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Há vários livros que poderiam receber o título de melhor introdução à leitura de Chesterton. Tremendas Trivialidades é um dos melhores dentre os melhores. Ele possui apenas uma desvantagem sobre a qual consigo pensar: está atualmente fora de catálogo. Felizmente, muitos dos ensaios dessa coletânea estão disponíveis em outros lugares, como em certos sites e no recentemente lançado On Lying in Bed and Other Essays[1]editado pela Bayeux Arts. Além disso, muito desses ensaios foram publicados na revista Gilbert![2]
Tremendas Trivialidades simplesmente contém um dos melhores ensaios já escritos por Chesterton. Eles apareceram originalmente no jornal Daily News, com o qual Chesterton contribuiu de 1901 a 1913, o que explica porque as pessoas compravam esse jornal. Além do quintessêncial “Sobre ficar na cama”, o livro inclui: “As Vantagens de Ter Uma Perna”, “A Avó do Dragão”, “O que encontrei em meu bolso”, “Um pedaço de giz” (que poderia ter sido chamado de “What I Found I Was Sitting On”) e a incomparável explicação sobre os juris: “Os Doze Homens”.
Mas, voltando para a “Cama”, nunca houve um ensaio que tivesse um início melhor do que este: “Ficar na cama seria uma experiência completamente perfeita e suprema se em apenas uma das mãos houvesse um pincel colorido longo o suficiente para desenhar no teto”. Eu me lembro da primeira vez que li essa frase. Eu percebi, com abundante deleite, que tinha encontrado em Chesterton um amigo para sempre, uma companhia com a qual eu queria passar meu tempo e que com a qual nenhum tempo seria desperdiçado. Apesar de essa frase parecer totalmente sem sentido, e ter todo o apelo de uma coisa sem sentido, nós começamos a rir para uma verdade surpreendente. Chesterton não escreve meramente para fazer rir. Ele faz rir para levantar um ponto. E o ponto nunca é tão superficial e aéreo quanto parece à primeira vista. Não parece muito complicado aprender que o propósito de estar deitado numa cama é que isso não deveria ter um propósito. Não deveria haver nenhum motivo para isso, nenhuma razão, nenhuma justificativa. E então? E então temos isto: nossos prazeres simples não deveriam estar ligados à algum regime ou à algum esquema, ou, pior que tudo, à um hábito. Além do mais, nossos prazeres simples, como ficar deitado, não deveriam ser negados por alguma coisa exagerada, como riqueza excessiva ou mesmo saúde excessiva. Essas são coisas secundárias. Elas não são coisas primárias. São as coisas primárias que têm sido ignoradas e as coisas secundárias que têm sido enfatizadas totalmente fora de proporção. “Se há alguma coisa pior que o moderno enfraquecimento da moral mais elevada”, diz Chesterton, “é o moderno fortalecimento da moral menos elevada. É dessa maneira que se considera mais desmoralizante acusar um homem de ter mau gosto do que acusar um homem de ser antiético. Polidez não é sinônimo de santidade nos dias atuais, porque a polidez é tida como uma coisa essencial e santidade é tida como algo ofensivo”[3].Chesterton pôde enxergar à um século atrás que o mundo chegaria à um ponto em que fumar um cigarro seria considerado mais ofensivo que praticar um aborto.
E é nesse ensaio que ele explica, quase que como um aparte, que a brancura, assim como a brancura de um teto branco a ser pintado como Michelangelo pôde pintar a Capela Sistina, representa o Paraíso. A brancura, como o Paraíso, significa pureza, e também significa liberdade.
Essa idéia é tão ampla que transborda para outro ensaio, “Um Pedaco de Giz”. Aqui Chesterton descreve como conseguiu fazer algum desenho com seus pedaços de giz, mas estava aflito por ter esquecido seu giz branco. Branco é essencial. Branco é uma cor e não meramente ausência de cor. É uma coisa “brilhante e afirmativa... ela desenha estrelas”. O branco está para a arte assim como a virtude está para a religião. Virtude é uma coisa positiva; não é meramente “a ausência de perigo ou a fuga de perigos morais... Castidade não significa abstenção do que é sexualmente errado; significa algo fulgurante como Joana d”Arc.”
Nesse livro, Chesterton olha para as coisas ordinárias e comuns e nos convida a ver quão extraordinárias e incomuns elas são. As coisas em seus bolsos, os objetos numa estação de trem, as pessoas nas ruas. Com essas coisas simples e aleatórias ele consegue defender o Cristianismo, a Civilização Ocidental e a Democracia. “O que é isso que nós estamos procurando?”, pergunta ele no começo de seu ensaio intitulado “Um Vislumbre do Meu País”. Ele sugere que o que nós estamos buscando está muito próximo de nós; nós simplesmente não conseguimos enxergar. É um tema que perpassa todo o livro e todos os escritos de Chesterton o de que o que aparece como um trunfo é realmente tremendo. No título do ensaio Chesterton cristaliza essa verdade numa frase perfeita que viria a ser escrita nos edifícios e citada por papas: “O mundo não irá perecer por necessidade de milagres, mas sim por falta de milagres”.
[1]Descrição disponível em: http://www.bayeux.com/BooksView.aspx?BookTypeId=1&BookId=72
[2]Revista disponível em: http://www.chesterton.org/tag/gilbert-magazine/
[3] No original: “Cleanliness is not next to godliness nowadays, for cleanliness is made an essential and godliness is regarded as an offence.”
Resenha do livro Tremendous Trifles, por Dale Ahlquist
Disponível no site Chesterton.org
Traduzido por Adam Vieira Santos
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http://chestertonbrasil.blogspot.com.br/2012/08/tremendas-trivialidades.html
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