“De Nazaré pode vir alguma coisa boa”, perguntou Natanael. (Jo 1,46)

Tal como André foi contar a seu irmão Simão que tinha encontrado o Messias, também Filipe foi contar a Natanael. Há um passa palavra no chamamento dos primeiros discípulos de Jesus segundo o Evangelho de São João.
Natanael ao ouvir de Filipe que tinham encontrado aquele de quem estava escrito na Lei e nos Profetas coloca uma questão que podemos à primeira vista perceber como eivada de um preconceito. Afinal o que podia vir de Nazaré e quem era aquele Jesus senão o filho de José?
O preconceito de Natanael relativamente a Nazaré prende-se com o seu conhecimento da Lei e dos Profetas, à luz dos quais ele sabia que o Messias não proviria de Nazaré mas da cidade de David, de Belém. Havia ali portanto algo de errado na afirmação que Filipe tinha feito.
Por outro lado, aquele que Filipe apresentava como o Messias não era mais que o filho de José, o filho do carpinteiro de Nazaré, um homem sem qualquer poder, sem qualquer estatuto para poder ser o pai do libertador de Israel, do novo rei e messias prometido. Portanto, mais saía reforçada a sua desconfiança.
Contudo, e apesar desta resposta, Filipe não desiste e convida Natanael a ir ver com os seus próprios olhos, a encontrar-se com aquele que lhe originava tantas reticências. Ora, é esta atitude que muitas vezes nos falta a nós quando encontramos alguém que se coloca reticente face à pessoa de Jesus, que manifesta os seus preconceitos face a Jesus.
E esta atitude diligente de Filipe ganha ainda maior significado na medida em que descobrimos que no encontro de Natanael com Jesus há um ver prévio que transforma o encontro e a visão. Jesus já tinha visto Natanael debaixo da figueira, ou seja, já o conhecia nas suas aspirações e dúvidas e por isso pode proporcionar-lhe uma outra visão para além daquela que é a imediata.
Uma vez mais jogamos com o mistério da encarnação, da descida de Deus até aos homens, pois neste caso Deus vem ao encontro da nossa visão com a visão que tem de nós próprios e das nossas interrogações e buscas. Deus revela-se às nossas aspirações e desejos de o ver.
E por isso é que Jesus diz a Natanael que verá os anjos subindo e descendo sobre o filho do homem, verá afinal aquela que era a sua aspiração mais íntima, que era o cumprimento das promessas feitas na Lei e nos Profetas. A imagem do sonho de Jacob, do céu aberto aos homens, que era também o seu sonho, estava ali à mão de ver realizado.
Procuremos pois alimentar as nossas aspirações e desejos de ver Jesus, porque na medida dessas aspirações e desejos ele virá ao nosso encontro para se evelar.

Ilustração: “Cristo Jovem”, mosaico na Basílica de Santa Constança em Roma.


“De Nazaré pode vir alguma coisa boa”, perguntou Natanael. (Jo 1,46)
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