Povos bárbaros: um dos componentes que a Igreja civilizou na Idade Média

Povos bárbaros: um dos componentes que a Igreja civilizou na Idade Média:
Vestimentas e instrumentos de tribos bárbaras

Os povos bárbaros invadiram o Império Romano não como numa simples incursão militar, mas com o intuito de fixarem ali a sua residência.

Eles tinham procedências muito diversas seja geográficas, étnicas, religiosas ou culturais. O termo “bárbaro” foi cunhado pelos gregos para significar “que não é grego”. Foi adotado pelos romanos em sentido análogo, indicando os povos que não tinham um Direito ou uma escrita como Roma.

Assumindo pela força a direção da sociedade, provocaram um tal embrutecimento que a Idade Média se iniciou com o mais pavoroso colapso de civilização que a História registrou.

Bárbaro ou selvagem

Para que a extensão desse colapso possa ser medida, é necessário ter-se em conta aquilo que diferencia o selvagem do homem civilizado.

A total ignorância de tudo ou quase tudo o que constituiu a civilização cria no selvagem uma inadaptabilidade quase completa para a vida civilizada.

Por isso muitos selvagens, como ainda em nossos dias se observa nas missões que levam a cabo a catequese dos nossos índios, não podem resistir à brusca transplantação de toda a sua existência para um ambiente plenamente civilizado.

Muitos sofrem com essa transplantação um dano irreparável em sua saúde. Os poucos dentre eles que sobrevivem ao choque, depois de viverem longos anos em uma vida civilizada fogem bruscamente.

E o mesmo fato se dá, se bem que mais raramente, com os filhos de selvagens já catequizados, quando transplantados para um ambiente de grandes cidades.

Elmo anglo-saxão
Essa inadaptabilidade resulta, em última análise, da oposição profunda existente entre os hábitos de um povo civilizado e os de um povo selvagem.

Hábitos dos povos bárbaros

Os bárbaros, singularmente parecidos sob alguns pontos de vista com os nossos índios, tinham hábitos que facilmente explicam o que acima ficou dito.

Em tempo de guerra, pintavam o corpo de modo a amedrontar o adversário. Com o mesmo objetivo, os homens de certas tribos atavam à cabeça crânios de animais selvagens.

Uivando e silvando como animais, costumavam atacar os inimigos em hordas compactas, cujos componentes semi-embriagados executavam saltos ferozes. A certa distância, as mulheres cantavam melodias guerreiras, em que incitavam os combatentes a sacrificar suas vidas em defesa de sua nação.

Um dos hábitos dessas tribos era o chamado juízo de deus. Partindo do princípio verdadeiro de que Deus prefere o inocente ao culpado, concluíam eles erroneamente que em uma luta o vencedor tinha sempre a razão, porque sem a proteção divina ele não poderia ter vencido.

O processo para provar a inocência dos indivíduos, quanto a crimes de que eram acusados, também se inspirava na mesma ordem de idéias.

Daí o fato de serem submetidos os acusados a certas provas, como por exemplo de caminhar, com os pés descalços, sobre metal incandescente, ou a de carregar durante certo tempo barras de metal incandescente. O direito penal consagrava também a obrigação de certas mutilações por certos crimes.

Vestimentas e instrumentos de tribos bárbaras
Freqüentemente, a pena consistia no pagamento de certa quantia, existindo a esse respeito curiosas tabelas em certos povos bárbaros do norte da Europa, que especificavam o preço de um olho, de uma orelha ou de um braço, ou computavam o preço da vida de um rei, de um príncipe ou de um nobre, servindo como padrão o valor das vacas.

Certas tribos eram tão selvagens que, quando invadiram o Império Romano, não pousavam nas cidades, por se sentirem asfixiadas. Tinham grande cavalheirismo, grande respeito à mulher e irrepreensível hospitalidade.

De todos esses costumes bárbaros — como o duelo judiciário, torturas e penas corporais — se ressentiu durante muitos séculos a civilização.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira. Excerto do curso de “História da Civilização”, 1936, Colégio Universitário, Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo)





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