São Padre Pio de Pietrelcina sobre a Espiritualidade, o Vaticano II e o Novus Ordo Missae

Autor: Fr. Jean, OFM
Original em inglês: Padre Pio on spirituality, Vatican II and the Novus Ordo Missae
Tomado da revista “The Angelus”, de maio de 1999
Tradução: Carlos Wolkartt – christifidei.blogspot.com

1. Introdução
2. Expiação pelos pecadores: provas interiores
3. O Diretor Espiritual
4. Padre Pio e o Novus Ordo Missae
5. Renovação da vida religiosa?
6. Lição final: Fátima

Introdução

Padre Pio (25 de maio de 1887 – 23 de setembro de 1968) foi beatificado em 2 de maio de 1999 [e canonizado em 16 de junho de 2002] pelo Papa João Paulo II. É o único sacerdote, que se conhece, que recebeu todos os estigmas. Ele nunca celebrou o Novus Ordo Missae.


O último ano [daquele] século decadente viu a beatificação de Padre Pio, o santo monge a quem Deus enviou como um sinal dos nossos tempos. Há muitos anos, temos sido levados a acreditar em uma nova igreja “carismática”, estranha, na qual não encontramos nenhum santo que opera maravilhas, como aqueles que conhecemos em toda a história da Igreja, desde Pentecostes. Padre Pio parece ser o mais próximo a essa procissão de santos, com um labor magnífico, sendo o único sacerdote que recebeu os estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo.
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Muito se tem escrito acerca de Padre Pio – mais de 600 trabalhos –, e os autores sempre enfatizam o lado extraordinário de sua vida. Não só por seus carismas particulares (a leitura das almas, a cura, a bilocação, os êxtases, a liberação de um odor particularmente agradável, a profecia, etc.), mas também por seus incríveis sofrimentos que lhe acompanharam desde sua tenra idade, as perseguições que sofreu por parte de muitos homens da Igreja e, inclusive, seus irmãos de Ordem, assim como suas duas notáveis obras de caridade: a fundação da “Casa Alívio do Sofrimento” e seus grupos de oração.

Em resumo, Padre Pio se apresenta para nós como um santo mais digno de admiração que de imitação. Há muito para se aprender com a vida de Padre Pio, e trataremos, portanto, de suscitar algumas destas lições, na esperança de que todos possam obter delas um benefício, e que Padre Pio, do alto dos céus, nos socorra a todos, como ele mesmo prometeu àqueles que quiseram ser parte de seus “filhos espirituais”.

A aurora desta vida, totalmente consagrada a Deus e às almas, se deu em uma família devota e numerosa, onde a dedicação de cada membro suavizava e transformava a áspera vida diária. Aqui podemos ver a confirmação das palavras ditas pelo Bispo de Ségur: “É nas famílias com ausência de espírito de sacrifício onde as vocações estão em risco de se perderem”. Batizado um dia depois de seu nascimento, uma graça a qual ele foi grato por toda a vida, Padre Pio foi cristianizado com o nome de Francesco, prenúncio de sua vocação franciscana, a qual descobriu quando um monge capuchino visitou a sua família com o propósito de pedir alimentos para o convento. Naquela época, sua vocação ainda não estava decidida, mas ele já sentia os conflitos internos:

“Sinto duas forças que chocam dentro de mim, rasgando meu coração: o mundo me quer para ele, e Deus me chama a uma nova vida. Seria impossível descrever este martírio. Eu só posso dizer que esta batalha interna congela o sangue em minhas veias...”.

Não tinha completado os 16 anos quando entrou como noviço na Ordem dos Frades Menores Capuchinos. Na porta do claustro, como boas-vindas, lia-se em um letreiro: “Faz penitência ou morre”. A regra incluía muita oração diária, trabalho suficiente, e pouca leitura, especialmente restringindo o estudo à Regra e às Constituições.

No Irmão Pio era visível a abundância de lágrimas que derramava durante o período de oração mental matutina, a qual, nas casas Capuchinas, é dedicada à meditação sobre a Paixão. Suas lágrimas eram tão abundantes que era necessário colocar toalhas na sua frente, no chão do coro. Como em São Francisco de Assis, foi sua contemplação amorosa e compassiva em Jesus crucificado que lhe fez ganhar a graça de receber mais tarde os dolorosos estigmas em seu corpo. Mesmo assim, ele confiou a seu diretor espiritual, Fr. Agostino:

“Em comparação com o sofrimento de minha carne, as batalhas espirituais que me flagelam são muito piores”.

Expiação pelos pecadores: provas interiores

Parece que Deus espera que os justos expiem de uma forma muito especial as tentações e os pecados públicos de seus contemporâneos. Na época da psicanálise, com sua pretensão de explicar tudo através da culpa e das falhas, e ganhando terreno, Padre Pio, assim como a pequena Teresa, sofria uma crise, quase insuportável, de dúvida, a qual o atormentou por quase três anos. Então, depois da tempestade veio a noite, uma noite da alma que durou dezenas de anos, com ocasiões de leves brilhos de luz:

“Vivo em uma perpétua noite... me encontro atormentado por tudo, e não sei se estou agindo bem ou mal. Dou-me conta que não é uma simples apreensão: mas que, a opressiva dúvida que sinto, é saber se estou agradando ao Senhor. E esta ansiedade me atinge por todos os lados: no altar, no confessionário, em todo o lugar!”.

Devemos ter em mente suas experiências místicas para meditarmos suas máximas:

“O amor é mais belo na companhia do temor, pois desta maneira se fortalece”. “Quanto mais se ama a Deus, menos se sente uno!”.

Santa Teresa do Menino Jesus se opôs ao presunçoso racionalismo de seu tempo, por meio de sua espiritualidade inocente, mas também através da expiação das terríveis tentações contra a fé. Seu clamor: “Creiam!”, é bem conhecido. Padre Pio também experimentou violentas e prolongadas tentações contra a fé. Suas cartas a Fr. Agostino testificam:

“Blasfêmias cruzam incessantemente minha mente, e mais ainda, falsas ideias, ideias de infidelidade e incredulidade. Sinto que minha alma é traspassada a cada instante de minha vida; me sufoca... Minha fé é sustentada só por um esforço constante de minha vontade contra qualquer persuasão humana. Minha fé só é fruto dos contínuos e árduos esforços que extraio do meu ser. E tudo isto, Padre, não é algo que sucede algumas vezes ao dia, mas é incessante... Padre, quão difícil és crer!”.

Que preciosas lições devem ser para nós, por exemplo, ser surpreendido e encontrar-se tentado a tal ponto.

O Diretor Espiritual


Padre Pio saiu vitorioso destas terríveis provas, pondo em prática o que lhe foi ensinado durante seu noviciado: a perseverança na oração, a mortificação dos sentidos, uma firme fidelidade às obrigações de seu estado e, finalmente, uma perfeita obediência ao sacerdote encarregado de sua alma. Sua experiência dolorosamente adquirida lhe permitiu guiar a outras almas ao desejo da perfeição.

Às almas que ele dirigia, ditou uma regra de cinco pontos:

1. Confissão semanal
2. Comunhão diária
3. Leituras espirituais
4. Exame de consciência todas as noites
5. Oração mental duas vezes ao dia

Em relação ao Rosário, dizia que era muito necessário, e além disso, falava frequentemente:

“A confissão é o banho da alma, e deve ser feita pelo menos uma vez por semana. Não quero que as almas permaneçam sem confessar-se por mais de uma semana. Mesmo uma casa vazia e desocupada acumula pó; a cada semana, verão que necessitam tirar o pó novamente”.

Àqueles que se consideravam indignos de receber a santa Comunhão, respondeu:

“É muito certo, não somos dignos de tal dádiva. Sem embargo, uma coisa é aproximar-se do Santíssimo Sacramento em estado de pecado mortal, e outra muito diferente é considerar-se indigno. Todos somos indignos, porém é Ele quem nos convida, é Ele quem nos deseja. Sejamos humildes e recebamo-lo com o coração contrito e pleno de amor”.

A outros, que lhe diziam ser o exame de consciência diário uma coisa inútil, pois suas consciências lhes mostravam a cada momento que ação era boa ou má, disse-lhes:

“Isto é muito certo. Porém, todo o comerciante experiente deste mundo não só verifica o que perdeu ou ganhou na ganância de suas vendas, mas, ao fim do dia, também realiza um balanço total para determinar o que deve fazer no futuro. Segue-se que é indispensável a realização de um exame rigoroso de consciência, breve e claro, todas as noites. O danos às almas que vêm da falta de leituras virtuosas, me faz estremecer... Que poder espiritual tem a leitura para transformar vidas e inclusive fazer que as pessoas mundanas entrem no caminho da perfeição!”.

Quando Padre Pio foi condenado a não exercer qualquer ministério, ele passava seu tempo livre, não lendo diários de notícia, os quais ele chamava de “o evangelho do Diabo”, mas lendo livros de doutrina, história e espiritualidade. Apesar disso, dizia:

“Uma busca a Deus nos livros... mas a Ele, encontramos mediante a oração”.

Seus conselhos para a oração mental eram muito simples:

“Se não lograr uma meditação exitosa, não se renda nem abandone esta prática. Se são muitas as distrações, não desanime, faça a meditação da paciência, que ainda será proveitosa. Decida a duração de sua meditação e não se levante até terminá-la, até mesmo se lhe espera sua crucifixão... Por que me preocupo tanto com aqueles que não sabem meditar corretamente? A meditação é um meio de unir-se a Deus, mas não é o objetivo em si mesma. A meditação ajuda no amor a Deus e ao próximo. Ame a Deus com toda a sua alma e sem reservas, e ame a seu próximo como a ti mesmo, e isto representará a metade de sua meditação”.

O mesmo se pode dizer a respeito do Santo Sacrifício da Missa: se trata mais de atos, de contrição, de fé, de amor, que de reflexões ou considerações intelectuais. Alguém perguntou se era necessário acompanhar a missa com o missal, e Padre Pio contestou dizendo que só o sacerdote necessita do missal e, segundo ele, a melhor forma de assistir o santo sacrifício é unir-se à Virgem Dolorosa, aos pés da Cruz, com amor e compaixão. Só no paraíso, assegura a seu interlocutor, compreenderemos todos os benefícios que recebemos por assistir a Santa Missa.

Padre Pio, que era muito cordial e agradável quando tratava as pessoas, tornava-se muito severo e inflexível quando a honra de Deus estava em jogo, especialmente na igreja:

“O cochicho dos fiéis era aplacado com um severo ato de autoridade do Padre, que abertamente mirava a quem não conservava uma postura adequada... Se alguém permanecia parado, de pé, mesmo por falta de espaço nos bancos, ele imperiosamente convidava a ajoelhar-se para assistir dignamente o Santo Sacrifício da Missa”.

Nem mesmo um distraído menino do coro lhe passava despercebido:

“Meu filho, se queres ir ao inferno, podes ir sem minha permissão”.

As modas pós-guerra passavam pela mesma censura:

Padre Pio, sentado em um confessionário aberto, não permitia que nenhuma mulher ou moça se apresentasse com uma saia curta. Algumas vezes, fazia com que algumas caíssem em pranto, porque apesar de haverem esperado horas na fila, ele as rejeitava por estarem vestidas inapropriadamente. Então, algumas almas altruístas ofereciam ajuda, proporcionando às penitentes um casaco comprido, ou o que necessitassem, e finalmente – se o Padre permitisse – a penitente se confessava.

Quando seu diretor espiritual reprovou esta dureza em sua conduta, ele replicou:

“Poderia obedecer-lhe, mas todas as vezes é Jesus quem me diz como devo tratar essas pessoas”.

Sua severidade, então, era uma inspiração superior, unicamente para a honra de Deus e a salvação das almas.

“Uma mulher que satisfaz sua vaidade na vestimenta nunca poderá pôr sua vida em Jesus Cristo, mais ainda, ela perde os ornamentos de sua alma imediatamente quando este ídolo entra em seu coração”.

E não permitia que ninguém lhe fizesse recriminações em nome da caridade:

“Rogo-lhe que não me reproves em nome da caridade, porque a maior caridade é aquela que liberta as almas das garras de Satanás, com o fim de ganha-las para Cristo”.

Padre Pio e o Novus Ordo Missae


Padre Pio foi modelo de respeito e submissão a seus superiores eclesiásticos, especialmente durante o tempo em que foi perseguido. Não obstante, não pôde permanecer em silencio acerca dos desvios fatais que estavam ocorrendo na Igreja. Pouco antes do término do Concílio, em fevereiro de 1965, alguém lhe informou que em breve teria que celebrar a Missa de acordo com um novo rito, ad experimentum, não mais em latim, que havia sido projetado por uma Comissão Conciliar Litúrgica com o fim de responder às aspirações do homem moderno. Imediatamente, antes mesmo de conhecer o rito, escreveu a Paulo VI para pedir-lhe dispensa deste experimento litúrgico, e para poder seguir celebrando unicamente a Missa de São Pio V. Quando o Cardeal Bacci foi vê-lo, com o fim de outorgar-lhe esta autorização, Padre Pio deixou escapar uma queixa na presença do mensageiro papal:

“Por compaixão, terminem rapidamente o Concílio”.

No mesmo ano, durante a euforia conciliar que prometia uma nova primavera na Igreja, Padre Pio confiou a um de seus filhos espirituais:

“Nesta época de obscuridade, rezemos. Façamos penitência pelos que foram eleitos”.

E especialmente o fez por quem é nosso pastor, aqui embaixo:

“Toda a sua vida [de Padre Pio] foi uma imolação pelo Papa reinante, cuja fotografia estava entre as pequenas imagens que decoravam sua cela”.

Renovação da vida religiosa?

Há outras cenas da vida de Padre Pio muito significativas, por exemplo, suas reações ao “aggiornamento” das ordens religiosas projetadas a partir do Vaticano II. As palavras que seguem fazem parte de um livro que contém um Imprimatur:

“Em 1966, o Superior Geral (dos Franciscanos) veio de Roma antes de um Capítulo extraordinário sobre as Constituições, com o objetivo de pedir a Padre Pio suas orações e bênçãos. Reuniu-se com o Padre no claustro. ‘Padre, vim para encomendar que em suas orações, lembres o Capítulo especial para as novas Constituições...’. Quando ouviu ‘Capítulo especial’ e ‘novas Constituições’, Padre Pio, com um violento gesto, disse em voz alta: ‘Tudo isso não é senão bobagens destrutivas’. ‘Mas Padre, afinal de contas, devemos considerar as gerações mais jovens... os jovens evoluíram a sua própria maneira... existem novos requerimentos...’. ‘Os únicos que estão sendo ignorados é a mente e o coração. Isto é tudo, entendimento e amor’. Então, dirigindo-se à sua cela, deu meia volta e se foi, apontando com um dedo e dizendo: ‘Não devemos desfigurar-nos a nós mesmos, não devemos desfigurar-nos a nós mesmos! No dia do Juízo do Senhor, São Francisco não nos reconhecerá como seus filhos!”.

Um ano depois, apresentou a mesma severidade com o “aggiornamento” dos Capuchinos:

“Um dia, alguns companheiros se encontravam discutindo com o Padre Superior Geral, Conselheiro ou Assessor Geral ou Provincial da Ordem Religiosa, sobre os problemas da Ordem, quando Padre Pio, energicamente, disse em voz alta e com o olhar enfocado na distância: ‘O que trazem de Roma? O que estão tramando? Vocês estão mesmo empenhados em mudar a Regra de São Francisco!’. O Superior replicou: ‘Padre, as mudanças estão sendo propostas porque os jovens não querem mais saber de tonsuras, hábitos, pés descalços...’.

‘Mande-os para fora! Jogue-os fora! Que é isso que estás dizendo? São eles que fazem um favor a São Francisco tomando o hábito e seguindo seu modo de vida, ou é São Francisco que lhes oferece um grande presente?’”.

Se considerarmos que Padre Pio era um alter Christus comprovado, que toda a sua pessoa, corpo e alma, estava perfeitamente conformada, tanto como era possível, ao modo de Jesus Cristo – sua integral rejeição ao Novus Ordo e ao Aggiornamento deve ser uma lição que devemos aprender – é também notável que o bom Senhor decidiu chamar o Seu fiel servo justamente antes de imporem as novidades na Igreja e na Ordem Capuchina. É também notável que Katharina Tangari, uma das mais privilegiadas filhas espirituais de Padre Pio, admiravelmente apoiou os sacerdotes tradicionais de Ecône, até sua morte, ocorrida em 1988.

Lição final: Fátima

Padre Pio tinha uma aversão significativa à prevalecente ordem social e política, melhor dizendo, desordem, e em 1966 diria algo a respeito:

“Confusão de ideias e reino de ladrões”.

E profetizou que os comunistas tomariam o poder:

“... surpreendentemente, sem disparar uma só bala... sucederá durante a noite”.

Isto não nos deve surpreender, já que as ordens de Nossa Senhora de Fátima não foram ouvidas. Inclusive, disse ao Bispo Piccinelli que a bandeira vermelha voaria sobre o Vaticano, “mas que seria passageiro”, e sua conclusão aqui novamente é consistente com a da Rainha dos Profetas: “Porém, ao final, meu Coração Imaculado triunfará”. O meio pelo qual esta profecia será passageira, sabemos que é o poder divino, sem falar nos poderes que estão nas mãos do homem: a oração e a penitência. Esta é a lição que Nossa Senhora quis nos recordar no início do século XX: Deus deseja salvar o mundo por meio da devoção ao Imaculado Coração de Maria, e não existe dificuldade, material ou espiritual, nacional ou internacional, que não pode ser solucionada por meio do Santo Rosário e dos nossos sacrifícios.

Esta é também a última lição que Padre Pio quis que aprendêssemos com seu exemplo, e especialmente por meio de seus “grupos de oração”, os quais estabeleceu em todo o mundo.

“Nunca havia ficado sem um rosário por perto, e ainda havia outro debaixo de seu travesseiro. Durante o dia, ele rezava dezenas de rosários”.

Poucas horas antes de morrer, os que estavam ao seu redor lhe pediram que dissesse suas últimas palavras. O que se pôde ouvir foi:

“Amem a Santíssima Virgem e façam que a amem. Sempre rezem o Rosário!”.

Aproveitamos esta oportunidade para recordarmos a todos estas lições e, é claro, para que ponhamo-las em prática em nossa própria vida, no amor misericordioso dos Santíssimos Corações de Jesus e Maria.

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