Uma Igreja no Exílio: Há trinta anos, em Campos (IV): A versão de Dom Navarro.

Uma Igreja no Exílio: Há trinta anos, em Campos (IV): A versão de Dom Navarro.:

“Pai, perdoa-lhes!”.


Por Dom Carlos Alberto Navarro, 10 de julho de 1988











Duas tendências destroem a Igreja, após o Concílio Vaticano II: o “progressismo” e o “conservadorismo”. Quem fez tal afirmação, recentemente, foi o Papa João Paulo II. Tratemos, agora, apenas da segunda corrente.


Dois meses e meio após minha tomada de posse em Campos, e depois de ter visitado todas as paróquias, reuni todos os sacerdotes, e disse aos autodenominados “tradicionalistas”: “Padres, eu acabo de chegar a esta Diocese! Não tive nem tempo de ofender a vocês! Por que é que eu fui tão mal recebido assim, e maltratado, ao percorrer as Matrizes?”.


(E quem não se recorda, aliás, daqueles escândalos que foram manchetes nacionais: pancadaria dentro das igrejas, gritos, faixas, saídas precipitadas, ameaças de morte e de derramamento de sangue, etc… etc…?)


Um desses padres respondeu muito espontaneamente e, talvez, entendendo a injustiça que tinham praticado:


“Não, Senhor Bispo. Aquelas manifestações não foram contra o Sr., enquanto pessoa particular. Qualquer novo bispo que viesse para cá, a fim de fazer cumprir o Concílio Vaticano II, seria recebido dessa maneira!”


E, agora, eu pergunto: Por acaso eles esperavam um bispo que viesse negar, combater e destruir o Concílio, que é um novo pentecostes com que Deus enriqueceu Sua Igreja, no Século XX?


Hoje, sou eu quem se surpreende com a perturbação e o espanto de certas pessoas de nossa comunidade, ao verem até que ponto chegou o orgulho e a desobediência dos “tradicionalistas”. Por acaso – eu me pergunto – não se sobressaltaram, quando, desde a primeira semana, eu, sendo o novo bispo indicado pelo Sucessor de Pedro e pelo Espírito Santo, fui injuriado, afrontado, desprezado, reprovado, condenado, ultrajado, vilipendiado? Quem ficou cego até agora nunca mais vai enxergar!


Basta relembrar a minha tomada de posse, em frente à Catedral! O ato não foi durante a Missa, pois esta era refutada, ao menos, como suspeita de heresia! Mocinhas e senhoras idosas alfinetavam as pessoas do sexo feminino que desejavam entrar no templo, quando eram julgadas como “indecentemente” vestidas. Os padres tradicionalistas teatralizaram uma “Promessa de Obediência”, com genuflexões e beijos no anel do novo bispo, mas, jamais obedeceram ao pastor, em nada.


E, agora, continuam os despropósitos. Advertem que não aceitam a punição. (Como se ela dependesse da aceitação ou não deles!) Propalam que a excomunhão é inválida (Eles têm mais poder que o Papa!); que é falsa a argumentação da Igreja (Só eles têm a verdade.) Comparam o Santo Padre a Nero e a Pilatos. (Sem comentário!). Asseveram que Dom Léfèbvre negou a autoridade do Papa, “mas não tinha a finalidade de negar” (Entenda-se!); procuram alguém que possa lançar a pena de excomunhão sobre o Papa (Enlouqueceram?); asseguram que não estão atemorizados e que nada se alterou no campo deles (É pena, pois, assim, estão longe da conversão!); João Paulo II é acusado de ser escandaloso, de passear pelo mundo e participar de ritos satânicos (Jesus também foi chamado de beberrão e de satanás por Seus inimigos). Paremos por aqui…


O Documento da Santa Sé, do qual constam as excomunhões, previne: aqueles que continuarem seguindo o bispo rebelde correm o risco de ser excomungados.


Realmente, não há nada a festejar, com alegria, numa morte, numa separação ou divórcio! Nem também, nunca, na Igreja, alguém celebrou uma excomunhão.


Só Jesus, na Cruz, entendeu perfeitamente o mistério do pecado, por isso, cheio de misericórdia, exclamou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!” (Lc. 23,34). Como Maria, seja esta também nossa oração!


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