Governo inglês quer proibir que funcionários usem crucifixos

Nota do blog: não concordamos inteiramente com as opiniões de João Pereira Coutinho (e não vem ao caso expor aqui nossas discordâncias), mas ele traz, no artigo abaixo, boas observações sobre a mais recente novidade anticristã do "Ocidente Rico Descristianizado": impedir que os católicos tragam consigo um crucifixo ao pescoço, sob pena de demissão. 

Será que os cristãos têm direito a usar crucifixos ao pescoço? Depende. Se o símbolo religioso é usado em países como o Sudão ou a Nigéria, eu não aconselho tamanha insensatez: exibições blasfemas desse tipo podem significar uma condenação à morte.

Mas que dizer da decisão do governo inglês que, confrontado com um caso judicial, se prepara para considerar o uso de um crucifixo no trabalho como causa justa para despedimento?

Os pormenores vêm na última edição do "Sunday Telegraph" e reportam-se aos casos de Nadia Eweida, funcionária da British Airways, e Shirley Chaplin, enfermeira. Ambas foram suspensas por se recusarem a remover os crucifixos enquanto trabalhavam. A sra. Chaplin acabou mesmo demitida.

Agora, o governo de David Cameron prepara-se para apoiar a decisão das entidades empregadoras junto do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, votando a favor da proibição do uso de crucifixos. A Igreja Anglicana já protestou: a atitude do governo é um ataque à fé cristã e uma tentativa de remeter a religião para as margens da sociedade contemporânea.

Com a devia vénia aos reverendíssimos prelados, discordo. A decisão não é um ataque à religião. É pior: um ataque à liberdade individual de manifestarmos crenças ou valores em público sem temermos represálias por isso.

Essa, aliás, era a grande superioridade do Ocidente sobre o resto, a começar pelo Islã: se os outros persistem em punir com severidade qualquer desvio à fé oficial, o Ocidente, depois de séculos de conflitos sangrentos, entendeu as vantagens de dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César.

Isso não significa, ao contrário do que pensam os fanáticos do secularismo, que o espaço público deva ser limpo de qualquer exibição de religiosidade. Significa que, precisamente por habitarmos estados seculares, todas as exibições de religiosidade são legítimas.
Se o Ocidente começa a destruir esse património civilizacional em nome de um multiculturalismo analfabeto e demente, desconfio que nem um milagre do Altíssimo nos poderá salvar da intolerância e da decadência. 

Publicado originalmente hoje na Folha de São Paulo.

                                           João Pereira Coutinho, escritor português, é doutor em    Ciência Política. É        colunista do "Correio da Manhã", o maior diário português. Reuniu seus artigos para o Brasil      no livro "Avenida Paulista" (Record). Escreve às terças na "Ilustrada" e a cada duas semanas, às segundas, para a Folha.com. 

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