Maria: Modelo de vivência da Paz

Maria: Modelo de vivência da Paz:

Celebramos hoje a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus. Ainda envolvidos pelo clima natalino, neste primeiro dia do ano a Igreja confia-se e confia a cada um de nós a proteção materna de Maria Santíssima, aquela que renegou toda a sua vontade para fazer unicamente a vontade de Deus. Neste espírito de cumprir a vontade de Deus e colocá-la em primeiro lugar em nossas vidas é que desejo saudar a cada um neste novo ciclo anual e peço a Deus que vos fortaleça para que reconheçam em Deus a principal fonte de nossa vida. É também um dia importante para ressaltarmos o valor crucial da paz para história, celebrando o Dia Mundial da Paz.


Celebrar a Solenidade da Mãe de Deus é reconhecer, na figura desta, o modelo de serviço e de seguimento, de aceitação da vontade de Deus e de seu cumprimento. Por meio de Maria Deus abre-se a salvação a toda a humanidade. Por ela Jesus Cristo entra no mundo, faz-se um de nós e redime a humanidade. Em Maria a humanidade pode aproximar-se de Deus sem temer. Com sua figura de Mãe que é terna, ela nos mostra que Deus não é um ser privado de um relacionamento conosco, mas está a comunicar-se desde a vinda a criação do mundo até os nossos dias.


Na primeira leitura vemos a benção que os sacerdotes pronunciavam sobre os israelitas nas grandes festas religiosas, nela, vemos evocar o poder de Deus e a sua misericórdia a todos os homens, manifestada na pessoa de Cristo, “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro” (Credo Nisceno-Constantinopolitano). Uma das fortes características é a tripla menção ao nome de Deus, que representa a plenitude e a força que dele derivam. É o nome de Deus poderoso, e tão poderoso que é capaz de fazer curvarem os demônios. Só no nome de Deus encontramos força e abrigo para o fortalecimento da caminhada.


São Paulo faz menção também ao poder que há no nome de Jesus: “Ao nome de Jesus todo joelho se dobre, seja no céu, na terra ou nos infernos” (Fl 2, 10). O nome de Jesus, aqui, é associado ao poder que há no nome de Deus, o poder de abençoar, de santificar e de submeter a Ele todas as forças do mal. O nome de Jesus é para os povos sinal de esperança e de paz. Este mesmo Senhor que volve o seu rosto a nós é aquele que nos concede a paz, paz verdadeira que só dele pode vir.


Se vós, homens, buscais a vossa paz fora de Cristo, ainda que no-la encontrem, encontrarão uma paz passageira, finita, limitada a um fato ou a um mero presságio. A paz que vem de Cristo vai além: é eterna e não pode ser abalada por nenhum vento contrário que tente subestimá-la. Os homens só encontrarão verdadeira paz quando encontrarem a Deus, que não está nas buscas ávidas pelo dinheiro e pelo impulso da economia. Também não se pode encontra-lO nos prazeres que esta vida oferece, senão na pequenez de uma criança. Ele humilha-se para que possamos ser engrandecidos.


Na segunda leitura, Paulo faz menção da realização do salvífico desígnio de Deus e da adoção filial pela qual, também nós, nos tornamos filhos. “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei” (Gl 4, 4). Estas palavras, embora muito meditadas e tendo sido alvo de profundos estudos teológicos, nunca esgotam-se de transmitir-nos uma mensagem sempre renovada cada vez que as lemos. Toca-se assim o cerne do mistério da salvação. Jesus fazendo-se um de nós, submetendo-se a Lei, renova o mundo, renova o coração dos homens e convida-nos a transmitirmos esta sua mensagem a sociedade hodierna. Este não é um simples anúncio, que com a vicissitude dos tempos se esvai e passa a ser algo passado, mas é uma constante novidade que é basilar para a paz no mundo. O tempo já não é nosso inimigo, mas passa a ser nosso aliado. “Desde que o Salvador desceu do Céu, o homem já não é mais escravo de um tempo que passa sem um porquê, ou que esteja marcado pela fadiga, pela tristeza, pela dor. O homem é filho de um Deus que entrou no tempo para resgatar o tempo da falta de sentido ou da negatividade, e que resgatou toda a humanidade, dando-lhe, como nova perspectiva de vida, o amor que é eterno” (Papa Bento XVI, Te Deum em Ação de Graças, 2011).


A cada dia que se passa, nós caminhamos para encontrarmos com Deus, para contemplar aquele que é tão pequeno e tão grande, tão humilde e tão poderoso, um Deus em quem o Amor se concretiza, ou mais ainda, um Deus que é o próprio Amor.


E por isso, quem não ama está privado de conhecer a face de Deus e, por conseguinte, não poderá abrir-se a sua graça santificante e ao próximo. Só reina a paz no coração em que há Deus, onde este não é um ser distante, opressor, mas é humilde. Quem é individualista e quer ter tudo para si não possui a lógica do amor, sintetizada na doação espontânea a Deus e ao próximo. Maria é aquela pela qual Deus demonstra a vitória sobre os arrogantes.


Quem não ama, na lógica do mundo, deve ser colocado à margem, renegado, tido como um divisor. A lógica de Deus nos ensina o contrário: A quem não ama, mais ainda deve manifestar-se o nosso amor. Só amando com o amor de Deus damos sentido a nossa vida e a vida do próximo.


O Evangelho narra-nos que os pastores, primeiros a contemplarem o maravilhoso mistério acontecido naquela gruta, foram também os primeiros a anunciarem tudo o que ali presenciaram (cf. Lc 2, 17). A Igreja é chamada a gritar ao mundo a necessidade que os homens têm de Cristo. Falar de Cristo nunca é demais. Viver o Seu Evangelho, ainda que para o mundo pareça demasiado difícil, para a Igreja é fonte de santidade e vigor.


Foram os pastores caminhando pressurosos ao encontro do menino. Este verbo “caminhar” indica não apenas uma simples ação daqueles que se põem em movimento, mas é também uma atitude recíproca de Jesus. A humanidade caminha ao Seu encontro, mas Ele apressa-se e vem até nós, não nos deixa abandonados, mostra o Seu poder não com autoritarismo, mas manifesta-o com misericórdia. Esse é o nosso Deus, o Deus que nunca nos abandona!


Como os pastores, a humanidade nunca deve resignar-se ao medo ou temer forças aparentemente maiores que a tentem subestimar de sua missão de ser portadora da verdadeira paz. Nenhum poder é maior que o de Cristo! O poder de Cristo é o poder do bem. Só por meio do bem a paz pode alicerçar-se.


Surge então uma pergunta: Como construir a paz em uma sociedade imediatista, portadora de tantas debilidades e de um forte relativismo? Em primeiro lugar a paz deve ser edificada na família. Ali se exerce o lugar primordial para uma convivência pacífica. Quem vive em paz com a família certamente saberá transmiti-la em outros ambientes. A família, contemplado o modelo da família de Nazaré, deve reconhecer que a paz não é apenas uma ausência de relacionamentos conflituosos, mas é também o exercício sadio de uma boa convivência familiar que deve ser transmitido aos filhos.


Um segundo aspecto a se considerar é o relacionamento entre países. Todos os povos são chamados a uma convivência pacífica, seja em relação a liberdade religiosa, seja em relação a cultura. A Igreja como portadora da paz é chamada a exercer o seu papel entre as nações para que a vida humana seja dignamente respeitada e não lhe falte nenhuma assistência. Nenhum ser humano pode ser obrigado a nada, pois do contrário viola-se o direito primordial dado por Deus: a liberdade.


Também vemos com grande dor e lamentação as perseguições na terra onde os anjos cantaram: “Super terram pax hominibus bonae voluntatis” (Lc 2, 14). Que a paz possa reinar também neste local, onde tantos cristãos são violentados por sua fé. Rezemos também por eles, para que possam sentir a força revigoradora do Rei da Paz e pelos governantes, para que cada vez mais sintam-se decididos a caminharem pela senda da paz.


“Educar os jovens para a Justiça e a Paz”, este é o tema da Mensagem para este dia escolhido pelo nosso Santo Padre Bento XVI. Educar os jovens na cultura moderna é um grande desafio. A Igreja coloca-se ao lado das famílias para colaborar nesta árdua missão, para que possam, assim, formar pessoas para um futuro melhor, comprometidas com a sincera busca da pacificação mundial, mas também para que esta paz seja sinal de uma abertura a Cristo, Senhor dos povos e da Paz. Que o desânimo não vos deixe desanimar! Que as dificuldades não vos abatam! Revigorai-vos sempre nos Sacramentos que a Igreja vos oferece, compreendendo, assim, que somente no Senhor está a verdadeira força e só dele havereis de haurir decisões certas para um futuro que, não poucas vezes, é incerto.


E neste primeiro dia de um novo ano, queremos pedir: Senhor concede a Vossa Paz. Afaste-nos do obscurantismo de nós mesmos. Dá vigor a Igreja para que continue a portar a vossa paz ao mundo dilacerado por discórdias e guerras. Instaura entre nós o Reino de vossa Justiça. Manifestai o poder de Vosso braço e quebrai os grilhões de todas as coisas que nos acorrentam, nos impedindo de caminhar até Vós. Tocai os corações dos poderosos, que oprimem aos desfavorecidos, tratando-os como produtos comerciais. Maria, Mãe de Deus e nossa, ensinais-nos a nunca nos esquecermos de sempre elevarmos os olhos ao Pai para agradecermos pelos benefícios que Ele nos concede e libertai-nos do indiferentismo e da comodidade.



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