Habituados que estamos ao cinzento dos dias [cheios de lamentações e desculpas] e à profunda escuridão da noite [de cada vez que desistimos de (com)viver], não será estranho vermos no diálogo nocturno de Nicodemos, também ele cheio de noite, um homem que parece procurar sem querer expor-se, alguém que precisa de aprender a confiar mas não se quer comprometer, alguém que busca mas não se quer deixar encontrar…
Aquele homem é uma parábola de todos nós. Por entre contradições e errância, também nós, tantas vezes, passamos pela vida cheios de medo e de noite, não deixando florescer a coragem e limitando-nos a obedecer ao medo de ser visto, de ser (re)conhecido, como alguém que anda à procura do Mestre, que quer escutá-Lo, que quer (re)conhecer-se n’Ele, com Ele…
O medo de errar torna-nos escravos, o medo de correr riscos minoriza a nossa criatividade, o medo de confiar torna-nos egoístas, vaidosos por causa de tudo…e com uma vida cheia de nada. É preciso romper a [nossa] noite com um coração disponível para a escuta…
Diante disto torna-se desconcertante/desafiador escutar S. Paulo que, luminosamente, em plena noite [a nossa!] faz despontar [por dentro!] a aurora de um dia radioso: “Deus, que é rico em misericórdia, restituiu-nos à vida com Cristo” (Ef 2, 4-10). S. João, com o seu olhar sempre contemplativo, obriga-nos a mergulhar em águas mais profundas, as do mistério amoroso de Deus, recordando-nos que: “Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele”( Jo 3, 14-21).
Na sabedoria colhida pelo povo, que viveu a dureza do exílio na Babilónia, ressoa um convite ao (re)começo, um convite a desenhar com um coração novo um tempo novo, é esse convite que é feito também a mim e a ti: “Quem de entre vós fizer parte do seu povo ponha-se a caminho e que Deus esteja com ele” (cf. 2 Crónicas 36, 14-23).
E tu, vais ficar aí parado?
...Não vês já a luz do dia a despontar nas tuas noites?
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É de dia…em plena noite!
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