Cardeal Ratzinger: “A grandeza da liturgia fundamenta-se exatamente na sua não-arbitrariedade”







Citação do Cardeal Joseph Ratzinger comentada por Sua Excelência Reverendíssima Dom
Henrique Soares da Costa
:


A propósito da “reforma pós-conciliar”, Ratzinger explica:
“Depois do Concílio Vaticano II generalizou-se a idéia de que o Papa poderia
fazer aquilo que desejasse em matéria litúrgica, sobretudo agindo em nome de um
concílio ecumênico. Desse modo, aconteceu que a idéia da liturgia como algo que
nos precede e não pode ser ‘fabricada’ segundo nossa própria vontade, foi
desaparecendo em larga escala na consciência difusa do Ocidente [1]. No
entanto, de fato, o Concílio Vaticano I [2] não quis de modo algum definir
o Papa como um monarca absoluto, mas, ao contrário, como o primeiro guardião da
obediência em relação à Palavra transmitida: o seu poder é ligado à Tradição da
fé e isto vale também no campo da liturgia [3]. Se se abandonam as
intuições fundamentais da Igreja antiga, chegar-se-á realmente à dissolução dos
fundamentos da identidade cristã. A liberdade do Papa não é ilimitada; ela está
a serviço da santa Tradição. Menos ainda se pode concordar com uma genérica
liberdade de fazer que, desse modo, transformar-se-ia em arbitrariedade para
com a essência da fé e da liturgia. A grandeza da liturgia – deveremos ainda
repetir muito freqüentemente – funda-se exatamente na sua não-arbitrariedade”
[4]. (Do livro Introduzione a Ratzinger, de Dag Tessore)


[1] Ocidente, aqui, é a Igreja latina, a nossa Igreja de rito
latino, ao contrário das igrejas católicas de ritos orientais unidas a Roma ou
as igrejas ortodoxas separadas de Roma.


[2] Esse Concílio definiu solenemente, como dogma de fé
católica, o poder do Papa sobre toda a Igreja, bem como sua infalibilidade em assuntos
de fé e moral.


[3] O Papa não é o dono da Igreja. Ele é o primeiro que deve
obedecer e ensinar seus irmãos a fazerem o mesmo. Um Papa infiel à fé e à
Tradição da Igreja já não seria Papa, seria um herege.


[4] A intuição de Ratzinger é perfeita: a Liturgia não pode
ser fabricada por nós nem pela comunidade que celebra. Se assim fosse, a tal
comunidade somente celebraria a si própria, seus sentimentos e sua
subjetividade! A comunidade - e cada cristão -, é chamada a sair de si mesma
para entrar no âmbito de Deus, que é Mistério Santo que se nos dá através de
Cristo na potência do Espírito. Somente assim a Liturgia será uma perene
novidade, capaz de renovar efetivamente a nossa vida. Fora disso, a celebração
será somente auto-celebração e não celebração do Mistério de Cristo,
tornando-se um ridículo e cansativo teatrinho de mau gosto, um pobre programa
de auditório.



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