O homem medieval exibia uma ‘movimentação” intelectual e religiosa que se devia a alguns fatos:
Em primeiro lugar, a vitalidade do homem medieval era muito mais exuberante.
Em segundo lugar, o homem medieval tinha mentalidade e ideias. Quando se tem mentalidade e ideias é possível mudar-se de uma para outra.
Hoje, pelo contrário, há exatamente uma carência de idéias.
Sobretudo o que há é que o homem contemporâneo é de uma dureza de coração, especialmente no que diz respeito ao bem. Ele absolutamente não muda. As manifestações de virtude mais palpáveis não o comovem.
Podemos ter o exemplo disto em torno de nós.
Por vezes, pessoas que não fazem mal a ninguém e que dão a todos o exemplo da virtude, bons filhos, bons irmãos, procedem bem em todas as coisas mas não obtêm a simpatia de ninguém.
Qual a razão disto? Endurecimento... O espetáculo da virtude não comove, não impressiona; a virtude não é simpática, não atrai nenhuma espécie de simpatia.
Outro motivo de endurecimento de alma: o mito do “cidadão maior” e independente
Isto se prende também ao mito do “cidadão maior”, investido em todos os seus direitos civis. A primeira coisa que este cidadão pseudo-livre precisa ter é que ninguém mexa em sua cabeça. Ele é inteiramente independente. Ele tem uma idéia e não muda; toma uma atitude e não liga para ninguém.
Agora, por que ele é independente senão para ser burro sozinho, para ser um celerado sozinho? Ele tem sua independência, ele a mantém.
Resultado: a voz da graça lhe fala e encontra fechadas as portas de seu coração! Ele absolutamente não se comove.
Cristãos contra mouros. Cantigas de Santa Maria, El Escorial. |
Pelo contrário, na Idade Média encontramos a possibilidade de ressonância da voz da Igreja, como também da voz do passado, de um modo prodigioso.
É curioso ver como os bons exemplos, como certas situações, como certas crises sociais, impressionavam. E não era só o bom exemplo do rei. Era o bom exemplo dado por qualquer um.
Exemplos:
– As Cruzadas, em grande parte, foram determinadas pelo contágio de alguns bons exemplos.
– São Bernardo, quando entrou para o convento de Cister, levou consigo, de uma vez, cerca de vinte ou trinta cavaleiros.
Por toda parte notamos que um, tomando uma posição, uma porção de outros se impressionam e seguem, porque seguir não era uma vergonha.
Foi preciso chegarmos ao século XX para se decretar que seguir é uma vergonha.
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Diferenças na movimentação do homem contemporâneo e o medieval
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