Os livros cristãos modernos destinados aos não cristãos

Os livros cristãos modernos destinados aos não cristãos:

Discordo de alguns quês do texto abaixo, mas concordo com a maior parte.

----
"É necessário reproduzir, para auxílio dos desgarrados, o antigo Evangelho. Para que o Cristo viva e esteja sempre presente na vida dos homens, é necessário, de tempos em tempos, ressuscitá-lo; não, certamente, para pintá-lo ao gosto do século, mas para apresentá-lo com palavras nossas e referir aos tempos atuais sua eterna verdade e sua história imutável. O mundo está cheio de ressurreições livrescas, doutas ou literárias. Mas parece ao autor desta que muitas não convêm mais... Para fazer a história das histórias de Cristo, seria necessário um outro volume. Todavia, as mais conhecidas se repartem mais ou menos em duas grandes categorias: histórias escritas por homens de igreja para crentes e histórias escritas por homens de ciência para leigos. Umas e outras não podem contentar a quem procura, em uma vida, a Vida.

As vidas de Jesus destinadas aos devotos exalam todas um não sei quê de rançoso que esmaga, desde as primeiras páginas, o leitor habituado a pratos mais delicados e substanciais. É um cheiro a vela apagada, a incenso resfriado, a mau azeite que corta a respiração. O temerário que delas se aproxima, tendo presentes ao espírito as vidas dos grandes homens contadas com grandeza, possuindo alguma noção de poesia e de arte de escrever, desfalece ao penetrar nesta prosa dessorada e fibrosa, toda remendada, ai!, de lugares-comuns que foram vivos há séculos, hoje vitrificados e embaçados, sem mais alma que gemas debaixo de vitrinas ou vírgulas de um formulário. Pior ainda quando, na página seguinte, estes cavalos aguados ensaiam o trote da eloquência ou o galope do lirismo. Suas graças velhas, seu purismo elegante, seus exemplos de belo estilo próprio para academias provincianas, um falso calor entibiado por uma melíflua dignidade desencoraja os mais arrojados. Quando o autor não mergulha nos mistérios ásperos da escolástica, cai no orvalho oratório da homilia.

Tais livros são escritos, em suma, para aqueles que crêem em Jesus, isto é, para aqueles que em certo sentido poderiam passar sem eles. Neste número há alguns excelentes, mas os leigos, os indiferentes, os profanos, os artistas, os que estão habituados à grandeza dos antigos e à novidade dos modernos não os procuram ou os deixam apenas encontrados.

Ora, estes são justamente os leitores que se deveriam conquistar, porque eles são os desgarrados de Cristo e eles são os que fazem a opinião e têm algum valor no mundo."

Giovanni Papini, História de Cristo

Nenhum comentário:

Arquivo