
O pecado grave chama-se mortal, porque priva a alma da graça divina, que é a sua vida, tira-lhe os merecimentos e a capacidade de adquirir outros novos, e torna-a digna de pena ou morte eterna no inferno.
Explicação. – O pecado que se comete com a transgressão grave, advertida e voluntária da lei de Deus denomina-se mortal por várias razões:
1.° Porque priva a alma da graça divina que é a sua vida.

A alma tem duas vidas: a sua vida natural como espírito; e a vida sobrenatural, que lhe é conferida pela graça de Deus. O pecado grave priva-a da graça, mata-lhe a vida sobrenatural. Se a alma se separa do corpo, este morre; se a alma perde a graça de Deus, ela vive ainda como espírito, porém morre para a vida sobrenatural.
Compreenderemos melhor este ponto mediante uma comparação.
Um jardineiro enxerta uma árvore silvestre; daí em diante a árvore vive da vida do enxerto e produz frutos deliciosos. Mas, se se cortar o enxerto, a árvore morrerá para a nova vida que tinha adquirido e fica-lhe apenas o tronco silvestre.
O mesmo se dá com a alma. A graça santificante é como um enxerto que a elevou à vida sobrenatural. Se lhe sobrevém o pecado mortal, ela perde a graça santificante e daí em diante morre para a vida sobrenatural, para a graça, que era o seu ornamento, a sua beleza, a sua verdadeira vida, que lhe dava direito ao paraíso.
O homem, se comete um pecado mortal, perde todos os merecimentos que tinha adquirido para o paraíso. Em estado de pecado mortal, eles não lhe servem já para nada, já não o salvam do inferno.
Sucede-lhe o mesmo que um campo de trigo quando nele se desencadeia uma horrível tempestade; encontra-se privado de tudo, como um rico que de repente se encontra reduzido a mais completa miséria. Diz Deus do justo que se tornou pecador: “De nenhuma das obras de justiça que tiver feito, se fará memória” (Ezequiel, XVIII, 24.1).
3.° Não só tira à alma os merecimentos anteriormente adquiridos, mas também a capacidade de adquirir outros novos.
4.° Finalmente, o pecado grave diz-se mortal porque torna a alma digna de pena ou morte eterna no inferno.
Quem morre em estado de pecado mortal merece o inferno, que tem o nome de morte eterna, porque faltando-lhe todo o bem e não havendo lá senão mal, a vida nele não é uma verdadeira vida, mas uma vida pior do que a morte.
Prática. – Compenetrar-se de que o pecado mortal é o pior mal que pode suceder a uma pessoa: tira à alma a vida sobrenatural, faz-nos merecer o inferno, despoja-nos de todo o bem que tivermos feito. Não o cometamos nunca!
E, se estamos em pecado, não permaneçamos nele, porque, permanecendo nele, não podemos adquirir nenhum merecimento para o Céu e estamos em perigo de cair no inferno, se a morte sobrevém nesse estado.
Exemplos. – Imagens do pecado. – Um homem na flor dos anos que, ferido de morte instantânea, fica de repente frio cadáver; um jovem, formoso como um anjo, que de súbito se torna feio e disforme como um demônio; um príncipe, que, pela sua felonia, cai no desagrado do monarca, é expulso do palácio, encerrado no fundo duma torre e entregue às mãos dos algozes: eis outras tantas imagens, ainda que muito pálidas, do efeito do pecado mortal no católico.
Gravidade do pecado mortal. – O pecado, tal qual é aos olhos de Deus e tal como o veremos na eternidade, é um mal enorme, cuja malícia excede a inteligência humana. Devemos considerá-lo olhando a ofensa a Deus não com os olhos da carne, como muitos a olham neste mundo, mas à luz da fé. A ouvir o mundo, o pecado não passa duma fraqueza perdoável. Um tronco de árvore, balouçando-se na água, parece leve, e basta para o mover a mão duma criança; mas, uma vez na margem, tem um peso que desafia os esforços reunidos de vários homens. É também assim que, nas ondas desta vida tempestuosa, o pecado se afigura uma falta leve; mas, no momento da morte e às portas da eternidade, vê-lo-emos em toda a sua enormidade.
– Tal como o escorpião, que começa por acariciar a presa, para a atrair a si, e depois a punge com o dardo envenenado, assim a culpa apresenta-se ao homem sob formas sedutoras, mas dá-lhe o golpe mortal no próprio ato em que consegue pô-lo sob a sua dependência.
As perdas de Nero no jogo. – Conta-se que Nero, antes de ser imperador, perdeu só numa tarde,

no jogo, quase um milhão de sestércios (moeda romana). Sabendo-o sua mãe, mandou colocar em cima duma mesa uma soma igual; depois chamou o filho e disse-lhe: Vê o que te custou o jogo numa só noite! Diz-se que Nero tomou desde então um grande horror ao jogo. – Oh! se a alma pudesse pôr diante de si tudo quanto ela perde com um só pecado mortal, por certo que nunca mais o cometeria.
Eu sou a videira verdadeira – Pela graça estamos unidos a Jesus. Separados dEle por causa do pecado, somos como as varas separadas da videira; e, por isso, não produzimos já nenhum fruto útil para a vida eterna, como não produz fruto a vara separada da videira.
A espada de Dâmocles – Dâmocles, cortesão de Dionísio, príncipe de Siracusa, não se fartava de exaltar a felicidade do seu senhor. Este propôs-lhe ceder o lugar por um dia. Depois, convidando-o para um suntuoso banquete e fazendo-o vestir e servir principescamente, mandou suspender por cima da sua cabeça uma espada presa a uma crina de cavalo. Dâmocles tinha diante de si esplêndidos manjares; mas a espada ameaçava cair de um momento para outro e pôr termo aos seus dias. – Tal é o estado do pecador; também ele deve tremer no meio dos “manjares” pecaminosos da vida, porque continuamente lhe pende sobre a cabeça a espada da morte, a mão vingadora de Deus, que a cada instante lhe pode dar o golpe fatal e precipitá-lo para sempre no inferno.
Aparências e realidades. – Um dia, uma boa mãe mandou sua filha a procura de cogumelos. Mamãe! exclamou a menina ao regressar a casa, encontrei-os muito bons.

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Por que o pecado grave se chama mortal?
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