Aqui vai o terceiro grupo de perguntas do questionário do Sínodo sobre a Família...
QUESTIONÁRIO (III)
Grupo 3. A pastoral da família no contexto da evangelização
a) Quais foram as experiências que surgiram nas últimas décadas em ordem à preparação para o matrimónio? Como se procurou estimular a tarefa de evangelização dos esposos e da família? De que modo promover a consciência da família como "Igreja doméstica"?
- As experiências que surgiram nas últimas décadas como preparação para o matrimónio estão relacionadas com os vários cursos de preparação para o matrimónio (CPM's); a constituição de várias equipas de casais do movimento das Equipas de Casais de Nossa Senhora; algumas conferências/debates diocesanos e paroquiais sobre o matrimónio e a família. Penso que a este nível até têm surgido muitas actividades, resta saber se foram eficazes, porém, temos que se justos ao ponto de considerar que devem ter serviço para que muitos homens e mulheres se empenhassem verdadeiramente na edificação de uma família feliz. Tem sido um esforço muito grande para chamar e apelar as pessoas a tomarem conta do que implica a constituição de uma família.
Será necessário insistir e valorizar ainda mais a família como «Igreja doméstica». As reticências, do pulsar da vida actual é muito grande a tudo o que seja informação e prática religiosa relacionada com este tema. Obviamente, que não podemos desistir face a este desafio, mais ainda, temos que insistir com elevação diante de cada casal que «ainda» procura celebrar o seu matrimónio na Igreja e pela Igreja. Com eles cabe-nos esclarecer e alertar para a sua função na Igreja e no mundo. Também a esse nível não bastará anunciar e alertar, era bom que a Igreja propusesse formas de levar à prática esta bonita expressa «a família é a Igreja doméstica», para que vá muito mais além do que é bonito, senão não passa de um singelo cliché.
b) Conseguiu-se propor estilos de oração em família, capazes de resistir à complexidade da vida e da cultural contemporânea?
- A oração em família nos últimos anos passou por uma crise muito grande. Não terá sido por falta de apelos dos pastores da Igreja. Mas a vida e a cultura dos tempos de hoje fizeram com que as famílias perdessem o momento da oração como valor essencial, que contribuía para estarem juntos e interiorizarem a vida em comum união. A televisão e a internet provavelmente serão as principais causas desta perda. Tudo o que a sociedade foi criando foi proporcionando o individualmente exacerbado e cruel. As pessoas deixaram de estar juntas, para fazerem tudo individualmente. Quem sabe se até não rezam mais, mas fazem-no cada um por si pela televisão, pela internet, sem ser em família ou em comunidade. Os crentes são imensos, mas cada um por si individualmente sem a dimensão da comum união. Daí a desgraça de tudo o que implique ser-com-os-outros.
c) Na actual situação de crise entre as gerações, como as famílias cristãs souberam realizar a própria vocação de transmissão da fé?
- Uma pergunta interessante. Penso que o fazem ainda procurando a celebração de alguns sacramentos, nomeadamente o Baptismo e a Primeira Comunhão. Tendo em conta que estes sacramentos são feitos na fase da infância, os corações ainda estão puros ou seja não estão contaminados com as coisas deste mundo e da vida, assim sendo, tal momento da fase do crescimento permite que acolham as sementes da fé e assim elas cresçam imbuídas com alguns valores e princípios cristãos que mais tarde darão os seus frutos em momentos cruciais da existência.
d) De que modo as Igrejas locais e os movimentos de espiritualidade familiar souberam criar percursos exemplares?
- Felizmente, ainda vai havendo oásis interessantes no âmbito da família. Ainda podemos ver famílias que tendo os filhos ainda na fase da infância participam na vida das comunidades. A catequese estruturada em função das celebrações eucarísticas ainda permite que algumas famílias participem de forma exemplar. Por isso, considero que a catequese escolarizada ou como mais um momento tipo aula no horário escolar está a formar pessoas cristãs, mas desenraizada das suas comunidades paroquiais.
A este nível do testemunho, também me parece que muitas equipais de casais de Nossa Senhora estão a dar um grande contributo para viverem a espiritualidade cristã-católica de forma exemplar. O seu testemunho é imprescindível.
e) Qual é a contribuição específica que casais e famílias conseguiram oferecer, em ordem à difusão de uma visão integral do casal e da família cristã, hoje credível?
- Penso que esta contribuição terá sido dada pelos imensos casais que somam alguns anos de vida matrimonial. Foram persistentes, pacientes, perdoaram-se e compreenderam-se. Estes valores foram eficazes para que pudessem hoje muitos deles estarem a celebrar as suas bodas de prata e de ouro. Quando lhes perguntamos pelo segredo de tanta longevidade ou como foi possível estarem tantos anos juntos, apontam precisamente estes valores.
Neste sentido, seria interessante inventar formas e dinâmicas catequéticas que naquela fase da infância, quando ainda têm entusiasmo pela catequese e pelo Sacramento da Primeira Comunhão, as crianças aprendessem o que significam estes três verbos: compreender, perdoar, aceitar…
f) Que atenção pastoral a Igreja mostrou para sustentar o caminho dos casais em formação e dos casais em crise?
- A inquietação da Igreja em relação aos casais em formação parece-me ter sido grande. Nunca foi difícil apontar as razões da recusa dos casais em fazerem formação e mais ainda não tem sido difícil fazer o diagnóstico da crise que afecta tantos casais e famílias. Pior tem sido apontar soluções ou propostas para que os casais se sintam ajudados a superar as suas dificuldades e problemas.
Ao nível da formação a Igreja pode a meu ver mudar um pouco a linguagem, tornar-se mais de acordo com o pensar da mentalidade dos nossos dias. Deve também perder a obsessão da sexualidade, porque muitas vezes se fala do que não se sabe e até do que não está de acordo com os estudos científicos que a toda a hora vão marcando o passo das pessoas na actualidade. Muitas vezes a este nível algumas pessoas da Igreja continuam com a mesma linguagem, o mesmo pensar de há muitos anos, quando todas as pessoas há muito que deram o passo. As crianças por causa do que as rodeia ao nível da facilidade da circulação da informação às vezes sabem mais da vida a este nível que toma de vergonha alguns adultos.
O outro aspecto, prende-se com a contracepção. O diálogo e o debate muitas vezes emperram precisamente aqui. A Igreja terá de apresentar-se aos casais com uma linguagem positiva longe do moralismo impraticável e aberta à compreensão da vontade de cada pessoa individualmente e de acordo com o querer e a opção de cada casal.
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