homilia em Missa celebrada pelo Bispo. É também o Bispo que governa a diocese e cada uma das paróquias, e todas as Missas que ali celebra se faz em nome dele. Assim, é necessário que o Bispo se revista de paramentos providos de uma nobre simplicidade e se porte de forma respeitosa, a fim de honrar a autoridade de Cristo Rei que reside nele.
Cabe lembrar que na Encíclica Quas Primas, o Papa Pio XI combateu ferozmente o laicismo. Em termos gerais o laicismo é a ideia de que a sociedade deve ser laica e Cristo não deve ser honrado fora dos espaços sagrados, seu Nome não deve ser dito fora das reuniões religiosas e sua imagem não deve fazer parte do ambiente civil. Nesse sentido este pontífice instituiu com essa carta a festa de Cristo Rei. Tal festa é um meio pelo qual Cristo reina na sociedade. A festa era celebrada no último domingo de Outubro, de modo a preceder a festa de Todos os Santos, em uma especial ligação da gloria de Cristo com a dos Santos. Na forma ordinária, tal festa foi transferida para o fim do ano litúrgico, com a ideia d que sua celebração relembrava o seu poder sobre o tempo "Alfa e Ômega" como diz o livro do Apocalipse.
Além da festa de Cristo Rei, uma outra parte da liturgia que se mostra útil ao anunciar seu reinado social são as procissões. A maior parte da liturgia católica acontece, como seria de se esperar, dentro do lugar sagrado e é vista apenas por aqueles que dedicaram seu tempo a essa celebração. As procissões por outro lado, mostram Cristo como Rei de todos, publicamente. Nesse sentido, vão ao encontro do que diz Pio XI, ou seja, da necessidade de que Cristo reina sobre as sociedades e não apenas sobre os indivíduos.
Entre as diversas procissões, a procissão de Corpus Christi chama a atenção de forma particular por ser aquela que conta com a presença mais perfeita de Jesus: a eucaristia. Nela aparecem muitos elementos do majestade de Nosso Senhor e que são levados para o exterior do templo. O véu umeral, o pálio, os sinos que se levam e também os da Igreja, as tochas, o incenso, o ostensório, a guarda de honra do Santíssimo Sacramento e diversos elementos que a cultura popular acrescenta, tudo isso mostra o império de Cristo sobre o mundo.
Saída da Procissão de Corpus Christi em São João Del-Rei,
enviado pelo leitor Luiz Marcarenhas
Em resumo, como dito por ele mesmo, Nosso Senhor é rei e em sua liturgia deve transparecer sua realeza, a beleza litúrgica deve corresponder à dignidade, embora também à sua humildade de Jesus. Em duas palavras, deve haver na liturgia sempre uma "nobre simplicidade". O oposto disso é o pobrismo que nega qualquer sinal de beleza, suprime as diversas expressões artísticas em busca de um "cristo despojado" que não se suporta chamar de rei, odeia a nobreza dos vasos sagrados para a eucaristia, despreza os crucifixos e as casulas. Esse homem pregado em tantos lugares não é o Messias do Antigo Testamento, o Cristo do Novo Testamento, o Senhor da Igreja Católica, o Rei do Universo!
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