Comentário feito por São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja, para MC 3, 7-12.
Segui o exemplo de Nosso Senhor, que quis sofrer a Sua Paixão para assim aprender a compaixão, sujeitar-se à miséria para assim compreender os miseráveis. Tal como aprendeu a obedecer, sofrendo (Heb 5,8), quis aprender também a misericórdia. [...] Talvez acheis bizarro o que acabo de dizer de Cristo: Ele que é a sabedoria de Deus (1 Cor 1,24), que tinha Ele a aprender? [...]
Reconheceis que ele é Deus e homem numa só pessoa. Enquanto Deus, é eterno, teve sempre conhecimento de tudo; enquanto homem, nascido no tempo, aprendeu muitas coisas no tempo. Desde que começou a ser na nossa carne, começou também a aprender pela experiência as misérias da carne. Teria sido mais feliz e sábio para os nossos primeiros pais não terem de fazer esta experiência, mas o seu criador veio procurar aquele que estava perdido (Lc 19,10). Teve pena da Sua obra e veio procurá-la, descendo misericordiosamente para onde ela tinha perecido miseravelmente. [...]
Não foi simplesmente para partilhar a sua desgraça, mas por empatia com a sua miséria e para os libertar: para Se tornar misericordioso, não como um Deus na Sua felicidade eterna, mas como um homem que partilha a situação dos homens. [...] Maravilhosa lógica de amor! Como teríamos nós podido conhecer esta misericórdia admirável se ela não Se tivesse inclinado sobre a miséria existente? Como teríamos podido compreender a compaixão de Deus se ela tivesse permanecido humanamente estranha ao sofrimento? [...] À misericórdia de um Deus, Cristo uniu pois a de um homem, sem a mudar, mas multiplicando-a, como está escrito: Tu salvarás os homens e os animais, Senhor. Ó Deus, como fizeste abundar a Tua misericórdia! (Sl 35, 7-8 Vulg).
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