Palavras do Núncio: o Motu Proprio para redescobrir o sentido da liturgia

Palavras do Núncio: o Motu Proprio para redescobrir o sentido da liturgia: Do Paix Liturgique:





Embaixadores da Santa Sé por todo o globo, ao mesmo tempo que
representantes do Papa junto das igrejas locais, os núncios apostólicos
estão geralmente tão ocupados com as suas obrigações que até nos
esquecemos que eles são também, e antes de mais, pastores. A recente
nomeação de Bento XVI do arcebispo americano Thomas E. Gullickson como
núncio apostólico na Ucrânia — um posto delicado tendo em conta as
relações com o mundo ortodoxo — dá-nos o ensejo para pormos em destaque
um destes homens de igreja que tão frequentemente são para nós uns
desconhecidos.




Núncio apostólico nas Antilhas britânicas
desde 2004 (Bahamas, Jamaica, Trinidad, Tobago, etc.), durante esta sua
estadia nas Caraíbas, Mons. Gullickson manteve um blog muito
interessante, alimentado pelas suas homilias dominicais, as suas
leituras e as suas reflexões espirituais e litúrgicas. Neste seu blog,
intitulado “Island Envoy”, Mons. Gullickson tratou em várias ocasiões do
motu proprio Summorum Pontificum.



No texto que
se segue, publicado no Verão passado, por ocasião do termo dos três
anos de experiência do motu proprio, ele comenta os três objectivos
perseguidos pelo Papa por meio da publicação do Summorum Pontificum.
Estes três objectivos foram assim resumidos pelo canonista alemão Gero
Weishaupt:

a) uma resposta aos sinais dos tempos e um regresso à normalidade;

b) o enriquecimento recíproco dos missais de 1962 e de 1970;

c) a reconciliação no interior da Igreja.





O TEXTO DE MONS.GULLICKSON



Volvidos que são três anos desde a publicação do Summorum Pontificum, será que a situação litúrgica da Igreja está hoje melhor?
Que tipo de exposição à liturgia antiga poderá levar à realização
destes objectivos? Será que os três objectivos descritos por Weishaupt
fazem justiça aos que foram fixados pelo Santo Padre na sua carta aos
bispos de 7 de Julho de 2007? A defesa da verdade e a promoção da
justiça, assim como o respeito pela continuidade que deve existir em
matéria de tradição litúrgica da Igreja, parecem-me dever impor-se como
as prioridades mais evidentes que resultam da leitura da carta do
próprio Santo Padre.

(…) Aquilo que Weishaupt quer dizer com o
seu primeiro objectivo está certamente de acordo com as palavras do
Papa, mas ainda fica aquém da expressão usada pelo Santo Padre: mais do
que falar de “sinais dos tempos”, ele deveria fazer uma referência clara
à correcção dos abusos litúrgicos. Se falarmos de um regresso à
normalidade, parece que estamos a passar ao lado da questão, pois tudo
depende da normalidade que procuramos. Nem é preciso dizer que a
reconciliação (objectivo c) está fundada num respeito mútuo profundo,
mas é algo mais complicado do que isso.

Mais do que a expressão
lacónica “enriquecimento recíproco”, penso que temos de citar por
inteiro as palavras do Santo Padre relativas aos abusos e ao mal-estar
geral que, na celebração “de facto” da forma ordinária ao longo de
quarenta anos, muitas vezes, e vezes de mais, foram entravando a
adoração em espírito e verdade, e que foram fonte de confusão e desânimo
para os católicos. Gostaria de sublinhar em particular a esperança
expressa pelo Papa para a liturgia nova: «A garantia mais segura que há
de o Missal de Paulo VI poder unir as comunidades paroquiais e ser amado
por elas é celebrar com grande reverência em conformidade com as
rubricas; isto torna visível a riqueza espiritual e a profundidade
teológica deste Missal.»

O Summorum Pontificum constitui
seguramente um ponto de referência na luta em prol de uma expressão
litúrgica completa e correcta na Igreja.
Poderíamos descrevê-lo como
um meio de persuasão doce, um elo de contacto, uma introdução. Ele não
pode funcionar como veículo único da reforma, porque a verdade impõe que
se exponha de maneira contínua e constante os abusos litúrgicos que
continuam a emperrar o culto vernacular quanto à sua expressão completa e
adequada. Somente um regresso ao “usus antiquor” como forma ordinária
poderia eliminar os abusos dum só golpe, mas não foi essa a intenção do
Papa. Bento XVI não dispensou os seus irmãos bispos de se mostrarem
vigilantes nos seus esforços de reforma; não dispensou os sacerdotes de
ensinarem aos seus fiéis o modo adequado de celebrar; ele veio exortar
os músicos e os artistas a fazerem esforços conscienciosos a fim de
serem restaurados os laços com a tradição a que nos devemos ater.

O
culto divino é mais do que uma reunião de oração, é muito mais do que
um exercício espiritual. Os parâmetros do culto celeste e a tradição que
nos chega dos apóstolos condicionam o carácter sublime e a gravidade
que são próprios do sacrifício eucarístico e de tudo que dele deriva.
(…)

Ontem, ao meditar sobre os mistérios luminosos do terço,
veio-me à mente o pensamento de que, de certa maneira, estes mistérios
são muito eucarísticos, ou que poderiam ser tratados como tal para fins
de meditação. Foram as Bodas de Canaã, em particular, a falarem-me da
aplicação do Summorum Pontificum e de toda a questão da reforma da
liturgia em língua vernácula: só os criados que tinham trazido a água
sabiam o que se passava, o que não impede que o Evangelho faça da
transformação da água em vinho por Nosso Senhor, a pedido de Sua Santa
Mãe, o Seu primeiro sinal público.


Estou resolvido a
prosseguir o humilde trabalho de enchimento das ânforas, e vou fazê-lo
dando o bom exemplo quando celebro, e, mais particularmente, através da
adoração “ad orientem”. Que o Senhor conceda a todos quantos trabalham
por um culto bem ordenado e piedoso a possibilidade de mudar os corações
e os espíritos. A liturgia tradicional continua a conquistar os
corações e os espíritos dos jovens, ao passo que os desempenhos por
vezes banais e pretensiosos da forma ordinária levam outros ao
desespero. A Nosso Senhor devemos o melhor, e também aos seus filhos no
seio da Igreja, por amor à salvação das almas.


--


Post retirado do blogue Salvem a Liturgia


http://www.salvemaliturgia.com


Visite nossa loja virtual:


http://loja.salvemaliturgia.com

Nenhum comentário:

Arquivo