2001 não apela a uma humanidade em mudança através da tecnologia. 2001 não faz parte de uma cultura, vá, cyborg. 2001 não aponta para um futuro pós-humano, no qual o "natural" deixa de ser "natural", no qual o humano é reconstruído ao sabor da tecnologia. A meu ver, o 2001 faz precisamente o apelo contrário: existem coisas que nunca mudarão na natureza humana, até porque existe uma transcendência que é mais alta do que o homem. Provas do meu argumento? Se bem me lembro, os astronautas não se aproximam da máquina, não se aproximam de uma moral pós-humana. É o Hal 9000, o computador, que começa a ter um comportamento humano. Bem humano, aliás. Depois, através do insondável monólito, 2001 apela a um mistério, a uma transcendência que é imutável, que é eterna. Há ali o eterno retorno, e não a mudança tecnológica da humanidade. Não é a última imagem um bebé no útero?
Moral desta história interestelar? 2001 é a tangente que Kubrick fez à ideia de Deus. Não por acaso, o filme foi mal recebido por muitos críticos e intelectuais em 1968. Faz sentido, sim senhor. O relativismo pós-moderno dos nossos dias estava em plena ascensão no final dos anos 60. Muitos consideraram o filme demasiado chato e abstracto (pois, a transcendência tende a ser abstracta; caso contrário, não seria transcendente) e moralmente pretensioso (pois, a ideia de que existe uma moral superior ao eu entrou na categoria de tabu). Tudo óbvio e natural: 2001 deu um certo medinho a quem tem pavor do silêncio do deserto.
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