É útil recomendar-se às orações das almas do Purgatório?

Santo Afonso Maria de Ligório diz o seguinte sobre esta questão.


Alguns dizem que as almas do Purgatório não podem rezar por nós. São levados pela autoridade de Santo Tomás que afirma estarem aquelas almas em estado de expiação, e, por isso, inferiores a nós. Não se acham em condições de rezar por nós, mas, pelo contrário, necessitam de nossas orações.

“Mas muitos outros doutores, como Belarmino, Sílvio, Cardeal Gotti e outros afirmam, como muita probabilidade, que se deve crer piamente que Deus manifesta-lhes nossas orações, a fim de que aquelas santas almas rezem por nós, como nós rezamos por elas. Assim se estabelecerá entre nós e elas este belíssimo intercâmbio de caridade. Não obsta, como dizem Sílvio e Gotti, o que diz o Angélico, isto é, que as almas padecentes não se acham em estado de rezar. Uma coisa é não estar em estado de rezar e outra é não poder rezar. É verdade que aquelas almas santas não se acham em estado de orar. Como diz Santo Tomás, estando no lugar de expiação, elas são inferiores a nós e por isso necessitam das nossas orações. Contudo, em tal estado, bem podem rezar, porque estão na amizade de Deus. Se um pai, apesar de seu grande amor ao seu filho, conserva-o encarcerado por alguma falta cometida, o filho, em todo o caso, não está em condições de pedir alguma coisa para si mesmo. Entretanto, por que não poderá pedir pelos outros? Por que não poderá esperar ser atendido no que pede, conhecendo o afeto que lhe tem o pai? Sendo assim, as almas do Purgatório, muito mais amadas de Deus e confirmadas em graça, podem rezar por nós. Mas não é costume da Igreja invocá-las e implorar sua intercessão, porque segundo a providência ordinária, elas não têm conhecimento de nossas súplicas. Todavia, acredita-se piamente, como dissemos, que o Senhor lhes faz conhecer as nossas preces e, então, cheias de caridade não deixam de pedir por nós. Santa Catarina de Bolonha, quando desejava alcançar alguma graça, recorria às almas do purgatório e era imediatamente atendida. Até dizia que muitas graças, que não havia obtido pela intercessão dos santos, conseguia invocando as almas do Purgatório” (A Oração, Editora Santuário, 2010)
Vários são os relatos de santos que recorriam às santas almas e obtinham, por meio delas, graças. Abaixo segue o relato de William Freyssen, editor católico alemão do século XVII. Ele se dirige, em carta, ao Pe. James Mumford, da Companhia de Jesus, que o teria enviado, para a publicação, um livro sobre o Purgatório.

“Escrevo, padre, para informá-lo de duas curas milagrosas: de meu filho e de minha esposa. Durante as férias, quando minha editora estava fechada, comecei a ler o livro “Misericórdia para com as Almas do Purgatório”, que o senhor me enviou para publicação. Ainda o estava lendo quando soube que meu filho mais novo, de quatro anos de idade, começou a apresentar sintomas de uma séria doença. O mal progrediu rapidamente, o médico perdeu as esperanças e já se pensava sobre as preparações para seu sepultamento. Ocorreu-me que eu podia salvá-lo se fizesse uma promessa em favor das almas do Purgatório.

“Dirigi-me à igreja logo pela manhã, e supliquei fervorosamente a Deus por piedade, prometendo distribuir de graça cem cópias de seu livro entre os padres e religiosos, para lembrá-los do zelo com que eles deviam se interessar pela Igreja Padecente, e para lembrá-los das práticas que são mais adequadas para tal tarefa.

“Reconheço que estava repleto de esperança. Logo que cheguei a casa, encontrei meu filho melhor. Ele pedia comida, embora por muitos dias ele fosse incapaz de ingerir uma gota de líquido que fosse. No dia seguinte, sua cura estava completa; ele se levantou, começou a andar, e comeu com o apetite de antes da doença. Cheio de gratidão, meu desejo mais urgente foi cumprir a promessa. Fui ao Colégio da Companhia de Jesus e supliquei aos padres que aceitassem as cem cópias, ficassem com quantas desejassem e distribuíssem o resto a outras comunidades e padres de seu conhecimento, para que as almas sofredoras, minhas beneméritas, pudessem ser confortadas por novos sufrágios.

“Três semanas depois, outro acidente, não menos sério, me aconteceu. Minha esposa, ao entrar em casa, foi tomada de uma violenta tremedeira em seus membros, que causou seu desmaio. Logo depois, ela perdeu o apetite e a fala. Todos os remédios e procedimentos foram tentados, mas em vão. O mal só aumentava, e todas as esperanças pareciam perdidas. Seu confessor, vendo-a reduzida àquele estado, tentou me consolar de todas as formas, exortando-me a me resignar à vontade de Deus. Quanto a mim, depois da proteção que experimentei das boas almas do Purgatório, não pude me entregar ao desespero. Retornei à mesma igreja, prostrei-me diante do Santíssimo Sacramento, e renovei a súplica com todo o fervor de que era capaz: ‘Ó meu Deus’, exclamei, ‘Vossa misericórdia não conhece limite! Em nome de Vossa Infinita Bondade, não permita que a restauração da saúde de meu filho seja expiada pela morte de minha esposa!’ Então, fiz a promessa de distribuir duzentas cópias de seu livro para obter copioso alívio para as almas sofredoras. Ao mesmo tempo, supliquei às almas que tinham sido anteriormente liberadas do Purgatório, que unissem suas orações à daquelas ainda retidas. Depois dessa oração, voltei para casa, e vi meus empregados correrem em minha direção. Eles me disseram que minha querida esposa estava consideravelmente melhor, que o delírio tinha terminado e que sua fala tinha sido recuperada. Corri para o quarto e descobri que tudo era verdade. Eu a ajudei a se alimentar, o que ela fez com gosto. Pouco tempo depois, ela estava tão completamente curada que me acompanhou à igreja para agradecer a Deus por toda Sua misericórdia.

“Sua Reverendíssima esteja certo de que o que afirmo é a verdade. Rogo-vos para que me ajude a agradecer a Nosso Senhor por este milagre duplo.” (Purgatory: explained by the lives and legends of the saints, Pe.F.X. Schouppe, S.J., Tan Books, 1986)




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