Os pais apologéticos orientais (gregos) e ocidentais (latinos)

No II e início do III século a Igreja cresceu tanto que chama a atenção
dos pensadores pagãos que começam a atacá-la. Surgem dentro da própria
Igreja elementos treinados em filosofia que conseguem responder a estes
ataques e apresentar uma declaração positiva do que a Igreja é e o que
ensina. Estes autores mostram um conhecimento de cultura e dialética que
faltava aos pais apostólicos. Assim os primeiros apologistas procuravam
defender o direito do cristão existir como cristão. Este intelectuais
procuram defender o cristianismo contra 4 acusações básicas: Ateísmo,
foram acusados de ateísmo por não adorar os deuses pagãos, coisa que os
politeístas não podiam compreender. Paixão lasciva e incestuosa: suas
reuniões nocturnas e secretas foram interpretadas como para dar
oportunidade à carne. Canibalismo: ou malícia ou mal-entendido quanto ao
comer o corpo e beber o sangue do Senhor. Ignorância: os mestres
cristãos eram incultos.
Ao invés de aceitar que o cristianismo seja uma religião nova, os
apologistas baseiam sua antiguidade sobre o próprio AT. O cristianismo é
apresentado como sendo o cumprimento das profecias mosaicas. Como Filo,
eles procuram mostrar que Socrátes e Platão tomaram suas idéias do Deus
de Moisés. Para os apologistas Cristo veio para cumprir as profecias do
AT. Eles põem grande ênfases sobre a profecia como a principal
evidência da verdade do cristianismo. Ao mesmo tempo a pureza da vida e
dos ensinos de Jesus, bem como o poder transformador do cristianismo são
constantemente destacados.


As primeiras Apologias (Apologistas gregos)


Aristides


Eloquente filósofo em Atenas, dirigiu sua apologia ao imperador
Adriano (antes de 138). Faz uma pequena introdução quanto à natureza de
Deus (primeiro motor) e do mundo. Divide a humanidade entre bárbaros,
gregos, judeus e cristãos. Mostra que os primeiros três, partiram da
religião da reta razão. Só os cristãos acharam a verdade. Distinguem-se
como povo que participa da divindade e pelo amor uns pelos outros. O
mundo será julgado por Jesus.


Flávio Justino


Foi o mais importante destes do II século. Filósofo por vocação, foi o
primeiro dos pais que pode ser chamado de “teólogo”. Tentou mostrar que
o cristianismo é a verdadeira filosofia. Foi martirizado em Roma em
166. Seu Diálogo com Trifon discute as relações entre o AT e o NT (em
seus 142 capítulos). É uma vindicaçào do cristianismo a partir de Moisés
e os profetas contra as objeções dos judeus. Nas 2 apologias: a
primeira (com 68 capítulos) argumenta que é razoável abandonar as
tradições que são más e seguir a verdade. Daí passa a fazer uma
exposição da relação dos cristãos ao império e contrastar seus bons
costumes com os maus dos pagãos.. A segunda (com 25 caps.) continua o
argumento, dando atenção especial as relações entre o cristianismo e a
filosofia pagã. Justino forma a transição entre os pais apostólicos e os
patrísticos propriamente dito.


Taciano


Vindo do oriente (talvez da Assíria), converteu-se em Roma sob a
influência de Justino. Posteriormente fundo uma escola herética na
Síria. Escreveu um Discurso aos Gregos e o Diatesseron, este último
sendo uma harmonia dos 4 evangelhos. O Discurso… é uma ataque à
civilização e a religião helênica em que Taciano expõe o cristianismo.


Atenágoras


Contemporâneo de Taciano, deixou 2 escritos: Súplica a Favor dos
Cristãos e Sobre a Ressurreição dos Mortos. A súplica, escrito em 177,
procura rebater as acusações principais ao cristianismo: ateísmo,
incesto e antropofagismo. A Ressurreição… procura mostrar que a
ressurreição é necessária para ter uma ideia adequada de Deus e da
natureza humana.


Teofilo


Bispo de Antioquia. Escreveu Três Livros a Autólico (180) para mostra
a este seu amigo a verdade do cristianismo. O primeiro trata de Deus, o
segundo contrasta os poetas e o AT., e o terceiro mostra a excelência
moral do cristianismo.


Clemente (150-220)


Escreveu o Protreptikos, onde exorta o leitor a abandonar seus
costumes pagãos e tomar o caminho da salvação. Seus 12 capítulos atacam
os erros pagãos sem negar os valores da cultura helenista. O Pedagogo é
uma obra que se propõe guiar o crente na conduta cristã. O Stromateis, é
uma série de apontamentos onde expõe o mais profundo do pensamento de
Clemente. Procura desenvolver a relação entre a filosofia e a teologia. A
filosofia foi dada aos gregos com o mesmo intúito da lei aos judeus:
ser um aio a Cristo.


Orígenes (185-253)


A obra literária foi imensa, embora a grande parte foi perdida. Há
800 títulos conhecidos das suas obras. Contra Celso, é uma obra
apologética, foi escrito para refutar, argumento por argumento, um livro
deste filósofo pagão contra os cristãos. Embora Orígenes cria
firmemente na inspiração da Bíblia sua interpretação foi “espiritual”e
não ao pé-da-letra. Falou que qualquer texto bíblico tem 3 sentidos: um
literal ou corporal, um moral ou psíquico e um intelectual ou
espiritual. Este último pode ser alegórico ou tipológico.


2.Os Apologéticos Latinos


Irineu


Nasceu entre 130-135. Foi discípulo de Policarpo. Foi muito
estudioso. Citou quase todos os clássicos gregos, conhecia bem tanto o
AT, e o NT, citou quase todos os escritores cristãos de que temos
conhecimento e conhecia bem a literatura herética de seu tempo e dos
tempos anteriores. Homem piedoso e zeloso pela fé, foi missionário na
região de Leão. Quando Potino, o pastor da igreja de Leão, foi
martirizado em 177, Ireneu aceitou este posto perigoso. No período de
seu pastorado a perseguição diminuiu sensivelmente. No seu lugar surgiu
uma expansão rápida do gnosticismo e outras heresias. Irineu escreveu
seus cinco livros Contra Heresias (Adv.Haer.) em torno de 185. Nestes 5
livros Adv. Haer. (Contra as Heresias) temos: no primeiro livro dá um
relato histórico das seitas gnósticas e apresenta como contrapeso a
declaração de fé da Igreja Católica, talvez a primeira em forma de
proposições. No segundo livro, é uma ataque filosófico as doutrinas
gnósticas. Rejeita a espiritualização do texto sagrado. O terceiro livro
procurou refutar o gnosticismo apartir das Escrituras. O quarto livro,
apartir das palavras de Cristo; e o quinto, procurou vindicar a doutrina
da ressurreição. No último manteve a vera humanidade e a vera divindade
de Cristo, para depois demonstrar que o corpo é passível de salvação.
Também escreveu : Exposição da pregação Apostólica. Tem caráter
catequético, edificatório e indiretamente polêmico. A primeira parte é
teológica (monarquia, trindade, batismo); a segunda cristológica (Jesus,
o Senhor, o Filho de Davi, o esplendor da cruz, o reino de Deus).
Irineu, concebeu a Igreja como uma unidade orgânica transmitida através
duma sucessão de presbíteros. Deus ênfase à liberdade e autonomia de
cada igreja como princípio básico da constituição eclesiástica.


Hipólito


Escritor grego em Roma em princípios do III século. Possivelmente
discípulo de Ireneu, foi homem ambicioso e rigorista. Escreveu sua
Refutação de Todas as Heresias, em 222. Consiste de 10 livros. A
primeira parte (I-IV) procura mostrar que os hereges haviam tomado sua
doutrina da ciência dos pagãos e não da revelação cristã. A segunda
parte (V-IX) contêm uma exposição de 33 sistemas gnósticos.


Tertuliano


Natural de Cartago, foi educado em direito romano e retórica.
Alcançou iminência antes de se converter. Estudou grego e escreveu umas
obras nesta língua. Foi grandemente influenciado pelo estoicismo
posterior. A influência do direito romano e da filosofia estóica são
claramente visíveis nos seus escritos. Seus escritos latinos são
volumosos e hábeis. Deitaram os alicerces para a teologia latina,
inclusive a toda a terminologia teológica. Os seus livros podem ser
divididos em: Apologéticos: (Contra Naçòes, Apologeticum, Adv. Judaeos);
Dogmáticos e Polêmicos (De Praescriptions Haereticorum, Adv. Marcionem,
De Carnis Ressurretione, De Baptismo, De Anima) e Ascético e Prático
(17 livros)


Cipriano (200-258)


Foi um brilhante professor de retórica antes de sua conversão. Pouco
depois da sua conversão se tornou bispo da igreja de Cartago em 248. Seu
episcopado durou 9 anos. O ataque de Décio em meados do III século foi
dirigido especialmente aos líderes das igrejas. Sendo assim Cipriano
fugiu e se escondeu para não deixar a igreja de Cartago acéfala. Este
ato foi muito criticado e, por uns, foi considerado apostasia. Escreveu
dois livros para tornar conhecida sua posição quanto à eclesiologia e o
tratamento dos “caídos” (lapsi): Dos caídos e o outro Da unidade da
Igreja. Na questão dos lapsi, tomou uma posição medianeira: mais
rigoroso do que Roma, mas não tanto quanto os novacianos. Realizou um
concílio em 255 que tomou uma posição mais rigorosa quanto à validade do
batismo herético. Foi Cipriano que mais fez nesse período para o
desenvolvimento de pontos de vista e princípios hierárquicos. Estabelece
distinção nítida entre bispos e presbíteros, bem como a supremacia da
igreja de Roma como cátedra de Pedro e centro de unidade da Igreja
Universal. Para Cipriano a Igreja é a arca (como a de Noé) da salvação.
Ele cunho a frase: “fora da Igreja não há salvação”. Acrescentou outra:
“quem não tem a Igreja por mãe, não pode ter Deus por Pai”. Para ele a
unidade da igreja está no episcopado sobre o qual ela é constituida.


Recomendamos a leitura: Gonzáles, J. A Era dos Mártires. p.79-132; Cairns Earle; O Cristianismo Através dos Séculos, p.85-98





Gostou? Clique no link abaixo e conheça o blog que publicou essa postagem!

Nenhum comentário:

Arquivo