Ele não suprimiu o amor que devemos ter por nossos pais, por uma esposa ou filhos, mas apenas estabeleceu uma ordem entre eles. É o que a Igreja declara no Cântico dos Cânticos: Ele ordenou em mim a caridade (Ct 2, 4).
Ama teu pai, mas ama de preferência o teu Senhor; ama quem te deu à luz, mas ama ainda mais quem te deu o ser. Teu pai te gerou, mas não foi ele quem formou teus membros. Teu pai te alimentou; mas, sozinho, não teria sabido onde conseguir o pão que te dava. Enfim, quanto aos bens que teu pai te destina, é preciso que ele se vá, para que possas herdá-los e assim, por sua morte, te ceda o lugar nesta vida; mas os bens que Deus te reserva, ele os guarda consigo: possuirás a herança junto com ele próprio; não terás de esperar que ele se vá para então suceder-lhe, mas te unirás a ele para ficares sempre com ele. Ama, portanto, teu pai, mas guarda-te de preferi-lo a Deus. Ama tua mãe, mas guarda-te de preferi-la à Igreja, que te gerou para a vida eterna.
Em síntese, pelo amor que sentes por teus pais, mede o que deves a Deus e à Igreja. Com efeito, se deves tanto reconhecimento aos que te geraram para morrer, qual não será nosso amor para com aqueles que nos geraram para chegar à eternidade. Ama teu esposo, ama teus filhos, conforme Deus, a fim de levá-los contigo a honrar a Deus, que, reunindo-vos em seu seio, não mais permitirá que vos separeis. Portanto, não se deve amar os pais mais que a Deus; e não se preocupar em conduzi-los a Deus é amá-los pessimamente".
Santo Agostinho
Sermão 344, 2
(Patrologia Latina 39, 1512 )
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Pelo amor que sentes por teus pais, mede o que deves a Deus e à Igreja
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