O despreparo dos católicos midiáticos Pe. Zezinho SCJ

Ficaram no passado os dias em que era punido com banimento e até com a morte quem desse opinião contrária aos detentores do poder na Igreja. Embora, por questão de unidade e disciplina, ainda se exige fidelidade e cuidado no que se diz, a Igreja católica é muito mais democrática do que muitos regimes que assim se intitulam. Começa com o fato de que o papa é eleito sem campanha. Este, sim, acaba obediente à Igreja pro decisão do coletivo dos cardeais. Cremos que Deus age nesta escolha. Pelo que sei ninguém há séculos fez campanha para ser eleito. Se fez, foi ignorado.


O nome “católico” subentende inclusão, abrangência, para todos. Por isso, na mesma igreja e no mesmo país, podem pregar, publicar, escrever e manter programas de rádio e de televisão, católicos das mais diversas correntes e posturas pastorais. Se não negarem os nossos dogmas, que, diga-se de passagem, -disfarçado com outros nomes, todo partido, todo sistema econômico e político tem – os católicos podem opinar e até mesmo divergir. Mas há uma unidade que não pode ser quebrada, temas com os quais não se brinca. Ou se aceita e se ensina como está nos documentos oficiais, ou o pregador e o grupo acabam fora do catolicismo.


Por isso, comungo com irmãos e irmãs que acham que se deve exigir dos catequistas que falam para milhões de pessoas na mídia, sobretudo rádio e televisão, preparo melhor do que possuem muitos de agora. Na fala de alguns é gritante o despreparo em termos de catecismo, teologia moral, liturgia, teologia dogmática, história da Igreja e documentos oficiais. Simplesmente não lêem. Não faz muito tempo, um pregador garantia que o anticristo está agindo na Igreja e que já estamos molhados da sua chuva. Certamente não se referia ao seu grupo que, segundo ele, fora chamado a combatê-lo e silenciá-lo. O tom era moralista e excludente.


Soubesse ele e soubessem os católicos um pouco mais sobre milenarismo e quiliasmo, Joaquim de Flora, penitentes, fraticelli, flagelantes, Pedro de Masserata, Pedro de Fossombrone e de como esta pregação urgente e imediatista sacudiu os começos do século 13, tomariam mais cuidado. Tal pregação, por ser urgentíssima e radical demais, por apontar o dedo contra os outros católicos mais moderados matou muita gente e feriu muitas dioceses. Literalmente, cindiu a Igreja. Começou com ares de santidade radical e terminou em intolerância de ambos os lados.


Pregadores mais prudentes e mais informados talvez evitassem tais exageros estilo Montano ou Pedro de Masserata. Sou dos que sugerem que a nenhum católico seja permitido falar a milhões de outros católicos sem um curso de, no mínimo, dois anos catequese que inclua história das heresias e, no caso dos sacerdotes, filosofia, teologia e história da Igreja, e umas dez ou doze matérias, com aproveitamento comprovado. Que se examine sua abertura e capacidade de abrangência, já que falarão a milhões de almas e não podem pensar que todo mundo tem que pensar, cantar e celebrar do jeito deles.


Você aceitaria ser orientado por um psicólogo que não estudou psicologia e ser tratado e operado por um medico que fez apenas alguns cursos de primeiros socorros? Há um mínimo de conhecimento que todos os países sérios exigem dos seus especialistas e porta-vozes. A Igreja deveria fazer o mesmo. Um curso de comunicação deveria desafiá-los, por melhores que sejam diante de um microfone ou de duas câmeras. Desempenho cênico não é o mesmo que preparo cultural! Não teriam que ser doutores. Bastaria que fossem bons e assíduos leitores e não apenas de publicações do seu grupo de fé! A Igreja é mais do que um grupo ou uma linha! E toda a catequese deveria começar por esta abertura!



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