A consulta de uma leitora deste blog despertou em mim uma antiga pergunta: onde está o Véu da Verônica?
Salvou-se ele nas tempestades da História? Se existe em alguma parte, por que não se fala dele?
Uma relíquia preciosíssima como essa, só superada pelo Santo Sudário de Turim, não poderia ficar esquecida; dever-se-ia falar muito mais dela.
Porém, procurando nas minhas recordações, lembrei-me de ter ouvido falar que havia “vários” Véus da Verônica, certamente em virtude de alguma confusão histórica não devidamente esclarecida.
Aliás, em situação semelhante encontram-se outras valiosíssimas relíquias da Cristandade. Só apurados estudos históricos, científicos e religiosos poderiam esclarecer essas situações.
Foi o caso, por exemplo, durante muitos e muitos anos do Santo Sudário. Pelo lado da Fé, tudo indicava que era o próprio.
Mas, ele passou por tantos episódios históricos que uma certa sombra poderia pairar a seu respeito.
Isso até que cientistas das mais variegadas procedências se debruçaram sobre o precioso tecido e produziram tal quantidade de confirmações de sua autenticidade que não é mais possível duvidar dele.
Teria acontecido algo semelhante com o Véu da Verônica? Eis que, procurando resposta a essa pergunta na Internet, deparei-me com muitas surpresas. E, no fim, com um tesouro de dados muito além das minhas expectativas.
Este post é apenas uma resultante dessa procura, a qual deverá ser ainda objeto de muitos aprofundamentos.
O leitor se prepare também para surpresas que contêm maravilhas.
Quem foi a Verônica?
6ª estação da Via Sacra: a Verônica enxuga o rosto de Jesus. Sacro Monte di Varallo, Itália |
Verônica não é um nome judaico, mas grego (Berenice, que significa “portadora da vitória”) ou romano (derivado ou de Berenice, ou da expressão “Vera ícone”, verdadeira imagem).
Respeitáveis tradições a incluem no número das Santas Mulheres e contam que ela levou o véu famoso para a Europa. Porém, na França e na Itália essas narrativas orais divergem muito.
Nos quatro Evangelhos não há referência à história de Santa Verônica e a seu véu. Para alguns exegetas, ela foi a mulher curada de uma hemorragia por Nosso Senhor.
O milagre da cura é narrado nos Evangelhos de São Mateus (9;20-22) e de São Lucas (8;43-48), sem mencionar nome algum.
O nome Verônica apareceu por vez primeira nos Atos de Pilatos, obra apócrifa do século IV d.C.
A história de Santa Verônica e de seu milagroso Véu entrou nos registros eclesiásticos muito depois, durante a Idade Média.
Mas a Igreja sempre a aceitou pacificamente, como tantos outros fatos dos tempos iniciais do cristianismo, a ponto de o episódio do enxugamento da divina face constituir a sexta estação da Via Sacra.
De acordo com a Enciclopédia Católica, o Véu de Verônica era considerado nos tempos medievais como a imagem verdadeira de Jesus, mais venerada ainda que o Sudário de Turim.
O Véu estava sempre exposto na Basílica medieval de São Pedro, era objeto de enorme veneração e servira de modelo a numerosas cópias pintadas sob a supervisão dos Papas.
Porém, na Renascença, com o entibiamento geral da devoção, o Véu da Verônica caiu num desmerecido esquecimento.
No século XIX, nasce a devoção à Santa Face
Santa Teresinha tinha o nome religioso de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face (em devoção ao Véu da Verônica) |
Em 1844, a irmã Maria relatou ter visto Santa Verônica limpando com seu véu os escarros e a poeira da face de Jesus no caminho do Calvário.
Ela afirmou que os atos sacrílegos e blasfemos de hoje adicionam escarros e poeira no rosto de Jesus, que lhe teria pedido a devoção de sua Face Sagrada como reparação comparável ao ato de Verônica.
O fato é que a devoção à Santa Face de Jesus foi aprovada pelo Papa Leão XIII em 1885, e Santa Verônica comemorada na terça-feira antes da Quarta-Feira de Cinzas, no mesmo dia em que se comemora a Santa Face.
Lex orandi, lex credendi, diz o antigo aforisma eclesiástico, o qual ensina que nas orações propostas ou recomendadas pela Igreja se deve acreditar como numa lei.
Porem, pouco ou nada se sabe ao certo da mulher que enxugou o divino rosto do Salvador.
Diversos "Véus da Verônica"
A relíquia da Santa Face no santuário de Manoppello |
Há em santuários e museus da Europa diversos véus que reclamam a honra de terem recebido a impressão do rosto de Nosso Senhor durante a Via do Calvário.
Não entraremos falaremos deles, cingindo-nos àquele que, além de autorizadas aprovações eclesiásticas, foi objeto de severos exames científicos que sugerem poderosamente a sua autenticidade.
Trata-se do chamado “Volto Santo de Manoppello”, ou “Rosto Santo”, que é venerado na cidade de Manoppello, a 200 km de Roma, Itália. Clique aqui para ver em Google Maps.
Pe Heinrich Pfeiffer SJ |
Objeto de exigentes estudos de cientistas de várias nacionalidades e especialidades, os resultados de suas análises foram reunidos e publicados pelo Pe. Heinrich Pfeiffer S.J. Além de professor de História da Arte na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, onde também foi diretor do Curso Superior para os Bens Culturais da Igreja, o Pe. Pfeiffer também é membro da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja.
A religiosa trapista irmã Blandina Pascalis Schlömer, da abadia de Maria Frieden, na Alemanha, teve igualmente grande participação na obra de recopilação dos estudos e análises sobre o “Santo Volto” de Manoppello.
Detalhe da relíquia |
A relíquia da “Santa Face” ou “Santo Volto” é guardada desde 1638 pelos padres capuchinhos num Santuário especialmente dedicado a ela.
Já podemos imaginar algum incrédulo ou protestante espernear contra as aparentes lacunas históricas deste milagroso véu.
Mas o que segue é suficiente para tocar qualquer pessoa de bom senso, de boa fé, ou de um mínimo de respeito.
A contínua mutação da Santa Face de Manoppello
A Santa Face fica exposta numa moldura de metais preciosos com vidros protetores de um rico altar de mármore.
A primeira coisa que chama a atenção é o Rosto, quase transparente e como que impresso nos dois lados de um delicado pano. Nesse Rosto se podem observar surpreendentes mudanças de expressão.
Clique nos botões para mudar a foto
(Fotos diversas colhidas na Internet com caráter meramente ilustrativo).
Acontece que, prestando atenção – narra o Pe. Heinrich Pfeiffer S.J. –, tem-se a impressão de “que uma pessoa viva se encontra por trás desse tecido e que nos olha através desse pano sutilíssimo, uma pessoa com cabelos de um esplendor maravilhoso, [...] que descem em dois cachos soltos sobre os ombros. O que mais fala nesta Face são os olhos com um branco muito intenso. O olhar é gentil. Há como que um sorriso na expressão” (cfr. Heinrich Pfeiffer S.J. Il Volto Santo di Manoppello, CARSA, Pescara 2000, p. 28).
Mais ainda, “há qualquer coisa de inexplicável e totalmente inusitado. Por exemplo, o pano parece muito antigo, com a superfície enferrujada, mas de um momento para outro aparece como um tecido finíssimo e delicadíssimo, totalmente transparente, até esplendoroso. Dessa maneira, a face humana que se percebe sobre o pano aparece ora com uma cor intensíssima e uma forma delineada, com muita precisão no desenho dos cabelos e nos outros detalhes, ora a gente se encontra diante de uma imagem que aparece compactamente de uma tonalidade ocre com traços esverdeados, ora a gente fica surpreendida vendo um tecido branco que parece quase um voile, de tal maneira é leve”. (id.)
E ainda, “se se puser o Véu contra a luz, ela atravessa diretamente o tecido, como se fios da trama tivessem sido transformados e absorvidos pela luz” (p. 29).
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