Dom Claudio Hummes, “a Teologia da Libertação, os seus percalços e enfim…”

Transcrição de alguns trechos da participação de Sua Eminência, o cardeal Dom Claudio Hummes, no programa “Igreja em Comunhão”, da TV Aparecida, no último dia 10 de abril. A quem desejar assistir ao programa completo, basta acessar o YouTube. Os grifos no texto são nossos.
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Dom Claudio, existe alguma esperança de que a Teologia da Libertação possa receber um novo acolhimento pela Cúria Romana?
Olha, (…) eu acho que não se trata de dizer se vai ser reativado (sic), reavivada a Teologia da Libertação. Acho que não é, não é essa a questão. Embora isso também se possa discutir. Mas me parece que não é aí que está o ponto hoje. O ponto hoje é aquilo que realmente o Papa assume, o Papa Francisco assume, que é, na verdade, toda a grande caminhada da América Latina depois do Concílio Vaticano II, sobretudo a partir de Medellín, de Puebla, de Santo Domingo, de Aparecida… e toda essa caminhada. Não se trata só da Teologia da Libertação, que passou pelos percalços que nós todos conhecemos e enfim… Mas, é esse conjunto todo. Esse conjunto todo aquilo que foi a grande opção da Igreja na América Latina depois do Concílio Vaticano II de estar atenta à questão dos pobres, à questão da justiça, da “injustiça institucionalizada”, como dizia Medellín, e, portanto, de ser solidária aos pobres, de assumir a opção preferencial pelos pobres. E isso repetidas vezes, tanto assim que, no final, até João Paulo II diz que essa opção pelos pobres deve ser uma opção de toda a Igreja no mundo.
Quer dizer, essa história da América Latina, esse caminhar da Igreja na América Latina é o que ele assume, isso o que interessa pra nós, de que ele está assumindo tudo isso, mais do que detalhes aqui ou ali. Esse conjunto. E nesse conjunto está a Teologia da Libertação com sua história, os seus percalços e enfim… está também dentro disso. E que também… faz parte, faz parte desse, desse, desse, digamos assim, dessa bela história da Igreja na América Latina.
(…)
Por que que Medellín fez isto? Que, de repente, a Igreja na América Latina começasse a dar atenção às estruturas injustas que produziam a pobreza, a injustiça social, a marginalização, enfim, a miséria e a fome nesse grande continente? Foi porque o Concílio Vaticano II disse que a Igreja deve se reinserir na sociedade, tem que conhecer a sociedade, tem que saber, porque vai ter que anunciar a essa sociedade o Evangelho. Aí, quando os bispos pela primeira vez se reuniram, os latino-americanos, depois do Concílio, que foi em Medellín, eles se fizeram essa pergunta: Qual é a realidade da América Latina? Qual é a realidade dessa sociedade? E foi aí buscando as causas que estavam por detrás de toda injustiça, de toda opressão, de toda a marginalização da América Latina, mesmo internacionalmente – ela era marginalizada, ninguém dava nada pela América Latina -, por que isto? Procuraram as causas disso. E foi aí que a Igreja na América Latina disse: Olha, porque existe uma “injustiça institucionalizada”. E a Igreja deve combater isso. A Igreja deve se pôr ao lado dos pobres. A Igreja deve ser solidária com os pobres. Deve, junto com os pobres, construir uma sociedade diferente, à luz do Evangelho, que nos diz que nós devemos a amar a todos, e que todos são iguais.
Então, foi aí que começou essa bela história da América Latina, da Igreja na América Latina, que este Papa assume, quando diz: Eu me chamo Francisco.
(…)
Agora, (…) tem uma figura muito presente na Igreja, que é a figura da mulher. E toda vez que vem, que a Igreja vem pra debater ela (sic) na base, sempre pinta o debate da mulher no sacerdócio. Existe espaço na Igreja pra debater isso, ainda mais agora com o Papa Francisco?
Olha, tudo o que faz parte da vida da Igreja deve ser possível de ser aprofundado, de ser enfrentado e de ser construído um caminho pra todos. E é por isso que eu digo, nesse sentido não pode haver tabus, coisas que a gente não pode discutir, não pode aprofundar etc. Não, não, mas também não se pode simplesmente de um dia pro outro decretar coisas que não foram suficientemente construídas, isso é construir um caminho. E aí nesse caminhar é que se vai de fato encontrar o… o… o… digamos, a, aquilo que Jesus Cristo nos pede. E essa é que é minha, minha, a minha esperança e, e vejo nele essa possibilidade de realmente esses problemas… Não deixar problemas que são, simplesmente são evitados, porque temos medo. Não. Não podemos ter medo de problemas humanos e de problemas religiosos, problemas enfim… Nós devemos ter a capacidade de ouvir, de discutir com todos os que têm palavra nisso, e construir juntos um caminho. É um processo sempre, é sempre um processo. Porque não se faz, não se constrói um povo de Deus por decreto.
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