A Corresponsabilidade da Vida Religiosa no Voto de Obediência

A Corresponsabilidade da Vida Religiosa no Voto de Obediência:
O coração de toda obediência está no ato livre de sintonizar o nosso querer com o querer do Pai. Isso não pode ser feito sem uma submissão motivada por um amor filial ao Pai. A submissão exige, pois, generosidade da parte do consagrado. Exige um ato livre e generoso de amor ao Pai através de nossa obediência. E uma generosidade que nos lança na participação da historia da salvação, que exige participação no destino de Cristo Servo Sofredor.
Às vezes, essa generosidade vai exigir dos consagrados uma coragem evangélica, porque sempre aparecera a necessidade de confiar no Pai por meio de nossas cruzes. A submissão não deve ser um ato automático e banal. Exige muita meditação antes que se possa livremente dizer a Deus “Eis me aqui para fazer a sua vontade”. Exige muita união com Cristo. Exige muito força do Espirito Santo. A submissão começa na contemplação e no dialogo amoroso entre o Pai e o consagrador, e após a comunhão intensa vem o momento critico da submissão.
Depois da submissão vem à execução. Na execução há necessidade de muita fé. Crer que Deus nos escolheu, individual e comunitariamente, para continuar a missão salvifica de seu Filho no mundo de hoje. Essa fé cria no consagrado a confiança, pela qual Deus pode fazer maravilhas em nós e por nós. A execução exige também muita caridade. O amor sempre deve estar por trás da motivação da obediência. Sem um amor radical a Deus e ao próximo não há o cumprimento da aliança do batismo, muito menos, na obediência evangélica e consagrada. Exige-se a doação de nós mesmos para captar e executar submissamente a vontade do Pai. A motivação que esta por trás de toda obediência não pode ser nem o medo, nem qualquer imposição ( 1Jo 4,17-19: Rm 8, 14-15).
Torna-se necessário até nas pequenas coisas da obediência cotidiana, esclarecer a motivação de nossa obediência! Não podemos ser formados para simplesmente obedecer por razões legalistas, externas ou por obrigação. No passado houve um ambiente de escrupulosidade doentia, que e outra forma de medo que via em tudo pecado contra a santa obediência.
A maioria dos religiosos foi formada numa estrutura de obediência que se chama “piramidal”. Toda autoridade vinha de cima para baixo. Somente o superior tinha o direito à obrigação de não questionar, mas de simplesmente obedecer. Em certo sentido ela era mais segura, porque tirava do consagrado a responsabilidade pessoal pela sua obediência. Era uma obediência de conveniência. Era uma obediência que ocultava uma obediência infantil e que não tinha valor evangélico. Se saia tudo bem, a comunidade tinha acertado. Mas se não dava certo, somente o superior era culpado.
O Vaticano II e as novas constituições, que as congregações tiveram de escrever, começaram a introduzir frases questionantes como “corresponsabilidade na obediência”; “o dever do superior e levar os confrades a cooperar com obediência ativa e responsável no desempenhar encargos e no assumir iniciativas”:” o superior precisa ouvir todos, de boa vontade”: Todos os confrades são, juntamente com os superiores, corresponsáveis e solidários no cumprimento da vontade de Deus-Pai.
Outra nova realidade na obediência e a democracia. Depois de estudo, oração e diálogo, a comunidade normalmente vota consciente o que considera ser a vontade do Pai numa circunstância concreta. A regra é que a maioria revele a vontade do Pai. Parece tão fácil, mas isso causou muitos problemas na vida comunitária e na busca sincera da vontade do Pai. Porem a democracia foi reduzido a uma questão “de quem perde e de quem ganha”. Essa não é a finalidade de um discernimento evangélico. O sistema democrático dividiu muitas comunidades no começo da nova estrutura de obediência corresponsável. Não se estava prontos para assumir uma verdadeira democracia evangélica.
Alguns erros dessa nova estrutura foram os seguintes: falta de tempo para discernir a Vontade do Pai, o egoísmo, a competição, o orgulho, o comodismo e a vingança (1 Tm 6, 4-5). A purificação das motivações tem por finalidade chegar à motivação de amor que é essencial na busca da vontade do Pai.
Outro erro foi o infantilismo demonstrado quando um lado perdia. Quem perdia não assumia o cumprimento do que foi decidido. Também criou facções ou partidos em muitas províncias. Havia muita criancice, muitos vinham para o processo de discernimento “amarrado” para destruir o novo sistema de corresponsabilidade evangélica.
O que atrapalha no processo de obediência é: o orgulho, o fechamento e o comodismo.
O orgulho é a atitude de quem se julga a fonte única da verdade. É a atitude que faz ameaças aos que tem coragem de não concordar com sua opinião. É a atitude que apela para raiva quando sua opinião não e aceita.
O fechamento é um silencio anormal diante do processo da busca da vontade do Pai. É o caso do religioso que nunca diz sua opinião. Mas o pior e que, depois de todo processo de discernimento, esse tipo de gente começa sua tática de critica destrutiva de tudo o que foi decidido e começa a dividir a comunidade com o seu veneno. O fechamento gera a falta de honestidade na vida religiosa.
O comodismo é a opção por não mudar nem entrar no processo de conversão. É um não entrar na busca da vontade do Pai. Só critica tudo e a todos, mas não responde aos questionamentos fundamentais da vida religiosa. Nunca participa de reuniões de discernimento.
Assim, toda obediência religiosa começa com a motivação mais profunda possível, isto e, com o amor. Falamos do amor do Pai ao seu Filho, e a resposta concreta de amor do Filho ao Pai. Sem o amor não pode haver obediência evangélica.
A obediência de Cristo começou num diálogo amoroso com o Pai, na contemplação. O religioso não obedece a seu superior religioso, mas o dom de nossa vontade somente pode ser feito a Deus. Sempre precisamos ir além do superior para ver o “rosto do Pai”. Sem essa motivação, nossa obediência seria defeituosa. Toda obediência religiosa começa e termina na Pessoa de Deus-Pai. A obediência religiosa liga o homem-criatura ao seu Pai-Criador, por meio de Cristo no Espirito Santo e coloca o consagrado na grande iniciativa da salvação da nossa história.


Por: Resumo de André Carlos M. Carvalho sobre o voto de obediência do livro: A TEOLOGIA DA VIDA CONSAGRADA, do Pe. Lourenço Keans, CSSR.

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