Há por aí muitos amalricanos

Há por aí muitos amalricanos:

Suplício dos amalricanos

A leitura das coisas mais ou menos improváveis de áreas quenão domino permite a descoberta do inesperado em áreas que pensava conhecerminimamente.
Hoje dei com um filósofo de que nunca ouvira falar. Amalrico deBena. Um livre-pensador da Idade Média, portanto, uma raridade. Andou entreParis e Chartres, os centros culturais dos séculos X-XIII, foi o líder daescola panteísta medieval. A coisa não acabou bem. Foi condenado, teve de seemendar, regressou à Universidade de Paris e dizem que morreu por causa destahumilhação. Passados quatro anos, os seus seguidores foram condenados àfogueira. O corpo de Almerico foi exumado e queimado com os discípulos. Istofoi em 1210.
E o que defendia Almerico (segundo a Wikipedia)?
- que Deus é tudo (omnia sunt deus) e, assim, todas ascoisas são uma, porque o que quer que seja, é Deus (omnia unum, quia quidquidest, est Deus);
- que cada cristão é obrigado a acreditar que é ummembro do corpo de Cristo, e que essa crença é necessária para a salvação;
- que quem permanece no amor de Deus não pode cometer nenhumpecado.
Já os amalricanos achavam que:
- o Inferno é a ignorância, portanto, o Inferno está dentrode todos os homens, "como um dente ruim na boca";
- Deus é idêntico em tudo que existe; mesmo o mal pertence aDeus e prova a omnipotência de Deus;
- um homem que sabe que Deus actua através de tudo não podepecar, porque todo acto humano é, então, o acto de Deus;
- um homem que reconhece a verdade de que Deus age atravésde tudo já está no Céu e esta é a única ressurreição. Não há outra vida; arealização do homem está apenas nesta vida.
Amalrico e os seguidores estavam fora da ortodoxia cristã, masé curioso verificar como hoje há muitos amalricanos quanto à ideia de Deus e dasalvação, quanto à identificação do inferno com a ignorância, quanto àrealização exclusivamente intra-histórica.

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