Rodeados de gente

Rodeados de gente:


Esta manhã como cada dia fui caminhar logo cedo.


Tenho
encontrado muitas vezes uma criança que vem cedo para a escola. Sempre me diz
ou bom dia ou boa tarde. Ás vezes diz boa tarde mesmo sendo de manhã. A
confusão temporal vem da preocupação de falar em português e para o padre.
Trazia os cadernos e uma garrafa de água e, sozinho, caminhava devagar até á
escola.


Num destes dias vinha mesmo com o ranho a cair pelo nariz, mas mesmo
assim, com o sobe e desce do ranho no nariz, sempre me saúda: “Bom dia padre”.
E sempre o faz com alegria pois cada vez que o realiza é uma conquista para
ele. Hoje encheu-se de coragem e acrescentou: “Tenho um lápis novo”. E
mostrou-mo. Não estava ainda afiado. Disse-lhe que era bonito e precisava de
ser afiado. Se o desejasse, ao chegar junto da escola, podia ir a casa do padre
que eu o afiava. Aceitou com alegria.


Quando chegou á casa do padre encheu-se
de novo de coragem e disse-me: “tens uma casa muito rica e bonita. Quando
crescer também quero ser assim como tu: ter um cinto, sapatos e óculos com um
relógio”. Dei-lhe os parabéns e disse-lhe que crescendo vai ter muitas outras
coisas. Fui buscar a afia. Chamei-o e afiei-lhe o lápis. Depois dei-lhe a afia.


Ele estava muito ocupado com os cadernos, o lápis e a garrafa da água nas mãos.
Aí acrescentou: “tenho aqui o meu dinheiro”. “Afinal?, perguntei eu, e para
quê?” “Para o meu lanche”, concluiu. Tirou a moeda e tinha um metical para
comprar uma bajia. A bajia é um pouco de feijão moído e frito. Todas as outras
crianças que estavam com ele ficaram admiradas pela amizade que tinha com padre
e correram para junto dele.


Não sei o nome da criança. Encontra-se na primeira
classe o que significa que tem apenas 7 anos. É o futuro deste país que todos
os dias, e em dois turnos, rodeia a Igreja e a casa paroquial frequentando a
escola primária. Á noite são os jovens e os adultos que, nas mesmas salas,
tentam fazer os anos escolares da secundária. Assim estamos sempre rodeados de
gente, pelo menos ao longo do ano escolar.





P. Alberto Vieira, Moçambique

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