“Vinde ver”, disse-lhes Jesus. (Jo 1,39)

Ao darmos início a mais um ano eis que se nos apresenta este convite de Jesus, “vinde ver”. São palavras e convite que se dirigem antes de mais aos dois discípulos de João Baptista, que seguem Jesus, depois daquele o ter identificado como o Cordeiro de Deus. Mas são também palavras e convite que se dirigem a cada um de nós, e que podemos assumir como programa de vida neste início de um novo ano.
Convite e programa que nos tocam, que nos sensibilizam, porque Jesus não se faz autoridade, não se reserva, mas oferece-se ao conhecimento, à experiência pessoal na sua intimidade. “Vinde ver”, é o convite que nos deixa.
Um convite que implica a nossa vontade e a nossa acção, uma vez que necessitamos colocar-nos em caminho e em busca, que necessitamos querer e procurar. Jesus está mesmo à nossa frente, tal como estava à frente dos dois discípulos de João que o seguiram, e por vezes volta o rosto no sentido de nos fazer a mesma pergunta, “que buscais”, “que quereis”?
E nós também queremos ver onde mora, onde se encontra, como é possível conhecê-lo, mas para tal temos que estar atentos para escutar a sua pergunta e saber dar uma resposta. Afinal que buscamos e que queremos quando procuramos seguir Jesus, quando nos dispomos a ir ver onde mora?
Os discípulos de João responderam com a consciência que Jesus era um Rabi, um Mestre e por isso queriam ir com ele. E nós como respondemos? Que consciência temos desse Jesus que queremos conhecer, queremos encontrar na intimidade? É um mestre espiritual, uma figura histórica incontornável, um revolucionário para novos tempos, o Messias, o nosso salvador e remédio para os nossos males, o Filho de Deus que nos dá identidade e nos convoca a uma missão?
Um facto que não podemos deixar de ter presente é que a partir da ideia que temos de Jesus, dessa consciência inicial, o caminho que seguimos para o conhecer toma essa mesma direcção. Assim a ideia de um Jesus histórico, figura incontornável, conduz-nos a uma dimensão histórica, talvez até materialista, enquanto que a ideia e consciência de um Jesus filho de Deus que nos filia na divindade nos leva a um compromisso mais vivencial, a uma identificação ontológica que tem inevitavelmente repercussões na nossa vida e na forma como a vivemos.
Para ir ver verdadeiramente onde e como mora Jesus temos assim que partir dessa realidade, e verdade à priori, de que ele é o Filho de Deus feito homem para nos fazer filhos de Deus. A partir daqui a nossa experiência, o nosso ver e viver da intimidade com Jesus, só nos poderá levar a um aprofundamento dessa mesma realidade e a uma maior comunhão nessa identidade que nos é prometida. E consequentemente a um outro estilo e forma de estar na vida e enfrentar os seus desafios.
Aprontemo-nos portanto a seguir Jesus para o conhecer na sua intimidade, munidos apenas com essa bagagem e consciência de que ele é o Filho de Deus, e que a nossa filiação se fortalece e aprofunda na medida da experiência dessa intimidade.

Ilustração: “Jesus a Luz do Mundo”, de William Holman Hunt, Keble College, Oxford.




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